quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hábito de ler

Parque em frente a biblioteca central em Helsingborg

POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Na Suécia não existe televisão em salas de espera, existem livros, revistas, jornais e até livros infantis.
Consultórios médicos, de dentistas, clínicas, órgãos do governo, nada de televisão. 

Uma amiga passou uma semana no maior hospital da cidade, internada por ter tirado o apêndice e outras complicações.  Fiquei impressionada, não tem televisão nos quartos. À princípio, me indignei, como assim? E o tédio? Como as pessoas fazem para passar o tempo? Simples, eles lêem.

Um parêntese: o hospital é público, e parecido, digamos assim, com o Da. Helena. Todos na cidade frequentam o mesmo hospital, as pessoas não costumam ter plano de saúde, não tem necessidade.

Sala de televisão no hospital
Os únicos espaços onde tinham televisões, eram as salas reservadas para elas. Uma sala com café, chá, poltronas e uma tv num canto, num espaço pouco privilegiado (como aparece na foto). Haviam ainda outras salas para receber as visitas, sem televisão.

Nas paredes muitas obras de arte, e os pacientes, a maioria, com um livro na mão.

Isso demonstra como a leitura é presente na sociedade sueca.

Educação aqui é coisa séria e não se mede esforços quando o assunto são livros, informação, estudo.

Nas bibliotecas você pode pegar até 50 livros por mês e 30 dias é o prazo para devolver. Vencido o prazo, no próprio site da biblioteca (link abaixo), você pode renová-lo para mais 30 dias, e mais, e mais, desde que o livro não esteja reservado por alguém. As reservas também podem ser feitas pelo site, na sua página pessoal. Se a biblioteca não tiver o livro, eles consideram a possibilidade de comprar. A maioria dos livros são em sueco, claro, mas tem um acervo grande em outras línguas, inclusive em potuguês, com obras de Machado de Assim ou José de Alencar. É possível reservar e-books, dvds, audio-books, cds, ou livros infantis.

As bibliotecas são pontos de encontro.
Na central existe um café sempre bastante movimentado que serve almoço, lanches e doces. No inverno eles servem uma sopa que é a melhor que já comi na vida.

Além da biblioteca central, existem algumas em bairros, também com estrutura para receber bem os leitores e seus filhos. Em todas, espaço para a criança ler ou brincar.

Nas estações mais quentes é possível pegar uma rede e pendurar nas árvores do parque que fica em torno da biblioteca como mostra a primeira foto do post.

Eu nem vou discutir os hábitos de leitura da maioria dos brasileiros, nem a frequencia, nem as escolhas, apesar do nome, eu não acho que auto-ajuda, ajuda muita coisa. Não estamos mesmo acostumados com horas e horas de estudo e leitura no Brasil. Tive uma professora que dizia que qualquer professora que não lê 1 livro por mês devia ter vergonha de ser educador. Eu confesso que não consigo tanto, mas tento.

O que eu queria mesmo era que alguém me dissesse que a principal biblioteca pública de Joinville não está ainda assim:  


Eu realmente espero que o prefeito consiga mudar o quadro e dar o incentivo literário que nosso povo merece.

Fonte: http://biblioteksnv.se/web/arena/startsida;jsessionid=8C4407A3FC26A2938844213A791907C1


A avozinha dá um show...

POR ET BARTHES
Exercícios difíceis de realizar... em especial se você tiver 86 anos de idade...


"Reformaram" a Arena Joinville. Que lindo!

POR GABRIELA SCHIEWE

Caros molhados, vocês viram que sensacional? "Reformaram" a Arena. Isso é um espetáculo que antevê o outro grande espetáculo que será o jogo JEC x Santos.

Antes, só para não passar batido, no que tange à questão dos valores do ingresso, estou em total acordo com a diretoria do Joinville. O clube vive de receitas e esta é uma grande oportunidade de obter uma ótima arrecadação para pagar contas.

Sem aquele blá blá blá de que é uma falta de respeito com os que comparecem a todos os jogos e agora não poderão ir ver o grande duelo. Não, né? Parou. O clube depende de dinheiro e agora tem uma grande oportunidade de forrar o bolso.

