terça-feira, 12 de maio de 2015

Liberdade para quem?


POR FELIPE CARDOSO

Amanhã, dia 13 de maio, muitos veículos de comunicação e professores de história lembrarão da libertação dos escravos no Brasil. No dia 13 de maio de 1888, o maior país da América Latina liberta seus cativos, tornando-se o último no mundo a abandonar o sistema escravista.

Sem direito a terras, educação e saúde, abandonados e à margem, milhares de negros espalhados pelo país comemoraram a sua liberdade.

Mas qual liberdade?

Privados dos seus direitos, tendo apenas deveres, milhares de negros tiveram que se contentar com subempregos e com a moradia em morros com barracos. Além de contar com a violência e a opressão policial.

Uma liberdade maquiada, isso sim.

As senzalas tornaram-se favelas, as mortes, torturas e castigos antes praticados pelos senhores e capitães do mato, hoje são dadas por políticos e policiais. A casa grande? Não preciso nem dizer o que são. A música e a cultura ainda são criminalizados e, muitas vezes proibidas, assim como a capoeira e o samba foram. Os terreiros de Candomblé e Umbanda recebem diversos ataques de intolerantes.

Nos jornais, na moda, na publicidade, nas novelas, na política, nos altos cargos das empresas, nas universidades e vários outros lugares não vemos representatividade.

As piadas, as chacotas e as humilhações ainda são as mesmas.

Corpos ainda são arrastados. Eterna Cláudia. Corpos ainda estão desaparecidos. Eterno Amarildo. Corpos ainda são presos injustamente. Eterno Vinícius. Corpos ainda são mortos: Cláudia, Amarildo, Eduardo, DG… Melhor parar, pois a lista é grande.

Movimentos sociais ainda são criminalizados e silenciados. Enquanto isso, continuam reproduzindo o discurso da meritocracia e agora propagando o discurso do racismo reverso.

Por falar em meritocracia, quando vão nos pagar os nossos méritos de 400 anos de trabalhos forçados? Vamos seguir a lógica ao pé da letra? Um pouco de coerência faria bem nesses momentos.

Pelos erros do passado, por aprender com muitas dores e humilhações, percebemos que nada mudou. Notamos que a princesinha pintada de santa durante muito tempo, só libertou os escravos por estratégia financeira, motivos econômicos. Nossa história foi apagada, nossas árvores genealógicas estão incompletas. Até disso nos privaram.

A nossa liberdade começa a ser construída na nossa cabeça, ao observarmos os fatos, ao lermos, ao escrevermos, ao denunciarmos, ao reivindicarmos, ao nos unirmos, ao lutarmos. A liberdade do negro está sendo construída por conta própria. O PT deu algum espaço, mas esse espaço foi exigido pelo povo negro. Os movimentos estão crescendo, estamos nos conscientizando e não estamos mais aceitando tudo calado.

Após 127 anos ainda não estamos livres, mas estamos construindo os nossos próprios caminhos para a liberdade… Como sempre foi.

Um comentário:

  1. Não é só no espaço, a população negra vem crescendo em número e hoje, junto com os pardos, são maioria. A escravatura acabou oficialmente há 127 anos, naquela época os negros foram largados a própria sorte sim, mas um século de governos autoritários ou centralistas não causaram chagas apenas aos negros, mas a todos os pobres. No Brasil, brancos e pretos, pobres, foram subjugados durante séculos por imperadores, ditadores e presidentes ditos democráticos. Isso explica porque no país, ao contrário dos EUA, houve maior miscigenação entre esses dois grupos. Não adianta vitimizar apenas um grupo se todos das mais baixas classes foram deixados de lado.

    Eduardo, Jlle

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem