quarta-feira, 20 de julho de 2016

O engodo perigoso


POR RAQUEL MIGLIORINI

Um engodo em três fases:

1- Um lindo nome: Vale Verde Encanto.
2- Objetivo: Transformar a área rural em urbana e, nessa extensão, construir condomínios de alto padrão, com lotes mínimos de 5000 m2 .
3- Justificativa: A região conta com propriedades rurais não produtivas e a venda e parcelamento dessas propriedades geraria riqueza para a região sem estar atrelado à atividades agrossilvopastorils. Ademais, existem ocupações irregulares e a expansão urbana permitiria a regularização fundiária. O parcelamento e a ocupação dessa área permitiria a “proteção da paisagem e a sustentabilidade social, econômica e ambiental”, segundo o site www.valeverdeencanto.eco.br .

Caso o leitor ainda não saiba do que tratamos aqui, é sobre um projeto de “iniciativa popular” que foi protocolado na Câmara de Vereadores para integrar a LOT.  A ideia é expandir a área urbana para a Zona Norte, desde o início da Estrada da Ilha até às margens do Rio Cubatão, passando pela Estrada Timbé e o final do Jardim Paraíso.

Naquela região, principalmente na Estrada Timbé, existem muitas ocupações irregulares. Vamos começar por esse ponto: ampliar a área urbana nunca garantiu o fim das invasões em APP (área de preservação permanente) nem tampouco a regularização das áreas invadidas.
A outra justificativa para transformar aquela área em condomínios urbanos é permitir atividades não ligadas à agricultura e pecuária, que seriam mais rentáveis aos proprietários.

Está claro como a água do Rio Cubatão que isso é especulação imobiliária. Ao ampliarmos a área urbana, ampliamos também todos os problemas ambientais e sociais que ela tem. Essa região é cheia de manguezais e APPs de rios. Como permitir o loteamento dessas áreas? Pior que isso, como impedir novas invasões nessas áreas?

A cidade é cheia de lotes desocupados, que criminosamente foram bosqueados* ao longo dos anos até a retirada total da mata. Calçadas e uma mureta de 40cm de altura delimitando o terreno deixam claro a intenção dos proprietários para esses locais. Por que não apresentam projetos para ocupação desses espaços que já contam com infraestrutura completa?

A área rural de Joinville é improdutiva? Torne-a produtiva, oras. Olhem para os exemplos já existentes mundo afora. Olhem para os exemplos brasileiros. A demanda por produtos orgânicos não é suprida por falta de incentivos do governo municipal e estadual e quem quer alimentação saudável precisa pagar caro e trazer de longe, aumentando a pegada ecológica. Temos terra de excelente qualidade, água abundante e a proposta que aparece é impermeabilizar tudo isso.

O engodo tem cheiro, sabor e aspecto agradável. Pena que mate o peixe.

*bosqueamento: técnica ilegal que retira a vegetação rasteira e arbustiva da Mata Atlântica, diminuindo a biodiversidade e tornando o solo mais pobre.

7 comentários:

  1. aquela estrada da ilha com a aprovação da LOT em 5 anos vira uma nova Rua Tuiuti.

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  2. Tomados com soluções definitivas e sem qualquer estudo mais complexo sobre os recursos dos territórios, suas fragilidades, passivos ambientais e infraestruturais e potencialidades os conceitos de FAIXAS VIÁRIAS em espaço qualificado como urbano e EXPANSÃO URBANA em espaço qualificado como rural virou MANTRA de solução para atender interesses puramente econômicos ou para se livrar das comuns solicitações de varejo nos balcões de negócio. É o "FAZEJEMANTO URBANO" que já criou a "COLCHA DE RETALHOS", evoluindo para o "ESQUARTEJAMENTO URBANO," para que no futuro tenhamos o "Moderno Prometeu," mais conhecido entre nós como Frankenstein...

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  3. Se não virar uma Monsenhor Gercino...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Muito bom! Controle na ocupação de novas áreas urbanas. Lotes de 5.000 m2 é perfeito, sobretudo em franjas de APP’s.

    Querem dois exemplos díspares? Lagoa da Pampulha, BH (regular com lotes de 1.000 m2) e Lagoa Billings, SP (ocupação irregular) – Vejam no Google Earth!

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  6. é só não vender pra pobre.

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  7. Para mim não há mais dúvida: sem ZEE prévio não haverá LOT; sem ZEE a LOT é inconstitucional.

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