quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Joinville é a segunda melhor, mas o segundo lugar não é suficiente

POR FELIPE SILVEIRA

Calma, não estou falando aquela besteira que gente escrota diz sobre competições, de que o segundo é só o primeiro dos perdedores. Quero dizer que não é suficiente ser considerada a segunda melhor cidade do país enquanto somos escandalosamente injustos e desiguais. Por outro lado, negar que Joinville esteja entre as melhores, no comparativo, também me parece injusto. Negar seria não reconhecer o privilégio de viver em uma cidade como a nossa.

Joinville foi privilegiada economicamente por décadas e décadas. É uma cidade industrializada, com empregos, universidades. Na ditadura civil-militar, empresas da cidade receberam muita grana do Estado, gerando um enriquecimento às elites e um esvaziamento do campo. As pessoas foram deixadas de lado para gerar enriquecimento privado.

A cidade é um resultado disso e um prêmio não dá conta das contradições que ela apresenta. Não dá pra comemorar o segundo lugar em uma cidade com saúde precária, superexploração de trabalhadores, transporte público zoado e caro, uma imensidão de ruas de barro, centenas de animais abandonados que o munícipio não dá conta de cuidar, rios poluídos por empresas, saneamento básico que apenas recentemente começou a ser implantado, universidades públicas voltadas apenas às engenharias, universidades privadas que custam o olho da cara dos estudantes, educação pública que não dá conta de educar crianças e jovens, incentivo de desenvolvimento à cultura no chão. Entre outras coisas.

Comemora quem vive numa bolha. Quem tem asfalto na frente de casa, quem ganha vários salários mínimos (na indústria e no comércio o salário médio não chega a dois), quem tem grana para frequentar a via gastronômica, a arquibancada coberta e os teatros globais que de vez em quando aparecem no Teatro Juarez Machado. Comemora quem paga colégio particular e cursinho para os filhos estudaram nas universidades federais em Floripa ou em Curitiba. Parecem muitos, mas são poucos.

Um debate primordial

Um dos maiores dilemas de quem lida com Direitos Humanos, com promoção da igualdade, da justiça e da ideia de uma sociedade melhor, é como chegar às pessoas que não compartilham da mesma ideia. Parece que ficamos falando para nós mesmos, jogando pra torcida, ou, o que é pior, brigando entre nós.

Para mudar isso, acredito que um debate seja fundamental: como usar a comunicação social para isso. Enquanto defensores e defensoras dos direitos humanos conversam com meia dúzia de pessoas, a programação das TVs e rádios, que são concessões públicas, chegam aos milhões de brasileiros diariamente, dia e noite. É preciso exigir que elas façam a sua parte. Marcelo Rezende, Datena, Geraldo Brasil, RBS, Gugu, Xuxa, Pânico, Hélio Costa, Nilson Gonçalves e muitos outros promovem, todos os dias, a desigualdade. Alimentam o ódio e o egoísmo na sociedade. Se continuar assim, não há esperança.

Cura do câncer

O debate sobre a fosfoetanolamina está mais polarizado que a política no Brasil. Pessoal que é contra acha que todo mundo quer que simplesmente se distribua a droga. Não, senhoras e senhores, tem uma parcela que quer a ampliação e finalização das pesquisas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O capitalismo falhou... rotundamente


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Capitalismo e capitalistas é o tema. E nada mais oportuno que começar pelo investidor Martin Shkreli, um dos casos mais recentes de sucesso do capital lá para as bandas de Wall Street. O que o tipo tem de tão especial para ser um expoente (à luz do capitalismo)? Ora, o sucesso está associado ao dinheiro. E, aos 32 anos, Martin Shkreli é um capitalista que faz dinheiro, muito dinheiro. Importam os meios usados?

Eis a fórmula do sucesso do investidor norte-americano. Há pouco tempo, ele criou a Turing Pharmaceuticals, da área de medicamentos, e comprou a patente da droga pirimetamina, usada no combate a doenças como a AIDS e a malária, por exemplo. Até aí tudo normal. Mas o capitalismo existe pelo lucro. E para lucrar o máximo e o mais rápido possível, Shkreli não perdeu tempo: aumentou o preço do remédio, de modestos US$ 13,50 para exorbitantes US$ 750.

Eis a pergunta: há algo errado, do ponto de vista dos capitalistas? Não. O cara vislumbrou a oportunidade (é meritocracia), investiu (é empreendedorismo), deu um novo rumo ao negócio (é inovação). E lucrou... sem gastar uma gotinha de suor. Ou seja, o homem fez apenas o que todo bom capitalista faz. Sem dilemas éticos. Aliás, imagino que os defensores do capital achem normal e não vejam falta de escrúpulos no episódio. Mas...

