quinta-feira, 14 de julho de 2016
quarta-feira, 13 de julho de 2016
Chama apagada
POR FELIPE SILVEIRA
A chama olímpica passa por Joinville nesta quarta-feira, 13 de julho, em clima hostil. Não só pela chuva, mas pelas críticas que podemos observar em redes sociais, grupos de whatsapp e rodas de conversa por aí. É claro que milhares de pessoas vão receber o símbolo com entusiamo – inclusive eu, que sou fã dos jogos olímpicos, espero arrumar uma brecha para acompanhar a festa. Mas, de modo geral, o que as pessoas querem mesmo é apagar a tocha.
Leia o texto de José Antonio Baço sobre a tocha em Joinville (é uma leitura diferente, mas complementar a este texto)
O que me chama a atenção é que este “sentimento” não é algo promovido pela esquerda. Já é tradição no nosso campo ser contrário aos grandes eventos e às mazelas que os acompanham, como o superfaturamento de obras, as remoções das comunidades pobres de áreas centrais, o aumento da repressão aos pobres e aos movimentos sociais etc. Embora as manifestações de esquerda estejam ocorrendo, o grosso da reclamação parte da população que, tenho a impressão, comemoraria o evento em outro momento.
Vejo tudo isso com alguma preocupação. O desânimo e a revolta, com coisas que até bem pouco tempo eram vistas de outra forma, indicam a profundidade da crise de representatividade, para além do clichê tanto usado pelos comentaristas políticos. Parece que as pessoas não estão interessadas em buscar soluções para os problemas, mas que simplesmente querem ver o circo pegar fogo, deixar que tudo se exploda.
A saída para a crise é outra. Não tem outro jeito que não seja se organizar e lutar por dias melhores. Nada contra àqueles que não gostam do evento esportivo, que eu, repito, adoro, mas talvez esse desgosto signifique algo mais preocupante do que imaginamos.
Ainda sobre a olimpíada e a reação dos brasileiros, quero comentar o vídeo promocional da BBC para o evento. A emissora pública do Reino Unido criou uma animação na qual animais típicos do Brasil praticam esportes tradicionais dos jogos, como a ginástica, os saltos, o levantamento de peso e o atletismo. O vídeo gerou comentários raivosos em vários idiomas na página da BBC.
"Não sabia que os jogos seriam disputados na amazônia", escreveram alguns, ignorando a exuberância da mata atlântica fluminense. Outros dizem que, pelo vídeo, parece que nós brasileiros moramos em um lugar cheio de macacos. Bom, eu não sei onde essas pessoas moram, mas aqui em Joinville, um polo industrial, está cheio de macaquinhos e mãos-pelada nas árvores. Tem um monte de capivara nos canteiros e um jacaré de estimação da cidade.
Entendo a preocupação com a maneira como o Brasil é retratado, embora ache que isso já foi bem mais problemático. Já passou essa fase. Neste século, a imagem predominante do Brasil, apesar dos inúmeros problemas, é de um país em desenvolvimento. Também é preciso entender que filmes, vídeos, peças e outros "produtos" são recortes. Ao fazer o vídeo, se fez uma escolha. A partir dela foi criado um roteiro, cuja inspiração, a nossa fauna e flora, nossa marca incontestável, é linda. Há muitas formas de retratar o Brasil e esta é uma delas.
Mas, se alguém tiver esse trabalho pela frente em algum momento, sugiro anotar o que não pode fazer:
Filme de favela não pode, pois o Brasil não é só favela;
Filme sobre as classes média e alta também não pode, pois não mostra a realidade da favela;
Natureza, que Deus os livre;
Carnaval, nem a pau;
Futebol, deixemos isso para os ingleses.
Talvez reste apenas fazer um filme sobre o golpe.
terça-feira, 12 de julho de 2016
A tocha passa por Joinville. E daí?
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Qualquer gestor, quando vai fazer um
investimento, faz uma operação básica: vê qual é a relação custo-benefício da
ação. É o raciocínio que deveria ser aplicado à passagem da tocha olímpica por
Joinville. A Prefeitura informa que o custo é reduzido, quase residual. Tudo
bem. Nada contra a tocha. Mas quais são os benefícios? Não há. Aliás, parece ser o contrário, porque
há muitos joinvilenses críticos em relação à iniciativa.
Há um problema de gestão. Afinal, o que a passagem
da tocha deixa em Joinville? Nada. Talvez provoque algum ruído
durante o evento. É previsível a mobilização de uma comunicação social sempre
disposta a carregar o atual governo municipal ao colo. Mas por mais que tentem pintar um
quadro grandiloquente, o fato é que no dia seguinte a coisa terá sido
esquecida. Porque a passagem é isso mesmo... passageira.
Ora, vamos ser práticos. Que notícias o leitor reteve dessa digressão
da tocha pelo país? Sem puxar muito pela memória, lembro da morte da onça Juma,
que provocou uma onda de indignação no Brasil e mundo afora. Ou o rapaz
que, na passagem por Cascavel, tentou apagar a chama e foi preso. E a imagem
um tanto cômica – viralizada nas redes sociais – em que o sujeito escorrega e
dá um grande tralho no asfalto com a tocha nas mãos. Enfim...
Há algumas tentativas, por parte do poder
público, de dar relevância ao evento. Mas os argumentos, em tom meio acanhado, soam de forma pífia. Porque no frigir dos ovos todos sabemos que a Prefeitura
está a oferecer uma mão cheia de nada. E é isso o mais preocupante. A falta de
imaginação dos decisores. Perdidos em grandes vaidades e pequenos jogos de
poder, os caras transformam a cidade num deserto de ideias.
