terça-feira, 24 de julho de 2018

O algoritmo da acessibilidade: parecendo mais protetor, pode não ser na verdade


POR JORDI CASTAN
Não há quem possa discordar desta ideia: as cidades e os seus espaços devem ser acessíveis para todos. Logo, logo haverá alguém dizendo que as cidades têm que ser acessíveis a todos e a todas e os mais “moderninhos” escreverão que as cidades devem ser acessíveis a tod@s. E assim estamos.

Duvido que haja um algoritmo que calcule com precisão quantas vagas devem ser previstas para idosos, grávidas ou pessoas com necessidades especiais. Um estabelecimento comercial aqui da vila tinha três vagas para clientes: uma para idoso, uma para PNE e outra para clientes. Que estava ocupada. Fiquei pensando que, aplicando um algoritmo simples, neste caso 66% das vagas estavam reservadas a minorias e 33% aos demais. Achei o resultado do cálculo estranho.

Nos modernos pontos de ônibus instalados na vila há espaço para que sentar 4 pessoas: 3 num banco de ferro e um espaço reservado especificamente para um cadeirante. Assim, quem projetou os abrigos considerou que 25% dos usuários do sistema de transporte público de Joinville sejam cadeirantes. Ou 1 de cada 4. De novo o resultado desta conta me pareceu estranha. Não consigo, por muitas contas que faça, imaginar onde podem estar todos estes cadeirantes.

Nos supermercados e centros comerciais há dezenas de vagas reservadas para idosos, grávidas e PNE vazias à espera ou dos consumidores que teriam direito a utilizá-las. Ou de espertalhões que, sem terem o direito, as ocupam ilegal e imoralmente.

Quanto mais presto atenção a estas coisas, mais tenho a certeza que há um excesso. Um excesso de protecionismo, um excesso de margem de cálculo e uma falta de dados concretos e verazes que permitam à nossa legislação ser mais justa e adequada à realidade da nossa sociedade. Sinto que estamos vivendo uma espécie de ditadura das minorias. Que ser integrante da maioria teria se convertido num pecado grave. Que a maioria deve ser perseguida e punida por ser maioria. Que estamos fazendo, em nome da acessibilidade, cidades menos amigáveis para a maioria.

Não identifico nos países mais desenvolvidos essa sanha protetora. E o mais interessante é que os vejo as minorias integradas no tecido social e urbano. Cidades acessíveis são acessíveis para todos. Não vi, em qualquer das grandes cidades ocidentais, toda essa parafernália de pisos podo tácteis, nem guarda corpos em tudo que degrau. Mas, sim, é comum que os sinaleiros tenham um aviso sonoro para informar a cegos, que as calçadas estejam niveladas e ofereçam boa segurança para todos. Aliás, calçadas estas que são construídas e mantidas pelo município e não pelo proprietário do imóvel, como acontece aqui. Se o espaço é público deve ser assumido por todos.

Em tempo: não há como concordar com a gambiarra apressada e medonha aprovada pela Câmara de Vereadores de Joinville para o estacionamento rotativo. É incompreensível demorar tantos anos para, no final, aprovar de afogadilho um absurdo destes. Isso só acontece aqui porque o Legislativo se rende ao Executivo e aprova qualquer projeto que venha do alcaide. Multar com quase R$ 200 e 4 pontos na carteira quem ultrapasse em 5 minutos o tempo permitido é um abuso e uma sem-vergonhice. Mas numa cidade de gente acovardada não é novidade.

10 comentários:

