terça-feira, 26 de janeiro de 2016

E ainda tem gente que não gosta de cotas...



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É risível o barulho que ainda se faz em torno do tema das cotas nas universidades públicas brasileiras. O chororô vem sempre da pequena burguesia, que esgrime sofismas para escamotear um único fato: os ricos querem manter os seus lugares nas universidades públicas, como tem acontecido em toda a história recente do País. Uma vaga para um negro ou um índio é uma vaga a menos para um pequeno-burguês (perdão pelo truísmo).

Os liberais adoram falar em mobilidade social e os moralistas não largam o argumento furado da meritocracia. Defendem a idéia peregrina de que todas as pessoas podem dar certo na vida. E que basta trabalhar muito e aproveitar as chances. Tudo isso, claro, independente da classe social, do ambiente em que se vive ou das oportunidades que se tem. É uma lógica (idiota) de classe.

Ora, os liberais não querem o Estado a se meter nos seus negócios. E, por extensão, também rejeitam intervenções no plano da educação. O conservadorismo tem explicação: a universidade pública fornece, sem custos, o capital intelectual que vai permitir, aos filhos da pequena burguesia, as condições para permanecer no topo da escala social. O ideal é não haver mobilidade.

Mas o mundo dos liberais e dos reaças (não são exatamente a mesma coisa) só é bom para os liberais e os reaças. A experiência ensina: hoje em dia é cada vez mais difícil um pobre ficar rico. E a educação representa uma rara possibilidade de ascensão social. Quem tem acesso à escola tem maiores chances de ascender na vida, mas nem isso é garantia nos dias de hoje.

Aliás, estudos realizados nos Estados Unidos, paraíso do liberalismo, revelam o que todos sabemos: há uma forte relação entre o rendimento dos pais e a qualificação dos filhos. Ou seja, pais ricos conseguem educar melhor os seus filhos. E, claro, o pimpolhos da pequena burguesia conseguem melhores lugares no mercado de trabalho.

Ficar por aí com o rame-rame da meritocracia é uma tergiversação antropológica que não resolve o essencial. A realidade mostra que não há igualdade de oportunidades, nem mãos invisíveis. Nesse caso, a mão visível do Estado tem que dar um empurrãozinho para impor alguma justiça. Enfim, nenhum humanista pode ser contra as cotas.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Udo Dohler: quem não sabe fazer... ensina


POR JORDI CASTAN

Há coisas na vida que não se recuperam: a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida. É um antigo ditado que cai como uma luva sobre a atuação do prefeito Udo Dohler. As palavras que proferiu, a oportunidade que perdeu. A ocasião, como diz o adagio, foi perdida. Mas as palavras ele deixou em documentos encontrados na internet. 

Quem quiser conhecer mais sobre o pensamento do prefeito Udo Dohler pode visitar o link “ideias e pensamentos de Udo Dohler”. Lá ele expõe suas ideias sobre o trabalho, sua visão da gestão, além de reunir uma série de conselhos que se dispõe a compartilhar de forma generosa na internet. Para quem tiver interesse, recomendo uma visita.

No entanto, para poupar o seu tempo, selecionei alguns slides do site que poderiam ser úteis ao próximo prefeito de Joinville. É bom lembrar a diferença que existe entre “dizer” e “fazer”. Há dezenas de empresários mais ou menos bem sucedidos que oferecem receitas de bolo para quem quiser emular o seu modelo de gestão. Udo, num ato de suprema generosidade e desprendimento, compartilha a sua sabedoria. Porque é importante deixar o seu modelo de gestão ao alcance de todos. Obrigado, prefeito.


Não tenho palavras para agradecer um presente como este. Em tempo, por um instante fiquei com a impressão de que é um caso daqueles em que o autor diria: “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. E deixo uma sugestão: seria boa ideia manter atualizado o site. Afinal, sabemos que uma coisa é o discurso de campanha, para iludir incautos (ops!, digo, eleitores) e outra é gerenciar uma cidade como Joinville.


