Não tenho
qualquer informação de cocheira sobre os acordos para o segundo turno. Mas se alguém me perguntasse no domingo passado, logo depois da
divulgação dos resultados, eu faria um raciocínio linear: Carlito Merss iria
apoiar a candidatura de Udo Dohler, enquanto Marco Tebaldi ficaria ao lado de
Kennedy Nunes.
Ok... ainda faz sentido continuar a acreditar nesse rearranjo eleitoral. O PSDB
já confirmou o apoio a Kennedy Nunes. O que, aliás, nos dá algo para pensar: hoje em
dia o apoio de Marco Tebaldi não parece ser propriamente um apoio, mas
contágio. O estrago feito na sua imagem nestas eleições gerou uma rejeição que deixa um enorme ponto
de interrogação sobre o seu futuro político. Será que Kennedy Nunes quer ser visto ao lado de Tebaldi? Sei não...
Pelo que a imprensa vem divulgando, a posição de Carlito só vai ser tomada na
próxima semana. E como a “realpolitik” é uma caixinha de surpresas, podemos até
ter um arranjo meio esquizofrênico, com o apoio a ir para Kennedy Nunes e desequilibrar a balança. Udo
Dohler ficaria isolado, tendo que enfrentar uma “tríplice aliança” formada pelo
PSD, PT e PSDB, mais os nanicos. E aí, em bom joinvilês, é “caixão pro
Billy”.
O ainda prefeito está numa posição meio incômoda. Porque a escolha - qualquer uma - pode provocar desgastes na sua imagem. Udo
Dohler ou Kennedy Nunes? Isso faz lembrar o ditado: venha o
diabo e escolha. As relações de Carlito Merss com os dois têm sido azedas. Kennedy Nunes
sempre trabalhou, de forma obsessiva, para detonar a imagem do atual prefeito. E o senador Luiz
Henrique, que tem as mãos no leme da campanha de Udo Dohler, é acusado de
interferir no episódio da cassação de Carlito Merss.
A OPÇÃO KENNEDY - Se formos olhar os
fatos dos últimos quatro anos, o apoio
de Carlito Merss a Kennedy Nunes deveria ser impensável. Porque o
candidato-pastor bateu, bateu e bateu no prefeito. E durante o primeiro turno
bateu, bateu e continuou a bater, mesmo quando isso não fazia o menor sentido
em termos estratégicos. Afinal, o atual prefeito era dado como carta fora do
baralho e não representava perigo.
O fato é que não dá para ficar indiferente ao bochicho desta semana, segundo o qual havia hipóteses de Carlito Merss dar o seu apoio a Kennedy Nunes. A ideia é esquizóide, mas já vi aqui e
ali alguns petistas na defesa dessa aliança. Que razões teria Carlito Merss
para engolir uma composição com um sujeito que sempre o sacaneou?
O nome do jogo
é política e há muitas variáveis a ter em conta. Uma delas é que uma aliança formal talvez ajudasse a resolver um problema para ambos: Kennedy Nunes não tem
quadros qualificados em número suficiente para formar uma administração e Carlito
Merss poderia preservar alguns lugares para a sua entourage.
E há pelo menos uma fortíssima razão emocional para um eventual apoio a Kennedy Nunes. É
que isso produziria uma ironia: uma desforra pessoal contra Luiz Henrique,
deixando Udo Dohler a lutar contra essa tríplice aliança de ADN esquizóide: estariam juntos, numa mesma trincheira, três grupos que não se bicam em termos políticos.
A OPÇÃO UDO - Udo Dohler vai ter que suar as
estopinhas para convencer Carlito Merss. Depois do anúncio do apoio do PSDB à
candidatura de Kennedy, uma eventual aliança com o candidato do PT passa a ter
maior importância para o PMDB. E a posição negocial de Carlito Merss ganhou
maior peso.
No entanto, é
bom não esquecer que durante o primeiro turno a coisa andou crispada entre os
dois. Do lado do PT, houve o episódio do filme da mulher amarrada. E há um fator interno muito forte a
considerar. O time do atual prefeito teria muita dificuldade em engolir uma
aliança com Luiz Henrique (mas não duvido que o senador pense que pode ganhar as
eleições sozinho).
A TERCEIRA
VIA – Quem conhece Carlito Merss concorda numa
coisa: ele é uma pessoa íntegra que tem uma história pessoal a
preservar. O que abre caminho para uma terceira hipótese. Liberar o seu
pessoal e não fechar com ninguém. Obviamente terá que enfrentar a resistência dos que
querem manter lugares numa futura administração. É a realpolitik.
Carlito Merss precisa calcular os riscos e afinar a mira para não dar tiros no pé.
Afinal, numa composição com o PMDB acabaria refém de uma administração onde o
dedo incômodo de Luiz Henrique seria preponderante. Ao fechar com Kennedy
Nunes, correria o risco de naufragar numa administração que tem tudo para
dar errado.
P.S.: Há um fator a considerar. É que o apoio de um candidato derrotado a outro que continua no páreo não é garantia
linear de transferência de votos. O eleitor comum pode estar imune a
negociatas palacianas.