  1. Jordi, os moderninhos escrevem (e falam!) “todxs!”, com X mesmo, não com @.
    Os números de vagas para pessoas com problemas de acessibilidade é definido por lei, não há muito o que fazer. Pior se não houvesse.
    Idem para as vagas reservadas para cadeirantes. O mais estranho nesse caso é que a maioria dos ônibus não possuir estrutura para o transporte desse tipo de deficiente ou nossas “calçadas” não estarem adequadas para a locomoção das cadeiras até o embarque.
    Nos casos de vagas para deficientes e idosos, penso que não pecamos pelo excesso. Acho até que é infeliz essa sua comparação com outras “minorias” que se vitimizam a toda hora nas redes sociais. Não vejo idosos e deficientes “xingarem muito no twitter” porque aquele comercial não tem cotas para pessoas com determinada cor de pele ou porque as rádios não tocam demasiadamente as músicas daquela taquara rachada do rapaz, digo da moça com nome de rapaz.
    Sobre os tais países desenvolvidos, também não noto essa sanha protetora. Em Madrid, por exemplo, o prédio onde eu morava só tinha uma pequena escada para acesso ao estacionamento, e tinha idosos no condomínio. Nem na Inglaterra há os tais pisos táteis (que eu duvido que alguém, cego ou não, os sinta!). E olha que esses dois países, para mim, são exemplos de civilidade e acessibilidade.
    Sobre o estacionamento rotativo, previro do jeito que está – sem nenhuma cobrança. Sobre o valor da multa, como podem cobrar mais e aplicar a mesma perda de pontuação por uma infração com gravidade menor que a eo excesso de velocidade?

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  2. Não concordo com a tua ideia de opor maioria versus minoria, mas tens razão quando dizes que em outros lugares as coisas são diferentes. Aqui em Portugal, por exemplo, não há lugares para idosos. Há apenas para pessoas com limitações motoras. E parece que as coisas funcionam bem. Quem vive na Europa e vê, no Brasil, tantos lugares no estacionamento dos supermercados, por exemplo, acha estranho.

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    1. Baço, aqui no Brasil a necessidade de separar idosos de PcD se deu pela falta de cultura e ignorância da população.
      Se fosse estabelecido só as vagas para pessoas com limitações motoras teríamos essas vagas ocupadas por pessoas com pequenas dificuldades - que são maioria -, e as PcD e limitações maiores seriam prejudicadas.
      Só pra você ter uma ideia: tenho mais de 60 anos, mas não tirei a credencial para uso do estacionamento, pois não tenho qualquer dificuldade de locomoção, mas conheço muitos ignorantes atletas sãos e sadios,que ao completar 60 anos "invadem" as vagas para idosos só para se aproveitar do benefício, prejudicando os que mais precisam.

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    2. Mas se o cara for idoso e usá-las, não há problema. O problema são as vagas destinadas aos idosos permanecerem desocupadas enquanto faltam as ditas “normais”.

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  3. Jordão Castan, sua ignorância na abordagem do tema me surpreendeu, pois cadeirante e idoso não é minoria - É POSSIBILIDADE.
    Qualquer pessoa poder ser cadeirante, temporário ou permanente.
    E ser idoso e ter perdas funcionais ou incapacidades é inerente à natureza humana.
    Portanto não é questão de algoritmo ou percentual é questão lógica.
    As vagas em frente ao comércio é então preferencialmente para aqueles que tem mais dificuldades de locomoção, por isso sua avaliação é burra, pois os que podem usufruir da juventude e força de suas pernas, podem caminhar um pouco mais.
    Quanto ao ponto de ônibus, se não houver o espaço para o cadeirante ele ficará no meio da calçada impedindo ou dificultando a circulação das demais pessoas.
    Outra abordagem errada é a do piso tátil. O que está errado não é a sua instalação nas calçadas, mas sim a falta de critérios de sua instalação, pois o município não normativa e fiscaliza. Eles são necessários para informar o caminho seguro, longe de armadilhas que derrubam e ferem até mesmo os que enxergam.
    É uma pena que não tenha estudado melhor o tema.
    SOMOS TODOS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM POTENCIAL.

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  4. Belo texto Jordi. Perfeito. Você podia incluir as ciclofaixas também.

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  5. Bla bla bla white people problems.

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  6. Partimos do princípio que, o indivíduo deve estar bem de saúde física e mental para poder conduzir um veículo automotor. Estando ele apto, porquê recebe o privilégio de estacionar na porta?
    Mas aí é Brasil e a ojeriza vai longe. Num país onde o filho do rico estuda de graça e o filho do pobre paga. Onde o pai de família espera o dia da meia entrada para levar a esposa e filhos, e o estudante de medicina paga metade da meia entrada, não vejo esperança alguma.

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  7. Muito coxinha, Jordi. Muito coxinha!
    O pessoal aí vai riscar o teu nome. A da Fahya já periga...

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