Então, voltando a "reforma", é abominável ver isso. Pintar a Arena por causa do Santos? Aumentar ingresso para captar mais receita é totalmente aceitável. Agora sair jogando umas tintas pra ficar mais bonitinho é ridículo.

Tá bom, eu sei que a minha linguagem está bem vulgarzinha, mas não é possível tolerar essas "reforminhas" que o governo local fica fazendo e varrendo a sujeira para baixo do tapete.

O Ivan Rodrigues e o Abel Schulz continuam a mesma porcaria, sem reforma, pinturinha e absolutamente nada feito. Aí vão lá passar uma "maquiagem" na Arena para esconder as suas "rugas".

É a mesma história quando se aproxima a data de um grande evento na cidade, principalmente o Festival de Dança. Até uma semana antes do seu começo, o mato toma conta dos canteiros, as ruas estão cheias de buraco, o Centreventos está "desbotado", Eis que chega a fatídica data e tudo se transforma, como num passe de mágica. E depois que termina, é como se o relógio badalasse e a grande carruagem virasse abóbora.

Não concordo com este tipo de solução que pra mim é mentirosa. Eis que não soluciona nada, já que esta tinta que hoje foi passada, logo irá começar a desbotar e descascar. E só quando um outro "Santos" aparecer ela será retocada.

Ahhhh, só para esclarecer e que fique tudo muito claro, eu dizer que "reformaram" a Arena foi em tom irônico. Ok, leitores?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pensar a Joinville do futuro é bom. Mas o futuro é agora...

POR JORDI CASTAN

Um dos melhores negócios é vender, e cobrar hoje, um produto que só será entregue (ou não) no futuro. Quanto mais longínquo e indefinido for o prazo e o conceito de futuro, melhor o negócio.

O prefeito Udo Dohler é um homem aplicado, que aprende rápido. Tanto que em pouco tempo o empresário tem se convertido num hábil político. É cada vez mais difícil identificar nele e na sua gestão o que a diferencie das anteriores.
A inauguração com algaravia de ordens de serviço, o lançamento de parques pomposos (que continuam sendo só praças) ou a ampla divulgação da instalação de um sinaleiro fazem com que o seu governo seja parecido com qualquer outro dos predecessores. É quase impossível identificar alguma das características que projetaram a imagem do empresário.


Uma das habilidades que um "bom" político deve aprender - e dominar com rapidez - é a arte da mentira política. E nesse quesito o nosso prefeito tem se convertido num mestre. Quanto mais atolada anda a gestão e quanto menos coisas acontecem, mais aumentam os discursos e as mensagens que propõem soluções e projetos para a Joinville do futuro. A mensagem é clara. Enquanto as coisas continuam na linha de "mais do mesmo", ganha expressão a promessa de uma Joinville melhor... no futuro.


Quando? Bem distante, digamos 30 anos. Se já se esqueceram as promessas de campanha, feitas há pouco mais de meio ano? Quem vai lembrar e cobrar as promessas feitas hoje, para serem cumpridas daqui a três décadas. Daqui a 30 anos há uma chance grande que estejamos quase todos carecas e, pior ainda, que ninguém lembre mais de quais os projetos prometidos para essa Joinville de dois milhões de habitantes.

Em modo de desafio, quem lembra quem era o prefeito há 30 anos? E quais eram os projetos daquela Joinville? Quais tiveram continuidade? Quais nunca saíram do papel? A quem cobrar o que não foi feito? A impressão é que o prefeito conta com esse esquecimento natural. E se lança a prometer um futuro melhor, para ganhar, o que menos tem: tempo. Já desperdiçou uma parte do seu mandato. Propõe que a solução dos problemas atuais estaria cada vez mais distante.

Como sugestão, e se o tema da arte da mentira política merece seu interesse, recomendo duas leituras. A primeira é a "Arte da Mentira Política", de Jonhatan Swift, que parece ter se convertido no livro de cabeceira do prefeito, que tem posto em prática seus ensinamentos. A segunda é um texto meu publicado no jornal A Noticia, na mesma linha.

