terça-feira, 19 de julho de 2016

Vereadores: não eleja energúmenos

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Longe vão os tempos do jornalismo diário, em que vez por outra cobria os trabalhos da Câmara de Vereadores de Joinville. Era sempre desinteressante, pouco educativo. E hoje, tentando puxar pela memória, são raras as lembranças de um vereador capaz de merecer respeito. Admiração, então, nem pensar. E projetos a pensar a cidade sob uma perspectiva macro? Tão comuns quanto ursos brancos nas florestas tropicais.

A intenção dos eleitos é amarrar o burro à sombra. É um lugar pouco recomendável. Os episódios negativos se sucedem. A audiência pública solicitada pelo Fórum de Mulheres de Joinville, que teve a participação de apenas um vereador. Vergonhoso e desrespeitoso. E a vereadora-pastora, que insiste no projeto da escola sem partido, mesmo sabendo que as pessoas com dois dedinhos de testa são contra? Ora, vamos na contramão...

Os caras se superam na questão da LOT. A luz vermelha acendeu faz tempo, mas eles assobiam e olham para o lado. Fico pelo jornalista Claudio Loetz: “Joinville está no limiar de um novo momento histórico. O da preparação para o que se tornará daqui a 20, 30 anos. A sociedade, como um todo, não sabe disso. Nem imagina as consequências de decisões que estão na iminência de serem tomadas pelos nossos 19 vereadores”. Quem avisa...

O quociente de inteligência coletiva da CVJ namora o escárnio. É preciso mudar. Nada contra a reeleição, porque quem é bom merece ser reeleito. Mas é hora de oxigenar o sistema. Não é difícil. Eu próprio tenho amigos – muitos – que estão a lançar as suas candidaturas. De uma coisa tenho certeza. Se metade deles se eleger, o quociente de inteligência da CVJ aumenta e a cidade passa a andar para a frente.

Aliás, aproveito para lançar o meu panfleto: não vote em candidatos ligados a religiões fundamentalistas. É certo que em democracia cada cidadão tem liberdade para escolher em quem vota e o meu proselitismo pode parecer fora de foco. Mas se depender do meu esforço, não vamos ter nenhum desses religiosos eleitos. Porque os caras representam o atraso e a negação da própria democracia. Política e religião nunca deram boa coisa.

E antes de continuar a expor o raciocínio, que fique claro: nada contra as pessoas que seguem uma religião. Cada um come o que gosta. Mas havemos de convir que o estado laico está sob risco no Brasil, em todos os níveis de poder. O país está a se transformar numa espécie de cripto-teocracia, na qual esses fundamentalistas sem turbante têm demasiado poder. E, também a partir das cidades, estão a arrastar o país para o atraso.


As próximas eleições são o tempo de fazer subir o quociente de inteligência da CVJ. E isso significa não reeleger os energúmenos que fizeram do cargo um emprego vitalício. Fora com eles. E também é a altura para expurgar essa canalha religiosa que tomou conta da política.

É a dança da chuva.


A falácia de Pirabeiraba


POR GUSTAVO CAMPOS*

No último dia 20 de junho, iniciou a nova operação de linhas Interestação e Alimentadoras, na Estação Pirabeiraba. Fundada em 2005, a estrutura viria cobrir a demanda que o Terminal Norte estava atendendo com linhas paradoras, direto às localidades de Pirabeiraba.

Porém, a organização não foi feita na época . E o local foi transformando num "ponto de ônibus de luxo", com a empresa Auto Viação Catarinense passando a utilizar o local para embarque e desembarque de passageiros rumo a Curitiba.

Antes das pseudo-mudanças, as linhas saíam do Terminal Norte, paravam em Pirabeiraba para embarque, mas não havia integração física, caso o passageiro viesse de outra localidade e tivesse a necessidade de embarcar. Por exemplo, se viesse do bairro Canela e quisesse ir para Estrada Dona Francisca ou Quiriri, a única opção seria a integração temporal, que foi ampliada para 70 minutos há quase três anos.

Mas para quem não tivesse o Cartão Ideal ou se a viagem demorasse mais de 70 minutos? Com a mudança, aplicada apenas para os dias úteis, na teoria o passageiro irá embarcar em duas linhas, sendo uma interestações do Norte para Pirabeiraba, e na Estação Pirabeiraba o passageiro pode ir para onde desejar.

Porém, na prática, a realidade é outra e bem mais complicada: o passageiro vai até Pirabeiraba, desembarca e curiosamente descobre que o ônibus em que ele estava vai parar destino que deseja, sem qualquer comunicação, o letreiro eletrônico com a linha "muda" automaticamente para a segunda ao chegar na estação.

