domingo, 27 de setembro de 2015

Acaso e necessidade - CHUVA ÁCIDA 4 ANOS














POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A tese é de Jacques Monod e aponta para o plano da biologia. Mas há quem, como eu, ache que pode ser transposta para o social: ou seja, os eventos resultam do acaso e da necessidade. É o que serve para explicar a criação do Chuva Ácida. Há quatro anos, numa troca casual de impressões pelas redes sociais (o acaso), houve uma conclusão: Joinville necessitava de um meio moderno de comunicação - digital, claro - e alternativo (a necessidade).

Um convite aqui, outro ali e nasceu o coletivo. E o projeto trouxe um frescor à comunicação em Joinville. Houve momentos altos em termos de acessos, como nas últimas eleições para a Prefeitura. Também houve momentos de intervenção comunitária, como na campanha pela manutenção da Cota 40. E, claro, muitos momentos de denúncias relevantes, daquelas que são deixadas de lado pela velha mídia.

A intenção inicial era de que o formato do coletivo estivesse sempre aberto e capaz de se adaptar às necessidades. A linha editorial pretendia cobrir todo o espectro ideológico (descobrimos que há poucos conservadores dispostos a se expor) e abrir espaços de expressão para os que não têm voz na velha mídia. Com maior ou menor sucesso em termos pontuais, não há dúvidas de que esse objetivo foi cumprido.

O que torna o Chuva Ácida diferente da velha mídia? Simples. O blog é feito por empenho de pessoas que não recebem pela escrita. Há uma piada interna: o salário é zero, os xingamentos dos anônimos são incontáveis. Aliás, acho que cumprimos aqui também um papel social: o Chuva Ácida serve como terapia para os anônimos aliviarem os traumas das suas almas atrapalhadas. E olhem que a gente não publica comentários com um certo nível de ofensas.

Mas há um ponto no qual o blog falhou. A intenção era abrir caminho para outras iniciativas similares – no mínimo capazes de manter a regularidade de publicação -, mas não aconteceu. Hoje sabemos que é quase utópico. É difícil haver quem esteja disposto a correr o risco de escrever numa publicação independente e de forma crítica. Os tentáculos do poder são muito extensos na cidade e ninguém está imune. Há riscos pessoais.

Mesmo assim o futuro parece prometedor para o Chuva Ácida. Porque apesar de algumas oscilações, o blog tem conseguido manter a regularidade, ao ponto de estar muito perto de atingir o primeiro milhão de acessos. O projeto, agora, é chegar ao segundo milhão em menos tempo. Há um fato importante a considerar: estamos numa cidade de pouco mais de 500 mil habitantes e num ambiente com forte infoexclusão.


Mas para a frente é que se anda. Que venham os próximos quatro anos. E o próximo milhão, claro.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Um estranho no ninho.


Nem só de parklets vive uma cidade








POR SALVADOR NETO

Parklets. A maior cidade do estado de Santa Catarina, que ainda não tem um parque municipal de respeito, mal mantém suas poucas e pequenas praças, expõe seus ciclistas ao perigo em ciclofaixas que tentam se adequar ao planejamento urbano voltado aos veículos, sem continuidade, ligação e interligações seguras, e briga para desviar dos buracos que insistem em se multiplicar diante da inércia da administração Udo Döhler (PMDB), tem agora uma novidade americana. Vagas que anteriormente eram para estacionamento de carros agora poderão se transformar em espaços de convivência, lazer e até cultura.

Meritória a iniciativa que se espelha e faz uma espécie de benchmarking urbano da administração petista de Fernando Haddad em São Paulo, pioneira na implantação dos tais parklets no Brasil. A diferença da maior daqui para a maior de lá e do país é que lá há um movimento planejado de mudança cultural liderado pelo Prefeito e Governo.

Estão em mudança, dura inclusive, a velocidade máxima nas vias, implantação de corredores de ônibus, ciclovias imensas, sinalizadas, e junto os agora famosos parklets, entre outras medidas. Algo sinérgico, compreendido primeiro pela administração, e depois em esforço monumental de convencimento e comunicação. Algo ousado, novo, articulado.


Os parklets são uma grande ideia, assim como seriam – e podem vir a lançar em breve já que temos eleições ano que vem – os pocket parks, pracinhas que diferentemente dos parklets, que são criados na via pública, aproveitam espaços vazios no nível da calçada.

São Paulo também já tem estes espaços ainda em início de implantação como no caso da pracinha Oscar Freire.
Ela foi feita numa antiga rampa de estacionamento de carros e hoje é uma área de convivência de 200 metros quadrados com lugar para sentar, trabalhar, fazer projetos culturais, entre outras coisas para fazer a cidade viva. Mas é preciso que ano sejam apenas instrumentos de marketing. E que comecem pelos bairros, tão lembrados nas promessas, e tão esquecidos depois, e até na hora dos parklets.

O desejo da cidade, um ser vivo que pulsa e espera motivação e empenho de seus líderes, é não viver somente de ideias copiadas, douradas como a novidade, sem um projeto que a sustente, para todos.

Joinville precisa é de um novo conceito para crescer e se desenvolver. É comum que os lideres políticos se sucedam lançando factoides, modernismos, jogando para o imaginário popular uma cidade que se transforma num piscar de olhos pelas mãos de um messias.

Enganam o povo com as bravatas e algumas novidades importantes e bacanas como essa, mas que não tem em seu bojo um processo verdadeiro de continuidade, de planejamento, de crença coletiva no sonho de uma cidade com melhor qualidade de vida. Um prefeito deve ser o grande motivador, maestro desse sonho, desse projeto. Infelizmente, não temos tal maestro. E pelo que vemos para 2016, ainda não teremos.

As promessas e frases de efeito como “não falta dinheiro, falta é gestão”, “vamos pavimentar 300 km de ruas”, “os bairros serão prioridade”, “a ponte do Adhemar Garcia vai sair”, feitas pelo atual alcaide, brincam com o futuro da coletividade porque projetam apenas miragens. Produzem na população a descrença na política, nos políticos, espantando novos líderes, e promovendo a mesmice que mantém a cidade paralisada. De nada adiante termos indústrias de ponta se não temos a infraestrutura urbana, a mobilidade, a cultura, andando na mesma toada.

Uma cidade não pode ser um mero brinquedo nas mãos dos gestores de plantão. Ela pertence aos seus cidadãos, com seus filhos e filhas. Eles têm sonhos de andar em ruas pavimentadas, serem atendidos com brevidade nas unidades de saúde, obter os remédios sem falta de continuidade, passear com seus filhos em praças e parques cuidados, pedalar por ciclovias, e ciclofaixas, seguras, interligadas, ou mesmo transitar pela cidade em ruas bem cuidadas e sinalizadas.

Nem só de parklets, anúncios e peças publicitárias de aprendizes de Goebbels vive uma cidade. É preciso mais, muito mais.

É assim, nas teias do poder...