sexta-feira, 13 de julho de 2018

"Croácia nazista": o samba do jornalista doido

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um caso estranho. Ontem as redes sociais brasileiras foram invadidas por gente a denunciar uma “Croácia nazista”, numa alusão à seleção que enfrenta a França, na final do Mundial 2018, no domingo, na Rússia. Como não tinha visto o tema na imprensa europeia (todos os dias faço um pequeno périplo pelos jornais) fui conferir. E nada. Houve textos na imprensa britânica antes do jogo Croácia x Inglaterra, mas a coisa ficou por aí.

A imprensa do velho mundo trata os croatas de maneira diferente. A televisão portuguesa, por exemplo, repetiu vezes sem conta uma reportagem a mostrar os filhos dos jogadores no relvado, após a vitória sobre a Inglaterra. As cenas com a criançada são ternurentas. O filho do zagueiro Vida, que aparece de pés descalços e muito divertido, acabou por se tornar a estrela da companhia. Foi bonita a festa dos miúdos, pá!

Outra reportagem a circular pela Europa foi a do fotógrafo mexicano Yuri Cortez, que foi atropelado pelo jogador Mario Mandzukic e acabou submerso sob toda a equipe nas comemorações do segundo gol da Croácia. Como todo bom fotógrafo, mesmo numa situação de aperto ele nunca deixou de clicar e com isso conseguiu belas fotos. Exclusivas, claro. Aliás, parece que virou uma espécie de “crush” na Croácia.

No Brasil foi diferente. Houve quem se afastasse do objetivo da competição, o futebol, e se concentrasse numa politização da imagem da equipe dos Balcãs. Ou seja, tentaram levar a ideologia para dentro do campo. Até seria legítimo se os textos tivessem rigor jornalístico, contextualização histórica e, principalmente, ausência de preconceitos. Mas não. O que se fez foi tentar pintar um quadro moralista, com as cores da tradicional superioridade moral da “esquerda”.

SEM CONTEXTO - É de notar que os textos publicados no Brasil parecem ter uma raiz comum. Os poucos argumentos (todos relacionados ao passado) são repetidos e o tratamento da informação é sempre negligente. Mas houve um que chamou a atenção pela agressividade da manchete: “O fascismo dentro das quatro linhas: jogadores comemoram com saudações nazistas”. Exato. Assim mesmo, sem qualquer contextualização.

Com um título destes fica a parecer que Modric, Rakitic, Mandzukic e companhia são mesmo um bando de nazistas. Mas felizmente isso parece ter sido apenas no Brasil. Na Europa, a abordagem é outra. A imprensa destacou uma geração de jogadores que sobreviveram ao banho de sangue que foi a Guerra dos Bálcãs. Quase todos os atletas croatas têm uma história para contar sobre os tempos da guerra, quando ainda eram crianças. E nenhuma é bonita.

Eis um dos casos narrados. Luka Modric, craque do Real Madrid, hoje com 32 anos, recebeu esse nome numa homenagem ao avô, que cuidava dele enquanto os pais trabalhavam numa fábrica. Em 1991, as milícias sérvias invadiram a vila onde eles viviam e executaram um grupo de idosos, entre os quais o avô do jogador. Na escalada de violência, queimaram a casa da família, que teve que emigrar e buscar abrigo fora do país.

Um aviso. Não se trata de dizer que os croatas são santos. Nenhum povo é. Mas é preciso ter uma perspectiva histórica. Há nacionalismos na Croácia? Claro que há. A Guerra dos Balcãs ainda está muito fresca na mente dos povos da região e é natural haver ressentimentos. Aliás, nunca é demais lembrar que a Iugoslávia era resultado de uma arquitetura estalinista, uma “união” artificial feita com cola de farinha.

