sexta-feira, 16 de junho de 2017

Os órfãos do golpe viraram almas penadas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Vamos falar em almas penadas. Quem? É claro que estou a falar dos órfãos do golpe. Depois das revelações dos últimos tempos, quando os seus heróis foram caindo um a um, os caras andam mais perdidos que cego no meio de tiroteio. Uns se dizem surpreendidos. Outros se sentem traídos. E há também os que ainda estão em fase de negação. Dá uma peninha.

Uma disfunção cognitiva causa dificuldades para lidar com a realidade. Imaginem que muitos dizem ter sido apanhados de surpresa pelo envolvimento de Aécio Neves em falcatruas. “A culpa não é minha. Eu votei no Aécio”, diziam antes. Mas nos últimos dias o que tivemos foi um corre-corre às redes sociais para apagar elogios ou fotografias com o líder dos tucanos.

Ora, até uma pessoa que esteja a viver em Plutão já teria informações suficientes para saber que era a crônica de uma queda anunciada. “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”, disse Machado a Jucá. Quem não se lembra? E agora dizem que foram apanhados de surpresa? Aliás, não parece estranho que apenas depois de três décadas muita gente tenha descoberto que há corruptos no PSDB?

Ah... sou do tempo em que a corrupção era “monopólio” de outro partido. Lembram? Nada como um dia atrás do outro. Mas é aí que mora o perigo. Essas pobres alminhas andam a vagar perdidas e à procura de novos heróis. O problema é que o critério é pouco apertado e as opções não são muitas: basta antagonizar o PT para conquistar esses pobres coraçõezinhos. E assim só encontram heróis com pés de barro.

À falta de Aécio Neves e os outros golpistas do seu entorno, essas alminhas começam a se agarrar à raspa do tacho. Gente sem história, sem liderança, sem cultura. Talvez um dos exemplos mais divertidos seja o de Roberto Jefferson, condenado por corrupção, mas agora convertido em oráculo dessa gente. Enfim, dizem que são contra a corrupção mas são apenas contra um partido. Pensam que enganam quem?

Para que os leitores tenham uma noção exata do tema, temos uma coleta de posts de redes sociais que permite pintar o retrato dessas almas penadas. São contra o PT, mas também odeiam o PSOL. Defendem a obscurantista Escola sem Partido. Acreditam que Janaína Paschoal é uma heroína. Querem o fim dos sindicatos. Muitos estão numa onda anticientífica. E ainda há quem tenha a lata de defender Aécio Neves.

É a dança da chuva.

A ilustração a seguir é feita a partir dos retuítes dessa gente. Enfim, é um pitéu. Veja:

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Gestores, vereadores e empresários: Joinville ainda pode ser uma cidade próspera e sustentável.

POR RAQUEL MIGLIORINI
Basta uma breve caminhada pelo Centro de Joinville para constatarmos uma triste realidade: lojas fechadas, prédios históricos abandonados, calçadas estragadas, patrimônio degradado.

O abandono aumenta a criminalidades, desvaloriza imóveis e desperdiça todo equipamento público daquela região. A revitalização e reurbanização das áreas centrais não deixa a cidade somente mais bonita. Resgata a economia, a história, o orgulho e a gratidão dos moradores.

Temos muitos exemplos mundo afora e alguns aqui no Brasil que mostram como os investimentos retornam em curto prazo. Desnecessário dizer que, quanto mais tempo demora, mais caro fica.

Em tempos de aprovação da LOT (Lei de Ordenamento Territorial) e algumas revisões desta, cabe perguntarmos por que tantas pessoas defendem a expansão urbana  e, ainda, por que novos loteamentos não investem em equipamentos que melhorem  a qualidade de vida dos moradores.

Tratar da revitalização de áreas antigas e da criação de novos loteamentos parecem assuntos distintos mas não são. Vou usar como exemplo um novo loteamento no Bairro Vila Nova. Passando pelas ruas principais, observamos áreas enormes com ruas asfaltadas, rede coletora de esgoto e...só. Como a forma de pensar a cidade é mais tradicional que caixa de maisena, nem se cogita o uso de asfalto ecológico, ou de borracha, usado há mais de 40 anos nos Estados Unidos e feito com pneus velhos. A fiação não é subterrânea, o que, além de feio, impede uma arborização bem feita nas calçadas. Praças e áreas verdes?? Nem pensar. Embora a legislação seja clara nesse quesito, o que vemos é um terreninho abandonado, sem a mínima condição de uso.

