Roland Barthes |
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O
tema de hoje é a vulgata que todos estamos habituados a ver repetida aqui no
blog ou nas redes sociais. “Cuba”, “Venezuela”, “bolivarismo”, “esquerdista”,
“petralha”, “comuna” e por aí vai. Quem profere expressões como essas julga ser
portador de uma verdade inquestionável. Ou seja, as pessoas acreditam nos
poderes mágicos de palavras que, uma vez emitidas, lançam um anátema
inescapável sobre o interlocutor.
O
fato é que todas essas palavras são cifradas e fazem parte de uma formação que
o pensador francês Roland Barthes denominou “mito”. Uma advertência: a
popularização da palavra levou a uma distorção do seu sentido. Barthes mantém o
conceito no seu significado tradicional filosófico, ou seja, o de um discurso
alegórico ou narrativa lendária que pretende dar um fundamento de natureza para
a construção dos valores básicos dos povos.
O
semiólogo transporta esse conceito para os tempos modernos, pois, em seu
entender, o quotidiano das sociedades contemporâneas está repleto de mitos – os
pequenos e os grandes – que devem ser decifrados e revelados. Uma tese que
ganha corpo com a revolução digital. Apesar de ter mais de meio século, a
teoria do mito mantém o seu fulgor e é uma ferramenta teórica que permite
descortinar, de maneira eficiente, as contradições que marcam a evolução da
sociedade atual.
O
mito é o meio para um fim: a imposição de uma certa ideologia (entendida aqui
no sentido marxiano, como uma consciência deformada) para a legitimação de uma
ordem estabelecida. O mito encontra-se espalhado por todo o tecido social, seja
no direito, na moral, na educação, na família ou na política. Mas é nos
veículos de comunicação de massa – os grandes vetores de produção simbólica dos
nossos tempos – que ele se torna mais cintilante.
O
mito tem a função de naturalizar a história e engessar o mundo, de forma a
impedir a transformação. Neste contexto, o pensador faz uma denúncia da
ideologia burguesa e pequeno-burguesa (o pequeno-burguês é o indivíduo por quem
ele nutre uma profunda antipatia), que cria uma espécie de falsa natureza. Mas
o que se entende por naturalização da história? É fazer com que os indivíduos
aceitem determinados factos como naturais, negligenciando as suas implicações
sociais e históricas.
O
mito é, portanto, o produto de uma determinada classe social dominante que
acaba por ser incorporado pelos membros da classe dominada, mesmo quando vai
contra os seus próprios interesses. Produzir essa aceitação – pela
naturalização – é a sua função. Enfim, mito e ideologia são parentes muito
próximos: entrelaçam-se, confundem-se e são categorias incontornáveis para
desmascarar o processo de legitimação da sociedade burguesa.
O
mito tem que ser invisível e natural, porque a
sua identificação apontaria sempre para uma tentativa de manipulação.
Barthes diz que o mito não é nem uma mentira nem uma confissão: é uma
distorção. A sua função, na passagem da história à natureza, é despolitizar os
fatos, transformando-os em coisas simples, inocentes. Não interessa a
interdição, mas a exposição. É por isso que todos os dias a vulgata citada no
início deste texto é repetida ad nauseam.
Barthes diz que o mito e a direita andam
atrelados. E quando está no campo de atuação da direita, o mito toma posse de
tudo, da justiça, da moral, da literatura, da estética, etc. E o mais importante:
o mito precisa de uma certa fraseologia e os slogans têm um papel
insubstituível neste contexto. A frase feita ajuda a apreender e a justificar o
mundo de uma maneira muito mais simples, permitindo uma constatação imediata e
sem maiores reflexões.
Para
usar um exemplo típico dos dias de hoje, quando se diz que estamos a caminhar
para a ditadura comunista parece a constatação de uma realidade inequívoca. Feita
a afirmação, referendada por um slogan repetido de forma incessante, não é
preciso haver constatação e a historicidade é alijada. Mas na verdade estamos
frente a um processo de dominação onde o dominado é quem repete essas expressões.
Ignore as pedrinhas de gelo e entra conosco na piscina, Baço, porque a água tá quentinha.
ResponderExcluirUma coisa me preocupa muito, antes eram poucos os que insistiam nesta besteira de ditadura bolivariana e implantação do comunismo, agora pessoas muitos importantes como por exemplo o juiz do STF Gilmar Mendes, falando nestes termos. Fica complicado rebater idiotas que acham que luz de poste é disco voador. Acho que a biblioteca do STF adquiriu os exemplares dos livros do Olavo... só faltam agora começarem a discutir sobre a circunferência da Terra, a farsa do aquecimento global ou a dominação Iluminati reptiliana mundial...
ResponderExcluirA unica estrela no STF é o Gilmar Mendes, ele precisa trabalhar mais e aparecer menos na midia.
ExcluirDo PT pode-se esperar tudo. Fico mais tranquilo por saber que os militares detestam o PT. Ainda assim, os médicos cubanos em pleno regime comunista em terras tupiniquins, a aproximação com a Venezuela, essa dinherama "lavada" na Bolívia sob o pretexto do gás natural e agora os ministros de Maduro conversando com o MST, é extremamente prudente alguém do STJ olhar com mais cuidado para Dilma e sua trupe.
ExcluirO Brasil hoje tá igual New Orleans - Louisiana, em 1954 quando o supremo tribunal dos EUA ordenou o fim da escola separada para negros e brancos, os brancos contrários á decisão ostentavam cartazes com coisas do tipo "RACE MIXING IS COMMUNISM"
ResponderExcluirAcho que nesse caso encaixa a lei do Godwin, quando aparece o termo comunista ou afins, considera-se que perdeu a discussão quem usou essa comparação num argumento.
https://www.youtube.com/watch?v=ogsD4mV29Ss#t=68
Se acreditar que uma América Latina, forte, unida, integrada e livre do julgo do colonialismo do decadente império americano, for “bolivarianismo”, sou bolivariano até debaixo da água.
ResponderExcluirOi Rebeca, onde você escondeu sua máquina do tempo?
ExcluirVolte a tempo de ver o muro cair!
Cortem vossos puço anônimos ah,ah,ah,
ResponderExcluir