O capitalismo é um sistema legal, social, econômico e, sobretudo, cultural. Mas há uma coisa que definitivamente não é: ético. Nunca foi, nunca será. E quanto mais muda, mas vai em outro sentido: o velho capitalismo de terra e trabalho, que também nunca andou de mãos dadas com a ética, foi ultrapassado. Ou seja, morreu aquele modo de produção original: tirar da terra, transformar pela força de trabalho humana e vender no mercado com mais-valia.

Hoje o capitalismo é sustentado pela cultura do dinheiro e do individualismo. Os resultados práticos? O dinheiro faz dinheiro, sem haver trabalho. E foi nesse sistema de cassino que surgiram os famosos “lobos de Wall Street” (que têm seus similares em todo o mundo), conhecidos pela ganância e o foco exclusivo no dinheiro. Parece ser o caso do investidor norte-americano na compra da patente. O problema é que esse tipo de sistema sem ética leva o mundo a um caminho muito perigoso.

O resultado de décadas de capitalismo financeiro tem sido um autêntico desastre: 0,7% da população adulta detém precisamente 45,2% da riqueza mundial. Nessas condições, é estranho ver defensores do capitalismo entre os 99,3% restantes. É a prova provada de que o capitalismo fracassou. Mas é aí que entra a cultura. A grande vitória do capitalismo é no plano cultural. Ou seja, é fazer acreditar na sua superioridade, mesmo quando os números mostram que o contrário. E de forma acachapante.

E, para terminar, um aviso aos leitores anônimos: não venham escrever comentários essa conversa de que por criticar capitalismo a pessoa tem que ir para a Coreia. Nem vou discutir. Isso só vai demonstrar que vocês têm um QI muito inferior ao de um símio. Melhor que voltem para as árvores.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Teremos que esperar outros 30 anos?


POR JORDI CASTAN


Ninguém acredita mais na Joinville do futuro. Mas insiste em querer a Joinville do presente. Os problemas que atrapalham a Joinville de hoje não se resolverão daqui 30 anos, porque requerem soluções hoje. Mas o que encontrarão os joinvilenses daqui três décadas?

Nesta Joinville fantasiosa, em que não se resolvem os problemas de hoje por conta de estar preparando a cidade do futuro, estamos vivendo o contrassenso de não ter nem uma nem outra. A Joinville de hoje é definitivamente um navio navegando a esmo, sem rumo. A Joinville de amanhã é uma quimera que existe unicamente em alguns gabinetes, em vídeos promocionais e em desenhos fantasiosos.

Não há nenhum projeto concreto de como será ou como poderia ser esta cidade. Nenhum documento permite que conheçamos essa Joinville melhor, mais moderna, inovadora, socialmente mais justa, próspera e feliz que todos almejamos. Essa ideia de prometer uma vida melhor num futuro, para justificar os sacrifícios e o sofrimento que experimentamos nesta, soa a conversa de mercador de ilusões.

Quando, em 1973, Joinville elaborou seu plano diretor, a cidade projetou um futuro que permitia sonhar. Avenidas duplicadas, infraestrutura adequada, grandes parques. De tudo aquilo pouco ou quase nada foi feito e já lá vão mais de 40 anos. A duplicação da Ottokar Doerfel, a construção da Almirante Jaceguay, o alargamento das ruas Blumenau e João Colin, a duplicação da Marques de Olinda, por citar apenas algumas. São obras de infraestrutura que, se executadas, teriam feito de Joinville uma cidade mais moderna e melhor preparada para se desenvolver. Até um parque linear ao longo do Rio Cachoeira estava previsto. Nada foi feito e ninguém parece muito preocupado com isso.

À falta de um projeto de cidade para o futuro, temos o direito a sonhar com uma outra Joinville. Postos a sonhar poderíamos sonhar com uma cidade sustentável, eficiente, plural, diversa, inclusiva e inovadora. Uma cidade verde, que invista em prevenção em lugar de gastar em correção. Com educação em período integral, com parques públicos de qualidade, com infraestrutura adequada para o seu desenvolvimento.

Hoje o máximo a que podemos aspirar é um binário aqui e outro ali. Com sorte talvez um dia se conclua a obra do mirante e o arremedo de duplicação da avenida Santos Dumont. Das pranchetas do IPPUJ sairá nada melhor que isso. Nem das cabeças dos nossos governantes devemos esperar muito mais. Assim a Joinville dos próximos 30 anos deverá ser uma cidade remendada, apequenada, que desistiu do futuro sem nem sequer ter passado por um presente digno.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A mágica da multiplicação de vagas em CEIs



POR SALVADOR NETO

Joinville é a cidade onde se fazem milagres, até na educação infantil. De uma só canetada 600 vagas apareceram do dia para a noite na rede pública municipal. A receita? Acabar com o turno integral para 600 crianças, aproximadamente. Neste quadro de circo eles cortam para aumentar. Só esqueceram das crianças, seus pais e suas mães. 


