POR SALVADOR NETO
Talvez venha a ser mais um daqueles mistérios insolúveis da província, mas jornalista impertinente que sou, ouvidor das ruas e das gentes que a percorrem dia após dia na luta pela vida, e por serviços e estruturas públicas de qualidade, parodiando o Salsicha, companheiro de Scooby Doo, personagens dos desenhos animados, e também o grande poeta Castro Alves em seu poema Vozes D’África, questiono:
Lia Abreu, cadê você? Onde estás que não respondes? Será que interditaram para sempre sua voz? Será que te disseram “Porque te calas?”, e você aceitou? Cerca de um mês atrás postei em minha página pessoal no Facebook uma pequena nota sobre o afastamento de Lia Abreu, fiscal sanitarista reconhecida pela firmeza, e por vezes dureza, com que fazia seu trabalho de fiscalizar. Governadores, Prefeitos, Secretários, e os áulicos que os cercam, reclamavam das interdições que ela determinava diante do quadro deplorável de muitas escolas, estaduais e municipais, em Joinville (SC). Fui bombardeado pelo cordão dos puxa-sacos, dependentes de cargos públicos e partidários de ocasião.
E isso porque apenas perguntava: “Pergunta que
berra aos ouvidos da imprensa, e ela não corre atrás: onde anda a fiscal
sanitarista Lia Abreu? Afastada? Não mais? Onde está o contraditório? Cadê a
apuração e continuidade da matéria, ouvir secretária, a fiscal, o básico do
jornalismo? Os pagadores de impostos querem saber o que houve, porque há
escolas por aí que precisam ser fiscalizadas, e ela é uma servidora deste
público que paga impostos... Porque te calas grande imprensa da província?”
Muitos defenderam o afastamento porque ela foi
“acusada”, e seria para não “atrapalhar” as investigações (?). Ou seria o
objetivo principal o linchamento moral, a perseguição dura e direta para ser
ver livre de um calo que incomoda a muitos poderosos? Quem sabe outro motivo
teria sido impedir que várias escolas sem as mínimas condições de receber os
alunos, fossem interditadas? Aliás, outra pergunta sem resposta: quantas escolas foram visitadas, fiscalizadas, e se
foram, por quem, e quantas até hoje? Lia Abreu, cadê você?
Ontem, quinta-feira (5/3), sai nota na coluna do
jornalista Jeferson Saavedra, em A Notícia, que disse o seguinte: “A Prefeitura
de Joinville abriu sindicância contra a fiscal da Vigilância Sanitária, Lia
Abreu (foto), por supostamente agir de forma “intimidadora” durante as
vistorias nas escolas estaduais. Ela também não teria tido “bom senso” em suas
manifestações. Ela terá prazo para se defender. Lia foi suspensa por 60 dias no
final de janeiro.” Que tal? Preparando terreno para o golpe final? Ou seria uma
chantagem emocional? Pressão? Coação?
Notem que agora, depois do “afastamento”, vem a
“sindicância”, por ela agir de forma “intimidadora” (?). E tem mais: faltaria à
fiscal sanitarista “bom senso”. O que seria bom senso? Talvez deixar escolas
ruírem na cabeça das crianças e jovens da maior cidade de SC? Proporcionar aos
estudantes a maravilha de utilizar banheiros químicos porque banheiros das
unidades não funcionavam? Deixar que curtos circuitos colocassem em risco a
vida de muita gente, ou que os estudantes levassem guarda-chuvas para dentro
das salas por chover mais dentro que fora da sala de aula?
Lia Abreu, cadê você? Onde estás que não
respondes? Ou será que não foram te perguntar nada, os tais veículos de
comunicação? Nós do Chuva Ácida perguntamos sim, quais as razões para teu
afastamento, agora um processo de sindicância? Funcionária pública concursada,
com extensa carreira de serviços prestados à comunidade que paga impostos e
deseja ver a coisa pública funcionando como deveria, você precisa dar a sua
versão dos fatos. Porque a Prefeitura vem dando em doses homeopáticas em
colunas dos jornalões.
Nós, que pagamos impostos que pagam salários dos
servidores, Prefeitos, Governadores, Secretários, e também dos áulicos do
poder, queremos saber o que se esconder por trás destes silêncios
ensurdecedores. Porque as escolas continuam a espera da ação dos governantes
para sua recuperação, da mesma forma que obras de infraestrutura que só servem
para discursos fáceis e conquistas de votos. Depois, esperem, é o que nos
dizem.
O tempo da mordaça acabou há 30 anos. Assim como
a população respeitava o seu trabalho de fiscalização – menos os atingidos por
ela – ela agora precisa te ouvir e saber a verdade. Desinterdite a sua voz Lia
Abreu. A sociedade aguarda ansiosa.