A ONU-Habitat considera que uma cidade bem planejada tem a proporção 1:1 em áreas construídas e espaços públicos com áreas verdes. Essa equação é simplesmente desprezada em lugares onde a especulação imobiliária e o lucro de alguns esmaga qualquer possibilidade de vida digna.

Ao permitirmos que a cidade se degrade do Centro para os Bairros e vice-versa, tornamos  o processo de revitalização complexo e caro. A urbanização bem feita cobre qualquer custo do processo, gera empregos, tributos e novos investimentos. Bons investidores não olham para cidades que não apresentam um futuro sustentável e próspero. A forma como empresários têm olhado para Joinville é como quem enxerga apenas um Eldorado a ser explorado até o fim.

Cabe aos bons gestores, vereadores e cidadãos responsáveis, que devem se fazer  presentes nos Conselhos Municipais, mudarem essa situação.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Semana do Cuca é um ideia de xênio!

POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten Morgen, minha povo.

Oxe tem cuca com banana na frühstück. É dia de comemorrar mais esta grande iniciativa da nossa querrida prefeito: o Semana Municipal da Cuca. E teve até assinaturra oficial, com direito a fotografia e tudo. Agorra foceis, minhas leitorres (todas as três), já têm uma compromisso a partir da primeirro final de semana da mês de Xunho. Wer zuerst kommt, der mahlt zuerst.

Fiquei muita feliz. Porque o cuca é o símbolo do nossa tradiçón cultural. Eu disse "nossa". Ou seja, tradição do povo de pele clarrinha, olhos assuis e muitos consoantes na sobrenome. Até acho que não devia chamar “cuca”, porque parrece coisa daquela xente de pele mais escurrinha. Ficava melhor se fosse a Semana do Streuselkuchen, como chama lá no Alemanha.

É um acontecimento parra levar a sérrio. Tenham uma bom apetite. Lass es euch schmecken! Por falar nisso, a nossa querrida prefeito mostrou que tem apetite pelo modernidade. E pelo inovaçón. Xenial. Quem terria pensado numa coisa tão brilhante como o Semana da Cuca? Xente, fico aqui a imaxinar o tantón de turrista que vai aparecer em Xoinville só por causa disso.

Esdou tón feliz que tamém querro entrar na onda. Fou parra o cossinha e criar uma tipo de cuca inspirrada na nossa querrida prefeito: o cuca Ruas de Xoinville. É igual aos outros cucas, só que está cheio de burracos. Tem mais burracos que massa. Igualzinho os ruas da citade. Aposto que vai fazer muita sucesso, porque a pessoal já acostumou e nón fai se importar com uma burraco no estômago.

Mas tem uns kommunisten que nunca estão satisfeitos e já começarram a chatear a nossa querida prefeito. "Nón querrenos semana de cuca, querremos saber de culturra e turrismo", ficam a repetir. Suas kommunisten ingratos. Acha mesmo que algum xestor vai querrer investir em culturra e turrismo quando tem cuca? Ah ah ah! Abwarten und Tee trinken. Esperre e beba um chá. Porque que nón vai acontecer.

Guten appetit.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Barulho, muito barulho. E os legisladores surdos para os joinvilenses...
















POR JORDI CASTAN
Vem barulho por aí. Muito barulho.  O IPPUJ não apresentou estudos técnicos consistentes, o Conselho da Cidade não os solicitou e a Justiça negou sistematicamente o direito dos joinvilenses a terem acesso as informações que permitissem uma análise completa dos impactos que a LOT teria sobre a vida das pessoas.

A Câmara de Vereadores ignorou a falta de estudos. Se bem que olhando o nível dos debates e a capacidade intelectual da maioria dos vereadores, teria sido inútil apresentar estudos, porque que teriam sido incompreensíveis para os nossos legisladores. Pior ainda, como não são cientes da sua própria ignorância, seguem votando leis absurdas de impacto terrível sobre a vida desta e das futuras gerações. E, ainda por cima, ignorando os alertas que o quadro de técnicos da Câmara tem feito, recomendando não aprovar ou, no mínimo, avaliar melhor o que estariam votando.

