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sábado, 28 de julho de 2018

Moçambique importa. Nicarágua também

POR CLÓVIS GRUNER
Na quinta-feira (26), desde suas trincheiras lusitanas, José António Baço repercutiu um “ligeiro desaguisado” que começou nas redes sociais e veio parar no Chuva. As razões e o roteiro da pequena desavença já foram contadas em seu texto, por isso as resumo brevemente. Em suma, Baço credita minha preocupação com a crise na Nicarágua – e também na Venezuela – ao que chama de uma “indicação midiática”.

Trocando em miúdos, e um pouco grosso modo, o país latino e os quase 400 cadáveres – um deles de uma brasileira, a estudante de Medicina Rayneia Gabrielle Lima – produzidos desde abril pelo governo de Daniel Ortega e Rosario Murillio, esposa de Ortega e sua vice-presidente, nos interessam (supondo que não seja apenas eu o interessado) tão somente porque estamos a seguir o que a mídia indica – e, é lícito supor, não exatamente qualquer mídia.

A atestar sua tese, Baço cobra a pouca repercussão entre nós do ataque em Moçambique, há algumas semanas, perpetrado por extremistas islâmicos, com um saldo de 20 mortos. Ante o silêncio do Brasil – que, como Portugal e Moçambique, é parte integrante da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – e dos brasileiros, pergunta: “Se é para propor uma reflexão, que tal refletir sobre uma ação conjunta dos países da CPLP em Moçambique?”.

Embora não tenha ficado claro porque ele pede que deixemos de nos ocupar com a Nicarágua para nos preocuparmos com Moçambique quando, me parece, o desejável seria nos preocuparmos com os dois, ele está certo ao chamar a atenção para nossa indiferença. Uma pesquisa breve nos sites noticiosos é suficiente para mostrar a desproporção entre os portais de Portugal e Brasil, com uma vergonhosa desvantagem para nós, na cobertura dos ataques terroristas em Moçambique.

Talvez o fato do país ter sido colônia portuguesa até meados dos anos de 1970, ajude a entender o interesse maior, em Portugal, pelo que acontece na região. Mas é igualmente correto, que um dos motivos a explicar esse descompasso é nossa óbvia ignorância em relação a quase tudo que diz respeito ao continente africano. Uma ignorância que é, em certa medida, alimentada pela pálida presença da África e seus países, mesmo os de língua portuguesa, na mídia brasileira. E também nisso Baço tem razão.

Esse outro continente, a América Latina – Mas não me parece estranho, nem apenas fruto de algum interesse escuso das mídias tradicionais, que dispensemos uma atenção maior à Nicarágua ou Venezuela e à crise política que atravessa os dois países. Crise que, entre outras coisas e mais especificamente no caso venezuelano, repercute diretamente no Brasil, que já recebeu cerca de 50 mil refugiados do regime de Maduro nos últimos dois anos.

Diferente do que sugere Baço, um posicionamento menos conformista em relação à escalada do terror de Estado na Venezuela e Nicarágua não é inócuo do ponto de vista prático. Entre outras razões, porque parte importante da legitimidade de Maduro e Ortega advêm justamente do apoio de partidos e lideranças de esquerda, que insistem em ignorar o caráter autoritário assumido por ambos os governos e o desrespeito sistemático aos direitos humanos.

O desgaste dos dois regimes não é novo, bem como os movimentos contestatórios duramente reprimidos pelas forças militares. Na Venezuela, protestos e denúncias de abuso, como prisões arbitrárias e torturas, remontam a 2014, pelo menos. Mais de 100 pessoas já foram mortas e outras tantas continuam presas. A tentativa de nivelar toda a oposição à direita comandada pelo opositor Henrique Capriles, homogeneizando-a, peca por transformar em caricatura um movimento, além de legítimo, bastante diverso em sua formação.

A situação é mais grave na Nicarágua: desde a “piñata sandinista”, a relação com a outrora revolucionária FSLN entrou em uma espiral descendente de que os protestos dos últimos meses são apenas a face mais trágica e visível. Em ambos, boa parte da oposição e das críticas parte, justamente, de grupos, intelectuais e lideranças de esquerda, incluso antigos colaboradores de Hugo Chavez e ex-guerrilheiros que participaram ativamente da revolução e do primeiro governo sandinista, após a queda do ditador Anastasio Somoza – com quem Ortega é comparado.

“Liberdade é a liberdade de quem pensa diferente” – Talvez porque esteja a pensar apenas na esquerda brasileira – o que já seria um equívoco –, Baço trata como “fazer um frete para a direita”, “lançar a esquerda num processo de autoflagelação” e “dobrar a coluna aos ditamos dos conservadores” cobrar dela uma reflexão e uma postura mais críticas. Aliás, diz, não é uma reflexão, mas uma inflexão. Acho que reside especialmente aí o cerne de nosso “ligeiro desaguisado”.

