sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Isso é...


Ordeira uma pinoia

Sacada do Charles Henrique Voos em resposta à campanha
#issoéjoinville, que dominou redes sociais e imprensa local
POR FELIPE SILVEIRA

Depois da repercussão negativa na mídia nacional (e até mesmo internacional) causada pela briga entre torcedores de Atlético-PR e Vasco na Arena, a cidade de Joinville buscou refúgio no seu mais forte clichê: somos uma cidade ordeira e trabalhadora.

As redes sociais e a imprensa local foram tomadas por uma onda ufanista, preconceituosa, xenófoba e ridícula, reforçando que a violência é coisa do outro, do “de fora”, tentando dizer que aqui não fazemos nada disso. O prefeito chegou a dizer que o “episódio que aconteceu na Arena não envolveu joinvilenses. Nosso povo é cordial, educado e forte. O mundo saberá reconhecer”. Esse “cordial, educado e forte” é a revitalização do discurso martelado nos joinvilenses desde que nasceram: somos um povo ordeiro e trabalhador.

Não vou discutir ou tentar mostrar aqui que somos tão violentos quanto outros. Isso seria chover no molhado e o Clóvis Gruner já falou o que tinha para ser falado sobre esse tipo de violência. A discussão que me interessa aqui é sobre outra violência, que se perpetua por meio desse discurso nojento de ordem e progresso, que se esconde na campanha “#issoéjoinville”, nas falas do prefeito e nas chamadas dos jornais que insistem em não fazer jornalismo.

Violência histórica e atualizada

Nos anos 20 e 30 a ordeira e pacata cidade de Joinville viveu momentos muito intensos de lutas de trabalhadores – no campo e na cidade. Foram diversas greves, manifestações e outros conflitos que foram sufocadas pela violência do Estado, seja pelo uso da força ou pela violência do jogo do poder econômico. Além disso, a coação e coerção de Getúlio Vargas aos trabalhadores do Brasil jogou a pá de cal sobre os movimentos de luta no Brasil, que passou a viver no submundo.

De lá pra cá essa violência se perpetuou e se consolidou no discurso da ordem e do trabalho, utilizando dos mais variados recursos com maior e menor intensidade, de acordo com a necessidade da classe dominante.
E foi exatamente isso que aconteceu na última semana, quando um militante do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville foi processado por participar de uma manifestação no dia 14 de agosto de 2013, na reunião do Conselho da Cidade que ocorria na Sociedade Harmonia Lyra, no centro de Joinville. O motivo do processo é uma porta que supostamente teria sido quebrada quando tentaram impedir a entrada dos manifestantes no local onde ocorria uma reunião de caráter público,   e, portanto, aberta ao público. O militante que assinou o termo circunstanciado para colaborar com a polícia, que não sabia quem quebrou a porta (pode ter sido um segurança da elite), foi intimado.

É fundamental que todos leiam esse texto publicado no blog do MPL, mas copio abaixo um trecho para deixar claro o que isso tem a ver com este texto:

“É uma tentativa de criminalização, que assola os movimentos sociais, não somos os únicos nem os primeiros. O fato é que o poder político e econômico tenta criminalizar os movimentos sociais porque a população buscou opinar dentro de espaços da elite joinvilense, como o Conselho da Cidade, e a própria Sociedade Harmonia Lyra, e tanto parece incomodar essa classe que visa enriquecer em detrimento do sofrimento do povo.”

Está claro, não? Diante da circunstância o poder econômico utiliza de todas as suas ferramentas. Ao longo da história do mundo já mandou sequestrar, matar, estuprar... e com alguma frequência. Descobriu-se, também nessa semana, que a ditadura civil-militar (lixos no poder de 64 a 85) mandou matar Juscelino Kubitschek, viram?

E o que isso tem a ver com o discurso de cidade ordeira e trabalhadora?

Se você não consegue ver, meu amigo...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A violência nossa de cada dia


POR CLÓVIS GRUNER

A Arena Joinville foi palco, no último domingo, de mais um episódio de violência envolvendo torcedores – neste caso, do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama. Em entrevista, Udo Dohler afirmou que impedirá o empréstimo da Arena para novos jogos do time curitibano, que só neste ano perdeu duas vezes o mando de campo por conta de ocorrências envolvendo a violência dos torcedores. Agiu certo o prefeito. O problema, no entanto, é maior e mais complexo, acredito. E é preciso observá-lo sob outras perspectivas.

Soube ontem que o Ministério Público catarinense entrou no início de dezembro com pedido de interdição do estádio, alegando que a estrutura do lugar é precária para receber eventos esportivos. Não me surpreende: esta não é a única “grande obra” joinvilense entregue às pressas e precariamente concluída, e a decisão do MP apenas torna público o que é já do conhecimento comum da maioria da população local. Há ainda a imagem do país no exterior, bastante comprometida com o ocorrido, e a menos de um ano da Copa do Mundo. Depois de domingo, a Fifa afirmou que durante o mundial tais cenas não se repetirão, pois o “padrão Fifa de segurança” é diferente do Brasileirão. Pode ser verdade, mas o estrago está feito e dificilmente a imagem do país e de seus torcedores será integralmente reabilitada.