O novo episódio da LOT tem a ver com o barulho. Ou melhor, com o aumento do barulho que a lei 65/2017, aprovada pelos vereadores, vai representar em praticamente toda a cidade. A aprovação desta lei, que o prefeito sancionou, e que atende aos interesses dos especuladores imobiliários mancomunados com os empresários (entre os quais o prefeito transita com tanta facilidade) está explícita a perda brutal de qualidade de vida que a implantação das chamadas Faixas Viárias traz para todos.



Pior ainda. O que está sendo tramado é um crime ambiental, porque o ruído compromete a qualidade de vida das pessoas. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde), da qual o Brasil participa, estabelece critérios e princípios para medir o impacto que o barulho tem na saúde das pessoas. 





Em Joinville às recomendações da OMS são primeiro ignoradas, depois burladas e finalmente desrespeitadas. E até leis são aprovadas a revelia das recomendações da OMS. Não só a OMS é desprezada, também a resolução do CONAMA 001/90 é ignorada.



A resolução do CONAMA estabelece que os ruídos produzidos quando a localização não poderão ultrapassar os níveis estabelecidos na NBR 10.152.

Para facilitar a compreensão ,anexamos as tabelas da OMS, as Normas técnicas brasileiras (NBRs) que deixaram de valer para Joinville para atender os interesses especulativos e dar ampla cobertura a cobiça e a ganância desenfreada. Assim evitamos cair nos achismos e apresentamos dados técnicos concretos. Aumentar de 50 decibéis para os 65 propostos comprovadamente ocasiona danos a saúde das pessoas.



Outra norma que a legislação municipal se propõe ignorar. Esta ignorância do bom senso, das normas técnicas e de a legislação federal não é novidade em Joinville. A LOT já reduziu os índices de insolação para residências e com isso comprometeu a saúde de todos. Agora a lei 65/2017 vai mais fundo e permite que tenhamos que conviver com índices de ruído insalubres. Não deveríamos ficar surpreendidos se o próximo projeto de lei que tramite na Câmara Municipal proponha que o sol saia todas as manhãs pelo sul e se ponha pelo leste.
Há outro aspecto ainda mais perverso em todo o processo da aprovação da lei 65/2017: o silencio sepulcral com que o tema tem sido tratado. Há o que se poderia denominar um modus operandi na insistência do Executivo de não escutar a população. Quando a lei obriga a debater com a sociedade, a fazer audiências públicas, a dar transparência e visibilidade a gestão pública e isso não é feito, há elementos que caracterizam a improbidade administrativa.

No caso de Joinville estas são características permanentes da gestão municipal, típicas do gestor autoritário, que ignora o que é melhor para a maioria dos joinvilenses e atende os interesses de uma minoria. Minoria identificada claramente com os próprios interesses do gestor.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Uma nova forma de consumir informação


ISABELLA MAYER DE MOURA* - Conecdados
A Pesquisa Brasileira de Mídia, realizada anualmente pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal, mostrou que em um período de apenas dois anos, entre 2014 e 2016, os celulares se tornaram o principal meio de acesso à internet entre os brasileiros e que o tempo médio que as pessoas ficam conectadas aumentou de 3h39min para 4h42min por dia. Uma grande mudança, considerando o curto espaço de tempo.

Isto mostra o quanto a internet vem mudando os nossos hábitos, inclusive a forma como consumimos notícias e como as produzimos. O Conecdados, que reúne os jornalistas Isabella Mayer de Moura (ex-repórter de economia do ND), Vandré Kramer (ex-editor de economia do AN e do ND e ex-chefe de reportagem do ND) e a webdesigner e social media Raquel Nienow (ex-Diário da Manhã de Carazinho), pegou carona nesta transformação e hoje produz conteúdo local para Joinville, focado nas áreas de política e economia, usando técnicas do jornalismo de dados, que envolve raspagem e mineração, análise e visualização de dados.

Há cinco anos, seria impossível imaginar que uma iniciativa como a nossa teria viabilidade. Primeiro, porque o Brasil só implementou a Lei de Acesso à Informação em maio de 2012. Antes dela a divulgação dos dados públicos era exceção, agora é regra. Segundo, porque as ferramentas de manipulação de dados só eram utilizadas por profissionais de áreas bem específicas, como programadores e cientistas de dados.

