quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

UFMG: a "esperança equilibrista" mais pareceu uma operação de guerra

POR CLÓVIS GRUNER
Repercutiu, ao longo do dia de ontem, a invasão da UFMG pela Polícia Federal. A operação, a exemplo do que já aconteceu antes em outros campi, notadamente na UFSC, foi espetacular, no pior sentido da palavra: foram mais de 80 agentes policiais, alguns uniformizados e fortemente armados. Uma operação de guerra.

Também ao longo do dia de ontem circularam hipóteses para a operação, arrogantemente batizada de “Esperança equilibrista”, apesar do pouco equilíbrio e da dose cavalar de desesperança e desespero que esse tipo de ação arrasta junto com ela.

Todas as suposições podem ser resumidas em uma, que me parece contemplar todas as outras: depois de colocar as universidades públicas de joelho ao longo do ano, estrangulando-as financeiramente, o governo ilegítimo de Michel Temer agora investe contra as universidades e seus profissionais transformando-nos todas e todos em criminosos potenciais.

Essa dupla desqualificação, silenciosa e material, ruidosa e simbólica, não é casual nem gratuita. Ela é parte de um projeto político de desmonte da educação pública, que não está restrito ao ensino superior, mas que o mira em um momento particularmente significativo.

Não se trata de coincidência que a precarização da universidade, seu desmonte e os esforços por desqualificá-la junto à chamada “opinião pública”, acontecem quando, mesmo que ainda timidamente, o acesso a ela tem sido ampliado de forma a democratizar uma instituição que, historicamente, atendeu principalmente as elites.

Vem daí também a urgência, a voracidade com que somos atacados. À medida que nos democratizamos, que a universidade se abre mais e mais à diversidade de classe, étnica e de gênero, que ela muda seu perfil socioeconômico e cultural, é preciso não apenas constrangê-la e humilhá-la, mas criminalizá-la.

A criminalização da Universidade, ironicamente obra de um governo notoriamente criminoso, não é apenas mais uma etapa de um processo político de desmonte da educação pública. Ela é também um projeto de classe, o de manutenção das desigualdades a qualquer custo. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Pobre de direita? Só o Archie Bunker...

POR MÁRIO PAGANINI
Archie Bunker é o único pobre de direita que já curti na vida. Para quem não está familiarizado com o personagem, aí vai um pequeno resumo da série All in Family (“Tudo em Família”), um clássico dos anos 70 também exibido no Brasil. O personagem principal era Archie Bunker, um trabalhador blue collar que vivia com a mulher, a filha e o genro no bairro de Queens, em Nova Iorque.

Era um reacionário. Odiava tudo que cheirasse a liberdades individuais e infernizava a vida do genro, que considerava um “esquerdista” inútil. Machista, fazia da pobre e desajeitada Edith, a mulher, uma escrava. Não disfarçava o racismo na relação com os Jefferson, uma família negra que foi viver na casa ao lado. Xenófobo, era intolerante com os estrangeiros e já naquela época falava no que hoje conhecemos por “America first”.

A série nada devia ao politicamente correto e hoje não passaria pelo crivo dessa horda que vê problemas em tudo. E se o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, então podemos dizer que Archie Bunker é uma espécie de arquétipo do “insignificante burguês” brasileiro (nem chega a ser pequeno burguês). Ou, numa linguagem que qualquer pessoa reconhece, do pobre de direita.

Quem é o pobre de direita? O capitalista sem capital. O burguês sem meios de produção. O que está entre os 99% mais pobres e defende as ideias do 1% mais rico. Archie Bunker e os pobres de direita têm alguns pontos em comum. O mais reconhecível de todos é o fato de ambos serem uma paródia. Só que o trabalhador reaça dos subúrbios de Nova Iorque é um personagem de ficção e os pobres de direita existem na sociedade.

Continuando... quem é o pobre de direita? É o coxinha pobre. O cara é empregado, passa o dia trabalhando e vive de salário, mas repete o discurso do patrão. Paga impostos, mas não tem saúde e educação de qualidade. E ainda comemora o fim do SUS e de programas como o Prouni. Está sempre correndo atrás para cobrir o cartão de crédito, mas quando tem um tempinho vai para as redes sociais defender tretas neoliberais.

Perde boa parte da vida nos transportes ou preso no trânsito a bordo do carro popular. Fica irritado com os buracos nas ruas, mas nas eleições a seguir vota no mesmo prefeito. Nos dias em que tem tempo livre para descansar não tem lazer de qualidade disponível. Diz que não existe “apartheid social” e que isso é invenção de esquerdopatas. Aliás, não faz a menor ideia do significado de muitas das palavras que usa. Afinal, o nível de informação é rasteiro, baseado no Jornal Nacional.

Enfim, o pobre de direita só atrapalha a evolução das sociedades. Não tem a menor graça. Chato por chato, vou ficando com as reprises da série do Archie Bunker. Este pelo menos provoca riso do bom. Pobre de direita só provoca o riso amarelo da vergonha alheia.