EXUMAÇÃO DO CADÁVER - Mas voltemos aos textos. Quais são os “argumentos”? É quase uma exumação de cadáveres jornalísticos. É um tema que se repete a cada Copa do Mundo (lembram de 2013?). “Ah... tinha uma suástica no campo”. Fato debatido à exaustão, quando aconteceu. “Ah... o jogador fez a saudação nazista”. O cara tomou um gancho exemplar. “Ah... o Vida disse ‘viva a Ucrânia’”. Ora, se você entende o xadrez da Ucrânia comece a dar aulas, porque é um troço complexo.

A questão é: como classificar os textos veiculados no Brasil? Nestes tempos digitais, a análise do jornalismo – e assemelhados – ficou muito mais complexa. Mesmo assim, é fácil adiantar expressões capazes de enquadrar as matérias: misleading news e clickbaits. E tudo acaba em fake news, claro. O quê? Sim, hoje em dia existe até um glossário com expressões para explicar o mau jornalismo e a desinformação que circula nas redes sociais.

Fake news, todos sabemos, são notícias falsas que usam a credulidade dos leitores para desinformar. Misleading é um nadinha diferente, mas vai dar ao mesmo: são informações imprecisas e textos mal elaborados, com o objetivo de enganar os leitores. Clickbait é a técnica de criar títulos fortes, quase sempre mentirosos, para atrair a atenção. É aí que a porca torce o rabo: os caras sabem que as pessoas só leem os títulos.

Não sou especialista em Croácia, país que ainda não conheço (sei que recebem bem os visitantes), mas qualquer pessoa atenta aos fatos na Europa – do âmbito do futebol ou não – identifica muita leviandade na ideia da “Croácia nazista” em pleno 2018. O país tem um passado que condena, mas isso não autoriza a simplificar coisas que são complexas. E, sabemos todos, os leitores menos avisados, de esquerda ou direita, não resistem ao apelo das notícias fáceis. O resultado é um samba do croata doido.

UMA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO - Mas por que só no Brasil isso virou tema? Pensemos. Uma boa parte da esquerda brasileira convive bem com a figura do criptoditador Vladimir Putin. A Rússia é um país com grande know-how na produção de fake news. Os russos não gostaram nadinha do apoio de Vida à causa ucraniana (portanto, de recusa à Rússia). A Croácia foi vaiada pelos russos no jogo contra a Inglaterra (e será de novo no domingo). Ligue os pontos.

É a dança da chuva.


Fake News: põe tudo no liquidificador e bate...

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Social media: Brasil em segundo, JEC em quinto

POR LEO VORTIS
Quais são as seleções com maior número de seguidores na Copa do Mundo, na Rússia? Os dados disponíveis apontam apenas para duas redes sociais, o Twitter e o Instagram, mas o Brasil tem presença forte nas duas. É terceiro lugar no Twitter, com 4,2 milhões de seguidores, e segundo no Instagram, com 2,8 milhões.

A combinação das principais redes aponta uma liderança do México, com um total de 7,4 milhões. Em segundo está o Brasil, com um total de 6,8 milhões. E em terceiro vem a França, com uma soma de 6,3 milhões. A Croácia, que neste domingo disputa a final com os gauleses, tem pouco mais de 1 milhão de seguidores em todas as redes.

É difícil medir os resultados das seleções, uma vez que há uma certa “sazonalidade” nos jogos. Mas o mesmo não acontece nos clubes. As estatísticas mostram que as equipes com mais seguidores do mundo (somadas todas as redes sociais em que estão presentes) estão na Europa. Não deve ser coincidência o fato de participarem nas ligas mais importantes do mundo, a  espanhola e a inglesa. Eis a lista:
- Real Madrid - 189 milhões
- Barcelona - 184
- Manchester United - 110
- Chelsea - 69 milhões
- Arsenal - 60 milhões

E em Santa Catarina? A Chapecoense é o clube mais popular nas redes sociais, muito à frente dos outros, o que pode ser explicado pela notoriedade obtida depois do trágico acidente com o avião, que vitimou a equipe. O ranking catarinense, em números redondos:
- Chapecoense: 5,9 milhões
- Figueirense: 1 milhão
- Criciúma: 800 mil
- Avaí: 500 mil
- JEC: 366 mil


Neste domingo, França e Croácia disputam a final do Mundial 2018


Ponte para o futuro.


terça-feira, 10 de julho de 2018

Uma patacoada jurídica

POR CLÓVIS GRUNER
Há um trecho quase sempre esquecido da famosa conversa telefônica entre Romero Jucá e o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado. Refiro-me, vocês sabem, ao diálogo em que ambos combinam o “grande acordo com o Supremo com tudo” que culminaria no impeachment de Dilma e na posse do presidente que, parece, só consegue apoio acima de um dígito entre os comentaristas anônimos desse blog e milicianos do MBL.

