sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O alto preço da Câmara de Vereadores de Joinville











POR VANDERSON SOARES
Milhões e milhões são gastos mensalmente para manter Câmaras Municipais,  Estaduais, Congresso e Senado. Este preço, na teoria, deveria ser um investimento com altíssimo retorno para a sociedade, mas devido muitos fatores, hoje é apenas mais uma despesa para colocar na conta. 

Vamos nos restringir a observar a Câmara de Vereadores de Joinville, desafio o leitor a elencar 10 leis que impactaram positivamente a vida do joinvilense e que tenha saído da cabeça de algum dos atuais vereadores. Não dá pra encher uma mão. Para quem não sabe o vereador tem basicamente 3 funções: 1) Fiscalizar as ações do executivo, 2) Analisar as propostas e projetos de lei vindas do Executivo e 3) Propor leis no âmbito municipal.

Além de não se ver projetos de lei de qualidade, quando se faz oposição, não é inteligente, é apenas por pirraça partidária. Dias atrás um vereador do PSDB alegou estar acelerando a tramitação de um projeto de lei simplesmente porque um deputado do mesmo partido solicitou (se o deputado não ligasse, ele ficaria sentado em cima do projeto até a data fatal?)

Um vereador tem direito a 7 assessores (que você nunca encontra nos gabinetes, porque na verdade são cabos eleitorais, ao que tudo indica), diárias para viagens (que muitas são “visitas e reuniões” de um final de semana inteiro a algum deputado em Florianópolis, que não resultam em nada real) e um carro alugado pela Câmara. 

Nestes últimos dias entrou em voga o gasto excessivo com carros para a CVJ. Dos 19 vereadores, 14 utilizam carros alugados, apenas 5 abriram mão desta regalia.  Estes 14 simbolizam um gasto de aproximadamente R$ 400. 000,00. (dividido por 12 meses, dá mais que o salário dos vereadores).

São mesmo necessários? Todos os vereadores tem um (ou mais) carro particular, todos num padrão médio/ alto e ainda assim é necessário um carro da Câmara? O pior é que todos estes que tem carro, tem também um motorista na sua equipe de assessores. 

Não consigo enxergar a necessidade de um vereador ter direito a carro e motorista. São somente vereadores e por mais que gostem de se chamar de “Vossa Excelência” vieram do povo e deveriam ter o estilo de vida que tinham. Parece que ao ser eleito vereador o rei enche a barriga destes e se desinteressam pela cidade e partem para seus projetos políticos particulares. Não vamos generalizar, há bons e coerentes vereadores, mas são raros e em extinção. 

As Câmaras de Vereadores não sentem a necessidade e não se esforçam para economizar, elas tem direito a uma porcentagem da receita do município e essa porcentagem é mais que suficiente para a devida operação da casa, por isso em quase todo mandato o presidente da Câmara inventa uma reforma, obra, implantação de sistema de catraca, um mezanino, etc. 

A solução é simples: Não reeleja ninguém, principalmente quem já fez da política sua carreira profissional e, além disso, observe currículo, analise biografia, escolha bem o servidor público que você vai votar. A cidade só irá pra frente com gente boa na prefeitura e na Câmara.  

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Mania de historiador


POR VALDETE DAUFEMBACK

De acordo com Hobsbawm, o papel do historiador é relembrar o que os outros esquecem. Talvez seja em face desta responsabilidade que o historiador tenha uma profunda empatia por folhas escritas que o tempo se encarregou de lhes conferir o status de documentos, uma das fontes de pesquisa para compor a narrativa histórica.

Particularmente, admiro quem consegue facilmente se desfazer de papeis após a sua utilização primária, ou excluir informações antigas do computador sem que o sensor interno ponha limites à capacidade de descarte.

 No turbilhão das atividades profissionais não tenho muito tempo para selecionar, guardar ou descartar correspondências e informativos que chegam por via eletrônica, ou em suporte físico (livros, revistas, textos, fotos, cadernos de anotações, cartões, cartas, listas de nomes) que se acumulam durante o ano. Mas as férias têm múltiplas serventias, não são apenas para repor as energias, como querem alguns profissionais da linha utilitarista. Servem também para dar aquela atenção aos cômodos da casa e ao computador, a fim de aliviar a bagagem acumulada.

Como estava decidida em passar a limpo uma parte da minha história, revisitei gavetas que há muito tempo permaneciam guardiãs de lembranças. Entre os inúmeros papeis como comprovante de pagamento de mensalidades dos tempos da faculdade, holerites e notas fiscais, havia raridades como fotos, cartões e cartinhas enviadas por alunos. Uma cartinha amarelada pelo tempo me reportou a momentos significativos da minha profissão. Penso que consegui fazer a diferença na vida de alguém que precisava de apoio. Dobradas e coloridas, outras cartinhas se encontravam em envelopes. Eram de meninas, ex-alunas, que sentiram a minha ausência quando saí da escola em que lecionava e como pretextos escreviam cartas solicitando explicações sobre determinados temas históricos. Por que guardei durante tanto tempo estes papeis? Não encontro resposta racional. São coisas da alma. Ou será que é mania de historiador?

