POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O leitor familiarizado com a obra de Luís de
Camões deve lembrar do velho do Restelo, que aparece no Canto IV de “Os
Lusíadas”. A figura do venerando senhor entrou para a história como símbolo de
velhice, conservadorismo e reacionarismo. E um pouco de rabugice. Quer dizer, enquanto
os outros se lançam aos mares para descobrir novos mundos, ele limita-se a ficar
imobilizado e a zurzir amuos.
A expressão “velhos do Restelo” traz uma
referência geográfica. A praia do Restelo, na antiga aldeia com o mesmo nome,
ficava perto do Mosteiro dos Jerónimos e do local onde hoje funciona a fábrica dos famosos pastéis de
Belém, em Lisboa. Muitos navios partiram daí para as descobertas. É uma referência
geográfica que acabou por se tornar uma referência da língua portuguesa. O que
nos permite dizer que Joinville também tem os seus velhos do Restelo.
Quem são eles? Ora, são pessoas cujas vidas
estão limitadas a norte por Garuva e a sul por Barra Velha, porque não têm
talento para viver fora dessas fronteiras. O que fazem? Ficam raízes em
Joinville, onde julgam ser poderosos (os coitados não sabem a diferença entre
ser poderoso e ter poder) e passam a declamar a cartilha dos velhos do Restelo:
qualquer pessoa que ouse ir além da mediocridade mundana que os aprisiona é
logo anatemizada.
Se você mora em Joinville é fácil identificar
os velhos do Restelo. Se antes eles tinham poucos meios de expressão, hoje estão
espalhados como baratas. É só assistir televisão (aquela que é uma espécie de
rádio com imagem), ver o próprio rádio (aquele que mantém a mesma cara de 20
anos atrás) ou ler aquelas coisas aparentadas com jornais, mas que de jornais
nada têm. Ah... e não vamos esquecer alguns dos comentaristas recorrentes aqui
neste blog.
Aliás, ser velho nem é o drama maior desse pessoal. O pior é a consciência de passar toda a vida de joelhos – a servir
os seus chefetes – e saber que não há futuro. Até porque o público dessa gente
tende a desaparecer – literalmente pela idade ou porque a evolução das espécies
determina uma evolução mental. Um retrato desse público? É gente que passa os
dias vestindo pijama, calça pantufas e tem no zapping do controle remoto os momentos
mais emocionantes do dia.
Esses pobres infelizes vivem um dilema filosófico, ligado ao tempo
e ao espaço. O tempo não avança e eles mantêm ideias de um passado longíquo. O espaço, a provinciana Joinville, serve como prisão de onde nem imaginar fugir.
Velhos do Restelo Vs. Comunistas Festivos
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