Voltemos ao telefonema. Lá pelas tantas, como parte da definição da estratégia de colocar Temer na presidência para “delimitar tudo onde estava”, Machado defende que um “governo de união nacional”, possível apenas com a saída de Dilma, “protege o Lula, protege todo mundo”. Se em algum momento proteger o Lula esteve mesmo nos planos da quadrilha que chamamos de governo, parece que, passados dois anos, ela mudou de ideia.

E se para isolar e inviabilizar a candidatura do ex-presidente os signatários do acordo não mediram esforços no aparelhamento das instituições, incluindo o Poder Judiciário, o outro lado decidiu ver até onde chegava jogando nas mesmas regras – ou na ausência delas. E o resultado foram os eventos patéticos de domingo (08),  resultado da extrema politização das nossas cortes, ao menos teoricamente, responsáveis por zelar pela normalidade jurídica.

A sequência de acontecimentos é de conhecimento público, e análises jurídicas pertinentes e bem fundamentadas circulam amplamente desde o final de semana (recomendo particularmente o artigo “Politização com esteroides”, de Conrado Hübner Mendes, professor de Direito e colunista da revista Época). Vou arriscar alguns pitacos sobre as motivações e os possíveis desdobramentos políticos do imbróglio.

Mídias e desespero - Se a intenção era manter Lula nas mídias e visibilizar os interesses políticos nebulosos por trás da cruzada pessoal e partidária de Moro, a estratégia dos deputados petistas e advogados Paulo Pimenta, Paulo Teixeira e Wadih Damous foi impecável. A apresentação do habeas corpus, depois de encerrado o expediente normal do tribunal, em um final de semana onde o plantonista, o desembargador Rogério Favreto, é um conhecido crítico da Lava Jato, não foi mera coincidência.

Se como plantonista Favreto não extrapolou suas obrigações legais, o bom senso e o respeito à “normalidade” sugerem que ele deveria ter se manifestado impedido de julgar o pedido, em função de sua proximidade com o PT. Ao mandar às favas os escrúpulos, já que isso se tornou prática comum nos tribunais superiores – e aí estão Gilmar Mendes e Alexandre Moraes, no STF, além do próprio Moro, a dar provas fartas de que já não importa manter mesmo a mais remota aparência de isenção –, o desembargador não contribuiu para melhorar a imagem da toga.

A insubordinação do juiz de Curitiba, que não encontrou tempo e alegou excesso de trabalho para não julgar o conterrâneo e companheiro Beto Richa, mas despachou de férias em Portugal, e a atitude destemperada dos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, tampouco. Afinal, se o fundamento da decisão era frágil e juridicamente insustentável, bastaria seguir o procedimento normal, esperar a segunda para derrubá-la e Lula voltar à sua cela na Polícia Federal.

Um cenário incerto - O desespero de Moro e dos desembargadores de Porto Alegre para impedir a sua liberdade, mesmo que por poucas horas, desequilibrou momentaneamente o jogo político, e a favor de Lula e do PT. A dúvida é sobre quais os efeitos desse desequilíbrio no médio prazo. Se a intenção é insistir na tese da candidatura de Lula, o tiro talvez saia pela culatra e repercussões de domingo escampem ao planejado.

