segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pena de morte e mãos limpas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tinha escrito este texto na semana passada, mas achei melhor não publicar, porque os ânimos andavam meio exaltados. O mais estranho é que uma semana depois o furor já passou e o tema deixou de ser tão comentado. Vamos lembrar: quantas vezes, no episódio dos presos torturados e dos ônibus queimados, os joinvilenses ouviram ou leram que "bandido bom é bandido morto" e que a tortura de presidiários é até merecida. Tortura e pena de morte andaram na boca do pessoal, em especial nas redes sociais e nos comentários online dos jornais.

Opa. Ainda nem expressei qualquer opinião, mas imagino que a esta altura  já tem por aí algum brucutu mental doidinho para me desancar (nos comentários do blog, claro, porque é onde os machos do teclado são mais machos). Mas calma. Não pretendo discutir a pena de morte propriamente dita e sequer falar de direitos humanos. Pessoas que escolhem escolhem o lado da civilização não desperdiçam tempo a argumentar com quem não quer ouvir. É enfadonho.

O objetivo deste texto é falar de coragem física. A minha questão é muito simples: você, que é a favor da pena de morte, teria coragem de ser o executor, de fazer a coisa pessoalmente? Ou seja, seria capaz de dar o tiro mortal, de injetar o veneno, de acionar o cadafalso da forca? Duvido. Se a pessoa for minimamente civilizada, é óbvio que não consegue.

Ok... um pouquinho de filosofia (apesar de saber que para os brucutus mentais só existe a filosofia bovídea: cagando e andando). Mas sou otimista e gosto de pensar que as máximas do imperativo categórico kantiano estão entranhadas na cultura ocidental. E uma dessas máximas é aquela que fala de não matar, uma vez que isso "vai contra qualquer princípio de conservação da vida".

Para ficar em Kant, lembro também da ideia de coisificação do outro, de um indivíduo se sentir no direito de suprimir a vida do outro. Mas se formos pensar nisto de forma radical, você, que defende a pena de morte, está em boa companhia. Suprimir a vida do outro é o tipo de problema que nunca preocupou Hilter, Stalin, Pol Pot ou Idi Amin Dada. Bem-vindo ao clube.

Mas voltemos ao escopo deste texto. O fato é que a maioria dessas pessoas não teria tomates para sujar as mãos e aplicar a pena de morte pessoalmente. Ou seja, são a favor da pena de morte, mas por interposta pessoa. Tem que ser Estado a executar a sentença. Ou você, que defende a pena capital, era capaz de ser o carrasco e matar olhando a sua vítima olho no olho? Claro que não. É por isso que deseja uma lei que outorgue ao Estado o direito de matar.

Ok... é possível que haja alguém com essa coragem. Mas aí temos um dilema. Pense bem. Se você for mesmo capaz de ser o carrasco, então está a se transformar naquilo que repudia: seria um assassino. E, pela sua lógica, o que deve acontecer a alguém capaz de matar? A pena de morte. Eis uma aporia, senhoras e senhores.

P.S. Estranharam a foto? Ora, alguém vai dizer que não é um bom exemplo da execução de uma pena de morte? Você seria o executor?


7 comentários:

  1. Muito bom.
    Tem gente com o coracao endurecido de tanto ver violencia achando que a solucao eh mais violencia.
    Nunca achei que dar troco na mesma moeda ensinava algo a alguem.
    Eh a velha maxima de dar o que gostaria de receber.

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  2. estranhei mesmo a foto X assunto ...

    de de mais à mais, seu assunto é "chover no molhado" porque no brasil a pena de morte é lei pétrica ,então não adianta falar, protestar ou se manifestar sobre esse assunto pois essa lei nunca vai mudar!

    OBS: mais um vizinho foi assaltado no bairro vila nova na madrugada de sábado p/ domingo, enquanto ele trabalhava no turno da madrugada, entraram na casa dele e levaram micro-ondas, liquidificador, utensílios de cozinha, aparelhos eletrônicos da sala e mais alguns bens.

    De certo se ele estivesse em Portugal ou Suécia isso não teria acontecido... então para termos paz, vamos todos sair do braZil e mudarmos p/ europopéia não é mesmo!?!

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    1. Não é disso que o meu texto está a falar.

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    2. todo o texto é apenas uma questão se o leitor "politicamente correto" seria o executor?!

      Ora amigo, não adiantaria nada se pronunciar porque proibição de pena de morte no brasil é lei pétrica(nunca será mudado).

      Mas se te satisfaz uma resposta; sim, eu seria um executor de criminosos hediondos desde que fosse remunerado e amparado pelas bases da "Constituição Federal dos "Estados Unidos da América do Sul"" (sim, nossa constituição foi reescrita nessa república)

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  3. Vejamos: acho que as leis no Brasil são brandas, não quero tratar violência com violência, mas por exemplo crimes hediondos todos, deveriam ser punidos, com prisão perpétua e agrÍcola para eles e elas plantarem arroz, feijão, batata ... para aqueles que necessitarem de comer nesse nosso país fossem atendidos.

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  4. Parabens pela reflexão do tema, uma parte ruim era de quem executaria e a outra boa seria a fila de policos para o abate...

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  5. Baço, teu texto realmente deixa os neurônios embaralhados. Coloca em xeque todos que pregam a pena de morte, com certeza. Inclusive eu, que quando vejo um animal bípede matar uma garota grávida só pra ver o tombo, tenho ganas de eliminar esse tipo de escória da face da terra.
    Sendo tratados como escória, lixo humano, fica mais facil aceitar a idéia de transforma-los em adubo. Mas claro, são reações humanas às quais todos estamos sujeitos. Nossa indignação, alimentada pela frouxidão da nossa lei e pela corrupção da policia e juizes acaba gerando esse tipo de idéia: "bandido bom é bandido morto"
    O que preocupa, no meu caso e com certeza de muitos outros tambem, é que esse corolário cresce cada dia mais em nossas mentes.
    E tenho certeza absoluta que essa discussão ficará cada vez mais acirrada, enquanto não houver uma reação dura da sociedade. Com ou sem pena de morte, mas eficaz.
    Porque selvagem nossa sociedade já é.

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