quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Estranho, muito estranho


Por JORDI CASTAN
 Somos responsáveis pelo que fazemos e também pelo que deixamos de fazer. Omissão e ação são, muitas vezes, faces da mesma moeda. É a nossa omissão generalizada e sistemática que dá liberdade aos legisladores para descumprirem sua função principal: fiscalizar as ações do executivo e legislar sobre as coisas públicas e de interesse do coletivo.
 Dar destino nas “sobras” do orçamento ou fazer alterações pontuais de zoneamento parece a prioridade neste momento. Erro duplo. Primeiro, por classificar como sobra o recurso financeiro que deveria ser de destinação coletiva. Segundo, por tratar de tema de exclusividade do executivo municipal.
 Os nossos vereadores deveriam, por obrigação constitucional, fiscalizar a administração da coisa pública. Não parece que estejam se esmerando muito. Saber pela imprensa que o repasse obrigatório da empresa operadora do Cartão Joinville está 18 meses atrasado indica pouca perícia. Quem responsabiliza, fiscal e administrativamente, a empresa controladora do contrato? Evidencia, também, pouca fiscalização do responsável eleito e remunerado para executar esta função e que, preocupado com outros interesses – eu diria menores –, não o tem feito com a frequência e diligência que os eleitores esperam.
Os nossos vereadores parecem pouco interessados em tomar conhecimento do que possa haver por trás das pressões, cada vez menos sutis, para aprovar mudanças pontuais de zoneamento. Ou para aumentar, de forma continuada, o perímetro urbano com pouca ou nenhuma base técnica e social ou através de eufemismos e subterfúgios, como no caso das ARTs (Areas Rurais de Transição). A pergunta é: transição em direção a quê?
Some-se ainda a posição firme, quase insolente, de figuras destacadas da nossa sociedade, manifestando-se publicamente pela aprovação, a toque de caixa, da Lei de Ordenamento Territorial, ainda este ano, sem um amplo e necessário debate democrático. É uma atitude que deveria no mínimo deixar o eleitor com uma pulga atrás da orelha.
 Curiosa também é a realização de novas audiências públicas sobre temas que foram rechaçados pela maioria da população nas plenárias. A manifestação contrária da sociedade aos interesses pontuais de alguns legisladores foi olimpicamente desconsiderada. Os mesmos que, estranhamente, convocaram novas audiências públicas para debater uma e outra vez o mesmo tema, com a esperança de poder aprovar o que a sociedade insiste em não querer. Os casos da Rua Aquidaban e da Estrada do Oeste são os mais recentes. E as novas convocações de audiência devem levantar mais dúvidas que certezas.
Surpreende ainda que o mesmo legislativo que aprova as leis ignore o seu cumprimento. O que dizer do silêncio constrangedor ao receber, fora do prazo, o projeto de Lei de Ordenamento Territorial, encaminhado pelo próprio prefeito municipal? É bom lembrar que a lei 318/10 do macrozoneamento foi publicada no jornal do Município no dia 22 de outubro de 2010 e estabelecia um prazo de 1 ano para que a LOT fosse encaminhada ao legislativo. Prazo que não foi cumprido, sem que fosse dada qualquer justificativa.
Tente o munícipe entregar requerimento ou solicitação fora do prazo ou pagar imposto depois da data e compare o tratamento recebido de qualquer um dos três poderes. O executivo não deveria deixar de cumprir prazos legais. E o legislativo não deveria ignorar atrasos nos prazos legais estabelecidos pelas leis que o município aprova e sanciona, sob risco de perder ainda mais a credibilidade.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É preciso esclarecer, deputado Clarikennedy

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É ilegal um deputado receber diárias de R$ 670 pelo tempo que está na própria cidade? Claro que não. Mas mesmo sendo legal, os deputados correm o risco de ouvir, de muitos eleitores, a acusação de estarem a legislar em causa própria, oferecendo a si mesmos polpudas diárias (apesar de eles acharem que é pouco).

Mas há outra pergunta que todos os eleitores podem estar a fazer: é moral? Parece que no plano da moralidade os deputados precisam dar explicações aos seus eleitores. E, pelo que podemos ler nos comentários aqui no Chuva Ácida, o caso que está a provocar reações negativas no eleitorado.

O fato é que há um clima de dúvida. No caso de Joinville, seria bom que os deputados representantes da cidade fizessem esclarecimentos cabais – e detalhados –, para que não pairem incertezas. É bom para a democracia e é um direito do eleitor. Ontem o deputado Clarikennedy Nunes escreveu no Twitter que o “procedimento de prestação de contas e controle de tráfego exigem que a cidade origem das viagens seja colocada no roteiro”. O deputado Darci de Matos explicou o mesmo.

Vamos tentar entender. Mas antes de começar deixo um aviso. As linhas que seguem não pretendem por em dúvida a honra de qualquer político. Mas há questões que merecem ser esclarecidas, por uma questão de transparência. Do ponto de vista moral (nunca legal), o que o eleitor pode pensar do caso do deputado Clarikennedy Nunes, pré-candidato a prefeito de Joinville, que recebeu R$ 3.350 de diárias no período de uma semana?