Mas isto não me parece, ainda, o pior. Desde os anos de 1980, quando a violência entre torcidas aumentou significativamente, 234 mortes entre torcedores já foram registradas, segundo o El País. Só neste ano, 30 pessoas morreram em conflitos nos estádios de futebol. Na briga de domingo felizmente não houve mortos, mas dos quatro torcedores feridos um segue internado em Joinville. Outros seis foram e continuam detidos. Há algo realmente preocupante na relação entre torcedores e seus times quando ela justifica o recurso à violência extrema. As explicações usuais normalmente apelam às razões econômicas ou se esforçam em “psicologizar” e naturalizar  a questão. Nenhuma delas, a meu ver, oferece respostas satisfatórias.

A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA – Há algo de performático na violência que parece fazer sentido aqueles que a praticam, como se a agressão ao outro reforçasse os laços de pertencimento à pequena comunidade das torcidas organizadas. Neste aspecto, ela é parte constitutiva da identidade do grupo – ou de parte dele – e independe da condição social e econômica (um dos agressores identificados é ex-vereador em Curitiba e ocupava cargo de primeiro escalão no governo estadual); nem tampouco se mede por critérios que se pretendam “naturais” ou “psicológicos” (a maioria dos torcedores não é violenta fora do grupo e em outros contextos que não os que envolvem o futebol).

De maneira muito peculiar e caótica, a violência é também uma forma de confrontar as autoridades instituídas – administradores públicos, justiça, polícia, “cartolas”. Talvez o melhor exemplo disso seja o descolamento entre os discursos dos dirigentes das torcidas organizadas e as práticas de muitos torcedores. Enquanto os primeiros negam e condenam a violência, inclusive colaborando com a investigação policial, os segundos seguem praticando-a, indiferentes ao que dizem e fazem seus supostos representantes.     

Além disso, os acontecimentos nos estádios acompanham um processo de banalização cotidiana da violência, que não é apenas física: há violência no desaparecimento de Amarildo; no autoritarismo policial; nos “governos paralelos” instituídos pelo crime organizado dentro e fora das cadeias, principalmente nas periferias das grandes cidades; etc... Mas há igualmente violência quando um humorista agride uma internauta e conclama seus seguidores a fazer o mesmo, indiferente seja à assimetria entre sua posição e influência midiáticas e a de sua interlocutora, seja ao conteúdo da crítica que lhe foi dirigida e sua resposta, que está muitos níveis abaixo do que pode ser classificado como grosseria.

São óbvias as razões que levam a maioria de nós a acusar a gravidade do que ocorreu domingo, na Arena Joinville, em relação a episódios considerados mais “comezinhos”. Mas eles estão ligados, entre outras coisas, pela crescente e perigosa insensibilidade que estamos a desenvolver para com muitas formas de violência que não a criminosa – e mesmo em relação a essa tendemos a achar que a solução está simplesmente no aumento da força policial e na ampliação do número de vagas nas penitenciárias. Não estou homogeneizando a violência. Mas afirmando que nossa atenção demasiada e isolada a algumas de suas manifestações, que caminha na direção inversa à crescente indiferença para com outras, não produz soluções. Antes, agrava o problema e nos torna a todos responsáveis.    
 

Um chegada e tanto

ET BARTHES

Para quem gosta de automobilismo, talvez a mais interessante chegada de todos os tempos.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Facebook é coisa de velho

Link foto
POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Peguei umas férias do blog por uma série de questões pessoais e volto a escrever com a maior cara de pau, sem dar muitas explicações. Peço desculpas, mas estou passando por períodos complexos, reajustando, repensando e não sei como o futuro vai ficar. Tenho certeza que o chuva estará presente de alguma forma, mas ainda não sei como. Enquanto isso vamos conversando.

Nesses reajustamentos da vida, decidi tomar uma decisão drástica essa semana e cancelar minha conta no facebook. Ok, grande porcaria, tem algumas notícias mais importantes no mundo. Concordo, mas "veja bem" nem sempre eu estou a fim de saber. Tru tum tum tum, pá! E o facebook meio que não respeita meu estado de humor ou o dia maravilhoso que estou curtindo com a minha família. Pinta a imagem: você preparou um almoço saboroso no domigo, sentou com filha e marido, tomando uma cervejinha, dá uma espiadinha no face, porque o celular está ali e é irresistível, e BUMP! Mandela morreu, virou assunto do almoço. Ou você tem um jantar legal com as amigas, vai ao banheiro, dá uma espiadinha no celular e BUMP! Foto de criança desaparecida para compartilhar. Aí você lembra que o mundo é um lugar horroroso, perigoso, cheio de gente má, e se pergunta por que você colocou um filho, que você ama tanto, nesse mundo torto e por aí vai a paranóia.