É verdade que o ex-presidente segue liderando todas as pesquisas, mas também o é que o voto em Lula tem algo de messiânico, radicalizando uma característica do eleitorado brasileiro, a desconfiança em partidos e programas e a aposta em lideranças carismáticas, como Lula. A estratégia de fortalecer o nome do ex-presidente, mantendo-o em evidência ao mesmo tempo em que reforça a imagem de um líder popular perseguido por forças antidemocráticas, não garante que seus votos serão automaticamente transferidos ao candidato ungido por ele.

O melhor, e venho insistindo nisso há alguma tempo, era as esquerdas oferecerem uma alternativa programática a Lula, o que nem o PT nem nenhum outro partido o fez até agora – à exceção, talvez, do PSTU, mas sem chance alguma de prosperar eleitoralmente. Mesmo fora da órbita petista não há nome viável que inspire segurança, seja Ciro ou Marina. A direita liberal, ao apostar em nomes como Alckmin ou Amoedo, também arrisca nadar e morrer antes de chegar à praia.

O risco é de que o descontentamento e a desconfiança dos eleitores com a política e os partidos tradicionais inflem a única candidatura identificada, hoje, como alternativa a “tudo o que está aí”, e quem capitalize os votos principalmente indecisos nas eleições de outubro não seja um candidato ou partido comprometido com a democracia. É possível, embora não seja certo, que a geleia geral de domingo também sirva para recrudescer a opção pelo fascismo e fortaleça a candidatura daquele que não se deve nomear.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Solta Lula. Prende Lula. Solta Lula. Prende Lula...

POR ET BARTHES
Solta Lula. Prende Lula. O domingo foi um dia cheio de emoções. E confusões. Logo cedo, o desembargador Rogério Favreto determinou a soltura de Luiz Inácio Lula da Silva. Não demorou e a tropa de choque dos que querem ver o ex-presidente na cadeia entrasse em campo para impedir que isso acontecesse. Foi rocambolesco. E o tema ganhou as redes sociais, com visões muito diferentes…


38 anos sem a filosofia de Vinicius de Moraes

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje faz 38 anos que o Brasil perdeu Vinicius de Moraes, um dos seus maiores filósofos. Filósofo? Sim. Ok... ele tem sido apresentado como poeta, escritor de teatro, jornalista, diplomata, cantor ou compositor. Mas parece que um dos lados mais reluzentes da sua obra é a filosofia (que não parece involuntária). Afinal, como escreveu o pensador Roberto Gomes, no seu tratado tupiniquim, filosofar é ver um palmo à frente do nariz.

A filosofia dos homens sisudos da academia não gosta muito das coisas simples. Então eu pergunto: para que serve uma filosofia que não dialoga com o homem da fila do ônibus, o malabarista do sinaleiro ou a prostituta nas esquinas? E por que temos que ficar papagueando a tradição grega e os seus sucedâneos? É preciso uma filosofia macunaímica, capaz de falar uma língua que a gente entenda.

A filosofia brasileira é Vinícius de Moraes. Uma filosofia que fala da vida, dos amores, da existência, da preguiça. Também de política. E só um filósofo brasileiro poderia filosofar em forma de samba. Vinícius foi mais existencialista do que os existencialistas. E não se perdeu em vãs metafísicas.
-      Você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim, o que é que há? Você vai ver um dia em que fria você vai entrar.


Como todos os outros filósofos, procurou o sentido da vida:-      Às vezes quero crer mas não consigo. É tudo uma total insensatez. Aí pergunto a Deus: “escute, amigo, se foi pra desfazer, por que é que fez?”
Uma filosofia brasileira tem que saber rir.

É um dos nossos maiores pensadores. Como Adoniran, Guarnieri, Plínio, Chico, Tom, Veríssimo, Di, João Pacífico, Catulo, Gonzagão… Tantos filósofos.

Hora de licitar. Mas é lícito pensar que o joinvilense será beneficiado?


POR JORDI CASTAN
Não vai dar mais para postergar as licitações do estacionamento rotativo e do transporte coletivo. O prefeito não tem mais como procrastinar o que deveria ter sido feito faz muito tempo. Mas falta muito para que possamos contar com novos operadores para estes importantes serviços. O brinde vai demorar. Nada de cantar ainda vitória.