Segundo os documentos apresentados por Charles Henrique, aqui no Chuva Ácida, o deputado teria recebido cinco diárias entre os dias 22 e 28 de setembro por estar em São Bento do Sul, Joinville, Abelardo Luz, Itajaí e Pomerode (os fac-similes estão no texto de ontem). E hoje surgiu a explicação do “ponto inicial” das viagens.

Quem acompanha o deputado Clarikennedy Nunes pelo Twitter sabe que ele é profuso e gosta de informar aos seus seguidores onde está a cada momento, no Brasil ou no exterior. Uma rápida pesquisa nos twitts desse período mostra onde ele esteve nesses dias. Enfatizo – com o objetivo de evitar mal-entendidos – que é uma visão limitada pelo que o Twitter permite saber. O deputado pode ter outras atividades que não registrou na rede social.

Dia 22 - Falou na AL em Florianópolis. Foi para São Bento do Sul entregar um ônibus à APAE local. E rumou a Joinville, onde à noite foi ver uma competição do Bom Jesus.

Dia 23 - Permaneceu em Joinville. Pela manhã teve uma reunião com uma equipe técnica - a que chama GT2012 - para definir o futuro governo de Joinville (com ele de prefeito, claro). Mais tarde teve uma reunião com o pessoal de uma igreja. E à noite foi para uma filiação no PPS. Não é possível perceber se realizou trabalho como deputado, mas pode ter acontecido.

Dia 24, 25 e parte do dia 26 - Passou por Curitiba, Foz do Iguaçu e participou de um evento religioso em Marechal Cândido Rondon. Também anunciou uma ida a Rolândia, no Norte do Paraná. No dia 26, visitou uma fábrica e voltou a Joinville para, segundo escreveu no Twitter, para dar um seminário de Comunicação e Liderança. Os dois primeiros dias foram um fim-de-semana, que é livre e certamente não remunerado. E no dia 26 também não deu para perceber se teve alguma ação enquanto deputado.

Dia 27 - Tudo indica que ainda em Joinville. Teve uma reunião com o futuro secretário da SDR JOI. Também postou um twitt a reclamar que o jornal AN deu a notícia mas não revelou o autor de outdoors contra mais vereadores. Não fica claro, mas é possível que tenha tido alguma ação como deputado.

Dia 28 - Diz que teve um dia puxado na região de Abelardo Luz (540 quilômetros de Florianópolis e 450 quilômetros de Joinville). Ah... escreveu que estava tentando chegar a tempo para a reunião do PSD em Joinville, onde parece ter permanecido.

Como podem ver, Clarikennedy Nunes teve dias cheios. Mas, pelo que se viu no Twitter (e, repito, isso não permite ver o todo) nem sempre ficou caracterizado que estava a trabalhar nas funções de deputado. Ah... o leitor mais atento deve ter percebido que não há referências a Itajaí e Pomerode, que seriam cidades de origem a duas diárias. Sem problema.

Talvez seja apenas o abastecimento do carro. Também é provável que ele tenha esquecido de fazer o registro das idas a essas duas cidades nas redes sociais. Aliás, até me preocupei em procurar alguma notícia na internet e não encontrei respostas. Ou talvez ele tenha participado de acontecimentos sem interesse jornalístico, o que é perfeitamente possível.

Repito. Não estou a por em causa a honorabilidade de ninguém. Mas enquanto os políticos não clarificarem a situação, os eleitores podem cair na tentação de fazer julgamentos errados. Aliás, confesso, entender onde estão os pontos de partida é complicado.
Mas de uma coisa não devemos ter dúvidas: a coisa é legal. Só que do ponto de vista moral dá o que pensar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Deputados joinvilenses ganham diárias para “visitar” Joinville



POR CHARLES HENRIQUE

Como diria Galvão Bueno, haja coração amigo! Pode ler o título deste post novamente se quiser. É tudo procedente, bizarro, e acontece diante de nossos olhos. Graças a um leitor assíduo de nosso blog e muito atento aos bastidores políticos (ele poderia muito bem seguir a linha do jornalismo investigativo), fiquei sabendo dessa prática na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina.

Ao pesquisar as diárias que Darci de Matos, Clarikennedy Nunes e Nilson Gonçalves receberam neste ano de 2011, me surpreendi com as várias diárias para “visitas” a Joinville. Mas, tem um detalhe: é sabido e certo que eles moram em Joinville e tem aqui o domicílio eleitoral. Como classificar esta atitude? No mínimo é um mau uso do dinheiro público. E o outro detalhe: R$ 670,00 para cada diária!! Presume-se, portanto, que o deputado estadual sai de sua casa, toma café, almoça, janta e dorme num hotel de Joinville e o cidadão desembolsa esse valor todo. Não nos esqueçamos que cada um tem uma verba de gabinete gigantesca, carro com motorista, auxílios para deslocamento entre sua cidade de moradia e Florianópolis para acompanhamento das sessões, e várias outras mordomias que o título de deputado estadual impõe. E ainda tem deputado estadual que é demagogo ao ponto de defender a redução no número de vereadores.

