terça-feira, 27 de novembro de 2018

O que pensa Olavo de Carvalho, ideólogo do governo Bolsonaro?


-> Olavo de Carvalho é o ideólogo do governo de Jair Bolsonaro e até já indicou dois ministros. É uma figura que provoca divisões. Os seus seguidores acham que ele é um dos maiores filósofos vivos. Outros acham que é apenas um astrólogo. E é para esclarecer essa dúvida que hoje publicamos um texto do "pensador" que vai influenciar o próximo governo do Brasil. Diz Olavo de Carvalho, num texto disponível na internet: 

"Já que alguém falou de astrologia, minha teoria concernente aos horóscopos, até o ponto em que a desenvolvi tempos atrás, pode se resumir assim: O horóscopo é uma figura fixa, e os trânsitos e progressões dos planetas obedecem a um algoritmo também fixo dado de antemão. Logo, o horóscopo de nascimento, ao contrário do que dizem os astrólogos, não pode corresponder a uma entidade tão instável a cambiante como a "personalidade" humana.

Ou o horóscopo não corresponde a nada, ou só pode corresponder a algum elemento fixo por baixo da personalidade em mutação. Qualquer "estudo estatístico" que não levasse essa distinção em conta só criaria mais problemas em vez de resolvê-los. A única entidade a que o horóscopo poderia corresponder, e ainda assim muito esquematicamente, seria àquilo que Kant chamava "caráter inteligível", a estrutura supratemporal da individualidade. Mas, como observava o próprio Kant, o caráter inteligível não pode ser conhecido por meios humanos, apenas vagamente entrevisto por partes isoladas.

Para que um estudo científico da questão astrológica (não da "astrologia" socialmente existente como prática profissional) fosse possível, seria preciso primeiro operar, pelo método fenomenológico, a redução da personalidade real aos seus elementos imutáveis (o que colocava problemas de expressão verbal quase insolúveis), para depois conceber um método comparativo que permitisse averiguar se existia ou não alguma correspondência estrutural com os horóscopos, interpretados não segundo técnicas astrológicas usuais, mas segundo uma reformulação fenomenológica igualmente difícil e problemática.

Foi esse o projeto que denominei, numa clara alusão kantiana, 'O Caráter como Forma Pura da Personalidade'”.

-> Entendeu?

domingo, 25 de novembro de 2018

Olavo, Bolsonaro e o governo dos idiotas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Muito, mas muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica”. A frase foi proferida por Jair Bolsonaro, há poucos dias, numa reunião partidária. É um evidente contrassenso, uma vez que ele foi eleito graças ao discurso contra a corrupção e a proposta de “mudar isso daí”. Por enquanto, os eleitores do futuro presidente estão caladinhos como ratos. Afinal, a maioria deles já percebeu que foi engabelada.

No entanto, a afirmação merece uma análise mais detida. Porque Jair Bolsonaro parece estar mesmo preocupado com as questões “ideológicas”. Em aspas porque é evidente que ele não domina o conceito de ideologia. O presidente eleito - assim como os seus eleitores - não é amigo dos livros. Tomo a liberdade de ficar pelo conceito marxiano de ideologia, que, grosso modo, afirma que ideologia é uma distorção da realidade. 

Jair Bolsonaro vive numa realidade distorcida e nem se dá conta. É por isso que pretende  substituir o que julga ser um conjunto de ideias (aquilo a que chama ideologia) pela mais obtusa das ignorâncias. E é aí que surge o nome de Olavo de Carvalho, um astrólogo charlatão que nas horas vagas vive a farsa de ser “filósofo”. O fato é que o astrólogo emplacou dois ministros no futuro governo: Ricardo Vélez Rodríguez (Educação) e Ernesto Araújo (Itamaraty).

O Brasil está entregue à distopia dos ignorantes. Bernardo Mello Franco, colunista de política do jornal “O Globo”, estabeleceu uma boa definição para o que o país está a passar: “o olavismo passou de piada a doutrina oficial de governo”. É isso. Olavo de Carvalho passou de situação de apenas ridículo para mentor dos homens do futuro governo. É impossível sair algo de bom “disso daí”.

E por falar em ridículo, deixo aqui um vídeo do Youtube onde a mente mais brilhante do futuro governo expressa a sua “sabedoria”. É apenas ridículo. O futuro do Brasil passa por um bando de idiotas a governar. E tudo seria muito cômico se não fosse trágico. Pobre Brasil! 


