Faz alguns dias,
escrevi aqui um texto sobre o processo judicial que o presidente da Câmara de
Vereadores de Joinville, João Carlos Gonçalves, moveu contra a professora Ana
Vavassori. Numa das passagens do texto advertia para o perigo de que ele viesse
a perder a causa e sair desmoralizado do episódio: afinal, o vereador é um
servidor do cidadão e não é de bom tom sair por aí a processar o patrão-cidadão
por dá cá uma palha.
Agora a sentença
saiu e a queixa do vereador não teve provimento*. Mas além disso, o juiz Gustavo Marcos de
Farias produziu um momento que pode ser considerado uma aula sobre a mais
elementar democracia. E também uma chamada de atenção para que homens públicos aprendam
a conviver com as críticas. É essa parte da mensagem da decisão que reproduzo
aqui ipsis literis:
“In casu, a meu ver, na qualidade de Presidente da Câmara de
Vereadores desta Cidade, o requerente assumiu cargo de notoriedade e de cunho
político. Assim, entendo ser inerente a tal função maior tolerância a
manifestações de pensamento de eleitores. Por certo esta tolerância não
significa liberdade irrestrita do eleitor em expor seu pensamento, porquanto o
direito de expressão tem limites: mérito da presente ação. No entanto, a
pretensão liminar de proibição de exposição do pensamento da primeira ré e de
dados que constam da fonte: Portal da Câmara de Vereadores de Joinville, não há
como ser deferida porque, conforme já referido, um político deve tolerar com
maior benevolência revoltas e inconformismos explanados através de críticas.
Outrossim, inviável, no mundo dos fatos, a coibição total da circulação do
comentário porquanto o ‘compartilhamento’ de outros usuários é natural na rede
social em questão”.
Fiquei a saber que ainda há a possibilidade de recurso. O que
deixa o vereador numa saia ainda mais justa, como avisei no texto anterior. Se
não recorre, fica comprovado que cometeu um erro político.Se recorre, mesmo com a negativa inicial e as
chances duvidosas de reverter a decisão, vai dar continuidade a um caso onde só
tem a perder dinheiro e prestígio político.
Já disse que a Justiça não é a minha praia. Mas justiça é: o juiz apenas referendou o que a opinião pública já intuía. Democracia é uma
coisa chata, né? * pedido de antecipação de tutela
Virou lugar comum que, na hora de um debate, um
ou mais interlocutores, carentes de bons argumentos, afirmem com veemência e sem
que tenha a ver com o tema: "eu sou joinvilense nato". O intuito
dessa afirmação é claro. O objetivo é o de se colocar num patamar superior que
os qualifique melhor frente aos outros debatedores, eventualmente não nascidos às margens dos outrora piscosos rios Mathias ou Cachoeira.
Antes me incomodava mais essa situação. Hoje, deixei de considerar que, na falta
de bons argumentos e ideias, surja uma intempestiva
declaração de origem. É como se a simples menção do local de nascimento agregasse valores ou qualificasse melhor a posição do orgulhoso joinvilense nato. Hoje,
prefiro ignorar este tipo de argumentos e sou acometido de ataques de surdez
seletiva.
Nascer aqui ou ali é algo fortuito. Os joinvilenses natos não fizeram nenhum
esforço para nascer aqui, no distrito de Bananal, no Acre ou na longínqua
Cochinchina. Portanto, a falta de argumentos não deve ser substituída por
esse tipo de afirmações.
Boa parte dos que aqui moram, trabalham e prosperam
não nasceu aqui. O mais provável é que, por trás desse tipo de declarações, se
oculte um certo complexo, que qualquer bom psicólogo saberia descrever com
propriedade e de forma detalhada. Este é um tipo de situação comum, nos
habitantes das vilas interioranas, que desenvolvem um sentimento de
defesa, frente aos que vieram de cidades maiores ou do exterior. Este
suposto complexo é facilmente superado quando se passa a valorizar o que é
local. A preservação dos valores autóctones, a promoção das virtudes que são
típicas daqui e a capacidade de rir e fazer graça dos próprios defeitos é uma
prova viva de como uma sociedade se vê a si mesma e de como se apresenta frente
aos outros. É um indicador da vitalidade, da força e dos valores de cada
sociedade.