Os documentos oficiais da Assembleia provam tudo. Quero ver a desculpa deles agora. Não sou contra o auxílio para viagens, elas devem acontecer. Mas só para um lanche e um almoço. Ponto. Esse valor todo para uma diária é um absurdo, caro demais. E olha que nem pesquisei sobre as diárias de nossos Senadores e Deputado Federal aqui da região de Joinville.

Abaixo seguem os prints dos documentos, e aí, cada um que tire sua conclusão. Inclusive os que acham que os integrantes do Chuva Ácida só “batem” sem fundamento e com parcialidade. E ah! Como eu gostaria de ter acesso ao obscuro mundo do Judiciário, o menos transparente dos três poderes. Quem sabe um dia, Charles... quem sabe um dia...




Obs: esses prints são de relatórios referentes a algumas semanas de setembro/2011 e ainda há muita coisa para se pesquisar nas diárias de nossos deputados estaduais.
Atualização: alguns leitores não estão conseguindo visualizar as imagens. Aqui vão os links diretos dos documentos, agradecendo desde já pelo toque:
http://www.brimg.info/uploads/4/ad7509bd80.png
http://www.brimg.info/uploads/4/12bf980e00.png
http://www.brimg.info/uploads/3/8566f1dd69.png
http://www.brimg.info/uploads/1/0c76ce18b1.png
Atualização 2: A rádio MAIS FM, veículo para o qual trabalho (e dei a informação em primeira mão) já ouviu a versão dos deputados. Mais informações em breve aqui pelo blog ou também na 103,1FM.
Atualização 3: O deputado Darci me ligou pessoalmente agora há pouco (perto das 15hrs) e me garantiu que ele não pega diárias para Joinville, e a cidade de Joinville aparece no relatório por efeito administrativo e ser o seu "ponto inicial" da viagem.
Atualização 4: a Rádio MAIS FM vai publicar amanhã os áudios com as respostas dos deputados. Comentarei resposta por resposta. 7h15 na MAIS FM 103,1.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

McDonalds na mira da defesa dos animais

POR ET BARTHES


E sobrou para o McDonalds outra vez. A organização não-governamental Mercy For Animals fez gravações com câmara oculta na empresa Sparboe Eggs (Iowa, Minnesota e Colorado), fornecedora de ovos da multinacional do fast-food. O filme mostra a crueldade com que os animais são tratados pela empresa. Espaços exíguos, bicos queimados, animais mortos putrefatos nas gaiolas ou até mesmo homens a se divertirem com as aves. Em tempo, a direção do McDonalds já cancelou o contrato com esse fornecedor. As imagens são fortes.


E agora, o que dá pra fazer com 3,5%?

POR FELIPE SILVEIRA

Diz o vereador Bento (PT) que, cortando uma gordurinha aqui, outra ali, dá pra reduzir a verba repassada à Câmara para 3,5% do Orçamento. No próximo, esse percentual será de 4,5. e nesse ano foi de 6%. Mais do que dizer isso, a bancada petista, a governista, propôs uma emenda na Lei Orgânica do Município para que realmente ocorra uma redução do gasto público no próximo ano. Sabendo disso, comecei a me perguntar:

Cadê todo esse povo que é contra o aumento do número de vereadores por causa do gasto público?

Ah, eles (vocês, talvez) não sabiam... entendi.

Então... cadê a imprensa, os colunistas... meu Deus! ONDE ESTÃO OS RADIALISTAS???

Onde está o manifesto da Acij, CDL, Ajorpeme, Acomac??? Onde estão os outdoors??? E os candidatos à próxima eleição... nada?

Enfim, cadê todo mundo que é tão radicalmente contra mais vereadores? Que acha que o mundo vai acabar com mais cadeiras no legislativo? Cadê o tão falado 90% da população contrária ao aumento do gasto que não tá engajada nessa causa?

Apesar de tantas perguntas, o que mais me deixa curioso mesmo é como os vereadores contra mais colegas vão reagir. Só vi uma manifestação, pelo jornal, e era negativa (não lembro qual era). O edil questionava se fazia sentido querer reduzir a verba e aumentar o número de colegas?

Sim, o próprio Bento me falou (numa entrevista) que a ideia da proposta é tentar aumentar as vagas na Câmara, mas que o objetivo era reduzir a verba seja qual for o número de vereadores.
Mas eu, e vocês, não temos nada a ver com isso. O que importa é a redução do gasto, né? Não é o desejo do povo, a vontade da maioria? Se é possível reduzir pra 3,5%, então vamos batalhar pra isso acontecer. Afinal, não é isso que importa?

Em tempo: não sou contra o aumento do número de vereadores. Nem a favor. Muito pelo contrário. Na verdade, ainda não decidi. Quando as entidades se posicionaram contra, eu me posicionei a favor, porque ali tinha alguma coisa errada. Hoje, sinceramente, tanto faz. Questiono muito mais a qualidade do que a quantidade. E, nesse quesito, tá feio o negócio.