Archie Bunker era interpretado pelo ator Carroll O'Connor

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Tacla Durán: a mídia não cobre. Encobre...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É vergonhoso. Os dias passam e a velha imprensa continua em silêncio sobre o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Durán. Isso surpreende? Não. O desdém pela democracia e pelo próprio jornalismo tem sido a regra para os títulos do costume. As denúncias, que lançam um manto de suspeita sobre a Lava Jato, têm indiscutível valor jornalístico. É preciso investigar. Esse é o papel da imprensa. Nem que seja para desmentir o advogado. Mas a mídia não cobre. Encobre.

Há um déficit de democracia nas redações. Para muitos títulos da velha mídia brasileira, o valor-notícia passou a ser definido de acordo com os próprios interesses corporativos. “Deontologia”, essa palavra tão apreciada nos regimes democráticos, porque define valores éticos, não entra no dicionário. Os escrúpulos foram mandados às urtigas e a infâmia tornou-se uma linha editorial. Essa mídia tem sido um poderoso vetor para a destruição dos valores éticos no país.

Há muito por esclarecer. Tacla Durán acusa o advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sérgio Moro, de ter oferecido redução de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões numa multa que lhe seria imputada. E outros US$ 5 milhões deveriam ser pagos na forma de honorários. Ou seja, o famoso “por fora”. É grave. E no meio desse turbilhão surge uma sigla que já vai ficando famosa: DD, de Curitiba. Tentar adivinhar quem seria o tal DD virou uma das manias na internet. Seria Dower Doint?

A denúncia também explodiu no colo do casal Moro, uma vez que o nome de Rosângela Moro, mulher do juiz, apareceu no olho da tempestade. Há denúncias que envolvem dinheiro. Em sua defesa, ela postou que “o tempo esclarece tudo”. Esperemos. O escândalo não acaba aqui. Há ainda a denúncia de que procuradores da Lava Jato estariam a usar documentos de autenticidade duvidosa para legitimar a palavra de delatores. E mais: haveria uma intenção de direcionar essas delações para atingir alvos específicos. Quem seria? Pergunta retórica.

As acusações de Tacla Durán devem ser vistas com alguma cautela. Afinal, o homem não é um santo. Mas por que acreditar nele e não nos outros? Há pelo menos uma razão de peso. O advogado não está preso (nem será extraditado da Espanha, onde vive atualmente) e, por isso, não sofre do stress do encarceramento. Quem nunca ouviu acusações de que Curitiba é a “Nova Guantánamo”? Ou seja, um lugar onde o esgotamento psicológico é usado como técnica para quebrar os presos e obter delações.

Mas voltemos à mídia. É lídimo fazer projeções. Se fossem denúncias contra Lula, Dilma ou o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, alguém duvida que haveria transmissão em direto pela televisão? Edições especiais? Ou até helicópteros? Mas o tema Tacla Durán foi relegado à não-existência pela velha mídia. E todos sabemos que se uma coisa não é vista no Jornal Nacional, então não existe. O lado bom é que o tema dominou as redes sociais. Mas o Brasil é um país de infoexcluídos e a internet ainda não consegue levar as notícias a todos os lados.

Eis o cerne da questão. A mídia hegemônica encobre, mente e distorce os fatos de acordo com os próprios interesses. E tem contribuído, com relevo, para a instalação desse clima de pouca-vergonha no país. É preciso mudar. As plataformas digitais são uma solução de futuro, porque ainda carecem de maior implantação. Mas sem a democratização da mídia não há democracia. Infelizmente, só resta esperar que o próximo presidente, seja quem for, tenha tomates para resolver essa questão. Pelo bem do país.

É a dança da chuva.




segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Em Joinville, a decoração de Natal também serve para o Carnaval



POR JORDI CASTAN
É impossível não perceber a mudança de estilo e de mensagem da decoração natalina. Os enfeites de Natal,  tanto públicas quanto privados, vem mudando nos últimos anos e Joinville, como cidade ligada ao mundo, não poderia ficar de fora desta tendência. Sai toda a simbologia cristã ligada ao Natal e aos seus elementos de referência. Não há mais nem presépios, nem menino Deus, nem anjos, nem arcanjos, nem coros celestiais. Entram em troca efeitos luminosos que reúnem simultaneamente a cafonice, o excesso e o mau gosto. É uma mistura de barroco tecnológico, com falta completa de bom senso e bom gosto.

Neste sentido é difícil, no caso de Joinville, achar uma que possa tirar o primeiro prêmio do projeto luminotécnico da decoração da Prefeitura Municipal. Um bom amigo, engenheiro aposentado da Celesc, insiste que aquilo não é mesmo uma decoração mesma: é só o estoque a céu aberto de todos os enfeites que sobraram. E que, como não tiveram tempo nem local para colocar, acabaram ficando meio jogados, meio esquecidos no gramado da Beira Rio. Difícil discordar dele. Custa acreditar que aquele amontoado de luzes seja o resultado de um projeto e que alguém possa ser responsável por aquele exagerado desperdício de energia e gosto estético.

O mau gosto não é exclusividade da municipalidade. Há bons exemplos também na iniciativa privada. Trenós com renas à espera da primeira nevada dezembrina, Papais Noéis barrigudos e narigudos ou constelações de estrelas piscantes compõem a decoração, lado a lado com o mais absoluto nada. Longas fileiras de lâmpadas chinesas enfeitam árvores, palmeiras, fachadas, objetos, sacadas e qualquer tipo de objeto inanimado que, indefeso, sofre o ataque furibundo da brigada da cafonice, que se propaga com virulência e entusiasmo assustador.

