quarta-feira, 6 de julho de 2016

De volta ao passado



POR RAQUEL MIGLIORINI

Guarde bem o número dessa lei federal: 13301/2016. Você poderá responder, no futuro, sobre qualquer questionamento sobre sua saúde, dos seus familiares, extinção de espécies de insetos, poluição de mananciais, desequilíbrios ecológicos, tudo baseado nela.

A dita lei é aquela que aprova a pulverização aérea nas cidades, com inseticidas organofosforados. O objetivo principal dessa lei era permitir a entrada de fiscais da saúde em domicílios fechados, para combater os focos do mosquito Aedes aegypti , mas o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) achou que poderia contribuir com um artigo inovador propondo a descabida técnica.

De nada adiantou a intervenção dos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST), alertando sobre os riscos de ações desse tipo. O interino assinou a lei e pronto.

Além de arbitrária e, claro, de saciar interesses de poucos, essa medida é desprovida de qualquer eficiência. As fêmeas dos mosquitos ficam, em sua maioria, dentro das residências e não seriam atingidas pelo inseticida.

O descaso com o Meio Ambiente no Brasil dá a sensação que o mundo começou a girar ao contrário. Enquanto o restante do planeta tenta diminuir ou mesmo proibir o uso de inseticidas, enquanto muitos já compreenderam que o controle efetivo de pragas se dá com reflorestamento e recuperação de biomas, com destinação correta de resíduos, com saneamento básico e com Educação, aqui usamos técnicas da década de 50.

Descartamos estudos e pesquisas porque ,afinal, para que servem o Ministério de Ciência e Tecnologia, os Institutos Estaduais e Federais de Pesquisa, as Universidades? Melhor é sucatearmos tudo isso e enviarmos nossos jovens cérebros para os países desenvolvidos dissecarem.

Para entendermos como estamos presos no passado, um exemplo da Colônia Dona Francisca, no Morro do Boa Vista, torna tudo bem ilustrativo, segundo consta no Livro História dos Bairros de Joinville: “O sistema público de saúde da época, pela falta de informação e receio de contaminação da população, acreditava que suas matas favoreciam o surgimento do mosquito vetor da malária. Nessa época, muitos hectares do morro foram devastados, inclusive como o aval dos governos estaduais e federal, como forma de tentar conter o avanço da malária no Sul do País.”

Acompanho diversas redes sociais e leio jornais diariamente. As pessoas estão mais preocupadas com o Frota e a segurança da Janaína do que com a devastação social, científica e ambiental que o interino está colocando em prática.

E a vida passa a ser um Déjà vu.




4 comentários:

  1. A dengue praticamente foi extinta do Brasil na década de 80. Seriam os responsáveis os “fumacês”?

    Será que as fêmeas depositam os ovos dentro das casas das pessoas?

    Acho que a senhora deveria se inteirar melhor no assunto antes de reproduzir informação por mera afinidade política ideológica.

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    1. Acredito que deveriam suprimir os comentários de pessoas que não se identificam. O que deveria ser um local de debates e exposição de idéias vira um palco de comentários vagos, criticando por criticar. Será possível a exposição das idéias sem que algum imbecil fique preocupado com a cor da roupa que a pessoa usa? Tenha um pouco de decência e se identifique, seu desocupado defensor do fascismo.

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    2. A década de 80 foi a do ressurgimento da doença. Fazia faculdade nessa época e fui voluntária para o combate em SP. A fêmea precisa de sangue para colocar os ovos, por isso passa a maior parte do tempo dentro das casas. Como tem voo curto e baixo, fica geralmente perto de móveis, como mesas, cadeiras e camas. O veneno não mata ovos. Combate ao uso insano de inseticidas não é por afinidade política ideológica. Sua vez de se inteirar do assunto.

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  2. Haja paciência para lidar com estes malucos! Meu Deus!! Que loucura! Uma bióloga vem falar sobre o uso indevido de inseticida e a proliferação do Aedes Aegypti e lá vem um louco varrido acusar a especialista de estar defendendo bandeira ideológica!!!! Será que há cura para esta insanidade de milhares? Confesso que ando muito assustado. Parabéns! Raquel Migliorini, pela excelência do texto! Bem escrito, informativo e claríssimo!

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