POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas”. Este é, sem dúvida, o argumento preferido dos defensores das armas na tentativa de explicar o inexplicável: a liberalização do uso de armas. O argumento é considerado uma espécie de bala de prata. Por ser tão irretorquível, põe fim a qualquer debate. Mas é só estupidez, porque a defesa de armas só interessa à indústria do armamento e a um punhado de pacóvios.
Ora, basta uma rápida análise dos fatos para mostrar que esse argumento – pessoas matam, armas não – é tolice. E a comprovação vem dos Estados Unidos, um país que é referência no uso de armas e que acolhe a decrépita segunda emenda, instituída no século 17 para garantir, aos cidadãos, o direito de ter e portar armas. A emenda, claro, voltou a ser tema de debate nas eleições que levaram Donald Trump à Casa Branca.
A situação na terra do Tio Sam é tão aberrante que a Brady Campaign, entidade focada na prevenção da violência por armas de fogo, decidiu criar uma campanha publicitária satírica, mas tendo por base dados da realidade. Eis os fatos: no ano passado toddlers (crianças na fase de engatinhar e andar) dispararam e mataram mais norte-americanos do que terroristas. Parece brincadeira, mas é sério.
“Mulher morta depois de uma criança ter pegado numa arma”. “Criança atira em parentes após encontrar uma arma de fogo”. “Mulher atingida e morta pelo filho de três anos”. “Criança atinge mortalmente irmã de nove anos com arma deixada no guarda-roupas”. Esses são alguns exemplos de manchetes usadas no filme de televisão, a peça principal da campanha “Toddlers Kill” (ver abaixo).
“As armas não matam pessoas, as crianças matam” foi o tema da campanha, que ganhou notoriedade mundial. E é aí que entra a sátira. “Há crianças mortíferas através do país, matando pessoas a um ritmo alucinante. É preciso trancafiá-las”, diz o texto, numa ironia. “A gente espera que essa situação mostre o absurdo que é o debate sobre armas nos Estados Unidos”, explicou Brendan Kelly, porta-voz da Brady Campaign. E tem razão, claro.
E o que o Brasil tem a ver com isso? Por enquanto, ainda pouco. Mas não vamos esquecer que o país tem uma aberração legislativa chamada Bancada da Bala. E o pior: que mais de 70% dos candidatos que receberam doações da indústria do armamento acabaram se elegendo nas últimas eleições parlamentares, tanto em nível estadual quando federal. É um claro tiro no bom senso.
É a dança da chuva.