A única certeza é que a do próximo ano será ainda pior, mais colorida, exagerada e carente de conteúdo e de mensagem. O resultado será uma cidade perdida no seu labirinto, sem saber o que é, nem para onde vai. O ponto mais positivo é que a mesma decoração pode ser mantida nas ruas até ao Carnaval, ao fim das contas ninguém sabe mesmo qual o objetivo deste festival de mau gosto. Vai que é para deixar as ruas mais iluminadas, as cidades mais iguais e o espírito natalino completamente ofuscado pelo excesso de iluminação e a falta de bom gosto.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

MEC-Usaid, o avô da Escola Sem Partido

POR DOMINGOS MIRANDA
Há cerca de meio século houve uma mudança radical no nosso ensino, colocada em prática sob a orientação de técnicos norte-americanos. O principal objetivo do Acordo MEC-Usaid (United States Agency for International Development) era acabar com as ideologias nas escolas e faculdades e orientar os estudos para os interesses das grandes empresas multinacionais. É claro que houve muitos protestos, cujo auge foi em 1968 e que resultou no famigerado AI-5, que acabou com o que ainda restava de garantias democráticas.

O Acordo MEC-Usaid começou a ser gestado em 1964, logo depois do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart. O professor norte-americano Rudolph Atcon realizou estudo sobre o ensino superior brasileiro, a pedido do MEC (Ministério da Educação). Ele propunha que “a universidade deveria se libertar de todas as malhas do Estado, ter autonomia plena para se desenvolver enquanto empresa privada”.

Quando foi colocado em prática, uma de suas medidas foi a extinção das disciplinas de filosofia e latim e a introdução de outras, como Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). No XXVIII Fórum da UNE, os estudantes afirmaram que “o governo militar propõe para a universidade, uma universidade e um universitário inteiramente distantes e alienados dos problemas do seu país e do seu povo”.

Para a sua implantação, o governo utilizou de muita repressão. O temido Artigo 477 foi utilizado com frequência para a expulsão de professores e alunos considerados indesejáveis. Centenas de estudantes foram presos, torturados ou mortos. O último presidente da UNE antes de sua desarticulação, Honestino Guimarães, está desaparecido até os dias atuais. Em cada sala de aula sempre havia um informante do governo para relatar o posicionamento de professores e alunos.

Há um célebre ditado popular que ressalta que errar é humano, repetir o erro é burrice. Atualmente existe um movimento chamado Escola Sem Partido que, em linhas gerais, é a volta do Acordo MEC-Usaid. Seus defensores alegam que os professores estariam proibidos de abordar alguns assuntos considerados “doutrinas de esquerda”. Sem nenhuma criatividade, a direita tenta retomar uma prática adotada meio século atrás e que deixou sequelas por toda uma geração.

A burrice desses Torquemadas modernos chega a tal ponto que querem retirar o Paulo Freire como patrono da educação brasileira. Freire é um dos educadores mais respeitados em todo o mundo, mas em seu país alguns saudosistas da ditadura querem bani-lo mais uma vez das salas de aula. Aqui vale repetir uma frase do filósofo espanhol Baltazar Gracian: “A insensatez sempre se precipita à ação, pois todos os tolos são audazes”.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A posse de armas vai a votos. Sim ou não?

















POR ET BARTHES
Há no Senado brasileiro um movimento para revogar o Estatuto do Desarmamento, que foi criado em dezembro de 2003. Um relatório a favor da realização de um plebiscito - que deve ser realizado no ano que vem - foi apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e teve o “ok” do relator, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Você concorda? Sim ou não. Hoje trazemos alguns filmes do Reino Unido e, claro, dos Estados Unidos (na maioria), onde o tema está sempre na agenda por causa dos sucessivos massacres. Os filmes estão todos língua inglesa, mas é fácil entender.
















terça-feira, 28 de novembro de 2017

Quer viver em Portugal? Então deixe de ser coxinha...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Viver em Portugal. É um dos temas cada vez mais recorrentes nas redes sociais. Parece que o país está de novo na moda. Todos os dias chegam mais e mais imigrantes brasileiros aterrissam na terra de Camões. A história se repete e faz lembrar os tempos dos governos FHC, quando a crise interminável provocou uma debandada rumo a Portugal. Hoje é praticamente impossível passar um dia sem ouvir um sotaque brasileiro.

É uma espécie de refluxo. Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, as coisas melhoraram e o Brasil voltou a ser opção para viver. Nessa época, muitos imigrantes brasileiros decidiram voltar para casa. Aliás, a imagem do Brasil era tão boa e as perspectivas tão animadoras que o país tornou-se um destino para os próprios europeus. Então veio o golpe e a coisa parece ter desandado.

Desta vez o fluxo migratório tem diferenças. O padrão sócio-econômico dos brasileiros que desembarcam em Portugal mudou muito. Entre os recém-chegados, há muitos daqueles que a sociedade se habituou a chamar “coxinhas”. Sim, os mesmos que apoiaram o golpe e repetiram o clichê “primeiro a gente tira a Dilma, depois...”. Eis os fatos: “primeiro a gente tira a Dilma, vê a cagada que fez e então emigra para a Europa”.