Ok, você pode desligar o celular, evitar olhar, ter auto-controle... Acredite, eu mesma já tentei convencer pessoas que cancelariam suas contas no facebook, que tudo era uma questão de aprender a usar a ferramenta. Aprender a usar os recursos: dar um unsubscribe nos amigos mais sem noção e parar de receber suas atualizações, deixar de dar like nas páginas, dar uma formatada pra ficar mais com a sua cara, enfim. Quer saber? Foge do controle. Você não quer ver foto de cachorrinho sem pata nos minutos que antecedem o sono noturno e mesmo assim você acaba sendo bombardeado por essa imagem simplesmente por ter cedido à última bisbilhotada no aplicativo quando pôs a cabeça no travesseiro. É uma coisa que se joga na sua frente e antes de você conseguir avisar que está noutro humor, você já viu, já ficou triste, já ficou com raiva, ou com grande descrença na humanidade. Nem precisa ser tão gráfico assim quanto uma imagem, pode ser o compartilhamento de uma burrice gigantesca, uma tirinha machista ou uma frase do Lobão. Pra mim chega.
Eu não quero mais saber que aquela amiga que eu adorava na adolescência agora acha que todos os petistas deveriam morrer. Não quero mais ler sobre a criminalidade crescente no Brasil, os escândalos de corrupção, os estupros, os assassinatos de transsexuais... aff, tudo isso é horrível e eu quero ser ativista em algumas causas mas não em todas. Não quero a pressão de ler tudo, saber tudo que está acontecendo o tempo todo no mundo todo, na vida de todos os meus conhecidos. Eca. Quero estar disposta a abrir a página de um jornal e ler as novidades, e entrar na página policial APENAS SE eu quiser. Mandar um bom e velho oldfashion email pra uma amiga e perguntar a quantas anda a sua vida.

Eu já sinto que tenho mais tempo pras coisas realmente importantes da vida. Tipo checar minha conta no instagram ou no twiter - just kidding.

Lógico que nem tudo são só espinhos. O facebook é uma ótima ferramenta, ele aproxima, tem uma série de recursos legais, nada especificamente contra o programa. O problema está comigo mesma que não consigui lidar com o imediatismo, a quantidade de atualizações e etc, etc, vocês sabem.

O golpe final foi ver uma estatística dizendo que os adolescentes estão abandonando o facebook e migrando para o instagram e o whatsapp. Eu é que não ia ficar no meio da velharada! :)hehe!


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A corrupção nossa de cada dia.

POR JORDI CASTAN

A organização Transparência Internacional  divulgou, há poucos dias, o índice de percepção da corrupção em 177 países. O Brasil que em 2012 tinha 43 pontos de 100 possíveis piorou um pouco e nesta edição caiu para 42 pontos. E entre os 177 países pesquisados, o Brasil caiu da 69 posição em 2012 para a 72 em 2013.  O Brasil em 2001 ocupava o 46 lugar da lista e somava 40 pontos. Em 12 anos não conseguimos que o Brasil chegasse a 50 pontos de um total de 100 e passamos de 46 lugar ao 72. Uma situação que deveria preocupar muito mais do que preocupa.A corrupção é um câncer que esta aumentando em todo o mundo, mais de dois terços dos países pesquisados não chegam aos 50 pontos no índice de transparência.

Há com tudo bons exemplos que merecem ser analisados. Fora os campeões que alcançam entre 100 – 90 pontos – Dinamarca e Nova Zelândia, ambos com 91 pontos, um grupo de países se situa entre os 89 – 80 pontos – Finlândia, Suécia, Noruega, Singapura, Suíça, Holanda, Austrália, Canadá e Luxemburgo. No outro extremo da lista com entre 9 – 0 pontos – Somália, Coreia do Norte e Afeganistão.

Entre os países que estão mostrando bons resultados e que tem feito do combate a corrupção uma questão de Estado, gostaria de citar o caso de Ruanda, país que por trabalho acompanho de perto desde já faz mais de um ano. Ruanda é um país pouco conhecido, encravado no coração da África equatorial, com uma população de 11,6 milhões de habitantes, um índice de alfabetismo de 71%, uma renda per capita de US$ 1.400 e um PIB que cresceu no último ano 8,8%. O governo converteu o combate à corrupção em uma questão de estado e hoje Ruanda, com 53 pontos é o 4 país com o menor índice de corrupção em toda África e o 49º no mundo. Aparece na frente inclusive de África do Sul e fica atrás só de Botsuana, Cabo Verde e Seychelles.

Como se combate a corrupção em Ruanda? Primeiro aplicando o conceito de tolerância zero para os casos de corrupção, segundo julgando e condenando a prisão os corruptos e os corruptores. Mas principalmente mostrando o quanto a corrupção destrói os valores do país e o elevado custo econômico e social que a corrupção tem para a sociedade. A corrupção se combate primeiro em nível local. É nos municípios é pequenas comunidades rurais em que é mais fácil iniciar o combate a corrupção. Outro dos êxitos do governo ruandês no combate a corrupção é a melhoria dos serviços públicos, com serviços públicos mais eficientes há menos espaço para corrupção. “Quando os corruptos são identificados e punidos serve de modelo para outros” declarou no seu discurso na semana nacional contra a corrupção.