Querer converter uma contingência de percurso, como o local de nascimento, numa
qualidade diferenciadora e agregadora de valor raia a estultice quando esta
identidade não vier acompanhada de valores próprios tangíveis, claramente
reconhecidos por todos. Sem que a idiossincrasia joinvilense contribua a fazer
desta terra um lugar objetivamente diferenciado e melhor que outros, a simples
afirmação da sua existência não passaria de brado sem eco.
Sem que seja possível estabelecer critérios objetivos que provem, de forma
inquestionável e verificável, a capacidade argumentativa superior dos que aqui
nasceram é melhor investir fortemente em melhorar os argumentos.
E o gigante acordou.
Mas quando foi que ele dormiu?
Eu não vivi 29 anos num Brasil dormindo.
Vivi num país cheio de pessoas que lutam todos os dias para ter uma vida digna apesar das diversidades.
Vivi num país que buscava através do futebol, um patriotismo às vezes esquecido, alguns momentos de alegria, para alguns até sentido na vida.
Vivi num país com orgulho da sua música, da sua alegria, das suas poucas conquistas de direitos.
Vivi num país solidário, que pensa no outro, que divide, (em sua maioria).
Um país cheio de lutas mas também cheio de lutadores.
Esses protestos não surgiram do nada. Eles vêm de uma crescente. Eles são a expressão do saco cheio. Do desespero, da desesperança e ao mesmo tempo da esperança. Foi demais.
Tudo foi demais.
Foi demais o descaso com a educação.
Foi demais o sucateamento dos hospitais.
Foram demais as notícias de corrupção, a impunidade, os impostos, o custo de vida, as tarifas de ônibus, a violência policial, a cura gay, a pec 37....
Esses protestos são o basta!
É ótimo que tenha sido iniciado com o MPL, mas não é mais só esse o motivo, desculpe-me Felipe.
Existem outras bandeiras junto e, é óbvio, que elas não sejam de partidos ou de reacionários. Que seja pelos direitos, que seja pacífica, e quer saber, eu entendo a opinião do Baço quando diz que protesto em jogo espanta turismo e faz mal para a imagem do Brasil lá fora, mas apóio. Infelizmente nós chegamos nesse nível, Baço. Abaixos assinados não resolvem, protestos com pequenos grupos não resolvem. Quando a classe média vai a um jogo pagando centenas de dinheiros e vaia a presidenta é porque algo vai realmente mal no país. É isso que está sendo mostrado, e que seja! Nós queremos um país bom pra turismo? Queremos sim. Mas especialmente queremos um Brasil para os brasileiros. E eu até tenho simpatia pela Dilma, não desejo impeachment de forma alguma. Até porque, muitas vezes muda-se a mosca, mas a merda fica. Tem muita gente pensando em benefício próprio no congresso, gente atrasada e preconceituosa. É pra essas o recado. Não subestimem mais o povo porque tudo tem limite.
No Tibet monges ateiam fogo aos seus próprios corpos pela libertação do seu povo. Não precisa ir tão longe, mas precisa sim ter coragem de incomodar. E em rede internacional se for preciso. E
olha que a imagem do Brasil aqui fora não está nem tão ruim quanto é na realidade. Desse lado pelo menos da Europa existe uma visão bem romântica do Brasil, da bossa nova, do carnaval, das praias, as pessoas nem imaginam o caos em que vivemos. Eu, em Joinville, fui assaltada 3 vezes à mão armada, tive o apartamento arrombado e nem sei quantas vezes levaram o som do carro. Isso não é normal.
Não é jeito de se viver.
Quando a zona tá demais, conquistam-se direitos assim, no grito. Infelizmente não conseguimos contar com o bom senso de quem está à nossa frente tomando decisões.
Repudio qualquer um que queira desmerecer os protestos. Dizer que demorou, que os motivos não estão certos, que isso não vai dar em nada.
Vai dar sim. Foi assim com as diretas já, foi assim para acabar com a ditadura. Se tem 1/2 dúzia de vândalos, se tem gente que está indo na onda, se tem alguns reaças infiltrados... nada deslegitima as manifestações, a revolta, a ação!