Seria triste se não fosse a ironia. Os caras procuram em Portugal aquilo que não queriam no Brasil. E isso faz adivinhar que a adaptação ao estilo de vida português pode ter alguns percalços. Mas como acho que todos devem ser bem recebidos, vou dar uma forcinha e fazer 10 recomendações que, entendo, podem ajudar na integração:

1. Os portugueses lutaram pela democracia e gostam muito dela. Não venham estragar. Viver em democracia é uma coisa legal, tenho a certeza de que quando entenderem o conceito certamente vão gostar. Tudo bem, acho que vão achar tudo meio “comunista”, mas acostumam com o tempo. Ah... trocando em miúdos: aqui a gente respeita a regra e ninguém pensa em derrubar um presidente ou um primeiro-ministro apenas “porque sim”.

2. Outra coisa. Se no Brasil o cara se acha o importantão, isso não funciona deste lado do Atlântico. As pessoas “cagam” (expressão popular lusitana) para essa importância. Aliás, quem tenta parecer melhor que os outros é até mal visto.

3. Mais uma chatice. Os seus pimpolhos vão estudar na escola pública, junto do filho da faxineira, e vão aprender que ricos e pobres podem ocupar os mesmos espaços sociais. Em tempo: são raras as famílias que têm empregadas domésticas. E é melhor nem dizer que no Brasil existe o tal elevador de serviço. Nenhum português entenderia.

4. As universidades são quase todas públicas e, por serem financiadas pelo dinheiro público, é natural que o acesso seja mais democratizado. Também há universidades privadas, algumas com elevada qualidade, mas você tem que desembolsar o seu rico dinheirinho. Uau! Escola pública para os pobres? Isso é muito diferente das “federais” no Brasil, que se tornaram verdadeiros feudos dos ricos.

5. Ah... e você pode ter plano de saúde privado. Mas no frigir dos ovos vai perceber que um sistema de saúde público universal, geral e tendencialmente gratuito dá um jeitão. É mais ou menos como aquele SUS que estava a ser implantado no Brasil e que o golpe pôs um fim.

6. Não se preocupe por ter que andar em transportes públicos, porque você consegue viver sem carro. Tem gente que reclama, claro, mas ainda assim está a milhas dos transportes no Brasil (comparar com uma cidade como Joinville, então, beira a anedota). Outro hábito brasileiro que não funciona por estes lados. Você pode até comprar um carrão, mas ninguém vai ligar a mínima. É sério. Mas se tiver um carrão, pode pisar no acelerador que as estradas até que são boas.

7. E a coisa dos poderes. É claro que tudo tem defeitos, mas na Europa os defeitos são a exceção e não a norma. É só olhar para o Judiciário. Os juízes não são justiceiros. Os nossos procuradores não acusam por “convicções”. As pessoas conhecem os seus lugares e você não veria um juiz a ser sempre fotografado ao lado de políticos (sempre do mesmo partido), como acontece lá para as bandas de Curitiba. E acreditem: os nossos partidos de direita seriam acusados de ser “comunistas” no Brasil.

8. E olha só que coisa legal para a formação do inconsciente coletivo. Em Portugal – e acredito no resto da Europa – a sociedade não deixa surgirem excrescências como o MBL. Ninguém dá ouvidos a um energúmeno como Olavo de Carvalho. Ah... e Bolsonaro não se elegia nem síndico.

9. E o fator que muitos consideram o mais importante. Os portugueses prezam muito as suas condições de segurança. O país tem baixos índices de criminalidade. As pessoas vivem seguras. E a polícia (que por vezes comete erros) tende a ser eficiente. Aliás, tem uns caras no Brasil que defendem o uso de armas. Esqueçam isso. Para os portugueses ter armas é uma coisa que não faz sentido.

10. Enfim, Portugal está rotinado para valorizar o bem comum. Ah... e não posso deixar de perguntar: vocês sabem que o governo é formado pelo Partido Socialista, com sustentação parlamentar do Partido Comunista e Bloco de Esquerda? Triste, né? E parece que vai ser assim por mais dois anos. Então, tem uma boa solução para se adaptar: é só deixar de ser coxinha.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Cidades inteligentes não são feitas por gestões burras


POR JORDI CASTAN
De novo Joinville é citada como uma cidade inteligente. Poderíamos começar discutindo o conceito de cidades inteligentes (smart cities). E, a partir daí, tentar entender  como uma cidade só patina pode ser considerada uma inteligente. Mas a conversa ia ficar enfadonha. Custa acreditar que Joinville possa ser considerada uma cidade inteligente e, caso seja mesmo a intenção, talvez seja mais indicada uma reflexão sobre o nível de indigência mental que anda por aí.

Por causa do meu trabalho, passo muito tempo fora de Joinville e, apenas neste ano, visitei 14 capitais e mais de 50 cidades de médio e grande porte. Em todas elas tenho encontrado bons exemplos do que poderíamos fazer por aqui. Há centenas de boas ideias sendo postas em prática todos os dias em cidades de toda América latina, África e Europa.

A maior parte das ideias está direcionada a fazer as cidades mais eficientes, com gestão mais transparente e de forma a dar mais vez e voz ao cidadão. Eis um exemplo recente de um caso ocorrido em Guadalajara, no México. O sinaleiro do cruzamento, que fica em  frente ao escritório, estragou. O meu colega pegou no celular, acessou o aplicativo da própria prefeitura e enviou a imagem do problema. Em menos de 30 minutos uma equipe estava resolvendo o problema.