Enfim, após uma semana selecionando materiais, o resultado foi: voltem para os seus lugares, exceto alguns sem qualquer significado. Considero-me pouco apta à arte do descarte, em qualquer sentido. Imaginem então, guardar papeis com meu nome escrito e riscado com sangue, pimenta vermelha e regado à cachaça, encontrados em despacho num cemitério do município. O desejo de quem encomendou o despacho era de arruinar a minha carreira profissional. Cá estou, décadas depois falando neste episódio porque reencontrei a prova material. Oficio da profissão, um tanto quanto maquiavélico, ser amada por alguns e odiada por outros, ao mesmo tempo.

Férias também sevem para resolver pendências burocráticas em órgãos oficiais. Para complementar um processo de regularização fundiária iniciado há meses, necessitava inserir novamente no sistema informações anteriormente fornecidas com dados de outrem, à época, conseguidos por telefone. Que alívio quando percebi que as papeletas com as anotações estavam no envelope juntamente com o documento oficial. Pensei: “Mania de historiador, guardar anotações”!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Antenados...


CPI da Saúde: vereadores debocham da população















POR SALVADOR NETO

Um verdadeiro deboche, uma piada de mau gosto, e ainda por cima com muito dinheiro público – meu e seu – investido.

Esse é o verdadeiro resultado da tal Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde em Joinville (SC), que “trabalhou” (!?) durante seis (??!) meses para… defender o governo Udo Döhler (PMDB).

Muitas recomendações, extensa exposição de dados e praticamente nenhuma crítica mais incisiva à administração municipal. Essa é a tônica das matérias que saíram em todos os jornais da cidade e estado. Porque considero isso é um deboche? Já explico.


Porque a saúde na maior cidade de SC está ainda pior que há quatro anos. Porque Udo Döhler prometeu resolver o problema da saúde, que era fácil, porque "não falta dinheiro, falta gestão". E, está claríssimo como as águas límpidas do rio Cubatão, que foi só promessa.

Porque faltam remédios de uso contínuo e outros altamente necessários ao combate de doenças nas UPAs frequentemente.


Porque já cortaram até a entrega de fraldas geriátricas para idosos que necessitam uso em grande quantidade. Porque faltam materiais de higiene no Hospital São José e UPAs.


Porque o prefeito Udo quis cortar, sim, cortar a presença de médicos residentes no querido Zequinha, preocupado em tudo, menos em dar mais qualidade no atendimento à saúde dos joinvilenses.

Porque ele também já quis cortar a insalubridade dos servidores do mesmo Zequinha, sim, os heróicos servidores que atendem nossos doentes, com ou sem mazelas que se perpetuam por lá.


Porque não se resolve a falta de leitos no Zequinha. Porque há problemas sanitários em várias UPAs com infestações das mais diversas já documentadas e divulgadas por servidores.


Porque há filas em várias especialidades, e nada se resolve. Porque o Prefeito diz que gasta quase 40% do orçamento municipal em saúde, e ninguém quer, pede, promove ou age no sentido de uma auditoria séria para saber se isso é ou não verdade!


Porque não uma auditoria, verdadeiramente independente - não de amigos do alcaide, por favor - para se verificar onde está o ralo por onde escoam nossos recursos? Ou para saber se não há desvios, erros, etc, etc. Auditoria gente, urgente!


Porque somente neste governo já passaram pela secretaria da Saúde três nomes, três secretários, a última retirada a dedo da Procuradoria do município, com laços de parentesco com a promotora que pediu o afastamento do Prefeito, e que está ali apenas para ocupar a cadeira. Porque a saúde não é prioridade do governo, tampouco dos vereadores.


E porque, leitores e leitoras, o Ministério Público tem um trabalho imenso de cobranças ao executivo municipal, inclusive com ações propostas até de afastamento do Prefeito diante do caos – lembram da promotora Simone Schultz?


Pois é, a tiraram da promotoria… – e exatamente por isso, os vereadores não precisariam gastar tanto o nosso dinheirinho suado para fazer de conta que estão preocupados com a saúde! Já havia um longo e árduo trabalho do MP, pronto!


Por tudo isso, e muito mais que deixo aos leitores e leitoras completarem a lista, já que sofrem na pele a falta de uma saúde pública digna, é que produzir um relatório deste nível é sim um gigantesco deboche com o povão da cidade que produz dioturnamente os lucros que engordam poucos bolsos na província.


Anotem os nomes dos membros da tal CPI que produziram esse documento deboche, um calhamaço de papel que não serve para nada: João Carlos Gonçalves (PMDB), presidente; Jaime Evaristo (PSC), relator – estes criaram o “belo” relatório final.


Os vereadores Maycon Cesar (PSDB) e Manoel Bento (PT), pediram vistas (ver novamente e propor mudanças) ao relatório, que foi negado por João Carlos e Jaime Evaristo. Roberto Bisoni (PSDB) não compareceu na apresentação do relatório (novidade?), mas é governista.


O tal relatório da CPI da Saúde é um deboche sim, porque a total falta de independência do poder legislativo faz muito mal para a população! 