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

“Escola sem Partido”, uma ideologia de classe

POR CLÓVIS GRUNER
Por sugestão de um amigo, visitei o site de uma escola particular, fundada originalmente em New York e que, ano passado, abriu sua primeira unidade brasileira, em São Paulo. Com mensalidades na casa dos oito mil reais, a instituição é obviamente voltada a um público de elite, a quem oferece uma educação integrada, concebida para desenvolver, em seus alunos, diferentes competências. Pedagogicamente, nada muito diferente de outras escolas privadas, mas com estrutura e corte de classe mais “exclusivos”.

Na apresentação, lê-se que “todos os alunos participam do programa World Course, uma combinação de estudos de História, Geografia e Temas Globais, que ultrapassa as perspectivas ocidentais”. E segue: “a História é introduzida, não como uma sequência interminável de fatos e datas, mas como uma longa história de acontecimentos inter-relacionados, porque esse é o conceito de historicidade”. O objetivo é que crianças e adolescentes tenham “uma síntese integrada de Geografia Global, História, Economia e Futurismo”.

O programa é complementado com condicionamento físico e a oferta de diferentes práticas esportivas; a sensibilização artística; a aproximação às linguagens tecnológicas e um cardápio equilibrado que privilegia opções orgânicas. Além disso, desde o início da adolescência alunos são orientados à vida universitária; um dos objetivos é garantir que possam cursar o ensino superior em qualquer universidade brasileira ou norte-americana, independente da área e carreira escolhidas.

Os valores institucionais, aplicados no cotidiano escolar, são sustentados em três princípios: acolhimento, segurança e respeito. Basicamente, “cada membro (...) é valorizado como um indivíduo único e (...) ninguém deve ser excluído; todas as pessoas são iguais”. A intenção é que “tanto os alunos, quanto o corpo docente têm a responsabilidade de assegurar suas integridades físicas e emocionais durante todas as atividades escolares”. E enfim: “(...) no convívio com os colegas deve prevalecer a dignidade e a honra de ser membro de uma comunidade educacional íntegra”.

Além de assegurar uma formação conteudística ampla e sólida, e o respeito à diversidade, a escola pretende preparar discentes para que consigam pensar o futuro e verem-se como parte integrante dele. Em resumo, e em se tratando de uma instituição voltada à formação das futuras elites dirigentes, a intenção é que crianças e adolescentes percebam o mundo a sua volta não apenas a partir do imediatismo presente – escolher entre continuar os estudos ou encontrar um emprego, por exemplo –, mas como um constante devir, aberto a mudanças e inovações. 

Escola e reprodução social – Publicado nos anos de 1970, “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino”, dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, argumentava a respeito do papel da escola e da educação na reprodução das hierarquias sociais. Grosso modo, Bourdieu e Passeron mostravam como, por meio de políticas supostamente meritocráticas, se reproduziam na escola as condições que favoreciam a manutenção dos desequilíbrios e desigualdades sociais e de classe, naturalizando-as.

O diagnóstico não era exatamente novo: anarquistas como Sébastien Faure e Ferrer i Guàrdia (executado pelo Estado espanhol) já o haviam feito décadas antes. Sugeriam, como alternativa, uma educação integral que abordasse diferentes habilidades – físicas, técnicas, humanísticas e estéticas –, em um ambiente baseado na gestão compartilhada não apenas de conteúdos e programas, mas também das decisões políticas e econômicas. No Brasil, Paulo Freire propôs algo semelhante. No horizonte, uma escola responsável não apenas pela transmissão de conteúdos formais, mas capaz de formar indivíduos intelectual, ética e politicamente autônomos.

Nada mais distante dos projetos para a educação pública brasileira, agora mais que nunca à mercê das pressões políticas da bancada evangélica, aliada de primeira hora do governo Bolsonaro. Foi ela a responsável por vetar, para o Ministério da Educação, um nome considerado moderado por educadores, e pela indicação, em seu lugar, de um ministro cujas principais credenciais para o cargo são seus delírios anti-marxistas, seus discursos contra a “ideologia de gênero” e a “doutrinação cientificista” nas escolas, e sua afinidade com o movimento “Escola sem Partido”.

Volto à escola de elite cuja descrição abre esse texto. Há uma contradição perversa e flagrante no modo como nossa educação se constitui. De um lado, o ensino público, responsável pela esmagadora maioria dos estudantes (cerca de 73%), sucumbe cada vez mais ao discurso e às políticas conservadoras e reacionárias, que limitam o acesso a uma educação mais ampla, integral e autônoma, subtraindo conteúdos, atacando e desqualificando escolas e docentes.