Cada vez que leio sobre os protestos ou assisto as passeatas, meu coração acelera, fico arrepiada, não consigo conter o choro, queria estar junto. Sofri muito assim que mudei por achar que estava dando as costas para as nossas lutas. Mas superei, vim ver o mundo sob outra perspectiva, aprender a viver e quem sabe levar isso de volta um dia. O Brasil está dentro de mim e isso nunca mudará e como eu, milhões de brasileiros que vivem fora (por inúmeros motivos) também demonstraram seu apoio. No fundo queremos todos o mesmo: um país melhor para todos. E isso se faz com investimento em educação, saúde, segurança, com respeito às diferenças, com bom senso.
É difícil se conter ao ver milhões de brasileiros nas ruas lutando por qualidade de vida e sendo alvejados por policiais coitados que não tem a menor noção do papel que estão cumprindo para manter o status quo.
Eu espero que o povo não páre. Que não sossegue enquanto não ver mudanças concretas.
Em Joinville inclusive e especialmente.
Temos muitas mudanças por fazer.
Toca o play e junte sua voz ao coro....
E viva a Copa das Confederações! A Excelentíssima Presidenta Dilma não sabe como agradecer seu antecessor por ter conquistado para o nosso país a realização das Copas. E temos que tirar o chapéu, o futebol é capaz de emoções que nenhum outro esporte causa. Quando que a massa se uniria e sairia as ruas se não tivesse começado a Copa das Confederações? A Seleção Canarinho avançando e o povo invadindo. Que maravilha esse é o meu país. Esse é o meu Brasil! Gente, desculpa, mas não me sinto capaz de fazer qualquer afirmação a respeito dos protestos que tomaram ênfase com a Copa das Confederações. Até porque não é possível saber qual o real motivo que o povo saiu as ruas. Aumento das passagens de ônibus foi o mote, ok! Mas é essa mesma a causa? E a consequência destes protestos? Quem está lá protestando diz que é pelo aumento das passagens. Outros o gasto demasiado do dinheiro público na construção de estádios que sequer serão utilizados de maneira eficiente após o término da Copa do Mundo. Outros que é a violência das polícias. Outros que é a PEC 37. Outros a saúde. Outros a corrupção excessiva... Hummm, tá bom, cada um levantando uma bandeira e todos em busca do...?
Não sou contrária à realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, já declarei isso outras vezes. No entanto, sou contra sim em como os investimentos foram - e estão sendo - realizados aqui no Brasil para que esses eventos ocorram. Construção de estádios em locais totalmente inapropriados, sem a menor chance de ser utilizado de forma efiza depois, é um despautério e requer protesto sim, mas agora???? Por que essa massa não fez todo esse barulho quando foram definidas as sedes e a construção dos estádios????? Eu sou muito pé atrás com essas coisas, e costumo esperar mais tempo para acreditar no que se propõe qualquer protesto. Esses protestos estão me parecendo, nesse momento, muito midiáticos, algo que foi aviltado por mentes pensantes e que não se encontram no poder neste momento, para acabar com a imagem da Dilma. Tudo muito orquestrado. Foi aguardado o momento para dar "start". Hellooooo, aumentos de passagens não começaram agora, vem de tempos. Falta de educação? Bom, Santa Catarina está sendo um exemplo e não vejo nenhum grande movimento aqui. Seria porque não há construção de estádio na Bela Santa Catarina. Por toda Santa Catarina há um grande e imenso silêncio. Ah tá aqui não vai ter jogo de Copa nenhuma então não precisa protesto, é isso? Acho que o Brasil precisa acordar sim, #ogiganteacordou, mas tem que ter causa e consequência. Ficar só nas causas não rola. Vai terminar Copa das Confederações, vai passar Copa do Mundo e aí, o que vai rolar nas urnas, seja no papel, na urna elotronica, na biometria, você vai votar e é aí que eu quero ver o que realmente motivou esses protestos e se eles tiveram uma consequência. Bom, se o Brasil for campeão da Copa das Confederações fica tudo bem? Será? E já pensou se for hexa? Eu quero ver, aí sim, o povo ir às ruas, ascender o Planalto e protestar pelo que realmente importa, pra acabar com esse monte de bolsa (e olha que nem é uma Chanel) que fica dando dinheiro pra malandro, de graça, enquanto toda essa quantia poderia estar sendo investida em medidas socio-educativas de base, isso sim iria melhorar a qualidade de vida no país, mas aí não da voto não é. Quero ver a Dilma ser macha e acabar com essas trocentas bolsas de tudo que é ajuda que existe hoje. A Copa não vai deixar de se realizar, já os protestos, bom, espero que não seja fogo de palha e realmente tenham causa e consequência. E, quem sabe, se não fosse a Seleção, #ogigantecontinuariaadormecido. Pra frente Brasil, Salve a Seleção!