Situação semelhante à Estação Nova Brasília nos dias úteis (já que aos finais de semana as linhas foram transferidas para o Terminal Central em outro formato), onde o passageiro que vem do Centro utiliza o mesmo ônibus para ir ao bairro desejado. Aos finais de semana, as linhas de Pirabeiraba continuam como estão, saindo do Terminal Norte, parando em Pirabeiraba sem horário fixo e seguindo ao bairro desejado. A bilheteria funciona apenas aos dias úteis e aos finais de semana se mantém fechada. O sistema de segurança/controle do terminal não existe, não há guaritas nas entradas dos veículos para cessar a entrada de passageiros de forma irregular, gerando déficit no sistema. 

Aparentemente a empresa responsável pela região não está se importando com isso. Situações assim podem ser utilizadas como argumentos contra o funcionamento da estrutura diante ao Seinfra. Outra coisa que chama atenção é a forma bagunçada de classificação e numeração de linhas. Não há uma ordem, organização, algo que facilite a familiarização para o passageiro.

Todo o sistema de Joinville tem uma organização de linhas bagunçada, sem critérios conforme o tipo de linha, uma adaptação sobre o sistema dos anos 90, quando quase todos os ônibus saíam do Centro. A situação que era para ser melhor e mais eficiente, tanto que há comboios de dois, três de ônibus com a mesma linha saindo do Terminal Norte ao mesmo tempo com destino à Pirabeiraba, causando transtornos. Isso é nada mais que é uma mudança apenas teórica, algo para inglês ver, pois na prática ficou a mesma coisa e dependendo do período até pior.

*Gustavo Campos é técnico em gestão da mobilidade urbana



segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mansão Temer para doenças imaginárias.


A prostituta virgem e a Outorga Onerosa Gratuita


POR JORDI CASTAN

Acreditem! Quando escrevo que não queria voltar ao tema da LOT sou sincero. Mas para não voltar ao tema seria preciso que os nossos vereadores deixassem de aparecer com novas sandices e colocarem o tema de novo em pauta. A última estupidez é a “Outorga Onerosa Gratuita”, a versão legislativa da “prostituta virgem” ou do político honesto, coisas que existem unicamente no mundo da mitologia ou no da fantasia do nosso Legislativo.

O primeiro ponto é a dificuldade em acreditar que possam ser tão idiotas. Devem estar sendo influenciados ou subsidiados por alguém que os supera em idiotice. Como alguém pode ter a ideia de propor uma estultice destas? Em que cabeça cabe? Sei, não precisam responder. Era uma pergunta retórica.

A ideia da "Outorga Onerosa Gratuita" não tem pé nem cabeça e deve ser refutada. Primeiro, porque a outorga onerosa é boa para Joinville. É uma maneira de ter recursos para melhorar a cidade, de poder compensar com obras que beneficiem a todos os prejuízos produzidos por determinadas obras privadas. Assim não só seguiremos socializando os prejuízos, poderemos socializar parte dos lucros. 


Há os que não querem socializar lucros, claro. Acho que é nesse grupo que estão os que assessoram os nossos vereadores. Só pode. Um exemplo: se numa determinada região a legislação permite construir até seis pavimentos, o empreendedor poderá construir nove. Ou seja, três a mais que o permitido, sempre que se pague a outorga onerosa para estes três pavimentos adicionais. Os recursos da outorga serão destinados exclusivamente a obras naquela região. Assim será possível construir parques, praças, alargar ruas, melhorar acessos e devolver um pouco da qualidade de vida perdida para os moradores daquele bairro. É uma boa ideia que os vereadores propõem retirar da LOT.

A sua maldade vai além, ao permitirem que sejam construídos até 15 ou 20 pavimentos na maioria dos bairros de Joinville. Em nome de uma equivocada visão de progresso, o que estão fazendo é desvalorizar o valor das propriedades, porque quando aumenta a oferta o preço cai. Pode até ser que alguma emenda, das apresentadas, proponha alterar a leis da economia ou as da física, porque os nossos legisladores são capazes de unir ousadia e ignorância com efeitos devastadores para Joinville.

Sem entender como a outorga onerosa é boa para Joinville, os vereadores apoiam a ideia da “outorga onerosa gratuita”, que só é boa para os especuladores. Os nossos vereadores afundam um pouco mais no mar de estultice em que tem se convertido o nosso legislativo. Vamos a esperar com curiosidade os próximos desdobramentos desta novela do debate de faz de conta sobre o futuro da cidade.