Em tempo. Há diferenças abissais entre o administrador e o gestor. Enquanto o primeiro sabe o que deve ser feito, o segundo sabe como fazer. Saber o que deve ser feito implica conhecimento, planejamento e capacidade. Saber como fazer requer treinamento e trabalho. Deve ser por isso que Udo Dohler destaca tanto o valor do trabalho, o mérito que tem que acorda cedo, trabalha duro e suja as mãos trabalhando. Pena que não se vejam resultados.


Mas vejamos, então...





sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Boa Vista!


Nós queremos mais, nós podemos mais



















POR SALVADOR NETO


Há coisas em Joinville que nos surpreendem, e para pior. Como imaginar uma cidade acessível, moderna, sustentável, feliz e centro de excelência se ainda nos ufanamos de, agora, em pleno século 21, anunciarmos a instalação de abrigos de ônibus como se fossem a última moda no primeiro mundo? Sim, este anúncio foi feito pela Prefeitura de Joinville, gestão Udo Döhler, com muita pompa. Uma verdadeira piada de mau gosto, espalhada por veículos de comunicação. E fazem isso com a certeza de que vão engabelar os cidadãos que pagam impostos esperando algo de inovador em troca.

Por baixo ouvimos falar de novos abrigos de ônibus há duas décadas, para ser generoso com os gestores que sentaram na cadeira de Prefeito. Até hoje milhares de usuários do transporte coletivo são obrigados a ficar sob o sol escaldante, ou chuva torrencial, sem qualquer abrigo. E com o título de tarifa mais cara do Brasil. Os primeiros abrigos então foram aqueles que copiam os modelitos dos anos 1960/1970... Depois mostraram fotos de outros, modernos e reluzentes, mas que ficarão somente em áreas onde transitam “mais” pessoas.

Ou seja, na cidade que se diz a segunda melhor do Brasil (??) teremos, sim teremos, porque até agora é só mais uma promessa, novos (?) abrigos de ônibus para áreas de primeira classe e de segunda classe. É o que se entende com o anúncio de dois tipos: um para periferias, outro para o centro, e se saírem! É somente isso que a população da maior cidade de Santa Catarina merece? Um governo que dizia a novidade, de gestão exímia, moderno, anunciar abrigos de ônibus? Nós queremos mais, nós podemos mais! Não subestimem o desejo, a força e a vontade do povo de Joinville! Tenham mais respeito, apresentem o futuro, porque de passado estamos fartos!

Não bastasse o executivo municipal se mostrar atrasado, incipiente, iníquo, fraco, incompetente, temos também o modelo novo/velho do legislativo. Com raríssimas exceções – e muito raras mesmo! – são incapazes de fiscalizar os atos do Prefeito e sua gestão, ou por comodismo, por cargos, ou por medo, e mais que isso, propor leis que promovam o debate para uma cidade realmente moderna, acessível, inclusiva, sustentável, e assim feliz. Os vereadores repetem a receita do passado: denominações de ruas, homenagens a personalidades, empresas e entidades, moções de fazer rir, indicações para que fechem buracos das ruas, ignorados solenemente pelo executivo. Basta andar nas ruas para constatar isso. E o presidente da Casa, Rodrigo Fachini, joga para a torcida: economizou grana.

Seria verdade, ou seriam palavras ao vento? Claro que são palavras ao vento. Somente nas famosas catracas foram gastos mais de um milhão de reais! Viagens e diárias abusivas denunciadas à vontade. Vereadores que seriam promoters da Festa das Flores em Portugal! E viva Joinville? O povo de Joinville quer mais, pode mais e merece muito mais senhores Prefeito e vereadores! A cidade precisa de investimentos, e economia por economia não melhora a vida dos cidadãos, e em muitos casos, mostra a incapacidade de gastar naquilo que é essência e que mudaria a vida da cidade para melhor. Gastar bem e melhor é mais efetivo do que anunciar economia.

A maior cidade precisa ser também maior em líderes inovadores, tanto no executivo quanto no legislativo. No executivo, um Prefeito corajoso, inovador, que peite interesses e faça as obras que podem tirar Joinville do atraso em que se encontra. Quatro anos de atraso podem representar na verdade muitos anos mais de retrocesso até que se encontre o caminho do desenvolvimento. No legislativo, legisladores criativos, provocadores, propositores de debates que elevem o nível dos projetos e sonhos de uma cidade evoluída. Outubro vai chegar, e cabe a você eleitor observar o que foi feito, o que não foi feito, o que foi prometido e não entregue, e decidir melhor. Joinville grita: quer mais, pode mais.