Em Bucaramanga, na Colômbia, é possível postar fotos de buracos e denunciar problemas de acessibilidade de forma imediata, incluindo fotos e as coordenadas geográficas. Em Barcelona, a prefeitura coloca à disposição dos seus cidadãos todas as redes sociais para que possam perguntar, denunciar ou questionar. A internet permite que cada cidadão acompanhe o processo da sua denúncia, do seu alerta, do seu aviso. Permite que mais cidadãos contribuam e mantenham a informação atualizada, novas imagens mostram a situação e se ela esta ou não sendo resolvida. A rapidez de resposta é elogiada e a lentidão gera comentários e reprovação.

Aí lembro da Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Joinville e de todas as queixas dos contribuintes: inoperância, da falta de transparência, dificuldade de poder fazer um seguimento adequado e respostas padrão que nada respondem. É evidente que a Ouvidoria esta aí mais para proteger o sistema do que para atender ao cidadão. Dedica mais tempo a justificar o injustificável do que a resolver de fato.

Lembro também que não interessa ao “status quo” que o contribuinte tenha acesso a sistemas mais transparentes e atuais. Ou seja, sistemas e aplicativos que evidenciariam facilmente o tempo de resposta, a resolução efetiva dos problemas, quantas vezes o mesmo problema se repete e tantas outras informações que serviriam para medir a eficiência da gestão municipal. Lembro ainda que essas medidas, que tanto interessam ao joinvilense, não interessam à administração municipal, que poderia ver quantificada e escancarada a sua inoperância.

Aí entendo por que não temos - e não teremos tão cedo - um ouvidor municipal que defenda os interesses e os direitos dos contribuintes. Porque não estamos preparados para ter um “ombudsman”. E, claro, por que estamos tão longe de ser uma cidade inteligente.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Queima, bruxa, queima. A caça às bruxas está de volta...

POR DOMINGOS MIRANDA
Há poucos dias o Brasil deu mais um passo rumo à barbárie. Quando a filósofa americana Judith Butler visitou São Paulo para coordenar seminário no Sesc Pompeia sobre o tema “Os fins da democracia” foi achincalhada por um grupo conservador que não aceita suas ideias. Ela foi uma das primeiras intelectuais a levantar a questão da ideologia de gênero, que está sendo muito muito criticada em todo o país.

Os manifestantes queimaram uma efígie de Butler como bruxa e defensora dos trans. Quando embarcava no aeroporto de Cumbica, nova agressão e desta vez  não foi só verbal, mas também física. Outras mulheres tiveram que defendê-la.

Na semana passada a filósofa americana, reconhecida internacionalmente por abordar vários temas, não só sobre questão de gênero, afirmou que ficou horrorizada com a ação dos fanáticos em São Paulo. Em artigo que escreveu no jornal Folha de S. Paulo, Butler disse: “A tortura e o assassinato dessas mulheres por séculos como bruxas representaram um esforço para reprimir vozes dissidentes, aquelas que questionavam certos dogmas da religião”. Ela frisou que está bastante preocupada com as mulheres que ficaram no Brasil e são obrigadas a enfrentar este clima inquisitorial.

Judith Butler foi testemunha de um momento de retrocesso que vive nosso país, onde a exposição de certas ideias passou a ser sinônimo de risco. Lola Aronovich, escritora e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), é apenas um exemplo entre tantos. Ela está sofrendo ameaças de morte e de estupro simplesmente por ser feminista. Angela Luiza Bonacci, leitora da Folha de S. Paulo, escreveu no jornal: “É lamentável que em pleno século 21 as inquisições virtuais ainda promovam uma caça às bruxas”.

Na Idade Média, milhares de mulheres foram caçadas, torturadas e queimadas nas fogueiras por motivos banais. Com a Inquisição bastava que algum desafeto fizesse alguma denúncia para que a vítima passasse a ser considerada bruxa, com todas as consequências possíveis. Com as revoluções francesa e americana houve um grande avanço e os julgamentos seriam feitos através dos tribunais de justiça. A prática da tortura foi abolida, pelo menos legalmente.

Nas sociedades civilizadas qualquer ideia é debatida abertamente, sem maiores contratempos. Cada lado expõe o seu ponto de vista e as pessoas aceitam ou não o que foi colocado. O célebre filósofo francês Voltaire abordou com sabedoria o assunto: “Não concordo com nada do que dizes, mas lutarei até à morte pelo direito de expor o seu ponto de vista”. Eu sou contra a ideologia de gênero e escrevi, neste mesmo local, um artigo sobre o tema. Mas, de modo algum concordo com a selvageria que fizeram com Judith Butler.

Estamos seguindo um caminho perigoso onde o ódio vai sendo destilado por amplos setores, que vão desde os fascistas até mesmo seitas religiosas. Quando deixamos de lado nossos argumentos para usar agressões mostramos que prevaleceu a ignorância e não a sabedoria. Aquele instinto cruel das massas, guardado em um cantinho do cérebro, é como uma brasa adormecida, que com um sopro volta a ficar incandescente. Temos que tomar cuidado para que não surjam mártires queimadas nas ruas por causa da insensatez humana.