Na ânsia de ver aprovada a LOT, passa-se por cima da LOM - Lei Orgânica do Município, a nossa constituição municipal. Ignoram-se as APPs (Áreas de Proteção Permanente), permite-se a ocupação da Cota 40, das áreas de mangue, dos mananciais e a construção sobre sambaquis e sítios arqueológicos. No seu açodamento, os vereadores abriram uma caixa de Pandora que agora não tem mais como fechar e deixaram que se espalhassem pela cidade todas as suas maldades. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Villa: os bobos da corte são descartáveis

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Marco Antonio Villa foi demitido da Veja. Não surpreende. É mais um caso de obsolescência planejada, a mesma que já tinha atingido Arnaldo Jabor, Joice Hasselman ou Rodrigo Constantino, por exemplo. Ao longo dos últimos anos, essa gente foi estrategicamente enfiada na comunicação social com um único objetivo: fazer quinar o projeto do Partido dos Trabalhadores. Feito o trabalho, tornaram-se descartáveis.

Nenhum deles foi contratado pelo talento ou respeito no meio jornalístico (no campo da opinião, claro). As publicações apenas usaram o fato de serem pessoas com balizas éticas maleáveis ou por serem apenas ignorantes. E, claro, por se sujeitarem a ser a voz do dono em troca de um punhado de reais. Foi uma solução usada pela imprensa conservadora: pôr os seus títeres a fazer a cabeça de um público inculto, raivoso e fascistóide.

O trabalho não exige especiais dotes intelectuais. E é um claro desserviço à inteligência coletiva do país. Não se trata apenas de formar opinião na contramão do processo civilizacional. O dano mais grave foi a gestação de um fenômeno de identificação. Os ignorantes se reveem nesses arquétipos da mídia e passam a achar sábia a própria ignorância. Têm sido momentos redentores para o pensamento reacionário.

Mas o mercado midiático tem uma lógica própria. Em crise, percebeu que é economicamente inviável acomodar analistas monotemáticos. O comentador que só tem um tema – neste caso, ser contra o PT – torna-se descartável quando o tema perde relevância. Não é desajustado dizer que a tendência vai se manter. Os analistas que fizeram carreira exclusivamente a falar mal de um partido têm os dias contados. E o mercado vai estar mais fechado. Afinal, não vamos esquecer que a credibilidade é o calcanhar de Aquiles desse pessoal.

Enfim, no futuro os historiadores – não incluo Marco Antonio Villa – farão uma recensão deste período. E a história só poderá ser escrita com tintas pesadas. A função da mídia é mediar a relação do ser humano com o mundo (passe a obviedade). E muitos meios de comunicação brasileiros deixaram de lado a informação para fazer propaganda. Marco Antonio Villa e seus congêneres nada mais são do que garotos propaganda. Simples bobos da corte.


É a dança da chuva.



quarta-feira, 13 de julho de 2016

Chama apagada

POR FELIPE SILVEIRA

A chama olímpica passa por Joinville nesta quarta-feira, 13 de julho, em clima hostil. Não só pela chuva, mas pelas críticas que podemos observar em redes sociais, grupos de whatsapp e rodas de conversa por aí. É claro que milhares de pessoas vão receber o símbolo com entusiamo – inclusive eu, que sou fã dos jogos olímpicos, espero arrumar uma brecha para acompanhar a festa. Mas, de modo geral, o que as pessoas querem mesmo é apagar a tocha.

Leia o texto de José Antonio Baço sobre a tocha em Joinville (é uma leitura diferente, mas complementar a este texto)

O que me chama a atenção é que este “sentimento” não é algo promovido pela esquerda. Já é tradição no nosso campo ser contrário aos grandes eventos e às mazelas que os acompanham, como o superfaturamento de obras, as remoções das comunidades pobres de áreas centrais, o aumento da repressão aos pobres e aos movimentos sociais etc. Embora as manifestações de esquerda estejam ocorrendo, o grosso da reclamação parte da população que, tenho a impressão, comemoraria o evento em outro momento.

Vejo tudo isso com alguma preocupação. O desânimo e a revolta, com coisas que até bem pouco tempo eram vistas de outra forma, indicam a profundidade da crise de representatividade, para além do clichê tanto usado pelos comentaristas políticos. Parece que as pessoas não estão interessadas em buscar soluções para os problemas, mas que simplesmente querem ver o circo pegar fogo, deixar que tudo se exploda.

A saída para a crise é outra. Não tem outro jeito que não seja se organizar e lutar por dias melhores. Nada contra àqueles que não gostam do evento esportivo, que eu, repito, adoro, mas talvez esse desgosto signifique algo mais preocupante do que imaginamos.