Nada se investiga, nada se cobra, e pouco se fiscaliza. Seria o medo da Acij, da falta de financiamento das campanhas? Vereador têm sim de fazer valer a força do seu mandato, dos votos concedidos a ele. Entra pelas mãos do povo, e vota de acordo com interesses nada populares?


Por isso que sempre batemos na tecla: o povo deve acompanhar e fiscalizar os seus eleitos, todos os anos, todos os dias, ver como votam, a quem defendem. Senão, em outubro próximo, serão novamente enganados nas eleições.


Esta é mais uma vergonha da atual legislatura da Câmara de Vereadores de Joinville. Um deboche que dói na saúde de cada trabalhador e trabalhadora. 


Um deboche que merece o repúdio da população, a fiscalização, a cobrança, e claro, a resposta no momento do voto. 


É assim nas teias do poder...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A “gente cordial” e a caça ao Lula

















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

E continua a temporada de caça ao Lula. Implacável. Poderia tentar analisar os fatos (?) que vêm sendo repetidos à exaustão pela comunicação social (e com alguma sofreguidão pela velha mídia mais propensa ao golpe). Mas falar de pedalinhos, canoas de lata ou caixas de bebida é um tema para lá de chato. É assunto para os facebuqueiros e gente educada pelo Whatsapp. 

Fico por um tema específico: o caráter de um certo brasileiro médio que, na falta de um conceito sociológico adequado, passo a chamar “gente cordial”. Por quê? A referência é o conceito de homem cordial. E logo no início vamos falar no equívoco. O senso comum confunde cordial com cordato. E erra. Esse brasileiro nada tem de sensato ou prudente. É gente inculta, revanchista, imoral.

De fato, a coisa corresponde quase a uma inversão do ideário do senso comum. O “cordial” de Sérgio Buarque de Holanda pouco tem a ver com simpatia, cortesia ou generosidade. O conceito vai beber na origem da palavra (cordis, de coração) e remete para outra acepção. É o homem que age com o coração, com a paixão e, quase sempre, deixa a razão de lado. Visto assim, nem parece tão mau. Mas é.

O homem cordial dessa sociologia não gosta das leis, da ética ou da urbanidade. É um ser passional, que odeia e tem sangue nos olhos. O ódio é uma forma de paixão. Essa “gente cordial” - que, se não fosse tacanha, até poderíamos chamar elite - faz do ódio uma expertise. E o anti-lulismo é a mais pura expressão desse ódio irracional, sádico, tacanha. 

Por que odiar Lula? Por ódio de classe, por irracionalidade, por “cordialidade”. Não gostam de Lula porque, ao mudar o Brasil, o ex-presidente lançou confusão no inconsciente social. É sabido que essa “gente cordial” não tem um projeto para a sociedade. Tem apenas um rumo: não ambiciona os privilégios dos ricos… apenas não quer que os pobres tenham privilégios. Precisam de pobres à volta, para criar a sensação de serem seres "diferenciados".

Lula é ofensivo porque veio subverter essa lógica. Por ter rompido séculos de um apartheid social que insistia em perdurar e mantinha as relações sociais engessadas. O Brasil anterior a Lula - aquele a que muitos desejam voltar - era um Brasil onde os papeis eram bem definidos. Cada um sabia, à nascença, qual era o seu destino: rico é rico, pobre é paisagem. 

O ex-presidente é culpado, sim, de reduzir as desigualdades, de promover a inclusão social, de encetar o resgate de uma dívida histórica (as cotas para os negros e os índios, por exemplo), de obter um crescimento nunca visto na história, de transformar o Brasil num player de respeito na economia mundial. É coisa, leitor e leitora.

E há um aspecto ao qual as pessoas com um mínimo de memória e sensibilidade social dão muita importância: o fim da fome. Essa foi a revolução que Lula havia prometido e era a revolução que todos os cidadãos (pelo menos aqueles com dois dedos de testa) esperavam ver realizada. Só um marciano, que não tenha passado os últimos anos no Brasil, pode ser capaz de recusar estes fatos.

No entanto, aquele que é considerado um dos melhores presidentes da história do Brasil é hoje alvo de uma perseguição mesquinha, promovida por homens menores que nada fizeram pelo país, a não ser criar mais uma tirania. E, claro, que contam com o apoio de outros homenzinhos da velha mídia e dos iliteratos das redes sociais (podemos incluir muitos comentadores anônimos deste blog).

Lula é uma pedra do sapato do projeto político da oposição. E não está a ser investigado. Está a ser perseguido. Querem - porque precisam - destruir uma biografia.  Por conta disso, estão a criar um estado de exceção. Triste é que essa “gente cordial” gosta do espetáculo, sem ver os perigos.

É a dança da chuva.

P.S.: Não sei se Lula é culpado ou inocente. Não é minha função saber disso. Mas é evidente que estamos frente a um caso típico em que se escolhe o culpado e depois se procura o crime. E de uma coisa não tenho a menor dúvida: não é forma de tratar um ex-presidente que mudou o Brasil para melhor.


Charge de Renato Aroeira