A passagem da tocha é um evento desgarrado.
Não traz valias para a cidade porque não faz parte de uma estratégia. Não
existe um projeto para Joinville. Udo Dohler se apresentou como gestor e, como
tal, deveria saber que as cidades precisam seguir estratégias de marketing
territorial. Hoje o marketing territorial – em todas as suas vertentes – deve
ser o elemento orientador dos planos de governo. Mas é preciso saber como fazer... e querer. A aposta tem sido no velho e carcomido clientelismo.
De volta à relação custo-benefício. O custo da
passagem tocha é coberto pelos patrocinadores da competição? Perfeito. Mas quais os
benefícios para a cidade? Nenhum. E se, num caso extremo, a ideia fosse dar uma
forcinha para a reeleição de Udo Dohler? Aí a coisa degringolava. É só dar uma
olhada para as redes sociais e tomar o pulso do eleitorado.
As pessoas parecem muito pouco felizes. E para que não seja eu a falar, abaixo deixo ao
leitor e à leitora uma reprodução de alguns comentários.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Joinville: a vitória da ganância e a derrota da Cota 40
POR JORDI CASTAN
Em agosto de 2014, o Chuva Ácida ( Apocalipse Now, Jabuti subiu na cota 40) fez uma denúncia: estava em andamento um ataque contra a Cota 40. A iniciativa estava sendo gerada nos gabinetes do IPPUJ, com a anuência do prefeito Udo Dohler. A Prefeitura fez veicular uma nota oficial
a desmentir qualquer iniciativa neste sentido, mas as provas apresentadas comprovavam a existência de uma comissão para elaborar uma proposta para acabar com a Cota 40. Nessa altura, o Chuva Ácida lançou uma
petição na internet "Não mexa na cota 40", assinada até pelo prefeito Udo Dohler.
Quem acreditou na bondade ou na sinceridade das intenções
do Executivo errou feio. No texto da LOT, que em breve deverá ser aprovado pelos
vereadores, está explícito o fim da Cota 40 como a conhecemos hoje. O
verde de Joinville está ameaçado. A cupidez e a ganância não conhecem limites e
o poder público é um aliado que compactua com a destruição do maior patrimônio
ambiental de Joinville.
Cota 40 poderá ser
ocupada
Art. 7° Parágrafo único. Os lotes contidos na Área Urbana de
Proteção Ambiental (AUPA), registrados no Cartório de Registro de Imóveis, e
cujas áreas são inferiores a 5.000m2 (cinco mil metros quadrados), serão
enquadrados, para efeito de ocupação do lote, como Área Urbana de Adensamento
Controlado (AUAC), devendo respeitar uma taxa máxima de ocupação de 10% da área
do lote, acrescida de 180m2 (cento e oitenta metros quadrados).
Se não fosse suficiente, a LOT, que os vereadores têm tanta pressa em aprovar,traz outras ameaças ao meio ambiente.
Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei Complementar consideram-se: LXIV - morro: elevação de terreno com cota mínima de 100m (cem metros) em relação à base, e inclinação média maior que 25º (vinte e cinco graus);
Não satisfeitos com isso os vereadores propõem que, depois de aplicado o artigo 2º, os morros que ainda sobrem possam também ser ocupados.
Art. 357
§ 1º Admite-se a implantação de condomínios horizontais em áreas com inclinação natural superior a 30% (trinta por cento), ou 13o 30’ (treze graus e trinta minutos), e inferior à 100% (cem por cento), ou 45o (quarenta e cinco graus), apenas nos condomínios integrados à edificação, e cujo empreendedor apresentar solução técnica na implantação das edificações que garanta a segurança contra situações de risco.
§ 2º Admite-se a implantação de condomínios horizontais em unidades de conservação ambiental, desde que o mesmo esteja regulamentado no Plano de Manejo dessas unidades.
O texto da LOT, que já provocava danos para a cidade, ficou muito
pior depois de ter chegado à Câmara de Vereadores. No aspecto ambiental, o cerne do
problema está na protelação do Gerenciamento Costeiro/ZEE. Na verdade, o ZEE deve ser prévio à LO. E existe base legal para afirmar isto: zelar pelo ambiente é dever da administração pública. Mas neste caso, apesar de a Prefeitura já ter pago e mesmo iniciado audiências públicas do Gerenciamento
Costeiro/ZEE, o programa foi abandonando. A prioridade foi toda para LOT, com a promessa de que depois - repito, depois - ela vai se adaptada ao ZEE. Quer dizer, pretendem aprovar a LOT, permitir a
ocupação de tudo o que o atual texto permite e, no futuro, depois que o estrago já
tenha sido feito, talvez deem prosseguimento ao ZEE.
Art. 75. Após a homologação do Plano Municipal de
Gerenciamento Costeiro de Joinville, o Poder Executivo Municipal deverá
promover a compatibilização desta Lei com o referido Plano.
Esta lógica esdrúxula de aprovar a LOT sabendo que o
processo estaria errado é uma atitude irresponsável. Aliás, no mínimo daria motivos
para exigir que a LOT só vigore após a promulgação do ZEE e sua compatibilização. Estaríamos correndo o risco que uma vez aprovada a LOT, se licenciassem empreendimentos
e atividades que a LOT, na sua redação permitiria e que o ZEE vedará no futuro.
O resultado seria uma situação de insegurança e ainda mais perversa, resultado
da inépcia, o açodamento e da irresponsabilidade mancomunados com a ganância.
Leia os posts, em que já em agosto de 2014 denunciávamos o risco que a Cota 40 corria. Felipe Silveira, do Charles Henrique Voos e
meus, em defesa da Cota 40.
Assinar:
Postagens (Atom)