POR FILIPE FERRARI
São inegáveis as discussões atuais sobre os
processos que envolvem religião e Estado no Brasil. Desde as aberrações da
Bancada Evangélica aos candidatos que flertam continuamente com os pastores dos
megatemplos, as relações entre essas duas esferas andam extremamente confusas e
conflituosas. Obviamente que aqui não se propõe a extinção ou a saída da(s)
igreja(s) da vida política. Fazer isso seria negar uma parte importante da
história brasileira, principalmente no tocante ao atendimento aos mais pobres e
necessitados.
Não dá para esquecer a importância
fundamental das Comunidades Eclesiais de Base na reabertura democrática
brasileira, ou as diversas pastorais, como a da mulher, carcerária, da criança,
entre outras. Ainda hoje, em diversos espaços e comunidades, a Igreja é um
espaço que promove cidadania, inclusão e empresta dignidade a milhares de
brasileiros à margem da sociedade.
A questão principal aqui é que a Igreja
sempre buscou ocupar espaços em que o Estado estava ausente. Já os
representantes desses nichos fundamentalistas brasileiros querem encampar
Estado e governo em prol de sua sanha moralista. Um dos carros chefes dessas
tentativas proselitistas é o projeto Escola sem Partido, encabeçado em
Joinville pela vereadora “pastora” Léia, e apoiado por outros líderes
religiosos das mais diversas denominações, pastores surfistas e afins.
O grande problema dessas relações de
denominações ditas “evangélicas” com o Estado é que estas ignoram sua própria
história teológica. É notório o desconhecimento da trajetória política da
Igreja Cristã de raiz protestante por parte do pastorado joinvilense, cego em
seu fundamentalismo. Se observarmos a trajetória da Igreja a partir da Reforma
(tronco ao qual pertencem inegavelmente a maioria esmagadora das igrejas
não-católicas), Lutero desde o princípio trata de estabelecer a distinção entre
aquilo que ele chamava de “Dois Reinos”: o reino de Deus e o reino dos homens.
O próprio projeto Escola sem Partido é uma
grande falácia por si só. Não vou entrar no âmbito pedagógico e político, pois
muitos já o fizeram de maneira espetacular. Entretanto, o projeto vai também
contra as diretrizes educacionais da própria Reforma. Os reformadores defendiam
a fundação de escolas por parte dos príncipes, para os camponeses aprenderem a
ler e a interpretar a Bíblia e o mundo. Ainda hoje, na Alemanha, o Estado
subvenciona faculdades de Teologia, enquanto nos Estados Unidos, John Harvard
foi pastor calvinista, assim como Stanford e Yale também começaram como escolas
teológicas.
É sempre importante lembrar que o problema
não é a religião. O problema é a falta de conhecimento, estudo e falta de, além
de tudo, humildade e respeito à diversidade. Entretanto, como diz o escritor
curitibano Paulo Brabo, “o movimento evangélico é já resultado de uma
privatização”. E, no Brasil, sabemos muito bem o que as privatizações fazem.
É verdade Filipe, penso que chega a ser incoerente alguns pensamentos que remetem que o mundo seria "melhor" sem as religiões. Algumas pessoas tomam religiões como barbárie, outras idealizam. Nem tudo que existe nelas é bom, nem tudo é ruim. É preciso sim, discutir as ambiguidades das religiões: Guerra e Paz; Alienação e Consciência. Concordo plenamente que o maior problema relacionado às religiões é a falta de conhecimento e a intolerância. O estudo e aprofundamento é urgente e necessário.
ResponderExcluirEscola sem Partido não significa escola sem política, é ipsis litteris mesmo: Escola sem PAR-TI-DO. Não vejo correlação entre o movimento em minimiza o proselitismo PARTIDÁRIO dentro das salas de aula, com professores simpáticos ao Petismo, Lulismo, Dilmismo, Comunismo, Fascismo e afins, com algum suposto “fundamentalismo” religioso da vereadora.
ResponderExcluirDigo por experiência própria. Como aluno, ouvia em sala de aula professores fazerem PROPAGANDAS políticas sem a menor cerimônia, mesmo com protesto de alguns discentes. Quando não citavam partidos, criticavam alguns políticos e exaltavam outros, sem apresentar fundamentos, e isso é inadmissível num espaço que se diz “intelectualmente pluralizado”!
Nada contra a posição política-ideológica do professor, cada um tem a sua, mas encampar tal preferência de modo tão dissimulado para cidadãos em formação é um crime – isso sim poder ser considerado “fundamentalismo”, tal qual ensinam a odiar o Ocidente nas Madraças islâmicas do Afeganistão.
Talvez o movimento Escola sem Partido não vá adiante, mas serve para o início de uma séria discussão no país sobre os valores enviesados transmitidos por “profissionais” com caráter duvidoso.
Uma denúncia gravíssima como a que você faz (sempre no plural: "professores simpáticos", "professores fazerem propagandas políticas", etc...) deveria vir acompanhada de nomes, a começar pelo seu. Assim, no anonimato, soa proselitismo, na melhor das hipóteses. Uma mentira descarada e mau caráter, na pior delas.
ExcluirEu digo "professores" porque é mais de um. Agora, se o capelo lhe coube, paciência...
ExcluirEu pedi evidências e nomes, a começar pelo seu, que corroborem sua denúncia. A fornecer o que demandei, você preferiu tergiversar, insinuando que faço justamente aquilo que, no meu primeiro comentário, afirmo ser uma conduta grave em qualquer professor: usar a sala de aula para propaganda partidária.
ExcluirE o fez mantendo o anonimato, mais que o suficiente para eu supor que você, provavelmente, nunca teve professores que usassem a sala de aula para o que você chama de “proselitismo partidário”. Arrisco dizer, inclusive, que você possivelmente não conhece nenhum professor, quem dirá professores, que o façam.
Em síntese: você é desonesto e mentiroso. Por isso não me surpreende sua adesão e defesa dos princípios ideológicos da Escola sem Partido.