Na terça-feira da semana passada (17), o Senado uruguaio aprovou, por unanimidade, uma declaração que condena a violência e a repressão na Nicarágua. O ex-presidente José “Pepe” Mujica – principal protagonista de uma experiência democrática de esquerda e preso político durante a última ditadura uruguaia –, é um dos seus signatários. Com o título “Declaración urgente por Nicaragua”, uma carta assinada por inúmeros intelectuais e ativistas de esquerda – entre outros, Beatriz Sarlo, Alberto Acosta e Edgardo Lander – manifesta repúdio à violência estatal e os abusos cometidos contra os direitos humanos.

Menciono esses casos porque envolvem figuras públicas, algumas delas – como Mujica – bastante conhecidas. E é improvável que ao manifestarem preocupação e recusarem o autoritarismo, elas estejam a se dobrar à direita, ou simplesmente seguindo uma indicação midiática. Mas com alguma boa vontade, é possível encontrar outras inúmeras reflexões à esquerda, que sem desconsiderarem contextos e interesses geopolíticos mais amplos, escapam ao lugar comum de atribuir ao “imperialismo ianque” ou a “ditames conservadores” a crise em que os dois países estão mergulhados.

Em seu discurso no Senado no dia 17, Mujica disse que se sentia mal “porque conheço gente tão velha como eu, porque recordo nomes e companheiros que perderam a vida na Nicarágua lutando por um sonho. Sinto que algo se foi, como em um sonho, se desviou, caiu na autocracia, e entendo que aqueles que antes foram revolucionários perderam o sentido de que há momentos na vida para dizer `vou embora´”. Não é quando reivindica sua tarefa crítica, mas quando se recusa a denunciar a violência e opta por legitimar a barbárie em nome de um “bem maior”, que a esquerda “faz frete para a direita”. E convenhamos, a gente tem feito isso com uma irritante frequência ultimamente.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Venezuela: onde todos brigam e ninguém tem razão

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É difícil acompanhar os acontecimentos na Venezuela, em especial em tempos de forte turbulência. Limito-me a seguir com interesse as informações que chegam através da comunicação social (com desconfiança, admito). Mas uma notícia recente chamou a atenção por ser muito peculiar. A Assembleia Nacional, que tem maioria da oposição, aprovou a nomeação dos novos juízes do Tribunal Supremo de Justiça.

Olhando à distância parece estar tudo bem. Mas não. De fato, a oposição nomeou um tribunal paralelo, com a missão de dar um chega para lá na Assembleia Constituinte proposta pelo presidente Nicolás Maduro. Confuso? Fica pior. A notícia dava a entender que a coisa era séria mas, apesar de todo o aparato montado, a nomeação parece ter sido um gesto simbólico da oposição. É tudo muito insano.

Mas os juízes do Tribunal Supremo de Justiça, o que está no poder, subiram nas tamancas e não quiseram saber de brincadeiras. Os magistrados classificaram o ato como fora da legalidade e advertiram que poderia levar os outros juízes – os do Supremo da oposição – para a prisão. Uma matéria no jornal “El Nacional”, que está longe de ser favorável a Nicolás Maduro, fez uma cobertura como se tudo fosse mesmo a sério.

Este exemplo serve para mostrar que o país está um caos e que resta pouca serenidade. O futuro tende a ser ainda mais difícil para a Venezuela e os venezuelanos. O atual presidente sectariza posições e demonstra não querer largar o osso. A oposição, que conta com a benevolência da imprensa mundial, também não está para os ajustes. O país parece estar à beira do abismo e pronto a dar um passo em frente.

Vista ao longe, a Venezuela parece terra de ninguém. Ou melhor, terra de dois poderes políticos antagônicos, cada uma a viver sob o seu próprio código (o episódio do TSJ não é um acaso). Depois da votação do último domingo, é certo que o país passe a viver definitivamente sob as regras de dois tipos de poderes diferentes. O pior é que ambos carentes de legitimidade. Enfim, como diz o ditado, em casa que falta pão todos ralham e ninguém tem razão.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Da Venezuela saudita à cubanização do Estado

POR JORDI CASTAN

A situação dos vizinhos do norte e do sul deveria nos preocupar mais. A América Latina tem esse mau costume de agir em bando, o que se chama seguir a trilha dos elefantes, basta um ir, que sempre há uma maioria que o segue, sem saber muito bem aonde estão indo. Ainda bem que há uns mais espertos que reagem a tempo. Ollanta Humala, no Peru, e Rafael Correa, no Equador, têm preferido manter uma distância prudencial de projetos amalucados e se centrado mais em promover o desenvolvimento dos seus países, sem renunciar a seus princípios. Isso significa o entendimento de que o progresso e o desenvolvimento são mais importantes e que o melhor programa político é um país aberto ao mundo e uma economia dinâmica que permita o crescimento.

