quarta-feira, 19 de julho de 2017

A greve geral de 1917 em Joinville


POR DOMINGOS MIRANDA
"Patrões cederam, mas depois perseguiram as lideranças".

Há exatos cem anos o proletariado se uniu numa greve geral e parou, na época, a segunda maior cidade do País. A partir daí os trabalhadores passaram a ter um papel de mais destaque na sociedade. Alguns resultados, frutos desta mobilização, vieram em seguida, tais como o surgimento do Partido Comunista do Brasil (1922), a primeira lei de seguridade social (1923) e a lei das oito horas de trabalho (1943). Até hoje, toda a conquista do trabalhador se deu através de muita luta e organização.

O descontentamento da classe operária já vinha num crescente desde o início do século por conta dos baixos salários e da carestia. A erupção deste vulcão social se deu em São Paulo, em 9 de julho de 1917, quando os operários de uma fábrica têxtil entraram em greve por melhoria salarial e das condições de trabalho. Mesmo com a repressão violenta, o movimento se espalhou como fogo em palha seca e em poucos dias 70 mil trabalhadores estavam em greve geral e a capital paulista parou totalmente durante uma semana. Após intensa negociação, chegou-se a um acordo e os grevistas conquistaram reajuste salarial de 20%, sem a dispensa de qualquer participante do movimento.

A vitória teve repercussão nacional e o movimento paredista se estendeu por outras cidades de vários Estados. Em Joinville, cidade de formação educacional prussiana baseada na ordem e no respeito aos chefes, o descontentamento escapou do controle. Em 23 de julho de 1917 estouraram greves em várias fábricas pela primeira vez. Por causa da 1ª Guerra Mundial, os preços das mercadorias dispararam, provocando grande carestia e gerando descontentamento geral. O exemplo de São Paulo foi a fagulha que incendiou as mentes dos operários. Com as máquinas paradas, os empregadores foram obrigados a chegar a um acordo e se comprometeram a vender alimentos por preço de custo. A greve se encerrou no dia 1º de agosto.

Pegos desprevenidos, os empresários se mobilizaram em torno de suas associações para evitar o aparecimento de  novos conflitos trabalhistas e fizeram intensa propaganda contra “os agitadores”. No dia 4 de agosto, o jornal Gazeta do Comércio publicou manifesto dos patrões pedindo ao operariado que fechasse os ouvidos aos pregoeiros da demagogia que “outra coisa não fazem senão fomentar agitações estéreis e perniciosas ao próprio operariado”. No entanto, para os líderes dos grevistas a repressão foi mais violenta. Foram publicadas as famosas “listas negras” – onde constavam os nomes dos trabalhadores ditos  desordeiros – que foram banidos do interior das fábricas.

Passados cem anos, muita coisa mudou. Mas a razão das greves permanece a mesma, pois o patrão busca maior lucro, geralmente em cima de salários reduzidos. Isto fica evidente quando se vê a mais recente pesquisa do IBGE, com dados do cadastro da Central de Empresas, mostrando que o nível dos salários dos operários de Joinville está abaixo da média do Brasil. A greve geral de 1917 mostrou o caminho, mas a luta não pode parar.

2 comentários:

  1. Excelente memória Domingos! Parabéns pelo artigo!

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  2. Os patrões da época deveriam fazer como, mais tarde, fizeram patrões nos tempos da ditadura: contratar um sindicalista que se destacara para iludir os trabalhadores fazendo-os achar que ele estava do lado do proletariado, esse sindicalista era nada mais, nada menos que Luiz Inácio Lula da Silva. Sim, Lula também é um produto dos militares. Às vezes marcavam um teatrinho e prendiam o sindicalista levando-o à delegacia, sentado na janelinha e fumando o seu cigarrinho (pesquisem “Lula no camburão da polícia” no Google). Tudo combinado!
    Hoje esse canalha recebe “indenização” dos bolsos dos brasileiros por ter ficado 31 dias no xilindró.

    Eduardo, Jlle

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