É assim, nas teias do poder.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Retrospectiva


POR VALDETE DAUFEMBACK

Há um ano escrevi um texto questionando a tal crise anunciada em coro nas redes sociais. À época era de muita tensão originada pela recém vitória eleitoral que reelegeu Dilma ao segundo mandato à presidência da República. Os ânimos estavam alterados. A oposição não admitia a derrota, era preciso disseminar o mais rápido possível ideias que desqualificassem o governo popular para desgastar a imagem da presidente. 

Naquele texto fiz menção às contradições da suposta crise, tendo em vista o movimento nas rodovias, nas praias, nos aeroportos, nos shoppings, restaurantes, enfim, a desenfreada compulsão pelo consumo estava em toda parte, que em nada se parecia com uma situação de crise. Recebi muitas críticas e reprovação por discordar da profecia apocalíptica da crise no Brasil. 

O ano se passou. Foram trezentos e sessenta e cinco dias vividos com a sensação de elevação desse número a um potencial geométrico, considerando o peso do ódio que se espalhou como instrumento contra tudo o que se assemelhasse a direitos humanos e à política distributiva de renda. Linchamentos físicos e políticos foram aceitos e recomendados. A sociedade passou a ser dividida entre pessoas “de bem” e de outras categorias. Às “de bem” foi recomendado o porte e uso de armas para se protegerem do “mal”, daqueles “suspeitos” que não foram agraciados pela talentosa meritocracia. 

Pobres, negros e homossexuais foram agredidos gratuitamente, muitas vezes com o aval da grande mídia que mostrou ser competente na prestação de um desserviço à sociedade. Intencionalmente, não raras vezes, meios de comunicação publicaram matérias incriminando personagens políticas para, posteriormente, pedir desculpas pelo deslize de informação infundada, ou por imagens que foram trocadas “acidentalmente”. 

Tentando isolar a situação “da crise” ao Brasil sem analisar o contexto mundial, os donos do poder econômico arrastaram, sob sua influência, uma quantidade de analfabetos políticos para fazer coro frente a práticas inventivas e difamatórias de natureza partidária, provocando agressões a cidadãos em lugares públicos e ou privados. 

Mais um ano se iniciou e a compulsão pelo consumo se repete da mesma forma. Milhares de pessoas se deslocam e lotam praias, clubes, aeroportos, rodovias, centos de compras contrariando o agouro de comunicadores da grande mídia que, mesmo reconhecendo este fenômeno repetem como mantra: “apesar da crise”, “apesar da crise”. Fico a imaginar que como brasileiros somos excêntricos, pois quem diante de uma crise viveria neste paraíso de consumo? 

Lembro muito bem dos anos de 1990 quando o país atravessou uma crise econômica em que vinte e cinco por cento dos joinvilenses estavam desempregados ou não conseguiam o primeiro emprego. Praia, viagem, compras? Nada disso, nem pensar! Lideranças comunitárias, sindicais e religiosas passavam sábados e domingos em reuniões em sede de sindicatos a fim de encontrar saídas à situação dos trabalhadores. Lembro do slogan da campanha de FHC para as eleições do seu segundo mandato: “Quem venceu a inflação vai vencer o desemprego”. Que nada! Somente no ano de 2003 para frente é que a situação mudou. Sejamos coerentes com a memória histórica!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

É possível consertar o mundo?

Aaron Swartz
POR FELIPE SILVEIRA

Depois de muito tempo enrolando, vi ontem o filme The Internet's Own Boy, que conta a história do ativista americano Aaron Swartz, encontrado morto em seu apartamento em 2013, depois de enfrentar um gigantesco e bizarro processo na Injustiça Americana.