Felizmente, a tecnologia permitiu a criação de ferramentas poderosas com interfaces intuitivas e a internet propagou o conhecimento para que os jornalistas aprendessem a utilizá-las. Aqui no Conecdados, por exemplo, a gente faz uso indiscriminado do Webscraper para catar dados na internet, criamos nossos gráficos com o Tableau Public, analisamos e filtramos planilhas com SQL. E continuamos correndo atrás para aprender novas técnicas do jornalismo de dados. Nestes tempos em que o cenário muda em questão de dois anos, ficar parado ou conformado com o que já sabe é assinar o atestado de óbito da própria carreira.

Nós, do Conecdados, ainda estamos dando os primeiros passos, mas sabemos que nossas raízes estão fincadas no jornalismo digital. A internet é nossa casa, é nosso meio de comunicação entre equipe e com os leitores, é nossa ferramenta de trabalho e de aprendizado. O nosso grande desafio é provar que também é possível fazer jornalismo de dados longe dos grandes centros do país.

* Isabella Mayer de Moura é jornalista e idealizadora do jornal online Conecdados.

O desafio de reinventar o jornalismo


POR VANDRÉ KRAMER* - Conecdados
Nós, jornalistas, estamos passando por um profundo processo de transformação. O mais violento da história. Ao mesmo tempo que enfrentamos a mais grave crise econômica de nossa história, passamos por uma crise existencial: o modelo tradicional de consumir informação está mudando drasticamente com a difusão e o barateamento de novas tecnologias. Com isso, o modo de produção também.

Isto se reflete na forma de fazer jornalismo em e para Joinville. Os meios tradicionais estão perdendo o vigor. O ND Joinville fechou as portas, a estrutura do AN está enxuta e a RBS reduziu sua grade de produção local. Por outro lado, novas e promissoras iniciativas digitais estão surgindo. E muitos de nós estamos fazendo parte desse momento, saltando do impresso para o digital.

Ao nosso favor está a transformação da sociedade, cada vez mais plugada na internet. A Pesquisa Brasileira de Mídia, realizada pelo Governo Federal, apontava que, em 2014, 26% das pessoas usava diariamente a internet. No ano passado, esse percentual saltou para 50%. E para 49% delas, a rede mundial de computadores é uma importante fonte de acesso à informação.

A própria forma de consumir informação pela web está mudando. Laptops e desktops estão perdendo muita força para os smartphones. 91% dos pesquisados em 2016 acessavam a internet pelo celular.

Outra vantagem que temos é o barateamento do custo de difundir a informação. Antes precisávamos, por exemplo, de pesadas rotativas e uma grande estrutura logística. Hoje, com um smartphone, um computador e o acesso à internet podemos fazer jornalismo de qualidade.

Este novo mundo que estamos desbravando nos impõe dois desafios: aumentar nossa credibilidade perante a sociedade e gerarmos renda a partir dos nossos empreendimentos digitais.

Conquistar a confiança do leitor é desafiador: o barateamento da tecnologia de informação permitiu o surgimento de blogs e sites, muitos deles de qualidade duvidosa. Isto contribuiu, para que a credibilidade da sociedade na imprensa enquanto instituição caísse de 43%, em 2015, para 37%, em 2016, segundo a FGV. A das redes sociais passou de 42% para 23%.

A confiança não se constrói do dia para a noite. Diante de tanta fake news e tanta desinformação, exige um trabalho árduo, pautado pela ética, honestidade e transparência. Requer pensar em enfoques diferenciados e múltiplas abordagens para um público, que assim como nós, está se transformando. Só assim cumpriremos a missão de informar bem e com qualidade. E que espaço precioso temos: uma cidade com quase 600 mil habitantes e que é uma das maiores do Sul do País.
Ter credibilidade vai nos ajudar em outro desafio: romper com o estigma de que toda informação é uma commodity. Informação diferenciada é informação de valor. Só assim conseguiremos fazer que nossas iniciativas deem retorno financeiro. Afinal de contas, todos nós queremos, pelo menos, pagar as contas ao final do mês.

* Vandré Kramer é jornalista e um dos criadores do jornal online Conecdados.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Vamos encarar?


