quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Tempo de Natal: diferentes, mas em paz

POR ET BARTHES


As redes sociais são hoje uma espécie de campo de batalha, onde as pessoas parecem ser incapazes de conviver com as diferenças. Mas este filme, realizado pela Android no ano passado, serve como metáfora. Mostra que os diferentes podem conviver em paz. Feliz Natal.


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A cerca é mãe do capitalismo, a ganância é parteira do egoísmo



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Se alguém me perguntasse qual é a invenção que mais interferiu nos destinos da humanidade, não teria dúvidas em responder. É a cerca. Não sei se há mais alguém a defender essa tese, mas não tenho dúvidas de que a cerca representa o marco zero do capitalismo (simbolicamente falando, claro). No dia em que alguém decidiu cercar um quintal ou um jardim, a humanidade nunca mais foi a mesma.

Não sei se o leitor e a leitora lembram das lições de história na escola, mas os cercamentos (enclosures) viraram a sociedade pelo avesso. Porque as terras de comum – por servos e senhores – foram privatizadas e transformadas em pastos para ovelhas. E os trabalhadores acabaram sendo expulsos das suas casas, num tempo em que, na descrição de Thomas Morus, as ovelhas comiam os homens.

Era o começo do capitalismo. A cerca anuncia o nascimento da propriedade privada, o que até nem é uma ideia para rejeitar de forma apriorística (que me perdoem os comunistas). O problema é que nesse mesmo parto também nasceu o mais virulento dos pecados civilizacionais: a ganância. Sozinha, a ganância já causou mais danos que todos os sete pecados capitais juntos. Se a cerca é mãe do capitalismo, a ganância é a parteira do individualismo exacerbado.

O individualismo de que estamos a falar é um sentimento egoísta (e ególatra), que leva a rejeitar os valores da solidariedade humana. Nada mais longe da tese do pensador liberal Adam Smith, que propôs uma ideia aceitável de individualismo: se cada um cuidar do seu jardim, todos os jardins serão bonitos. Faz sentido... em teoria. Mas a coisa não funcionou. Por quê? Porque o tempo transformou a ganância em virtude. E a corrosão do caráter deixou de ser uma coisa negativa.

 Os capitalistas que abusam do capitalismo estão nem aí para o liberal escocês (o único escocês que reconhecem é o uísque.) Perdeu, Adam Smith. A ganância faz querer açambarcar todos os jardins do mundo. Não foi por acaso que chegamos a este número imoral: 1% dos mais ricos detém a mesma riqueza que os outros 99%. Ou, por outras palavras, os tais 1% de que falava o pessoal do Occupy Wall Street: os acionistas gananciosos das corporações gananciosas, que produzem riqueza sem trabalho.

Os próprios defensores do sistema capitalista estão a cair no engodo, porque o velho capitalismo de terra e trabalho está superado. O capitalismo financeiro (ou de casino), que faz dinheiro gerar dinheiro sem um corresponde em produção, está a levar o sistema a um ponto limte. Há uma inegável crise sistêmica que fez surgirem os excluídos do capitalismo. Mau presságio. Afinal, como não se cansam de repetir os marxistas, o capitalismo gera o seu próprio coveiro. A última cerca pode ser a do capitalismo no cemitério da história.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A democratização da corrupção: ainda há homens honestos?


POR JORDI CASTAN

Ainda há homens honestos? Pode parecer uma pergunta retórica, porque em algum momento do passado deve ter havido um homem honesto, mas a verdade é que hoje é difícil responder com segurança. Não há dia que não sejamos surpreendidos com um novo nome para acrescentar à lista dos corruptos.

A corrupção não se limita a Brasília. Em todos os níveis e em todos os estamentos há corruptos. No plano municipal, há câmaras de vereadores em que a maioria dos legisladores está presa, como no caso de Foz de Iguaçu. É o mais recente e não será o último. Aqui em Joinville temos vereador que já foi preso e que agora é réu. Há vereador que nem assumiu é corre o risco de nem chegar a fazê-lo. O estado de Santa Catarina pode se somar a lista dos que tem seu governador acusado de corrupção. Voltamos à época em que catarinense encontrava a imagem do seu governador nas páginas policiais.

O estado de Alagoas tem todos os seus senadores acusados de corrupção. Mais um motivo para questionar se alguma vez houve um homem honesto. Até o queridinho da esquerda, o senador Lindberg Farias acaba de ter cassados os seus direitos políticos. E não foi um prêmio por boa conduta. Se isso fosse pouco, há até juiz do Supremo Tribunal Federal que tem sua isenção questionada. 



Neste vídeo o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, dá uma demonstração de como a falta de vergonha não conhece limites. A sua ousadia impressiona e sua agressividade poderia até enganar, se o tempo não tivesse acabado mostrando a verdade.

O Brasil vive hoje a democratização da corrupção. A corrupção não está mais restrita a uma minoria. Ela se espalha como um cancro por todos os setores, por todos os níveis e poderes da República. No Brasil, o homem honesto é uma espécie em extinção e os corruptos, na sua sanha corruptora, querem arrastar a todos para o mesmo lamaçal. Por isso a proliferação de textos acusando a todos de sermos corruptos.

