segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Do homo encyclopedie ao homo wikipedie


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Quando era moleque, dava uma inveja danada das pessoas que tinham o tal “conhecimento enciclopédico”. Já imaginaram, leitor e leitora, o tantão de informação que uma pessoa precisa armazenar no cérebro? Quando olhava para a enciclopédia na estante lá de casa, admirava ainda mais. Ter uma montoeira de livros como aquela dentro da cabeça é coisa de loucos.

É uma pena que a expressão tenha caído em desuso. Até porque nos dias de hoje, quando já vamos na tal sociedade pós-moderna (aliás, como podemos estar no “pós” se eu nem lembro de ter sido moderno?), seria necessária uma atualização para “conhecimento wikipédico”. Mas todos sabemos que é praticamente impossível: são muitos bits para tão poucos neurônios.

Nos tempos de criança, ficava a imaginar o mundão de conhecimento que cabia na cabeça do homo encyclopedie. O cara devia saber tudo sobre o universo e arredores. E era capaz de fazer uma coisa que caiu em desuso nestes tempos de revolução digital: usava o cérebro, sabia interpretar a informação.

É aí que surge a diferença para o homo wikipedie. Hoje em dia, as pessoas estão a trocar o cérebro pelos dedos. Há uma enorme incapacidade de armazenar informação, pois a internet funciona com uma espécie de memória externa acessível ao toque do dedo. Pior mesmo é que a cada dia esse pessoal vai ficando ainda mais incapaz de gerir a vastíssima informação disponível na rede.

Fico meio darwiniano, começo a lembrar da teoria da evolução e arrisco um palpite. A evolução para o homo wikipedie vai produzir mudanças físicas nos seres humanos: gente com cabeça pequena, porque não precisa do cérebro, mas com dedos enormes, para poder manusear os dispositivos eletrônicos.

Do ponto de vista político, imagino um futuro orwelliano. Uma sociedade dividida entre senhores e tecnodependentes.

Na torre de marfim do poder, um grupo reduzido de seres que ainda sabem pensar e produzem as evoluções tecnológicas. Na base proletária da sociedade, uma massa ignara formada por consumidores de tecnologia cuja vida gira em torno de coisas como o smartphone. O problema é que “smart” será só o “phone”. Não se poderá dizer o mesmo das pessoas.

Ficção científica? Ok... mas a ficção é apenas a antessala da realidade.

2 comentários:

  1. Se vai gerar gente com cabeça pequena, porque não precisa do cérebro, mas com dedos enormes, para poder manusear os dispositivos eletrônicos, mas que vai gerar um monte de pessoas com tendinite nos polegares opositores e isoladas fisicamente uma das outras, isso vai...
    Já é visível nos encontros, um monte de alienados, com um copo de chopp numa mão e o "celuleco" na outra, deixando no vácuo o interlocutor...

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  2. Imagino que seremos o pensamento viajando de mídias em mídias, se o corpo limitar-se, haveremos de migrar para outros suportes e plataformas, assim viajarei de um corpo para um chip conectado com milhões de opções e na próxima galaxia ressurgirei numa máquina exploratória que comanda a busca por minerais... já disse alguém em algum lugar... talvez Walt Disney, se é possível imaginar então é possível realizar...

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