Se tomarmos em conta o tempo médio que leva fazer as coisas simples em Joinville, podemos calcular que, usando o mês lunar como unidade de tempo, devem passar muitas luas antes que as coisas aconteçam. Eu apostaria, sem medo de perder, que as licitações não sairão mesmo antes das calendas gregas. Mas não devemos ficar atentos aos prazos, que certamente não serão cumpridos. Primeiro por displicência, segundo por falta de interesse e, finalmente, pela própria inépcia a que esta gestão nos tem acostumado.

Há quem veja preguiça nisso tudo. É bom não confundir. Não há como negar a preguiça, porque ela está presente no dia a dia de boa parte da máquina pública. Essa que permeia gabinetes e corredores de quem desenvolveu a capacidade de achar um problema para cada solução. Sempre há como não fazer. Até porque não fazer é muito mais fácil que fazer.

É preciso estar atento ao modelo do contrato previsto. Quais os critérios que servirão para escolher o vencedor? A licitação busca atender o cidadão ou está mais direcionada para atender os interesses da Prefeitura?  Não se deixe iludir com o conto que a Prefeitura defende os interesses do joinvilense. Isso não tem sido verdade. 

O cálculo da COSIP é um bom exemplo de como o interesse atendido foi outro.  No caso do estacionamento rotativo ganhará a empresa que melhor remunere o município e, portanto, cobre mais pelo serviço?  Ou será escolhida a que ofereça o menor preço?  Até agora as informações divulgadas destacaram o quanto a Prefeitura calcula receber por mês pelo serviço.

Vamos a entender melhor. O estacionamento rotativo tem como objetivo melhorar a mobilidade, facilitar o acesso a vagas de estacionamento na região central ou, pelo contrário, aumentar a arrecadação para a Prefeitura? Facilitando a resposta: o objetivo deve ser o de cobrar menos e aumentar a rotatividade dos veículos que hoje podem permanecer por horas a fio ocupando a mesma vaga.

E o pagamento? Será feito por hora, por meia hora ou por minuto? Porque quanto mais justo seja o sistema de cobrança, melhor para o motorista. Assim, a maioria de sistemas de estacionamento rotativo cobra por minuto e há vários aplicativos que permitem o pagamento pelo telefone. Pagar o valor exato é mais justo.

O sistema exigirá a compra antecipada e penalizará o usuário, que acabará financiando a empresa operadora e assumirá, como já aconteceu em Joinville, todo o prejuízo de cartões deteriorados ou vencido? São esses entre outros muitos os pontos que devem ser analisados. Até porque não seria a primeira vez que o modelo de contrato seria elaborado pelas próprias empresas interessadas em vencer a concorrência.

Sobre o transporte coletivo, os pontos em aberto são muitos mais e devem começar a ser analisados desde a perspectiva de quais são os penduricalhos que acompanham a tarifa. Quantas e quais as gratuidades? E também a manutenção do perverso modelo de passagem única, que cobra o mesmo valor de uma viagem do terminal central ao terminal norte que do Itinga a Pirabeiraba.

O resultado é que as viagens curtas são muito caras e estimulam que os usuários fujam do sistema. Ainda - e só para abrir o debate - o sistema de transporte público continua mantendo o obsoleto modelo de integração nos terminais ou, como na maioria de sistemas modernos, a integração poderá ser feita em qualquer ponto do percorrido? Seria uma forma de evitar ter que passar sempre pelo terminal central, para atender o interesse das permissionárias?

Alguém imagina aqui que o verdadeiro interesse é o de beneficiar o usuário? Até agora o usuário tem fugido do sistema. Numa cidade que só cresce populacionalmente, o número de usuários do transporte coletivo diminui ano a ano e a tarifa só fez que aumentar muito acima da inflação.