Conheci a Venezuela na época dos petrodólares. O país que era chamado de Venezuela Saudita, uma economia controlada pelo estado que tinha sob o governo nacionalista de Carlos Andres Perez nacionalizado tudo o que se mexesse. Foi na década de 70 em que surgiram Maraven, Corpoven, Lagoven, Pequiven, Sidor, Aluven e todas as "ven" do mundo. O estado controlava a maioria da economia e o petróleo era a vaca sagrada da economia, mas há que acrescentar ainda o aço, o alumínio e a energia elétrica, entre outros. A riqueza do país, a sua proximidade com o maior mercado do mundo e a sua posição estratégica faziam da Venezuela um lugar com um futuro promissor. A democracia que sucedeu o ditadura de Perez Jimenez não conseguiu distribuir a riqueza que o país produzia e só conseguiu democratizar a corrupção. A sucessão de governos incompetentes e corruptos dos dois partidos majoritários, o Copei e a Ação Democrática, foram o caldo de cultivo perfeito para o surgimento do amalucado Hugo Chávez e seu discurso bolivariano. Simón Bolivar deve estar se revirando no seu túmulo no Panteon Nacional.

O resultado esta aí. O país esta partido ao meio, a violência diária fazendo da Caracas uma das cidades mais perigosas do mundo, a economia em frangalhos, faltam produtos básicos, o caso do papel higiênico é emblemático, mas tampouco há frango, leite, azeite, farinha de milho, ingrediente básico da dieta venezuelana e as filas para adquirir produtos nos mercados populares controlados pelo governo são também uma constante na vida dos venezuelanos. A cubanização do país é o ultimo ato de uma situação insustentável, serviços básicos como emissão de carteiras de identidade e passaporte são controlados e dirigidos por cubanos, pois o governo não confia nos seus próprios cidadãos.

Sou dos que ainda não acredito que no Brasil uma situação como esta seria impensável, pois não posso imaginar a Policia Federal entregando o serviço de emissão de passaportes para nacionais de outro país, ou as policias civis transferindo os serviços de identificação e emissão de documentos a cubanos. Mas também é verdade que essa possibilidade já me pareceu mais remota. A forma obscura e mentirosa como o governo do PT agiu com relação ao “Mais Médicos” me faz ter cada dia mais dúvidas sobre a transparência e honestidade deste governo.


Voltando à Venezuela. O povo venezuelano tem um passado diferente do brasileiro e as suas conquistas tem sido feitas com sangue e violência. Sua independência se conquistou depois de uma guerra fratricida, que foi além de uma guerra de venezuelanos contra as tropas de metrópole, Simón Bolivar, o herói da sua independência e libertador de mais de metade da América Latina era filho de espanhóis e um rico terra tenente e não tinha nada na sua história que o aproximasse nem remotamente da imagem que o bolivarianismo tem criado dele.



Nicolas Maduro, um ex-motorista de ônibus (nenhuma critica a seu passado, quem teve como presidente a Lula, não deveria poder exercer juízo de valor sobre o passado de nenhum político), não tem o carisma messiânico de Chávez entre as classes populares, que começam a perceber que as melhoras propaladas pelos intermináveis discursos de Chávez não chegam nunca e estão começando a ficar com duvidas sobre o futuro do seu país.


No Brasil não são poucos os que, sem conhecer nem Venezuela, nem Cuba, nem a Coreia do Norte, acham que estes são modelos a seguir. Que o povo é feliz e que esse modelo de socialismo deveria ser implantado no país, como há gente em cargos importantes que acredita piamente nestas bobagens, acho bom começar a estocar papel higiênico, porque não duvido que logo, logo comece a faltar também por estes lados.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Os idiotas pelo nome


JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sou a favor de conviver com pessoas que pensam diferente. O dissenso é sempre mais instrutivo que o consenso, porque obriga a considerar o interlocutor. Nunca me importei  de partilhar espaços de discussão com quem pensa diferente. Mas há limites. O problema é que há por aí muita gente que não simplesmente não pensa.

Tem uns caras que, pela falta de leitura e incapacidade de sistematizar pensamento, simplesmente limitam-se a repetir slogans mal-amanhados. E aí não há diálogo possível. Porque o embate entre argumentos articulados e clichês papagueados é uma injustiça para quem se dá ao trabalho de pensar.
Pergunto. É possível debater quando as pessoas usam este tipo de “discurso”?

-       Vai para Cuba.
-       Bandido bom é bandido morto.
-       Bolsa Presidiário: é você quem paga.
-       Vai para a Coréia do Norte.
-       É de esquerda, mas usa iPhone.
-       Ficou com com pena? Adota um.
-       Esquerda caviar.
-       Escreve um texto sobre a Venezuela (esse é um adiantado mental que infesta os comentários aos meus textos).
-       Acorda, Brasil.
-       Agora tem até Bolsa Prostituta.
-       Esquerda burra é pleonasmo.
-       É de esquerda porque é um fracassado.

Há muito tempo estabeleci uma regra pessoal. Só vou a debate com interlocutores que respeito e que se esforçaram tanto quanto eu para formalizar pensamento (e isso, garanto, significa ler muito, comer mundo, procurar a dialética dos fatos o tempo todo). Mesmo assim ainda era capaz de admitir o convívio com opositores. Só que encheu o saco.

Qual o objetivo deste texto? Nenhum. É apenas para dizer que a partir de agora passo a chamar os idiotas pelo nome: idiotas.