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Uma mala não é crime, mas rende muitas charges

POR ET BARTHES
Hoje o tema é o homem de quem se fala no momento. Fernando Segóvia, o novo diretor-geral da Polícia Federal, para quem uma única mala de dinheiro não é prova suficiente para caracterizar um crime de corrupção. Ou, nas suas próprias palavras, “A gente acredita que, se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria de durar mais tempo porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime”.

A declaração não passou despercebida, em especial para os chargistas brasileiros, que produziram um vasto e divertido material e que recolhemos na internet. Os direitos autorais, claro, são dos autores que assinam os trabalhos.













terça-feira, 21 de novembro de 2017

Não é tempo de falar de aborto a sério?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O Brasil tem sido pródigo em más notícias. Uma das mais recentes vem da ONU - Organização das Nações Unidas, que manifestou preocupação com o projeto de lei que propõe restringir ainda mais a já restritiva legislação brasileira sobre o aborto. O mundo civilizado ficou estarrecido diante da pretensão de proibir a interrupção da gravidez mesmo nos casos de abuso sexual, anencefalia do feto ou risco para a mulher.

Volto hoje ao tema porque muita gente acredita que é o momento de discutir a questão. O debate é positivo, claro, mas a coisa pode desandar. Falar de temas fraturantes exige um nível civilizacional que a maioria dos brasileiros, infelizmente, ainda não atingiu. Nestes tempos de “criptoteocracia”, em que religiosos ditam a agenda política, o país mergulhou numa espiral de obscurantismo e intolerância. É a discussão certa, mas numa hora difícil.

O debate tem que ser feito. O aborto é uma questão civilizacional, de costumes ou de consciência individual. Mas, sobretudo, é uma questão de saúde pública. Lembremos que, de acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde, todos os anos morrem 47 mil mulheres no mundo em consequência de abortos clandestinos. Eis a trágica ironia: as mesmas pessoas que assumem a “defesa da vida”, no caso dos fetos, fazem ouvidos moucos para o número de mortes de mulheres.

E volto a falar da experiência portuguesa, que conheço de maneira mais próxima. Em 2007, o aborto (chamado, de forma eufemística, de interrupção voluntária da gravidez) foi despenalizado. A partir daí o país resolveu um problema de saúde pública, evitando mortes e outros problemas provocados por abortos clandestinos. Hoje a ideia foi assimilada pela sociedade e tornou-se um não-assunto. Ah... e a boa notícia é que, ao contrário do que vaticinaram os moralistas religiosos, o país não foi destruído pela ira divina.

De volta ao Brasil. A ONU alerta para o fato de que o país se desviou dos compromissos internacionais no campo dos direitos humanos, como os direitos das mulheres e a igualdade de género. É um fato preocupante e que exige um amplo debate. Os brasileiros têm uma escolha a fazer:  a aproximação aos países desenvolvidos (há muitos exemplos a seguir) ou o recuo civilizacional que o fará despencar para o nível das sociedades mais atrasadas. Em abstrato a escolha parece óbvia, mas...

Diálogo. Tolerância. Inteligência. Racionalidade. É disso que o país precisa neste momento.

É a dança da chuva.

Bolsonaro, a tortura, a sonegação de impostos, a democracia e outras barbaridades

POR ET BARTHES
Um filme com declarações muito interessantes de Jair Bolsonaro. Nenhuma delas abonatória. 



segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Pesada





POR SANDRO SCHMIDT

Uma gestón tão boa que pôs Joinville na Europa


POR JORDI CASTAN
Joinville ganhou prêmio de mobilidade na Europa. #sqn
A Cidade de Joinville ganhou na Iniciativa Civitas como subcampeão do prêmio CIVITAS "Categoria I". E o melhor: a Comissão Europeia reconhece a cidade como uma das melhores da Europa para fazer uma verdadeira diferença para o bem-estar do cidadão europeu. É espantoso.

Tudo por causa da realização excepcional no campo do transporte urbano e representação ativa da Iniciativa CIVITAS. E ficou assim: através de uma clara liderança política e continuação da consulta com especialistas e partes interessadas locais, a cidade planejou, implementou e avaliou suas medidas de política de transportes com sucesso. Desta forma, a cidade provou ser um paradigma de excelência, inspirando e servindo de modelo para orientar e estimular o desenvolvimento de iniciativas de mobilidade sustentável na Europa. Entenderam?

E vai mais longe. “O Prêmio Civitas é uma oportunidade para destacar os esforços mais ambiciosos, inovadores e bem sucedidos no campo da mobilidade urbana sustentável. Os vencedores são apresentados como exemplos de excelência perante a imprensa com a esperança de que eles possam orientar e estimular cidades na busca da mobilidade sustentável”. Ainda estou tentando entender qual o mérito de Joinville e seu fantasioso PlanMOB para ganhar essa premiação. É claro que não podemos estar falando da mesma Joinville.

Primeiro. Porque esta Joinville daqui não está na Europa. Até pode ter uma pequena população de europeus que aqui chegaram, mas estamos localizados ao sul do Equador e somos parte do Brasil. Portanto, não somos nós.