POR ALBERTINA CAMILO* - Fazer Aqui
As mudanças costumam causar um certo desconforto, no mínimo, e chegam a amedrontar, atingindo o estágio do medo, que paralisa. É neste nível que está um grande número de jornalistas hoje, diante da revolução sem precedentes provocada pela mídia online – nem dá para comparar com os anos 1990, quando os computadores invadiram as redações e aposentaram as máquinas de datilografia. 

Jornais impressos que pareciam inabaláveis fecham em todo o mundo. Mais e mais jornalistas se veem longe do emprego “tradicional”, tentando entender o que está acontecendo e sem saber o que vem por aí. Mas um bom número de profissionais já decodificou o recado: não há futuro possível fora do online. O problema (prefiro pensar em desafio) é saber como transformar as inúmeras possibilidades em ganhos financeiros.

É algo novo em todos os sentidos. Jornalista tem a fama (justa, aliás) de não saber “vender”. Era tão fácil ter o salário depositado pelo empregador todo mês, não é? Como enfrentar uma forma tão diferente de produzir conteúdo e, ao mesmo tempo, fazer com que renda financeiramente?

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Ou ficamos no passado, em lamúrias do tipo “era bom e eu não sabia”, vendo as novas oportunidades passarem, ou encaramos nossas inseguranças e aprendemos os segredos e truques dessa revolução jornalística (lendo, pesquisando, perguntando, conversando muito, se unindo, criando). Eu estou encarando e chamando outros a fazerem o mesmo.

A aventura do jornalismo vai continuar, não importa o formato.

* Albertina Camilo é jornalista com passagens pelos jornais A Notícia e Notícias do Dia, de Joinville. É idealizadora do recém-lançado portal online Fazer Aquique reúne produção colaborativa de jornalistas e outros profissionais. O próximo desafio é monetizar o espaço e fazer todos ganharem.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Não faltam pautas nem leitores



POR JULIANE GUERREIRO* - Paralelo Jornalismo
Embora tenha perdido um de seus jornais diários há pouco tempo e assistido à demissão de diversos profissionais de impresso e televisão, não é por falta de pauta que o jornalismo de Joinville tem enfrentado dificuldades.

É verdade que o modo pelo qual as pessoas consomem as notícias tem mudado, e que quem não se adaptar a essas mudanças e às preferências do consumidor pode sentir o revés, mas os joinvilenses continuam buscando informações e precisam de um jornalismo confiável (se é que aquele que não é pode ser chamado de jornalismo). Por isso, cada vez que se recebe a notícia de que um veículo fecha as portas, por mais criticada que possa ser a sua atuação, perde-se um espaço de debate. Foi assim com o jornal "Notícias do Dia", fechado no último dia do ano passado com a justificativa de que seu rendimento não era bom o bastante para os negócios do grupo.

Se nos grandes conglomerados o problema é o dinheiro, para quem dá os primeiros passos no jornalismo independente, aquele sem o apoio de grandes grupos de mídia ou patrocínio, não poderia ser diferente. Novas iniciativas jornalísticas, cada uma com sua característica, têm surgido em Joinville para ocupar o espaço vago de veículos que fecharam as portas – e mesmo que isso não houvesse acontecido, ainda assim haveria espaço, principalmente porque faltava ao jornalismo joinvilense vozes e tons diferentes daqueles que sempre tivemos. São veículos que unem a vontade de fazer jornalismo à necessidade dos profissionais que, dificilmente, encontram emprego nas poucas empresas do segmento na cidade, que acaba de receber mais um curso de Jornalismo.

O problema é que, sem apoio financeiro, é difícil, quase improvável, que esse conteúdo chegue aos leitores e telespectadores dos grandes grupos, e esse parece ser o grande desafio do jornalismo independente em Joinville. Diferente de outros lugares, o público ainda não está acostumado a pagar por notícias, principalmente de veículos ainda não consolidados, com pouca equipe, equipamento e recursos. Por isso, o presente do jornalismo em Joinville, assim como em outros lugares, exige o reconhecimento e apoio a iniciativas que acreditam neste serviço pelo potencial transformador que ele tem – o que também vai exigir esforços para além do jornalismo. Em resumo, não faltam pautas nem leitores, falta reconhecer e valorizar o jornalismo feito com responsabilidade.

O surgimento de novos projetos parece ser motivo para uma reflexão sobre o jornalismo em Joinville.

