O feminismo usa uma série de termos para dialogar sobre fenômenos muito conhecidos em nossa sociedade. Entre tantos termos e definições, vou focar hoje (mais pra frente explico outros) em dois comportamentos bem típicos de homens que corroboram para uma sociedade machista. O motivo? Para que você, mulher, consiga perceber e se proteger destes comportamentos e para que os camaradas homens parem de bater o pé para fazer valer suas ideias e vontades.
O primeiro chama-se mansplaining. É talvez a mais clássica, mais conhecida e, na minha visão, uma das armas mais perigosas do machismo. É aquele velho hábito que homens tem de querer explicar tudo, absolutamente tudo, para as mulheres, mesmo quando elas dominam o assunto, mesmo quando eles não entendem nada do que estão falando.
O mansplaining ou "ozomexplicanismo", como brincam várias feministas, não precisa ser grosseiro. Aliás, ele geralmente vem cheio de boa vontade para tentar explicar o que é e o que não é feminismo, para tentar justificar que "não foi machista". Ora, imagina só que você mulher, como eu, que vive 20, 30, 50 anos nesse corpo, não tenha mais propriedade e vivência para explicar do que aquele seu camarada de esquerda que começou a ler Alex Castro e se acha o salvador de mulheres. Você vive e se defende do machismo diariamente mas seu amiguinho de esquerda, de direita, ou Marina Silva mesmo, se acha mais conhecedor de causa. Claro né? Ele é homem. Como assim ele não pode opinar sobre absolutamente TUDO?
O blog da Lola fez um texto sobre mainsplaining (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2014/09/pare-de-me-interromper-cara.html?m=1) apontando uma série de casos e estudos específicos onde homens fazem um esforço descomunal para explicar tentar fazer com que mulheres entendam assunto que elas já dominam. O termo surgiu de um artigo da escritora Rebecca Solnit, traduzido e publicado por Lola:
"A experiência de Solnit realmente foi um exemplo perfeito. Ela estava conversando com um homem em um coquetel quando ele lhe perguntou com o que ela trabalhava. Ela respondeu que escrevia livros e descreveu o mais recente deles, River of Shadows: Eadweard Muybridge and the Technological Wild West (Rio de Sombras: E.M. e a Tecnologia do Velho Oeste). O homem a interrompeu logo que ela mencionou Muybridge e perguntou, 'Você ouviu falar sobre o livro importantíssimo sobre Muybridge que foi publicado este ano?' E prosseguiu, baseando-se em uma resenha que leu sobre o livro, sem mesmo ter lido o livro, até que por fim uma amiga disse, 'É o livro dela.' Ele ignorou a amiga e ela teve que repetir mais três vezes até que 'ele ficou pálido'e saiu andando".
O mansplaing abre sempre espaço para um outro comportamento conhecido como mantererrupting, que é a interrupção as mulheres. Há uma série de estudos de interrupção com recorte em gênero, ainda não conclusivos mas que apontam para uma interrupção expressivamente focada em gênero.
Além da experiência de Solnit, outras interrupções famosas tiveram visibilidade midiática (http://www.revistaforum.com.br/outrofobia/2014/08/28/sou-mulher-deixe-falar/) como as entrevistas de presidenciáveis mulheres nas últimas eleições. Se compararmos a interrupção de Willian Bonner durante a entrevista de presidenciáveis em 2013, fazendo o recorte por gênero, o âncora interrompe mulheres 40 vezes e homens 10. Um absurdo, uma discrepância que dispensa qualquer mansplaining masculino.
Há muitas outras expressões e termos que nos ajudam a perceber e consequentemente combater o machismo diário, especialmente aquelas opressões em doses homeopáticas que nos oferecem em nossos empregos, em nossas casas, nos espaços públicos, nas lutas e em todos os lugares. Aos poucos a gente se empodera mulheres. E homens: parem com seus comportamentos abusivos e de falsa tutela.