Em um universo à parte, a educação privada, que atende estratos da classe média e as elites, aposta em um ensino integral, valorizando disciplinas humanísticas e um ambiente de respeito às diferenças. Não é difícil imaginar de quais escolas sairão adultos mais capazes e bem formados, inclusive para disputar as melhores vagas no mercado de trabalho. BNCC, reforma do Ensino Médio, “ideologia de gênero” e “Escola sem Partido”? Não nas salas de aula dos filhos das elites.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Futuro


POR SANDRO SCHMIDT

Os "importantões" que ligam o giroflex para se sentirem poderosos...


POR JORDI CASTAN
O giroflex está na lista de privilégios que não têm amparo legal e que devemos denunciar. Ou, melhor dizendo, essa turminha que faz uso indiscriminado do giroflex a toda hora, em todo momento e, principalmente, quando nem estão atendendo a uma emergência ou a um chamado.

Giroflex nem está no dicionário, mas em linguagem coloquial serve para identificar as luzes intermitentes, normalmente de cor vermelha. Aquelas luzes que veículos, em situações de  emergência, utilizam para chamar a atenção e alertar os demais motoristas para que cedam a passagem e possam chegar mais rapidamente ao seu destino. Inclui este grupo as ambulâncias, o corpo de bombeiros e a polícia.

A este último grupo têm-se incorporado as guardas municipais e os agentes de trânsito. Aqui na vila é raro que os “azulzinhos” saiam da toca sem ligar o giroflex. É uma das formas que acharam de chamar a atenção, de se sentir mais importantes. Por isso é tão comum encontrá-los passeando a passo de cagado manco com o giroflex ligado. Querem ser notados. Seria compreensível em casos de policiamento ostensivo ou se a sua função fosse a de policiamento. Mas é bom lembrar que não é.  


O giroflex ligado é, na realidade, um salvo-conduto para poder parar onde quiserem, sem respeitar as normas de trânsito, usando o subterfúgio de que os agentes estão atendendo uma emergência, o que lhes permite desrespeitar as normas de trânsito. Ligar o giroflex para chegar mais cedo ao Detrans é um privilegio ilegal, como usá-lo quando não estão atendendo qualquer emergência.

Já houve casos em que ambulâncias com sirene e giroflex ligadas eram usadas por funcionários administrativos para chegar mais rápido a reuniões ou ao trabalho. E quando estes abusos são identificados, os responsáveis devem ser punidos. Aqui na Vila como não há gestão, nem autoridade: cada um faz o que bem entende e ninguém respeita ninguém. Virou tudo uma casa da mãe Joana.

É bom ficar atento. Ceder rapidamente a passagem aos veículos de emergência, como ambulâncias, bombeiros e policiais em cumprimento do seu dever. Mas também estar atentos aos que usam o giroflex exclusivamente para se sentirem importantes, para chamar a atenção ou principalmente para poder descumprir as leis e normas do trânsito.

São os mesmos que se escondem nas esquinas com um bloquinho na mão. Os mesmos que somem quando o trânsito complica ou quando há qualquer problema maior. São eles os que passeiam faceiros com o giroflex ligado para se sentirem poderosos. Vai que esse prazer pelo piscar do giroflex é parte dos arroubos autoritários do gestor municipal que acaba permeando toda a estrutura. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Um dos filmes mais vistos em toda a história

POR ET BARTHES
"Dumb Ways to Die" é uma campanha de publicidade lançada pela Metro Trains, de Melbourne, na Austrália para divulgar a segurança ferroviária. O certo é que o trabalho extrapolou as fronteiras do país e hoje é uma das campanhas mais vistas em todo o mundo, com cerca de 200 milhões de visualizações. A música ainda hoje é cantada por muita gente em todas as partes do planeta.


Cão


terça-feira, 20 de novembro de 2018

"Médicos cubanos" ou tráfico de pessoas?


POR JORDI CASTAN
Quando chegaram ao Brasil milhares de “médicos” cubanos, vestindo jalecos brancos, portando bandeiras cubanas e brasileiras. Gente que no marco do projeto “Mais Médicos” chegou para contribuir a reduzir o grave problema da saúde no país. Só alguém muito maldoso para enxergar nesse programa do governo Dilma Roussef, outro objetivo que não fosse o de melhorar o atendimento a essa boa parte da população que hoje está desatendida. Como alguém poderia identificar como sendo tráfico de pessoas o que é resultado de um convenio entre o governo brasileiro e o governo cubano, com a intermediação da OPS (Organização Panamericana da Saúde)?