O objetivo hoje é colocar a todos no mesmo cocho. Se todos formos corruptos não haveria mais pena, nem castigo. Vamos deixar claro: não é porque a maioria se tenha corrompido que ser corrupto está certo e não deva haver punição. Não há como ser conivente com a corrupção, nem tampouco ter corrupto de estimação (como muitos). Todos os corruptos devem ser punidos e devolver o dinheiro roubado, independentemente de partido ou cargo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"Vocês não são de Joinville"



POR EGON ZEK

Saímos de casa no domingo de tarde eu, meus amigos e amigas. Estávamos arrumados à nossa maneira: jovens, coloridos, ousados, livres. Ali por perto do Museu do Sambaqui, Casa da Cultura, caminhávamos na calçada, conversando para chegar ao nosso destino, quando fomos chamados.

Um carro grande, lindo, preto, bem rico, encostou perto de nós. Abaixou o vidro elétrico uma mulher de uns 40 anos, acompanhada de outra no lugar do carona, perguntou:

- Oi, vocês são daqui?

Paramos, simpaticamente, porque somos educados, gentis e tratamos bem qualquer tipo de pessoa. Uma das amigas falou: “ah, eu vim de Brasília”. E outros de nós que não tinham ouvido a primeira pergunta foram parando e perguntando o que estava rolando. Ela continuou:

- Vocês são de Joinville?

Nesse momento eu fiquei encabulado porque ela não estava sendo simpática como nós. Pensamos que ela queria alguma informação. Então me aproximei mais um pouco do carro e respondi parando de sorrir. Eu senti uma arrogância no olhar dela.

- Somos de várias cidades, mas sim, moramos tudo aqui.
- Ah, eu logo percebi.
- Por que, moça, algum problema?
- As pessoas da nossa cidade não são assim. O que aquela moça tá fazendo não fazemos aqui, vocês vêm de fora difamar a nossa cidade.

O que "aquela moça" estava fazendo era usar uma camisa sem sutiã. O que não mostra nada, apenas a deixa livre. Uma mulher se escandalizar com o seio da outra não é coisa desse século, gente. Na nossa turma tinha gays, lésbicas, negros, gordos e isso pra uma joinvilense branca, loira e rica é difamação pra cidade perfeita, respeitosa e germânica dela.
Só no seu mundinho de ouro amiga. Acorda.

Assim, gente, os coxinhas estão tomando coragem, fazendo merda (não é de hoje) e tendo coragem de falar (falar merda e não saber argumentar). Gritamos para ela #foratemer, sim. Ela ficou puta da cara, fechou seu vidro elétrico e foi embora com ar condicionado ligado.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Vamos falar de aborto?



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


Aborto. Eis uma discussão que tem tudo para dar errado no Brasil. Falar de temas fraturantes exige um nível civilizacional que os brasileiros, de maneira geral, ainda não atingiram. E estes tempos de pós-verdade, em que a opinião vale mais que o fato, fizeram o país descer mais alguns degraus em matéria de costumes. O obscurantismo tornou-se um referente no caldo de cultura do patropi.

O debate é oportuno, mas exige interlocutores open- minded. Gente com cultura, com mundo e sem moralismos toscos. Porque é uma questão médica e a intolerância faz cegar essa gente: de acordo com a Organização Mundial da Saúde, todos os anos morrem 47 mil mulheres no mundo em consequência de abortos clandestinos. Ora, as pessoas dizem ser pela vida, mas não se importam com tantas mortes?

Mas o texto não pretende provocar qualquer discussão. A intenção é apenas fazer o relato  de um país onde o aborto existe, resolveu um problema de saúde pública e, assimilado pela sociedade, se tornou um não-assunto. Em Portugal, país onde voltei a viver há duas décadas, o aborto (chamado interrupção voluntária da gravidez) existe desde 2007. E o país não foi destruído pela ira divina. 

Vez por outra o tema reaparece na mídia, mas por questões laterais. Há alguns anos, os partidos de direita, então no poder, instituíram o pagamento de “taxas moderadoras”. A interrupção da gravidez, feita de graça no sistema público de saúde, passou a ser paga, num valor que ronda os 27 reais. O atual governo, de esquerda, extinguiu essa taxa. O mais importante, no entanto, é que o número de complicações em casos de aborto diminuiu.

Que tal mostrar alguns números? Os dados sobre complicações decorrentes de abortos revelam o seguinte quadro: de 2002 a 2007 (antes da legalização) foram registrados 1.258 casos de complicações; de 2008 a 2012 (após a legalização), houve apenas 241 casos registrados. É uma diferença muito significativa. E ao contrário do argumento dos conservadores, o número de abortos não aumentou, havendo mesmo indicações de que vem diminuindo.

E vale salientar outros números. Entre 2002 e 2007, houve 14 mortes maternas notificadas e relacionadas a abortos clandestinos. Em anos posteriores não foram registradas vítimas fatais. Aliás, essa é uma das preocupações das autoridades. Ainda existem abortos clandestinos, em grande número decorrentes de fatores como o sentimento de vergonha e culpa a que as mulheres são submetidas por moralismos familiares ou religiosos.

Enfim, o que este texto pretende é demonstrar que as sociedades modernas tratam questões como a interrupção da gravidez no plano da saúde. Já as sociedades mais atrasada tendem à criminalização. Mas fica a pergunta. Quantas mortes os moralismos já provocaram?

É a dança da chuva.