Aqui no Brasil continua o debate sobre se o mensalão existiu, sobre se os condenados na justiça devem ou não ser presos. A Copa do Mundo de 2014 reúne uma longa lista de situações potencialmente passiveis de corrupção, orçamentos em aumento e maá qualidade de obras públicas, que precisam ser reformadas pouco tempo depois de inauguradas, são alguns dos caos mais flagrantes. Casos de corrupção são divulgados pela imprensa com assustadora frequência e poucos chegam a ser condenados, quando o são, ninguém lembra que o dinheiro público desviado deveria ser devolvido. Pode ser que seja por essas e outras razões que em quanto o Brasil cada ano vai perdendo possições no índice elaborado pela Transparência Internacional, outros países, que tem menos possibilidades que o nosso, encaram o combate à corrupção, como o que deve ser, o combate a um câncer que destrói o país e os seus valores.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Arena de horrores

POR GABRIELA SCHIEWE

E então eu resolvo ir num mero jogo de futebol, entre times que sequer torço, apenas com a intenção de ver um bom jogo, visto que um lutava por uma vaga na Libertadores e outro precisando escapar do rebaixamento.

Logo que entro na Arena, dou de cara com um homenzarrão...e não é que até o Imperador estava na Cidade dos Príncipes!

Eta alegria boa, vamu que vamu que a coisa está esquentando...logo o Atlético-PR abre o placar, o Vasco desesperado, torcida agonizando no seu desespero de mais uma vez a caravela naufragar, e o jogo pegava fogo...

Aos 17 minutos de partida...explodiu!

"Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão: I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos;"

O artigo acima, do Estatuto do Torcedor, legislação muito bem elaborada e que visa a segurança do torcedor e de todos aqueles que compoe o evento, assim como pontua todos os responsaveis, é claro quando diz que a responsabilidade pela segurança do local é do mante da partida.

Ok! E agora tem opinião e empura e empura de tudo o que é lado...Opa, espera aí, estamos vendo nesse momento, exatamente o que ocorreu nas arquibancadas da Arena, opiniões diveras e empurra empurra de tudo quanto é lado.

Confere Arnaldo?

É gente, mais uma vez estamos vendo, ouvindo, escrevendo o que já ocorreu em diversas outras oportunidades nos estádios do Brasil e que a única preocupação é achar "o culpado" e não A SOLUÇÃO!

De que adianta, neste momento chegar a definição de que a culpa foi do clube mandante, Atlético-PR porque não cumpriu a determinação do Estatuto do Torcedor disponibilizando segurança suficiente para a manutenção do evento sem riscos de maiores monta; ou que foi da Polícia Militar que decidiu - sozinha ou com o apoio do Ministério Público - não entrar na Arena, a não ser que houvesse fato de risco; dos bandidos que se dizem torcedores?

Como se achar o culpado irá resolver alguma coisa. Resolveu nos outros casos de violência nos estádios que temos visto constantemente nos campeonatos no país? Claro que não!

Passou da hora de entidades desportivas, federações, governo, judiciário, justiça desportiva, patrocinadores e todos aqueles que estão envolvidos neste grande negócio coloquem como foco a segurança das vidas humanas e não a segurança do seu patrimônio financeiro.

Vasco caiu, Fluminense caiu, mas a verdadeira queda foi da esportividade e do bom sendo diante de bandidos que andam soltos e "torcendo" contra a vida alheia nos estádios.



Brazil 81

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


A imprensa internacional ainda repercute  a morte de Nelson Mandela e, do meu ponto de vista, tudo já foi dito sobre a sua vida. Portanto, são dispensáveis mais comentários. Exceto no que se relaciona ao fato de que para o líder sul-africano o esporte era uma forma de promover a paz. E não era apenas teoria, porque ele comprovou com ações.

A história de Mandela está marcada pela Copa do Mundo de Rúgbi, em 1995, a Copa Africana das Nações, em 1996, e o apoio à  ideia da Copa do Mundo de Futebol de 2010 teve o seu apoio logo no início. O fato é que depois de todos estes eventos, todos nós sabemos um pouco mais sobre a África do Sul e até fazemos turismo por lá.

Mas Mandela fracassaria no Brasil, porque acontecimentos como os de ontem em Joinville mostram que as pessoas não querem paz. As imagens percorreram todo o mundo e apenas ajudar a refroçar a imagem de um país voltado para a barbárie. Não vamos nos esquecer que durante a Copa das Confederações a imagem do país ficou muito mal vista no exterior.

É por isso que a Copa do Mundo parece ser uma péssima ideia. Porque é o evento mais mediático do planeta e, todos sabemos, tem gente querendo jogar água nesse chope. Há uma oposição encarniçada como dedo no gatilho e à espera de causar problemas. Mas volto a dizer: é má ideia, porque nenhum país pode viver sem turismo.

P.S. Aproveite e veja o índice que define os países mais pacíficos para se visitar no mundo.