Para começar, deixo claro. Sou a favor de que as pessoas se manifestam por melhores condições de vida. Sou contra a
repressão desproporcional da polícia. Sou contra uma meia dúzia de
arruaceiros que transforma movimentos pacíficos em praças de guerra. Sou contra
a velha mídia, que parece estar sempre contra o povo. Dito isto, vamos tema de
hoje: a imagem do Brasil no exterior.
Vendo a partir da Europa é difícil entender os
acontecimentos ocorridos nos estádios, nesses dias iniciais de Copa das Confederações. A
minha análise é feita apenas a partir das coisas que nos chegam. E uma das
imagens mais marcantes no jogo entre Brasil e Japão foi o desespero do casal
japonês, com um bebê no colo, apanhado entre as balas da polícia e os objetos
lançados por manifestantes.
Os últimos dias têm produzido imagens mais
violentas, claro. Mas este episódio envolve turistas e por isso tem maior poder
construir uma imagem do Brasil no exterior. Os estrangeiros, seja no Japão,
Europa, Estados Unidos ou na Conchinchina, vão se sentir na pele do casal
japonês e achar que o Brasil vive uma espécie de barbárie. Isso influencia. Eu próprio
desmarquei uma viagem à Turquia no ano passado, quando ainda nem se imaginavam
os protestos das últimas semanas.
Ok... muitos brasileiros vão pensar: que se
danem os gringos, temos os nossos próprios problemas para resolver. Tudo bem. É um
direito pensar assim. Mas é também uma forma de miopia. Fazer manifestações nos
lugares onde se realiza a Copa das Confederações faz mais mal do que bem.
Aliás, não duvido que haja a manipulação das massas por interesses escusos. Ou será esse
pessoal só ficou a saber da construção dos estádios agora? Ora, isso é mais ou menos como chegar
à estação depois que o trem já partiu.
É estranho quando se confunde futebol com política.
Porque o mais lógico seria confundir futebol com economia: a Copa das
Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos permitem vender a imagem do
país no mundo. E, num prazo mais longo, essa mediatização poderia ter retornos
ao nível do turismo, da atração de investimentos empresariais e da consolidação
da imagem do país no exterior. Tudo isso sem falar que, de imediato, temos direitos
televisivos, viagens, ocupação dos hotéis, merchandising, publicidade.
Que lógica é essa onde as pessoas pedem dinheiro
para a educação e a saúde e ao mesmo tempo rasgam o dinheiro do turismo? Lutar
por educação e saúde é mais que legítimo. Mas levar as manifestações para perto
dos estádios é queimar um dinheiro que não se tem e que pode vir a ser muito necessário. É
irracional. Ou vocês acham que com estas amostras um turista vai estar à vontade
para ir ao Brasil em 2014 e 2016? Ou que um empresário vai ficar se sentir
tranquilo para investir no país?
Qual é a lógica? O turismo brasileiro representa
miseráveis 3,7% do PIB, apesar de um enorme potencial de crescimento. E quando
o país tem uma oportunidade de se mostrar para os estrangeiros tudo o que vê é essa esquizofrenia. Se querem protestar, o palco deveria ser os centros decisores da
política, não os estádios. Mas o leitor e a leitora não precisam concordar
comigo. Essa é a visão de alguém que vive em Portugal, um país em crise e cuja
economia vendo sendo salva em grande parte pelo turismo, que representa 10% do PIB.
Para finalizar. Depois de sermos bombardeados com más
notícias sobre a Copa das Confederações, todos percebemos que andávamos com uma
ideia errada do Brasil. Enquanto escrevo este texto, um manifestante
entrevistado por um canal de televisão português diz que o país nunca esteve
tão mal. Aliás, no fecho da matéria a jornalista encerra a dizer “que tudo piorou no
Brasil desde que Dilma Roussef é presidente do país”. E nós, incautos, a olhar aqui do
exterior, pensando que nunca tinha estado tão bem como nos últimos 10 anos.
Em resumo, os opositores desses investimentos no turismo estão cheios de razão: o Brasil não tem condições para
promover esses eventos.