sexta-feira, 8 de julho de 2016

Qual a importância da Marcha da Maconha em Joinville?

POR SÉRGIO VIDAL*

A Marcha da Maconha ocorre em todo o mundo desde 1998, quando foi realizada pela primeira vez em Nova Iorque. Hoje são mais de 800 cidades em cerca de 72 países que anualmente expressam de forma livre e espontânea suas opiniões sobre a planta da maconha, seus usos, usuários e, principalmente, sobre as políticas e leis atualmente em vigor.

Na primeira, em Nova Iorque, a Marcha sofreu repressão policial. Os agentes fecharam alguns portões do Central Park, tentando impedir a entrada dos manifestantes. A Marcha contornou o parque por fora e usou outra entrada para ter acesso ao local marcado para a concentração final da manifestação. Desde a primeira, até hoje, em quase todos os países onde as pessoas procuraram se organizar e realizar atos desse tipo houve tentativas de repressão. Porém, em todas elas a vitória foi certa e os ativistas ganharam o direito à livre expressão. Em todo mundo, em cada cidade, a Marcha tem tomado formatos, conteúdos, ritmos diferentes, de acordo com a cultura de cada localidade. Ao longo desses quase 18 anos de mobilização, centenas de cidades já produziram suas próprias versões da Marcha da Maconha e, no Brasil, esse movimento vem crescendo a cada ano.

Aqui no Brasil não foi diferente. Em 2006, alguns ativistas começaram a se organizar e em 2007 surgiram as primeiras manifestações com o nome Marcha da Maconha. Em 2008, algumas autoridades tentaram barrar as Marcha e foi iniciada uma batalha jurídica que só teve fim em 2011, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu que as manifestações da Marcha da Maconha e outras manifestações do tipo eram legitima e deveria ser permitidas. Desde então a marcha tem se multiplicado em várias cidade tomando variados formatos e expressões.

Segundo os ativistas mais antigos que já organizaram manifestações aqui em Joinville, a Marcha foi realizada apenas duas vezes na cidade, uma em 2011, após a decisão do STF, com cerca de 250 pessoas, e outra em 2014, com aproximadamente o mesmo número de pessoas. O movimento atual na cidade é plural, formado por pessoas ligadas a variados movimentos sociais e, principalmente, inclusivo e participativo. Com gente que estava na organização das edições anteriores e com novas pessoas. E, o que para mim é mais importante neste debate, essas pessoas estão muito focadas em pautas mais amplas do que apenas pedir a legalização baseado no direito inalienável de consumir substâncias psicoativas, que está começando a ser reconhecido pelas Democracias mundiais mais modernas. A pauta desses ativistas se refere principalmente ao genocídio da juventude negra do Brasil, ao impacto da política de guerra às drogas para a economia e a segurança pública, o atual encarceramento massivo de mulheres e jovens, dentre outros.

Por mais que exista uma massa reacionária ainda muito presente com relação ao tema, é cada vez mais difícil negar que o caminho é a legalização, pois a lista cada dia maior de países, inclusive o próprio EUA, que é um dos mais ferrenhos propagadores da política de guerra as drogas, têm flexibilizado suas políticas com relação a cannabis.

Só para darmos dois exemplos rápidos que chamam a atenção para a importância, dimensão e urgência deste debate: 1) O Colorado, estado dos EUA, regulamentou a cannabis para fins recreativos e medicinais há cerca de 4 anos e hoje arrecada U$ 120 milhões por ano e investe a maior parte em saúde e prevenção ao consumo, conseguindo diminuir o uso entre os jovens e zerar o acesso das crianças. Recentemente, o governador esteve em São Paulo para contar sua experiência; 2) Estudo promovido pela Câmara dos Deputados afirma que, se legalizada a maconha, geraria um mercado de no mínimo R$ 5,7 bilhões. Então, que fique cada dia mais claro, quando estamos falando de Marcha da Maconha não estamos falando de uma passeata para louvar baseados, e sim da necessidade urgente de rever diferentes pontos da nossa relação política, econômica, cultural, entre outras, com esta planta.

Ou o Brasil amadurece este debate e o enfrenta de forma adequada, ou, além de perder o bonde da História irá continuar sofrendo as consequências já reconhecidamente fracassada guerra às drogas.

*Sérgio Vidal é pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre substâncias psicoativas e presidente da Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Maconha Medicinal

2 comentários:

  1. Parabéns aos idealizadores!
    A Marcha da Maconha é, definitivamente, muito, muito, muito importante...

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  2. Praticamente é a segunda passagem da tocha em Joinville.. Duas idiotices..

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