Quer ser modelo?

POR ET BARTHES

Quando você pensa que já inventaram tudo, eis que surge a "Ugly Models", a primeira agência do mundo que contrata gente que não se ajusta aos "padrões de beleza estabelecidos" (expressão políticamente correta para "feios").




sábado, 7 de dezembro de 2013

Uma metáfora...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Sempre tive a ideia de escrever um texto sobre o comportamento dos donos do poder (e os seus sequazes) em Joinville. Os mesmos que ao longo de décadas estiveram sentados (mais do que isso, agarrados) nas confortáveis cadeiras da vida pública da cidade, em todos os níveis.

É certo que podia usar muitas palavras para explicar a situação, mas um dia destes por acaso encontrei a resposta neste filme que apresento aqui. Se você, assim como eu, acha que a cidade insiste em caminhar a passos muito lentos para o futuro – ou mesmo empacar –, então precisa dar uma olhada.

O filme retrata o incrível o pavor que essa gente tem de dar passos à frente. É o que tem condenado a cidade à imobilidade, ao conservadorismo e à mesmice. E como este é um daqueles casos em que as imagens valem por mil palavras, encerro aqui este meu texto.

Mas não sem perguntar ao leitor e a leitora: não é a metáfora perfeita (ironicamente é um comercial de margarina)?


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Madiba já está fazendo falta

Nelson Mandela, PRESENTE!
POR FELIPE SILVEIRA

Vocês que dizem que a sociedade não é racista, vocês me dão nojo. Vocês fazem todo tipo de manobra pra fingir que não vêem e até mesmo se enganar que não há racismo. São patéticos. Querem a prova? Vou contar aqui um caso gravíssimo de racismo, ocorrido numa escola de ensino fundamental, em São Paulo, nessa semana. Se você achar uma desculpa pra dizer que isso não é racismo, você se encaixa naquele “vocês” da primeira frase.

A mãe do garoto Lucas, de 8 anos de idade, não conseguiu matricular o filho na escola na qual ele estudou esse ano, onde estão seus amigos e onde tem notas altíssimas (questão irrelevante, pois seria um absurdo mesmo que ele fosse o pior aluno do Brasil). Isso porque o garoto tem um cabelo black, que é bem da hora, por sinal, e a diretora, por causa do racismo, não gosta. A canalha mandou um bilhete para a mãe, pedindo para cortar o cabelo do menino, e quando ela se recusou, sofreu a retaliação na hora da matrícula.

A pergunta importante aqui é: quando essa diretora será presa por racismo, já que há a prova do crime? (Ah, a polícia já a chamou pra depor.) O problema é que casos como esses aparecem todos os dias, são denunciados e discutidos todos os dias, e um bando de safado finge que é normal e faz todo tipo de manobra pra achar uma desculpa.

O problema é que a gente vive numa sociedade que pensa como a senhora do vídeo abaixo (que me causa repulsa e pena), mas que precisa estar surtada pra falar essas coisas olhando para a câmera. “Veja:”



Nelson Mandela, o Madiba, a quem todas as homenagens serão poucas e insuficientes em comparação com a sua vida e seu legado, pregou o perdão (sem o esquecimento). Um perdão pra impedir uma matança e pra unificar a sociedade, brancos e negros, vivendo juntos, como iguais e irmãos. Mas para chegar ao ponto de perdoar precisamos superar o nosso apartheid, que é mais claro do que qualquer muro.

Minha homenagem a Nelson Mandela é lembrar disso aqui.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Jingle bells


A monotonia conservadora

POR CLÓVIS GRUNER

Foi um bom ano para a direita conservadora. Nos últimos meses, Reinaldo Azevedo passou a destilar seu ódio em coluna semanal na Folha de São Paulo, além de manter seu blog na Veja; esta, por sua vez, contratou de uma tacada só Rodrigo Constantino, Lobão e Felipe Moura Brasil. Na coluna de estreia do último, entre felicitações e elogios, alguns leitores iniciaram uma campanha para que a revista contrate também Olavo de Carvalho (em tempo: eu não sabia quem era Felipe Moura, mas o Google me informa que ele foi idealizador e organizador do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho, título tão megalomaníaco quanto o autor das nada minimalistas 616 páginas).

Fora da constelação Abril, outros nomes conservadores já assinavam colunas periódicas em títulos distintos: Luis Felipe Pondé e Demétrio Magnolli são colunistas também na Folha; o imortal Merval Pereira assina semanalmente coluna em O Globo; Pedro Bial apresenta anualmente o Big Brother Brasil, e assim por diante. Trata-se de um cardápio variado de nomes e trajetórias: há nele jornalistas, dois professores universitários, um economista, um roqueiro, um astrólogo e um mau caráter. Com tamanha diversidade, seria legitimo supor igual variedade de ideias. Não é o caso.

