POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O leitor e a leitora já ouviram falar de Hiroo Onoda? Foi um
soldado japonês que permaneceu em luta por 29 anos, nas Filipinas, sem saber que a guerra
tinha acabado. O homem foi avisado sobre o fim do conflito, mas
estava tão tomado pelo delírio guerreiro que não acreditou em ninguém. Só
depois de três décadas o governo nipônico teve conhecimento do caso e foi
resgatar o seu soldado. Por que relembrar essa história?
É que Aécio Neves faz lembrar Hiroo Onoda. Todo mundo sabe
que as eleições para a presidência da República já são coisa do passado, mas o
ex-candidato (que, aparentemente, não se considera “ex”) continua na disputa. E
com uma marca de marketing muito interessante, resumida pela frase: “a derrota
subiu à cabeça”. Dia sim e dia também o homem aparece nos meios de comunicação
como se ainda estivesse em campanha.
Nos raros momentos que recupera a lucidez, Aécio Neves admite
a derrota. Mas com uma “vibe” estranha. Dia desses atirou-se aos adversários,
chamando-os de “organização criminosa”. O senador não está a ver bem: ele foi
derrotado por 54.501.118 brasileiros. E duvido que sejam todos petistas. Aliás,
é temerário dizer que todas essas pessoas pertencem a uma organização
criminosa. Você, que votou em Dilma Rousseff, se considera um bandido?
É provável que a coisa acabe em águas de bacalhau, mas
segundo notícias divulgadas pela imprensa, a direção do Partido dos
Trabalhadores vai processar o “ex”-candidato por causa dessa declaração pouco
inteligente. Aliás, essa ação abre portas até para o cidadão
comum que votou em Dilma Rousseff e agora está a ser chamado criminoso. O pior é que há atoleimados nas redes sociais - os de sempre - a adotar esse discurso de criminalização dos opositores.
Qual é problema mais sério? É que Aécio Neves, sob o argumento de representar
a voz dos indignados, parece ter caído nos braços da extrema direita chazista
(uma espécie de Tea Party tupiniquim). É mau. Essa gente aposta tudo na
estratégia de dividir o Brasil em 54 milhões de bandidos e 51 milhões de gente
do bem, na tentativa de criar um clima hostil, quase de guerra civil.
Embalado pelos sons dessa direita furiosa, que aposta tudo numa
política de terra queimada, Aécio Neves cambaleia pela história como um Hiroo
Onoda da política. Vive num labirinto temporal. E quando os líderes políticos padecem de enfermidades cognitivas, só resta torcer para que o povo seja
sereno.
É como diz o velho deitado: “chato é um cara que não muda de
ideia, mas também não muda de assunto”.