Ainda sobre a olimpíada e a reação dos brasileiros, quero comentar o vídeo promocional da BBC para o evento. A emissora pública do Reino Unido criou uma animação na qual animais típicos do Brasil praticam esportes tradicionais dos jogos, como a ginástica, os saltos, o levantamento de peso e o atletismo. O vídeo gerou comentários raivosos em vários idiomas na página da BBC.

"Não sabia que os jogos seriam disputados na amazônia", escreveram alguns, ignorando a exuberância da mata atlântica fluminense. Outros dizem que, pelo vídeo, parece que nós brasileiros moramos em um lugar cheio de macacos. Bom, eu não sei onde essas pessoas moram, mas aqui em Joinville, um polo industrial, está cheio de macaquinhos e mãos-pelada nas árvores. Tem um monte de capivara nos canteiros e um jacaré de estimação da cidade.

Entendo a preocupação com a maneira como o Brasil é retratado, embora ache que isso já foi bem mais problemático. Já passou essa fase. Neste século, a imagem predominante do Brasil, apesar dos inúmeros problemas, é de um país em desenvolvimento. Também é preciso entender que filmes, vídeos, peças e outros "produtos" são recortes. Ao fazer o vídeo, se fez uma escolha. A partir dela foi criado um roteiro, cuja inspiração, a nossa fauna e flora, nossa marca incontestável, é linda. Há muitas formas de retratar o Brasil e esta é uma delas.

Mas, se alguém tiver esse trabalho pela frente em algum momento, sugiro anotar o que não pode fazer:

Filme de favela não pode, pois o Brasil não é só favela;
Filme sobre as classes média e alta também não pode, pois não mostra a realidade da favela;
Natureza, que Deus os livre;
Carnaval, nem a pau;
Futebol, deixemos isso para os ingleses.

Talvez reste apenas fazer um filme sobre o golpe.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Dois momentos tochianos.



A tocha passa por Joinville. E daí?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Qualquer gestor, quando vai fazer um investimento, faz uma operação básica: vê qual é a relação custo-benefício da ação. É o raciocínio que deveria ser aplicado à passagem da tocha olímpica por Joinville. A Prefeitura informa que o custo é reduzido, quase residual. Tudo bem. Nada contra a tocha. Mas quais são os benefícios? Não há. Aliás, parece ser o contrário, porque há muitos joinvilenses críticos em relação à iniciativa.

Há um problema de gestão. Afinal, o que a passagem da tocha deixa em Joinville? Nada. Talvez provoque algum ruído durante o evento. É previsível a mobilização de uma comunicação social sempre disposta a carregar o atual governo municipal ao colo. Mas por mais que tentem pintar um quadro grandiloquente, o fato é que no dia seguinte a coisa terá sido esquecida. Porque a passagem é isso mesmo... passageira.

Ora, vamos ser práticos. Que notícias o leitor reteve dessa digressão da tocha pelo país? Sem puxar muito pela memória, lembro da morte da onça Juma, que provocou uma onda de indignação no Brasil e mundo afora. Ou o rapaz que, na passagem por Cascavel, tentou apagar a chama e foi preso. E a imagem um tanto cômica – viralizada nas redes sociais – em que o sujeito escorrega e dá um grande tralho no asfalto com a tocha nas mãos. Enfim...

Há algumas tentativas, por parte do poder público, de dar relevância ao evento. Mas os argumentos, em tom meio acanhado, soam de forma pífia. Porque no frigir dos ovos todos sabemos que a Prefeitura está a oferecer uma mão cheia de nada. E é isso o mais preocupante. A falta de imaginação dos decisores. Perdidos em grandes vaidades e pequenos jogos de poder, os caras transformam a cidade num deserto de ideias.

A passagem da tocha é um evento desgarrado. Não traz valias para a cidade porque não faz parte de uma estratégia. Não existe um projeto para Joinville. Udo Dohler se apresentou como gestor e, como tal, deveria saber que as cidades precisam seguir estratégias de marketing territorial. Hoje o marketing territorial – em todas as suas vertentes – deve ser o elemento orientador dos planos de governo. Mas é preciso saber como fazer... e querer. A aposta tem sido no velho e carcomido clientelismo.

De volta à relação custo-benefício. O custo da passagem tocha é coberto pelos patrocinadores da competição? Perfeito. Mas quais os benefícios para a cidade? Nenhum. E se, num caso extremo, a ideia fosse dar uma forcinha para a reeleição de Udo Dohler? Aí a coisa degringolava. É só dar uma olhada para as redes sociais e tomar o pulso do eleitorado. As pessoas parecem muito pouco felizes. E para que não seja eu a falar, abaixo deixo ao leitor e à leitora uma reprodução de alguns comentários.