A ofensiva conservadora é monotemática: não importa quem ou onde escreve, os conteúdos orbitam em torno a alguns lugares comuns, a maioria deles de uma inatualidade de dar dó. Invariavelmente o roteiro é mais ou menos o mesmo: um texto conservador que não denuncia o perigo do gramscismo, por exemplo, não é digno do nome. Outro item obrigatório é insistir que vivemos em uma “ditadura cubana” ou, na melhor das hipóteses, muito próximos de nos tornarmos uma Venezuela, ainda que a esmagadora maioria desses autores não titubeie em tecer elogios a outras ditaduras, a brasileira e a chilena, por exemplo. Nem reclame da chinesa, desde que ela continue a lhes fornecer bugigangas. Além de Gramsci, Cuba e Venezuela, coisas e expressões como Foro de São Paulo, FARCs, patrulhamento politicamente correto ou petralha, entre outros, sempre agregam valor ao camarote.

Mesmo quem, pela trajetória intelectual, poderia imprimir um tom dissonante à monofonia conservadora, escolheu reproduzi-la. Leia um texto assinado por Pondé e Magnolli, dois acadêmicos com trajetórias respeitáveis, farta e variada publicação intelectual, estágios no exterior (provavelmente com bolsas pagas a soldo público; afinal, achincalhar o Estado e a universidade pública é uma coisa, mas recusar uma temporadazinha europeia com dinheiro da CAPES, aí já é vandalismo). O nome deles está lá, mas se os trocássemos pelos de Rodrigo Constantino, Lobão ou Olavo de Carvalho, não faria a menor diferença. Como a nivelação se fez por baixo, não apenas inexiste diferença significativa entre eles, mas impera o apelo fácil aos medos e ressentimentos de uma parcela das camadas médias que se sentem ameaçadas por esse “Isso” que os porta vozes do conservadorismo afirmam ser “a esquerda”.

SANHA PERSECUTÓRIA – O segundo aspecto nada tem de caricatural. A perseguição, o achincalhe, a desqualificação, a destruição de reputações, a calúnia, tornaram-se o desdobramento algo lógico de um estado de coisas onde sobra paranoia e falta bom senso, quando não simplesmente escrúpulo. O episódio mais recente é desta semana. Em seu blog, Rodrigo Constantino “denunciou” o caráter doutrinador da IV Jornada de História da Historiografia, que acontece na UFRGS. Com base apenas no cartaz, repetiu a ladainha de que o evento “sobre Che Guevara” era mais um exemplo da catequização marxista e esquerdista que grassa nas universidades brasileiras, notadamente nas chamadas ciências humanas. E vaticinou: “a imagem de um facínora assassino estampada em um evento sobre o uso político da história? O que os alunos vão aprender? Como transformar um assassino frio e sedento por sangue em um herói da justiça social?”.

A afirmação de Constantino seria uma estultice se a jornada tratasse de Che Guevara - um evento sobre o nazismo, por exemplo, não pretende ensinar os alunos a serem nazistas nem tecer o elogio a Hitler. Mas não é o caso. O evento aborda as muitas maneiras pelas quais o passado é permanentemente revisitado e, neste sentido, o cartaz é um primor de comunicação visual. A poucos rostos do século XX foram atribuídos tantos e tão distintos significados quanto o de Guevara: do revolucionário que inspirou a luta contra o “imperialismo ianque” até a sua “mcdonaldização”, suas muitas faces sintetizam o objetivo do evento, que não trata dele, não falará dele, não pretende fazer dele nem apologia nem elegia simplesmente porque... não é um evento sobre Che Guevara.

O caso de Constantino não é único. Há algumas semanas o site “Escola sem Partido” empreende verdadeira campanha difamatória contra uma professora paulista, campanha que encontra eco e repercute em outros blogs conservadores e nas redes sociais. Em comum nestas e em outras ocorrências, há a recusa ao debate, substituída pela sanha inquisitorial. Tenho algumas hipóteses para este gesto. Há a sedução midiática, primeiro. A maioria dos hoje alçados à condição de oráculo vivia há até pouco tempo em um relativo ostracismo. Rodrigo Constantino, por exemplo, escrevia artiguetes no Orkut onde defendia a privatização dos tubarões e era ridicularizado até por liberais de direita. Uma maior visibilidade conservadora é, sob certo ponto de vista, reação ao avanço de forças, movimentos, grupos, ideias, pautas e indivíduos à esquerda, cuja simples existência é lida como uma ameaça.

Em tempos onde o ressentimento e o ódio tornaram-se dois dos principais afetos políticos, não espanta que seja assim. O outro não é um adversário a ser confrontado, mas um inimigo a ser eliminado. A caracterização homogênea da esquerda, beirando ao caricatural e que recupera alguns conteúdos típicos da Guerra Fria é, neste sentido, bastante reveladora. Ela aponta, entre outras coisas, para a dificuldade dos conservadores de conviver em um ambiente democrático e de livre circulação de ideias. Não é coincidência que sua prática reproduz justamente aquilo que eles pretendem denunciar como comum à esquerda: a ira persecutória, entre outras coisas, coloca em risco a democracia ao fragilizar ainda mais um já frágil espaço público, porque não reconhece no outro nem legitimidade nem o direito de dizer e pensar diferentemente.