*Juliane Guerreiro é jornalista e editora do jornal online Paralelo Jornalismo.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Veículos independentes precisam ocupar espaço



POR ALEXANDRE PERGER* - O Mirante
Joinville é uma cidade que, se já não chegou a isso, beira os 600 mil habitantes. Conta com intensa e pulverizada atividade econômica, esportiva, social, cultural e política. E não estou a falar de um ponto de vista megalomaníaco, daqueles que destaca a pujança dessa terra. Longe disso. O ponto aqui é que estamos falando de algo simples: muita coisa acontece por aqui. Todas essas áreas que citamos produzem, diariamente, fatos relevantes e histórias que merecem ser contadas.

Os 600 mil habitantes não formam uma massa homogênea e compacta, que muitas vezes querem fazer parecer. Há por essas bandas, sim, como em todas as outras, uma enorme pluralidade de vozes, pensamentos e visões de sociedade. E todas essas diferenças podem e devem dialogar (destaque para o diálogo) na construção de uma cidade melhor, mais justa, humana e igual.

Mas como poderemos jogar luz em todos esses fatos e ajudar a promover os debates necessários sem espaço para isso? O jornalismo joinvilense sofreu duros golpes recentemente: fechamento do ND, encolhimento do AN e redução de espaço na grade da RBS. Por um lado, isso é péssimo. Por outro, no entanto, surge aí a oportunidade para criar novas alternativas, sem vícios e dispostas a produzirem conteúdo de qualidade, ético e comprometido com a transformação social. 

Nesse sentido, veículos independentes se apresentam como possibilidades de ocupação desse espaço. Alguns já surgiram e tomara que outros apareçam. Precisamos de lugar para abrigar todas as Joinvilles.

*Alexandre Perger é jornalista e editor do jornal online O Mirante.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Jornalismo digital: o futuro chegou a Joinville



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO* - Chuva Ácida
Online first. Foi na década passada que esse conceito passou a ser imperativo nas redações. Em tempos de internet, não faz sentido guardar um furo de reportagem para as edições regulares (em especial no caso dos meios impressos) porque outros podem publicar antes. A velocidade é determinante, manda quem publica primeiro. Mas essa lógica tem efeitos colaterais, porque fez surgir um jornalismo mais preocupado com a rapidez do que com a qualidade.

Os tempos do double check, garantia para a validação de uma notícia, foram atropelados e a qualidade desabou. A velocidade sem controle pode gerar desastres. E foi o que aconteceu. O surgimento de fenômenos como a pós-verdade ou as fake news não é obra do acaso. Mas, por sorte, as coisas estão a mudar. Tanto que hoje surgiu uma corrente relevante, a do slow journalism, que aposta na qualidade dos conteúdos.


Era fatal que o jornalismo online também chegasse a Joinville, uma cidade onde o conservadorismo ainda faz ninho. Quando surgiu, em 2011, o Chuva Ácida era a expressão de um movimento inevitável rumo ao digital. Mas a função do blog foi sempre a de fazer opinião. Em exclusivo. E muita gente perguntou por que o Chuva Ácida não começava a fazer jornalismo. Não é a nossa praia.


E era apenas uma questão de saber esperar. Outros ocupariam esse lugar de forma mais competente. Hoje, mesmo que a passar por uma fase de noviciado na dinâmica do digital, o jornalismo online é uma realidade em Joinville. Há jornalistas a empreender e a criar projetos importantes para a comunicação social da cidade. É gente que aposta no bom jornalismo e na qualidade da informação.

O jornalismo online é o tema que o Chuva Ácida traz esta semana. Um texto por dia e na primeira pessoa, a trazer o ponto de vista dos jornalistas que, com diferentes abordagens, se lançaram no desafio de trazer esta nova linguagem para Joinville. Hoje os leitores têm várias opções consistentes, como “O Mirante”, “Paralelo”, “FazerAqui” ou o “Conecdados”. É um momento relevante e que merece estar em destaque.

O jornalismo do futuro chegou a Joinville. Agora. E o Chuva Ácida lança a análise. Boas leituras.

* José António Baço é um dos criadores do Chuva Ácida, lançado em 2011 como alternativa ao jornalismo de opinião dos meios tradicionais em Joinville.