É difícil estabelecer um grau de maldade ou de gravidade entre os diversos crimes que se cometem. Afirmar que um dos piores crimes é o tráfico de pessoas é arriscado, alguns dirão que o sequestro, o latrocínio ou o tráfico de drogas e será difícil discordar ou estabelecer critérios lógicos e objetivos para medir brutalidade, perversidade, premeditação ou aleivosia. Há no tráfico de pessoas, essa versão atual da milenar escravidão, extrema perversidade. As imagens de escravos sendo comercializados nas ruas de Trípoli ou Benghazi, são brutais. Como são brutais as imagens das meninas comercializadas como escravas sexuais, por poucos dólares, pelo Boko Haram no Níger, ou pelo Isis no Iraque.

Há no Brasil 2 médicos para cada 1.000 habitantes, pelas estatísticas o indicador não é ruim, seria o mesmo que tem o Japão, pero dos 1,9 da Coreia do Sul e não tão longe dos 2,6 do Estados Unidos. O problema era e continua a ser a péssima distribuição destes médicos pelo território nacional o que faz que muitas regiões remotas e no Brasil há muitas não tenham médicos na proporção necessária.

Importar profissionais para suprir uma carência é uma solução logica e praticada por muitos países ao longo da história. Canada, Austrália, Alemanha, entre outros, tem programas que estimulam esse tipo de imigração. Quando trabalhei em Sri Lanka tive oportunidade de conhecer a existência do Ministério para o Trabalho no exterior, com o objetivo de permitir a “exportação” de profissionais daquele país para outros países, principalmente nos EAU (Emirados Árabes Unidos), o objetivo do ministério era que não fossem explorados, que só partissem a trabalhar no exterior com contratos assinados e que lhes fossem garantidos seus direitos e condições de trabalho iguais ou equivalentes as do seu país. Em troca o país se beneficiava de um fluxo estável e regular de divisas para manter as famílias que ficavam em Sri Lanka.

“Importar médicos” tem, por tanto a sua lógica. O brasileiro em geral e os políticos em particular não fazem muitas perguntas, não gostam de fazer muitas perguntas, fazer perguntas expõe a sua ignorância, mostra o que não sabem e isso amedronta, mas fazer perguntas também quer dizer buscar respostas que não querem ser dadas. Questionar não é bem visto, cria incômodos, gera até conflitos. Se não houvesse havido um grande acordão entre a maioria dos políticos, para aprovar com rapidez e sem questionamentos o programa “Mais médicos” poderíamos saber:

- Por que não se exigiu que a titulação de médico fosse comprovada com proficiência? Alias o mesmo que já se exige a milhares de brasileiros que se formam na Bolívia, na Argentina ou em outros países.

- Por que o salário dos “médicos cubanos” não se pagava integralmente ao próprio médico e sim ao governo cubano, que acaba agindo como intermediador ou “gigolô” dos próprios médicos.

- Por que a situação legal dos “médicos cubanos” é a de intercambistas e com isso não podem ser contratados e sua relação de trabalho não se rege pela CLT?

- Por que os “médicos cubanos” não poderiam trazer as suas famílias? Ou permanecer no Brasil?

- Por que para os “médicos cubanos” se estabeleceram critérios laborais, profissionais diferentes dos demais profissionais?

- Por que o Brasil prefere pagar R$ 7 bilhões para Cuba e não desenvolve uma proposta para que os médicos formados nas universidades públicas prestem serviços “voluntários” para devolver ao país o custo ou parte do custo da sua formação?

É importante saber que dos mais de 85 mil médicos cubanos, 15 mil estão em missões espalhados por 60 países. Lá, geralmente fazem o trabalho em áreas onde médicos locais não vão. Em retorno, trazem para Cuba um valor estimado em US$ 5 bilhões por ano. É muito: dá duas vezes o que Cuba ganha com exportações. E representa 7% do PIB da ilha – de US$ 70 bilhões. Para comparar: o Brasil exportou US$ 243 bilhões em 2012. Dá 11% do nosso PIB. Ou seja: proporcionalmente ao PIB, Cuba fatura quase tanto com seus médicos quanto o Brasil levanta exportando petróleo, soja, minério de ferro, carros e aviões. O Mais Médicos é uma importante fonte de divisas para a ditadura cubana.

Aliás bom lembrar que a decisão irrevogável de retirar os “médicos cubanos” a partir do dia 25 de novembro, foi uma decisão unilateral do governo cubano, tomada antes mesmo que o novo governo assuma em janeiro, e que surpreendentemente 196 já tinham retornado a ilha. Atitude que reforça o caráter eminentemente político da decisão.

(*) em quanto a titulação dos “Médicos cubanos” não seja validada por uma revalida igual a dos médicos brasileiros ou de outras nacionalidades formados no exterior, devemos olhar com suspeição a capacidade profissional dos ditos “Médicos cubanos”.