Há quem defenda a necessidade de uma direita conservadora afirmando que faz parte da democracia o confronto de ideias, o debate aberto e público. Concordo. Mas qualquer debate público deve ancorar-se em princípios que são os da razão e o do respeito ao outro. E há exemplos de sobra de que racionalidade e respeito não fazem parte da postura da maioria dos conservadores, que não raro recorrem à desqualificação, ao desrespeito, à agressão e à humilhação pública, quando não a mentira pura e simples, como estratégias de um debate que, sob estas bases, não pode existir, não existirá, porque efetivamente não é o que eles desejam.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Hora de celebrar?

POR JORDI CASTAN

Já estão as fanfarras de áulicos celebrando, a pleno pulmão, que foram entregues reformadas a Biblioteca Rolf Colin e a Casa da Cultura. É hora de parabenizar? Sim, mas nem tanto.

Na mesma semana a prefeitura informa que o restaurante popular, localizado no bairro Bucarein fechará para reformas, no mínimo durante meio ano. Dois temas chamam a atenção neste fechamento. O primeiro é que o restaurante foi inaugurado em abril de 2008, sendo portanto uma obra recente e não há informação do motivo de uma reforma que leve ao seu fechamento durante meio ano. O segundo é que seria importante - e contribuiria a melhorar a transparência sobre a gestão pública - divulgar o motivo para, em tão pouco tempo, já ser necessária uma reforma desta envergadura, pois o  fechamento durante tanto tempo deixa desatendidos os atuais usuários do restaurante popular. Desnecessário repetir aqui que o correto seria exigir responsabilidades ou aos autores do projeto ou aos executores da obra, caso fosse constatado que a reforma precoce é resultado de erros de projeto, de execução ou de fiscalização. Pela forma frouxa como são tratados os prazos no governo municipal, quem apostar numa reforma mais demorada tem muitas chances de ganhar.

A Biblioteca Rolf Colin foi interditada em 21 de setembro de 2010. É bom relembrar que pouco tempo antes tinha recebido uma ampla reforma e, daquela reforma, até agora ninguém foi responsabilizado e tudo ficou por isso mesmo. Joinville esteve com sua biblioteca interditada durante mais de três anos. Tempo demais para uma cidade que insiste em querer ser a segunda economia do sul do país.

A Casa da Cultura foi interditada em agosto de 2011 e ficou fechada durante mais de dois anos. As suas atividades ficaram comprometidas e os alunos foram afetados pelos cancelamentos de aulas, pela transferência de atividades para outros locais e tampouco, neste caso, pode-se dizer que a sociedade se mobilizou. A sensação é que Joinville convive com uma mania de grandeza ao tempo em que padece de um complexo de inferioridade. Ninguém mais se surpreende com prédios públicos interditados. Eles passam a fazer parte da nossa paisagem urbana e fica por isso mesmo.

A lista dos prédios públicos em estado precário ou interditados ainda é longa e alguns devem demorar em sair da interdição. E assim Joinville vai convivendo com essa realidade de ser uma rica cidade pobre. Mais pobre de espírito que de recursos, mas essa é outra historia.

Parabéns por devolver ao joinvilense duas importantes referências culturais. Agora para que as felicitações possam ser completas seria bom informar:  Qual é o cronograma de entrega dos outros prédios públicos interditados? Qual o programa permanente de manutenção e preservação do patrimônio público cultural e histórico de Joinville? Quais os recursos e quem são os responsáveis? Entre os bens públicos que já mostram sinais preocupantes de deterioração (e incompatíveis com a data da sua entrega a população) estão o Parque José de Alencar ( da Cidade) e o Parque das Águas, em que o mato e o abandono estão ganhando a batalha. Outro é a nova Rua das Palmeiras que já perdeu a cor e as flores dos primeiros meses e precisa de um olhar mais atento. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Festival de Bizarrices que Assola o País II


POR CLÓVIS GRUNER

Fiquei meio fora do ar a semana toda. Sem tempo até pra fuçar no Facebook, alimentei secretamente a esperança de, ao colocar de volta a cara na realidade – virtual ou não – seria gratamente presenteado com algumas boas notícias. Mas nada: o noticiário continua a produzir bizarrices em escala geométrica. Tantas que precisei de um bisturi para selecionar apenas as quatro que compõem o segundo volume do meu Febiapa – o Festival de Bizarrices que Assola o País.

DO DOMÍNIO DO FATO AO DOMÍNIO DO FRETE – Com um zelo surpreendente para uma imprensa e mídias que há até alguns dias pareciam dispostas a moralizar o país, ficamos sabendo do “helicóptero de carreira” de um deputado estadual de Minas Gerais, apreendido com inacreditáveis 400 quilos de coca. Não, você não leu errado nem eu me equivoquei: não eram 400 litros de Coca, a Cola, mas quase meia tonelada do mais puro pó, aquele que não levanta poeira. O deputado se chama Gustavo Perrella e pertence a um partido recentemente criado, o Solidariedade. Ele e o pai, o senador José Perrella (PDT), são aliados do governador e presidenciável Aécio Neves, do PSDB, o que talvez explique a solidariedade – com o perdão do trocadilho – dos meios de comunicação. O deputado tratou de responsabilizar rapidamente piloto e co-piloto, afirmando nada saber sobre a carga cheirável transportada em seu helicóptero.  Aliás, o combustível da eufórica viagem foi todinho pago pela Assembleia Legislativa de Minas. Bizarro.