Num ponto o prefeito está certo, vender e cobrar hoje para entrega a futuro é um bom negócio.
É justamente esse o sucesso da maioria das igrejas que tanto prosperam no Brasil: oferecer um paraíso no futuro, para quem pague as prestações, o dizimo, o de os votos hoje. Porque a moeda que se usa para comprar esta Joinville paradisíaca do amanhã pode mudar, mas o negocio é o mesmo. A diferença é que o prefeito quer convencer ao eleitor que desta vez a garantia esta representada pela sua credibilidade. "La garantia soy yo"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Joinville, a vila do senso comum - Parte II

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Em uma vila, a principal área de interação social é a pracinha central, ou, em casos mais extremos, a igreja da cidade. Tudo acontece apenas em um dia da semana, e o processo é engessado por uma dinâmica que não promove a troca, o diálogo, e a construção de diferenças. Só existe um local, um momento, e as mesmas pessoas. É ali que o senso comum é (re)produzido. Na nossa Joinville não é diferente: o senso comum é consolidado nos lugares em que cada grupo social se reúne. Não há lugares cosmopolitas na cidade, cada local é um reduto específico de guetos. Típico comportamento de vila em meio a mais de 520 mil habitantes.

Um dos grandes símbolos desta visão é a recreativa das empresas locais. O trabalhador (sem essa conversa fiada de "colaborador", por favor!) esgota-se durante a semana no trabalho, e no final da semana, momento oportuno para o seu momento de ócio criativo (no sentido mais "demasiano" possível), vai para a recreativa da empresa se divertir. Detalhe: o seu chefe é o churrasqueiro da festa, o seu subordinado o goleiro do time de futebol e o dono da empresa distribui patéticos brindes no bingo vespertino. Não há espaço para fluir o diferente, a crítica (como criticar o patrão, se ele tá ao meu lado?) muito menos a consciência de que a cidade não é formatada para o trabalho e que este não é o único responsável por uma qualidade de lazer inalcançável, caso estivesse desempregado. A empresa faz, com suas recreativas, o possível para o trabalhador acreditar que a sua função é ótima. De forma mais concreta, é uma manipulação para manutenção do comportamento preferido dos joinvilenses.

A partir da década de 1980 a cidade se transformou e a abertura econômica ao consumo criou espaços até então típicos de países "desenvolvidos": os shoppings centers. Seja com o Americanas, Mueller, Cidade das Flores, Center Leste (alguém lembra?) e o Garten, todos são produtos de um comportamento que, ao longo dos anos, manteve a - e pediu pela - formatação de espaços segregados e distantes da "realidade das ruas", reduto principal das extremas diferenciações sociais. Resumindo, o shopping center se tornou o local perfeito para alienação referente ao que acontece "lá fora", e é óbvio que seria um templo majestoso para a maioria de nós, joinvilenses. Um espaço que orienta o que você vai consumir, vai comer, e vai ter de lazer (nem que seja só ficar dando voltas pelos corredores) é, conseqüentemente, um espaço que excluirá a possibilidade de trocas.

Os joinvilenses adoram ver vitrine, rodar os estacionamentos lotados, almoçar, lotar salas dos cinemas com filmes de baixa qualidade em cartaz, e "verem e serem vistos" com os últimos lançamentos da moda. De tão iguais, eles se tornam invisíveis enquanto indivíduos e representam uma única massa, enorme, sem cor, e maleável de acordo com as novas representações desta coletividade que não pensa e constrói cativeiros sociais a serviço do pensamento acrítico. É a partir daí que o tipico joinvilense não aceita quem pensa diferente de si.

A pior tragédia neste sentido acontece de forma silenciosa: a cidade perde, aceleradamente, o seu papel de transformação, de diálogo e de trocas. Se fomos historicamente acostumados a não evidenciar isto, a cidade (ou seja: as ruas, as praças, os parques, etc.) é o último local em que precisaremos estar. Aliás, só o nosso carro precisa. A cidade não é mais vista como espaço de "construção" para se tornar um mero espaço de "passagem". O espaço coletivo, em Joinville, não existe (talvez nunca tenha existido): ele deu lugar às pracinhas e igrejas da vila do século XXI. Só faltou uma faixa, dando as boas-vindas: "1ª sensocomumfest, nos bares da Via Gastronômica e shows na calçada do Batalhão".