Os autores da mágica são o prefeito Udo Döhler, o secretário da Educação, Roque Mattei, e claro, a bancada governista formada por quase todos os 19 vereadores. Esta semana inclusive o líder do governo no legislativo, vereador Claudio Aragão (PMDB), encerrou reunião da Comissão de Educação – que preside – diante dos protestos de dezenas de pais e mães que não sabem o que fazer diante dessa “mágica”. Democrático o vereador governista não acham?
 
Os fakes governistas, os bajuladores aninhados em cargos do governo, ou mesmo fora dele em empregos terceirizados, podem me chamar de chato. Para este jornalista isso é um elogio. Sou obrigado a retomar o lema que marcou a eleição de Udo em 2012: não falta dinheiro, falta é gestão. Tal frase, que levou milhares a votar no empresário peemedebista, hoje soa como palavrão para a rapaziada do outro lado do rio Cachoeira.

Entendo, é difícil explicar o inexplicável hoje após quase quatro anos de governo que não disse a que veio. Após os fiascos na saúde – o alcaide se diz conhecedor há 40 anos, portanto presume-se que conhece do riscado -, na infraestrutura, mobilidade urbana, embelezamento e manutenção da cidade, suas praças, ruas (buracos brigam entre si nas vias centrais, e muito mais nos bairros), agora eles brindam os pais e mães joinvilenses com um presentão em outubro, mês das crianças e dos professores: tirar direitos para fazer nascer vagas para mais crianças.

Segundo a Prefeitura, e seus planejadores, o município prevê mais quatro mil matrículas na faixa de idade entre 4 e 5 anos. E que o atendimento na educação infantil vai aumentar de oito mil para 12 mil crianças nesta faixa de idade em 2016, quando as matrículas a partir dos quatro anos já serão obrigatórias por lei. Ao eliminar o turno integral para aquela faixa etária, aponta o secretário Roque Mattei, a rede ganhou novas vagas em número proporcional às matriculas desativadas.

Ora amigos e amigas, pais e mães que foram surpreendidos a menos de três meses do final do ano com este anuncio, onde anda a tal gestão profissional? Após três anos, com dados disponíveis ano a ano, não sabiam que a demanda aumentaria? Que investimentos na educação são permanentemente necessários?

Vamos buscar compreender então a gestão Udo, lenta como as tartarugas gigantes de Galápagos: é difícil criar tantas vagas, faltam verbas, etc, etc, etc. Mas o governador Colombo do PSD, é aliado e vive aqui assinando convênios. A presidenta Dilma também, pelo menos é o que diz o Prefeito. A verdade é que além da gestão, falta também criatividade, agilidade, vontade política.

Aliás, se há vontade política no sentido de fortalecer a iniciativa privada que possui escolas de nível como a UNISOCIESC, de onde o secretário Roque é oriundo, Elias Moreira, Bom Jesus, Santos Anjos, e tantas outras, e tantos outros centros de educação infantil por toda a cidade, porque não compram essas vagas e resolvam o problema?

Porque não utilizam estruturas do Estado que estão a cair por falta de alunos durante o dia, noite, e também por não ter manutenção, ocupando esses lugares ociosos para colocar nossas crianças e evitar o desespero de pais e mães? Ou o Prefeito, Secretário e Vereadores governistas do PMDB, PSDB, PSC, PDT, e outros menos votados creem que é fácil fazer a mágica com o bolso dos outros?

Enquanto os pais são desrespeitados, vendo seu direito retirado, o Prefeito viaja ao exterior e organiza uma espécie de festa das cadeiras com o vice-prefeito Rodrigo Coelho (PSB) e o presidente da Câmara de Vereadores, Rodrigo Fachini (PMDB): eu viajo, vocês assumem um bocadinho cada um, sem brigar. Eles brincam de governar, e o povo chora em meio à falta de saúde, vagas na educação, buracos nas ruas, matos em praças, bairros abandonados ainda esperando os 300 km de asfalto.

No governo Udo agora falta tudo. Dinheiro, gestão, e vergonha. Dizem por lá também que não tem segredo, tem trabalho. Os cidadãos já viram que na verdade tem é muito segredo, e pouco trabalho. Joinville virou Sucupira. Resolvam o problema das vagas sem o sofrimento de pais e mães. É o mínimo que um gestor público deve fazer.


É assim, nas teias do poder...