É a dança da chuva.



segunda-feira, 11 de julho de 2016

Joinville: a vitória da ganância e a derrota da Cota 40


POR JORDI CASTAN

Em agosto de 2014, o Chuva Ácida ( Apocalipse Now, Jabuti subiu na cota 40) fez uma denúncia: estava em andamento um ataque contra a Cota 40. A iniciativa estava sendo gerada nos gabinetes do IPPUJ, com a anuência do prefeito Udo Dohler. A Prefeitura fez veicular uma nota oficial a desmentir qualquer iniciativa neste sentido, mas as provas apresentadas comprovavam a existência de uma comissão para elaborar uma proposta para acabar com a Cota 40. Nessa altura, o Chuva Ácida lançou uma petição na internet "Não mexa na cota 40", assinada até pelo prefeito Udo Dohler.

Quem acreditou na bondade ou na sinceridade das intenções do Executivo errou feio. No texto da LOT, que em breve deverá ser aprovado pelos vereadores, está explícito o fim da Cota 40 como a conhecemos hoje. O verde de Joinville está ameaçado. A cupidez e a ganância não conhecem limites e o poder público é um aliado que compactua com a destruição do maior patrimônio ambiental de Joinville.

Cota 40 poderá ser ocupada

Art. 7° Parágrafo único. Os lotes contidos na Área Urbana de Proteção Ambiental (AUPA), registrados no Cartório de Registro de Imóveis, e cujas áreas são inferiores a 5.000m2 (cinco mil metros quadrados), serão enquadrados, para efeito de ocupação do lote, como Área Urbana de Adensamento Controlado (AUAC), devendo respeitar uma taxa máxima de ocupação de 10% da área do lote, acrescida de 180m2 (cento e oitenta metros quadrados).

Se não fosse suficiente, a LOT, que os vereadores têm tanta pressa em aprovar,traz outras ameaças ao meio ambiente.


Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei Complementar consideram-se: LXIV - morro: elevação de terreno com cota mínima de 100m (cem metros) em relação à base, e inclinação média maior que 25º (vinte e cinco graus);


Não satisfeitos com isso os vereadores propõem que, depois de aplicado o artigo 2º, os morros que ainda sobrem possam também ser ocupados.

Art. 357
§ 1º Admite-se a implantação de condomínios horizontais em áreas com inclinação natural superior a 30% (trinta por cento), ou 13o 30’ (treze graus e trinta minutos), e inferior à 100% (cem por cento), ou 45o (quarenta e cinco graus), apenas nos condomínios integrados à edificação, e cujo empreendedor apresentar solução técnica na implantação das edificações que garanta a segurança contra situações de risco.
§ 2º Admite-se a implantação de condomínios horizontais em unidades de conservação ambiental, desde que o mesmo esteja regulamentado no Plano de Manejo dessas unidades.

O texto da LOT, que já provocava danos para a cidade, ficou muito pior depois de ter chegado à Câmara de Vereadores. No aspecto ambiental, o cerne do problema está na protelação do Gerenciamento Costeiro/ZEE. Na verdade, o ZEE deve ser prévio à LO. E existe base legal para afirmar isto: zelar pelo ambiente é dever da administração pública. Mas neste caso, apesar de a Prefeitura já ter pago e mesmo iniciado audiências públicas do Gerenciamento Costeiro/ZEE, o programa foi abandonando. A prioridade foi toda para LOT, com a promessa de que depois - repito, depois - ela vai se adaptada ao ZEE. Quer dizer, pretendem aprovar a LOT, permitir a ocupação de tudo o que o atual texto permite e, no futuro, depois que o estrago já tenha sido feito, talvez deem prosseguimento ao ZEE.

Art. 75. Após a homologação do Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro de Joinville, o Poder Executivo Municipal deverá promover a compatibilização desta Lei com o referido Plano.

Esta lógica esdrúxula de aprovar a LOT sabendo que o processo estaria errado é uma atitude irresponsável. Aliás, no mínimo daria motivos para exigir que a LOT só vigore após a promulgação do ZEE e sua compatibilização. Estaríamos correndo o risco que uma vez aprovada a LOT, se licenciassem empreendimentos e atividades que a LOT, na sua redação permitiria e que o ZEE vedará no futuro. O resultado seria uma situação de insegurança e ainda mais perversa, resultado da inépcia, o açodamento e da irresponsabilidade mancomunados com a ganância.

Leia os posts, em que já em agosto de 2014 denunciávamos o risco que a Cota 40 corria.  Felipe Silveira, do Charles Henrique Voos e meus, em defesa da Cota 40.