Segundo. Porque mobilidade não é um quesito que dominemos ao ponto de merecer alguma premiação ou reconhecimento. Ainda menos europeu. Se o quesito avaliado fossem buracos, aí poderíamos ganhar fácil qualquer concurso de queijos, porque temos mais buracos nas ruas que num queijo suíço. Se o quesito avaliado fosse a imobilidade, aí também teríamos mais chances de levar algum prêmio ou menção. Porque aqui as coisas estão paradas. Olhe por onde olhar, não há nada que se mova, exceto as datas de entrega das obras públicas, que mudam sempre para a frente. E que nunca são entregues no prazo.

Terceiro. Porque dizer que o prêmio foi pelo estacionamento rotativo é pura ilusão. Os europeus que avaliaram as propostas, provavelmente estavam acreditando que o projeto apresentado era real. E o julgaram pelo que foi dito e não pelo que de fato acontece nestas terras. Faz uns cinco anos que Joinville não tem estacionamento rotativo. Premiar algo que não existe é premiar a ficção, a fantasia, a propaganda. Mas era só ter mandado aqui um avaliador independente e logo teriam percebido o engano.

Quarto. Fiquei horas tentando entender de que forma o plano de mobilidade joinvilense pode ter contribuído a fazer da cidade uma das melhores da Europa e, o mais interessante, para fazer uma verdadeira diferença para o bem-estar do cidadão europeu. Neste capítulo solicito a sua colaboração, porque me declaro incompetente. Alguém ajuda?

Quinto. Outorgar o prêmio porque “a cidade planejou, implementou e avaliou suas medidas de política de transportes com sucesso” é coisa de gente que não tem a menor noção do que é, como é e onde está Joinville. Mas a melhor de todas guardei para o final.

Sexto. O motivo pelo qual o prêmio não pode ter sido outorgado para esta vila. “A cidade provou ser um paradigma de excelência, inspirando e servindo de modelo para orientar e estimular o desenvolvimento de iniciativas de mobilidade sustentável na Europa”. Só alguém que não estivesse na plenitude das suas faculdades mentais ou que fosse estulto  poderia acreditar numa sandice destas.

Para não passar mais vergonha, o prefeito - ou quem quer que tenha ousado apresentar a candidatura ao prêmio -, devolva o certificado e tentemos esquecer quanto antes este triste episódio de parolagem e empulhação.

Ainda me atreveria a sugerir aos organizadores da Iniciativa Civitas que escolham um bom professor de geografia, porque estamos longe demais da Europa. Em termos geográficos mas, principalmente se olharmos para os aspectos excelência, referência, valores. Ou para servir de modelo. O único modelo que se me ocorre é como modelo de como não fazer.s




sexta-feira, 17 de novembro de 2017

"Não somos terroristas, somos defensores dos nossos rios"

POR DOMINGOS MIRANDA 
A luta pela água deverá ser o principal ponto de discórdia ao longo deste século. No Brasil, um dos países com maior potencial hídrico, os conflitos se avolumam nas regiões mais secas. No início de novembro, cerca de 500 agricultores do município de Correntina, no Oeste baiano, invadiram a Fazenda Igarashi, derrubaram postes de energia elétrica e colocaram fogo em máquinas e imóveis. A grande imprensa e autoridades afirmaram que foi uma ação terrorista. Uma semana depois, 10 mil pessoas, metade da população de Correntina, tomaram as ruas e afirmaram que a defesa do rio Arrojado não pode ser tachada como terrorismo.

Há cerca de 20 anos o Oeste da Bahia foi ocupado por grandes agricultores que utilizam o plantio irrigado. O caso da Igarashi gerou revolta por causa do abuso na captação da água. Por dia, a fazenda retira 106 milhões de litros de água do rio Arrojado enquanto as 7 mil residências da cidade de Correntina consomem diariamente 3 milhões de litros. As imensas tubulações que saem do manancial é a prova concreta do gigantismo da irrigação autorizada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Os pequenos agricultores da bacia do rio Corrente dizem que há anos reclamam e que o governo não atende seus pedidos. Somente na região, oito pequenos riachos já secaram por causa da destruição do cerrado e das veredas para o plantio de soja e outros produtos rurais. 

Quatro décadas atrás o frei franciscano Luiz Flávio Cappio chegou às margens do rio São Francisco, na Bahia. Além de atender espiritualmente a população mais pobre, ele se transformou em um grande defensor do rio de integração nacional. Ao longo deste tempo o religioso, que agora é bispo da diocese de Barra, tem visto a redução na vazão do maior manancial da região. Ele diz que o dia que o rio São Francisco secar o sertanejo terá que fugir para outras regiões.

Dom Luiz Cappio se tornou conhecido nacionalmente porque fez duas greves de fome para protestar contra a transposição das águas do rio São Francisco. Ele explica que, ao invés de tirar água do rio, devemos revitalizar as suas margens. Trezentas nascentes que desembocam no rio São Francisco já morreram por causa da ação do homem.

Numa cidade como Joinville, com um índice pluviométrico bastante alto, a maior preocupação é com a captação de água para abastecimento. Há cerca de 20 anos foi criado o Programa SOS Nascentes que pagava um valor em dinheiro para os agricultores que protegessem a mata ciliar do rio Cubatão. Hoje este trabalho foi abandonado. Um grande empresário de Joinville comprou as terras nas nascentes dos rios Cubatão e Quiriri, que fornecem a água para o abastecimento da cidade.  Quem sabe, em um futuro não muito distante, ele poderá vender este líquido que a cada dia que passa torna-se mais precioso. Nós ainda não damos o devido valor a este bem que a natureza nos fornece gratuitamente. O pior, muitas vezes transformamos a água em esgoto.