Acompanhemos os prazos, o modelo de contrato e aprendamos a identificar as armadilhas colocadas para prejudicar o cidadão. Porque ninguém deve esperar destas duas licitações que venham para melhorar a vida do joinvilense. A melhor prova disso tem sido a falta de vontade e de entusiasmo desta gestão para que isso acontecesse.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Demissões na Tigre


Udo Dohler visto pelo Sandro Schmidt (2)

POR ET BARTHES
Hoje continua a série que reúne charges do Sandro Schmidt sobre o prefeito Udo Dohler, feitas nos últimos anos. Mas nesta segunda parte, com um tema específico: a bicicleta. Na lama, nos buracos, nas enchentes... e por aí vai. Boa diversão.




quinta-feira, 5 de julho de 2018

O PCC agradece

POR CLÓVIS GRUNER
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, em junho, o Projeto de Lei 580/2015, do senador Waldemir Moka (MDB/MS). O texto, que agora segue para o plenário, altera a Lei de Execução Penal e obriga presos a ressarcir o Estado pela sua manutenção no sistema prisional. Para o senador Moka, a principal razão da crise que assola o sistema penitenciário brasileiro é a “falta de recursos para mantê-lo. Se as despesas com a assistência material fossem suportadas pelo preso, sobrariam recursos que poderiam ser aplicados em saúde, educação, em infraestrutura etc.”.

A justificativa é hipócrita, além de mentirosa. Ela surfa no sentimento algo generalizado de insegurança, medo e indignação, na percepção de que estamos fragilizados frente à violência. Afinal, a posição de um energúmeno truculento como Jair Bolsonaro nas pesquisas, serve como prova de que, em um ano eleitoral, a aposta em mais uma medida populista, a sugerir pela enésima vez que a solução para o problema da criminalidade é o recrudescimento de políticas repressivas, pode render um punhado de votos.

Mas no caso do PL 580/15, a hipocrisia é reforçada com o recurso à mentira. Não são os custos com as prisões que impedem investimentos em “saúde, educação, em infraestrutura etc.”. Quem conhece minimamente a realidade de uma instituição penal, sabe que o custo para mantê-las não chega perto dos alegados R$ 2,4 mil mensais por preso. Nas delegacias, muitas delas utilizadas como cárceres provisórios, a situação é ainda mais degradante. E mesmo esse valor mentiroso, é significativamente menor que os R$ 2 milhões anuais que custam aos cofres públicos um único senador, por exemplo.

A utilidade da falência – Costuma-se dizer que as prisões fracassaram. Mas há utilidade nessa suposta falência, entre outras, a de manter segregados os excluídos de sempre. E como as condições prisionais não recuperam nem ressocializam, as prisões funcionam como verdadeiras fábricas de produção e reprodução da delinquência e da criminalidade O custo social desse ciclo vicioso é altíssimo. Ele reforça nosso apartheid social e racial, produzindo inimigos a serem temidos e ameaças a serem contidas por um Estado que, mínimo onde necessário, deve ser forte no exercício de uma violência institucional nem sempre apenas simbólica.

Determinar que presos indenizem o Estado por meio da espoliação de sua força de trabalho – e o acesso ao trabalho é um direito previsto em mais uma lei que o Estado não cumpre –, é outra medida perversa com o selo de qualidade do nosso “liberalismo conservador”: não apenas apela à memória da escravidão, mas vulnerabiliza ainda mais indivíduos já expostos e vulneráveis. Nos últimos anos, essa vulnerabilidade tem sido matizada pela ação de grupos criminosos que disputam, com os governos, o controle das prisões, distribuindo privilégios, impondo a identidade e mantendo, à força, a fidelidade de e entre seus integrantes.

A violência estatal coopera para o fortalecimento das facções, pois na “sociedade dos cativos” elas representam uma forma de “proteção” contra medidas consideradas abusivas. Como, por exemplo, determinar que presos indenizem o Estado pelos custos de seu aprisionamento expropriando  seus bens ou o seu trabalho. Enquete promovida pelo Senado apurou que quase 45 mil eleitores são favoráveis ao projeto, contra ralos 1380 votantes que o desaprovam. Com esses números, não é de espantar que ele seja aprovado no Senado e na Câmara, para gáudio dos parlamentares da bancada BBB. O PCC agradece.