DURA LEX, TUDO BEM; MAS SED LEX JÁ É VANDALISMO – Flagrado como responsável por um rombo de mais de meio bilhão de reais – estimativas falam de R$ 570 milhões, aproximadamente –, o PSDB decidiu se defender. E o fez acusando o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de manipular as investigações sobre a quadrilha que, sob o comando de tucanos de altíssima plumagem, passou os últimos anos superfaturando obras no metrô paulistano. E como o ministro teria manipulado o processo? Ora, enviando provas e demais documentos do caso à Polícia Federal. Isso mesmo. Para a alta cúpula tucana, o problema não é o superfaturamento, nem a propina paga aos políticos do PSDB ou os enormes prejuízos causados aos cofres públicos de São Paulo. O problema mesmo, de verdade, é que o Ministro da Justiça fez o que se espera de um Ministro da Justiça e encaminhou documentos e provas à PF, tudo com a clara intenção de prejudicar o PSDB e desviar a atenção para a prisão dos mensaleiros, óbvio. Não deu muito certo, porque os principais veículos de informação continuam a falar muito de Dirceu e Genoíno e muito pouco da corrupção em São Paulo, numa desproporção que seria intrigante não fosse tão reveladora. Em homenagem a FHC: très bizarre.

DIVERSIDADE, DESDE QUE BEM BRANQUINHA – Como quem manda na Copa é a FIFA, e o Brasil será sede do certame em 2014, andamos um tanto submissos aos caprichos da entidade. E eles são muitos. Nessa semana, os donos da bola decidiram que Lázaro Ramos e Camila Pitanga não era o casal apropriado para apresentar a cerimônia do sorteio da Copa do Mundo. Vetados, foram substituídos por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. Não se trata, claro, de racismo – afinal, não somos um país racista, nem tampouco a FIFA, não é mesmo? Tanto que Margareth Menezes e Olodum, entre outros artistas, se apresentarão na mesma cerimônia, tudo para mostrar ao mundo a diversidade étnica brasileira, segundo ainda a mesma FIFA. Trocando em miúdos: animar a plateia, tudo bem. Afinal, se temos anualmente o carnaval, não custa organizar um fora de hora para exportar via satélite nossa contagiante alegria. Mas ser mestre de cerimônia exige classe e postura, e o que pensariam plateias mundo afora ao serem confrontadas com a imagem improvável de dois negros apresentando uma cerimônia oficial? A lógica da FIFA parece ser a mesma dos comentadores anônimos de blogs: se mostramos ao mundo nossos negros e escondemos nossos talentos brancos, alguém vai pensar que somos racistas. Democracia racial se faz garantindo igualdade de oportunidades, diriam esses mesmos anônimos. Mas a responsabilidade não é da entidade maior do futebol se alguns são mais iguais que os outros. Bizarro, tudo muito bizarro: o veto e os anônimos.

“IDEOLOGIA-A, EU QUERO UMA PRA VIVER” – Quando o escreveu, Cazuza certamente não imaginou que seu verso ecoaria tanto e tão profundamente na direita conservadora brasileira. Fica difícil imaginar o que seria dela, hoje, sem ter uma ideologia para temer e ideólogos por toda parte para odiar. A bola da vez é a professora Cléo Tibiriçá, professora de Comunicação e Expressão na Fatec de Barueri . Ela virou objeto de bullying virtual levado a cabo por uma organização chamada “Escola sem partido”. A tal organização a acusou publicamente de colocar em prática um plano de ensino que objetiva criar “a maior aversão possível a tudo o que não se identifique com uma visão esquerdista ou progressista da sociedade, da cultura, da economia e da história”. Se não estivesse tão ocupado em entender como o gramscianismo adentrou o Vaticano, depois da declaração do Papa sobre a economia de mercado, Olavo de Carvalho certamente acusaria Cléo Tibiriçá de conspirar contra a Civilização Ocidental. O caso é apenas mais um em um elenco de aberrações produzido pela organização, que se diz neutra, mas trata professores como criminosos e alunos e pais como um bando de imbecis. Além disso, basta uma visita à sua página e a apregoada neutralidade cai por terra. Nela, pipocam artigos de viés de direita e conservador, assinados por um elenco de autores a quem se pode acusar de tudo, menos de não terem uma ideologia. Nada contra, há quem goste e se identifique com o estilo “I see red people”. Mas se a organização insiste em policiar e atacar a ideologia dos outros e disfarça a sua própria sob o manto de uma suposta e mentirosa neutralidade, a coisa é mais que bizarra. É desonesta.