Os indígenas são os maiores protetores do meio ambiente. Numa conversa com o cacique Ronaldo Costa, da aldeia Piraí, em Araquari, ele nos deixa uma lição: “Se um dia acabar a floresta, os rios vão secar e nós vamos acabar”. Não podemos deixar isto acontecer.

Foto publicada no blog Mural do Oeste



quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O que essa gente fazia para passar vergonha antes das redes sociais?

POR ET BARTHES
As redes sociais produziram pessoas estranhas. De repente qualquer um virou especialista em política, economia e sociedade. Um ator pornô que se sente à vontade para falar de educação. Uma professora universitária que teria dificuldades no ENEM. Uma jogadora que faz profissão de fé num notório corrupto. Um religioso que vive do dinheiro dos fieis e acha que tem moral para ditar regras. Uma jornalista que plagia textos de outros. Enfim, fica a pergunta: o que essa gente fazia para passar vergonha antes das redes sociais?




terça-feira, 14 de novembro de 2017

Lula deve morrer? Não, o que deve morrer é o “jornalismo” da Istoé

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Lula deve morrer. A manchete da Istoé correu como um rastrilho de pólvora e incendiou as redes sociais. Poderia ser apenas um título provocador, exagerado de propósito, para vender mais revistas. Mas não. Quem leu o artigo percebe que o desejo de morte é literal: essa gente quer mesmo que Lula morra. O artigo foi recebido com perplexidade e mesmo quem não gosta do ex-presidente achou que a revista foi longe demais.

Um texto a pedir a morte de um político (um ex-presidente) mostra o fosso de areia movediça em que se debate boa parte da velha mídia brasileira. Muita gente desejou, ao autor do artigo, o mesmo que ele pediu para Lula. Mas o buraco é mais em cima. O jornalista está apenas a ser a voz do dono, a fazer o trabalho sujo para os seus superiores. Afinal, um texto assim não sai para as bancas sem a concordância dos patrões.

A situação pede um olhar por trás da cortina. Haveria motivações menos evidentes? É lídimo imaginar que o pano de fundo é a sobrevivência da própria revista. Mais do que desejar Lula morto, a Istoé tenta permanecer viva. Há uma crise. Há informações recentes a dizer que, com a queda de Dilma Rousseff, a publicidade na Istoé cresceu 1.384%. Ou seja, ascensão de Michel Temer permitiu, à revista, ganhar algum fôlego financeiro.

Que tal um exercício de memória? Em 2015, a revista publicou um texto choramingas a acusar Dilma Rousseff de estar contra alguns meios da velha mídia. “Uma das estratégias para minar o fôlego dessas publicações é reduzir a verba publicitária a elas destinada pelo Governo Federal. Esta ação ganha a alcunha de ‘guerrilha política’, em um documento do Planalto que ficou conhecido esta semana”, dizia a Istoé, em tom de lamúria.

Qualquer pessoa familiarizada com o meio jornalístico sabe que os problemas financeiros da empresa editora da revista têm sido notícia ao longo dos anos. Impostos atrasados, dívidas a bancos, dívidas trabalhistas e até penhora de imóveis fizeram a pauta do noticiário nos últimos anos. O fato é que a revista luta para sobreviver. Mas onde é que Lula entra nessa história? A resposta é simples.

Sem as verbas publicitárias do Governo Federal – e das empresas na órbita da administração central de Brasília – a vida pode ficar ainda mais complicada para a publicação. Se Lula for eleito, a torneira das verbas publicitárias pode deixar de jorrar os milhões de reais. É essencial que Lula não possa concorrer. Se concorrer, é preciso que seja derrotado. Mas Lula diz que vai concorrer. E, para piorar, as pesquisas o põem na liderança.

É aqui que a porca torce o rabo. Se Lula não morrer, talvez morra a revista, que há muito deixou de fazer jornalismo (ao ponto de ser chamada “QuantoÉ”). O jogo de sobrevivência muitas vezes obriga ao ridículo. Não vamos esquecer que no ano passado a revista atribuiu o prêmio “Brasileiro do Ano” ao presidente Michel Temer. Não há argumento racional que sustente a escolha. A não ser, claro, um piscar de olho para as verbas publicitárias.

É óbvio. Não dá para viver só das vendas e dos leitores. A revista tem penetração num meio formado por antipetistas e alguns liberais (daqueles que não vivem sem as tetas do Estado). Mas esse público representa quase um nicho de mercado, formado por leitores pouco fieis e insuficientes para dar saúde financeira a qualquer projeto editorial. Portanto, sem verbas publicitárias – e eventualmente outras bondades governamentais – a coisa complica.

Enfim, Lula é um perigo para a Istoé. E por isso deve morrer.

É a dança da chuva.

P.S.: Para evitar mal-entendidos, como jornalista não desejo o fim de qualquer título, mas lamento que alguns estejam a matar o jornalismo.





Perdão


POR SANDRO SCHMIDT