Na semana passada, a prefeitura de Joinville “surpreendeu” os moradores da rua Lages, no centro da cidade, com uma ciclofaixa onde antes habitava um estacionamento. Não demorou muito para que uma moradora publicasse um post em uma rede social, indignada pela falta de respeito do poder público com os empresários que tem seus estabelecimentos naquela rua. Ela apontava que não há um fluxo significativo de ciclistas naquela região, que não houve diálogo com os moradores e que do outro lado da rua havia menos vagas para carros, o que tornaria a ciclofaixa mais viável naquele ponto.
A postagem logo foi compartilhada por pessoas que concordavam e comentada por pessoas que a condenavam, em especial cicloativistas. Eu mesmo fui comentar que ando de bicicleta por ali e a via seria muito útil. Mas o assunto não morreu por aí. Meu colega Jordi Castan escreveu sobre o assunto na segunda-feira (3), apontando para as falhas do poder público e para a “patrulha” cicloativista, o que me levou a responder neste meu texto de quarta-feira (5).
O assunto mobilidade urbana, em especial esta questão de bicicletas e de transporte público, é o que eu mais gosto. Certamente é sobre o assunto que mais escrevi no Chuva Ácida. E, por andar há 20 anos de bicicleta com frequência em todos os lugares da cidade, me sinto um pouco apto a opinar. Mas não só por isso.
Por gostar do assunto, tento conhecer as experiências feitas mundo afora, motivadas por diferentes ideologias. Por isso, há muitos anos falamos aqui neste blog sobre o conceito de “cidade para pessoas” e das ideias do arquiteto dinarmarquês Jah Gehl, que transformou Copenhague com mudanças na mobilidade urbana, entre outras coisas. Ideias que se popularizaram muito nos últimos anos. E enquanto falávamos isso, o prefeito Udo falava em 300 km de asfalto e elevados como política de mobilidade. Escrevemos sobre o assunto aqui.
Aconteceu, no entanto, um fenômeno interessante. Mesmo sem confessar publicamente, fica evidente que o prefeito mudou de ideia sobre o assunto. A impressão que tenho, e um dia gostaria de perguntar a ele, é que Udo simplesmente teve contato com novas ideias e as apreendeu. Aquele pensamento retrógrado, provinciano, do asfalto e do carro a todo custo, ficou pra trás. Parece.
Não acho que a prefeitura acerte sempre, mas há evidentemente uma linha de raciocínio que propõe ciclofaixas, corredores de ônibus, redesenhos viários etc. Não é grande coisa. É simplesmente o caminho lógico. E falta muita coisa ainda: é preciso reduzir a passagem (na minha opinião, até chegar a zero, mas não é caso de discutir aqui. Se quiser saber mais, clique no link), aumentar o conforto, ampliar o número de linhas e arrumar as vias.
Fazer tudo isso, no entanto, exige que os passos sejam dados um de cada vez. E um passo neste sentido é a ciclofaixa da rua Lages. Não se trata de uma ação desconexa, mas parte de um projeto que não é exatamente da prefeitura de Joinville. É um projeto de toda uma sociedade, no mundo todo, que quer as cidades mais cicláveis.
O argumento de que o trecho é pouco pedalado cai por terra rapidamente. Coincidentemente eu moro na zona oeste há alguns meses e costumo passar por ali quando vou ao centro. Se eu for pela Timbó ou Max até a rua Blumenau, acho ruim pedalar na Blumenau até a região da Nove de Março. Por outro lado, acho ruim ir até a Quinze de Novembro, que tem um leve elevação antes de chegar no centrão. A Lages é perfeita para pedalar. Por outro lado, todo mundo sabe que os ciclistas costumam aparecer depois da instalação das vias adequadas. Né, Avenida Paulista?
Diferente de uma parte do cicloativismo, não acho que os carros são o inferno na terra. Ando de carro, a pé, de bike e de ônibus e acho que solução é um uso mais equilibrado destes modais. Para isso acontecer, é preciso tornar o transporte público mais confortável e muito mais barato. É preciso tornar a cidade mais segura para quem pedala. Isso não se faz com o isolamento do ciclistas, mas com a promoção do respeito dos motoristas pelos outros. Vale pra Joinville e pra Londres (repare na pista), como podemos ver no vídeo abaixo:
Excelente texto, os demais vou opinar depois, certamente moro também região oeste e deixa pavoroso à ciclovias, falta limpeza, mais temos que muito a mudar, e transformar, sabemos que prefeitudo, não vai fazer grandes transformações, mesmo deixando suas empresas, muito menos 300 km, pode até que aumentar ciclovias como sempre enjambrando, quando me referi na Av, Paulista no outro comentário e exemplo que podemos e devemos tentar mudar conceito, basta gestor querer mudar isto, fico nessa dúvida que realmente deseja, sim certamente baixando e incentivando a usar alguns outros meios, que não seja combustível fósseis, baixando imposto a nível estadual e federal, sabemos que boa parte de uma bicicletas as peças são importadas, existe muita coisa pra mudar deixar adquirir ônibus diesel, já existe outros mais eficiente, como hidrogênio da EMTU/SP por passagem tão cara aqui deveríamos ter isto por aqui!! Sucesso à todos (a)!
ResponderExcluirSe o UDO fez o e Chuva Ácida apoiou então está duplamente comprovado que foi uma coisa inútil.
ResponderExcluirkkkkk. Enfim um anónimo q serve pra alguma coisa
ExcluirSe a comerciante estiver com a razão e a faixa não servir para uma multidão de cicloviários, mas para uma meia-duzia de new-grunge-hippies que aderiu à modinha, tem de voltar com a área de acostamento. Uma minoria não pode ser beneficiária em detrimento da maioria. Nosso transporte público é caro, não é uma boa ideia se locomover numa cidade em que chove 300 dias/ano de bicicleta e o que sobra é o transporte motorizado individual.
ResponderExcluirMeu caro, desenha por que o Onkel só lê alemóm.. mas, alemóm nón é teimosso.. teimosso é quem tiscorda de alemóm porque alemóm tá sempre certinha....
Excluir"... redesenhos viários..." que tal redesenho urbano. Qual foi o tratamento dado nas esquinas da dita ciclofaixa?
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