Embora tenha morrido por causa disso, Aaron tentou responder afirmativamente à pergunta-título deste texto. Hacker, autodidata, ativista político, o garoto era aquilo que costumamos chamar de gênio. Porém, ao invés de usar seu talento para ganhar dinheiro, ele estava muito mais interessado em mudar o mundo. Ou melhor, consertá-lo.

Como programador, Aaron parecia acreditar que alguns ajustes na lógica poderiam corrigir os rumos, colocar as coisas no lugar. Em uma das tentativas, foi encurralado pelo Estado, que ameaçava condená-lo a 35 anos de prisão. Aaron não resistiu a pressão e tirou a própria vida pouco antes do julgamento.

A história de Aaron mostra o quão dolorosa pode ser a tentativa de fazer algo pelas pessoas. Mostra como pode ser cruel o Estado com essas pessoas, assim como as coorporações e a sociedade. Afinal, a perseguição ocorre diariamente e de diferentes formas.

Em Joinville, por exemplo, militantes pelo passe livre foram processados por aliados das empresas que sugam o dinheiro do povo por meio do transporte público. Um sociólogo mais crítico dos empresários locais - por causa das desigualdades que eles promovem - foi demitido da universidade que trabalha e não consegue mais trabalho em outras. O desemprego, de modo geral, assola quem se envolve com alguma militância ou com a política que vale a pena disputar. Essas e outras situações causam desânimo, depressão, desistência das lutas e até mesmo a morte. No caso de Aaron, ele tirou a própria vida, mas é muito mais comum que aqueles e aquelas que "incomodam" sejam assassinados por jagunços a mando de endinheirados fazendeiros, políticos e empresários.

Porém, apesar do final trágico, trajetórias como a de Aaron Swartz são inspiradoras. Ele e outros tantos e tantas mudaram o mundo, consertaram algumas peças, fizeram suas partes. Mas ainda há inúmeras esperando bons mecânicos. O mundo, o país e a cidade estão feios, mas não basta uma pinturinha, tapar os buracos. É preciso se aprofundar nas engrenagens mais complexas e consertá-las.

Assista o documentário e inspire-se também.

Vaza!


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

FHC , o Inflado!


A amnésia é o melhor cabo eleitoral de Udo Dohler

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Foi interessante (e nada inesperado) ver, nos últimos dias, o anúncio de obras da Prefeitura de Joinville. Fica a sensação de que há mais trabalho em duas semanas do que houve em três anos. Estacionamento rotativo. Pavimentação da rua Tenente Antônio João. Novos pontos de ônibus. Patrolamento e ensaibramento de ruas pelas subprefeituras. Ambulâncias, motos e carros.

Enfim, a comunicação da Prefeitura tem se esforçado para pintar um quadro em cores mais suaves e, com isso, convencer os eleitores de que o trabalho está a ser feito. Mas há um problema: o timing é mais que tardio. A escassez de realizações ao longo de toda a gestão não ajuda. Aliás, é conhecida, no anedotário político, a lógica de uma gestão de quatro anos, que deve ter as seguintes fases:

Ano 1 – pôr a culpa dos problemas na gestão anterior.
Ano 2 –  anunciar grandes obras e, para isso, falar em projetos.
Ano 3 – reclamar da falta de verbas, mas ainda assim dizer que há obras em licitação.
Ano 4 – transformar a cidade num canteiro de obras, destacar a eficiência da administração e preparar a reeleição.

Alguém tem dúvidas de que a atual administração está empenhada em seguir esse roteiro? Em ano de eleições, parece ter entrado na quarta fase com franca volúpia. Será suficiente? A ineficácia foi tanta ao longo dos anos anteriores que só a fraca memória e pouca convicção política pode fazer mudar a percepção dos eleitores. Ou seja, a amnésia política é o principal cabo eleitoral de Udo Dohler.

A situação é difícil para o atual prefeito, mas (porque há sempre um "mas") talvez seja cedo demais para anunciar o fim político de Udo Dohler. Quem morre na véspera é peru. Todos sabemos que uma campanha regada a muitos cifrões pode mudar o rumo das coisas. E se há alguém com cacife para investir forte é o atual prefeito. Portanto, quando os reais começaram a falar, muita coisa pode mudar. Melhor esperar para ver.


É a dança da chuva.