quinta-feira, 20 de outubro de 2016

"Fuja, Lula, fuja". Mas ele não foge...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Desde a sexta-feira passada circula a informação da iminente prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não é um fato de somenos. Se vier a acontecer, as consequências são imprevisíveis e nenhuma delas tem como contribuir para a estabilidade no país. Uma pergunta circula: a anunciada prisão teria base legal? Parece que não. E isso viria escancarar de vez a morte do estado de direito no Brasil. É a última pá de cal sobre a insipiente democracia brasileira.

Pessoas ligadas ao ex-presidente dizem que, mesmo tendo a liberdade em risco, ele se recusa a abandonar o Brasil. A principal razão é óbvia: um exílio prejudicaria a sua defesa, resultaria em perda de credibilidade e também contribuiria para enfraquecer o já combalido Partido dos Trabalhadores. E não podemos esquecer que obrigaria a abrir mão de concorrer à presidência em 2018. As mesmas pessoas dizem que, caso venha a ser preso, Lula pretende empreender o seu combate político a partir do cárcere.

Há o outro lado. Corre entre partidários do ex-presidente a tese de que ele deve pedir asilo político ou abrigar-se em alguma embaixada. Seria uma situação limite. Eis a questão: o que você, leitor ou leitora, faria se estivesse na pele de Lula, correndo o risco de ir para a prisão de forma arbitrária? Eu diria: “fuja, Lula, fuja”. Por quê? Porque é impossível contar com a Justiça num país onde o estado de direito tem sido atropelado repetidas vezes, sem qualquer reação dos poderes, da imprensa ou da sociedade. 

Enfim, se estivesse no lugar de Lula dava um jeito de ir viver em outro país. Há impedimentos éticos e morais a considerar porque, como diz o povo, “quem não deve não teme”. Mas isso só se aplica a estados de direito e há tempos o Brasil abandonou essa condição. A presunção de inocência foi substituída por uma (i)lógica perversa: primeiro escolhe o “criminoso”, depois tenta saber qual é o crime. Lula vai ficar, claro. Mas a que preço?

A velha imprensa não disfarça a opção pelos torcionários. E está à espera de um espetáculo que permita obter audiências. Não vamos esquecer que o juiz Sérgio Moro é um homem tocado pela vaidade. E os ególatras adoram show off. A prisão seria televisionada. Haveria uma profusão de imagens. Lula algemado é um pitéu pelo qual a velha comunicação social saliva há muito. Tudo para gáudio de uma plateia de neanderthals políticos que babam na gravata... e nas redes sociais.

É arbitrário? Claro.  O que pode resultar daí? A patuleia conservadora, tonta pelo ódio de classe, vai comemorar. Mas entre os apoiadores do ex-presidente há quem fale em sair às ruas em reação. É aí que mora o perigo. Ninguém sabe o que pode acontecer. Aliás, é apenas isso o que impede a direita e os seus áulicos togados de darem esse passo: a prisão de Lula pode gerar um furdunço danado. Quem arrisca?

O Brasil virou uma babel jurídica, moral e ética. Para uns há a condução coercitiva, para outros endereços nunca encontrados. As “convicções” substituem as provas. Arbitrariedades cometidas de “boa-fé” têm valor de lei. Juízes instituem as penas mesmo antes do julgamento. Sob o manto da delação, corruptos viram heróis das massas ignaras. O linchamento midiático vem antes dos processos.

A inquisição promovida por Moro e a sua camarilha não deixa espaço para a racionalidade. Não se deseja justiça, mas vingança. De qualquer forma, ninguém duvida que Lula vai enfrentar a situação de peito aberto, porque tem uma história por zelar. Mas todos devem temer pela vitória da irracionalidade e as suas consequências. Porque a morte do estado de direito é a ditadura a mostrar a sua cara. 

É a dança da chuva.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A quem interessa?













POR RAQUEL MIGLIORINI

Como é inerente à minha profissão e formação, não consigo ver nada desconectado. A Terra é um lindo emaranhado de espécies que se relacionam entre si e com o ambiente, formado os Ecossistemas. E quando começo a falar nisso as pessoas se levantam, mudam de assunto e pensam “lá vem aula”. Não se preocupem, não vem aula. Só a pergunta: como pode esse assunto ser tratado de forma secundária, como se nossas vidas não dependessem do perfeito funcionamento natural?

Nesse clima pré-eleição municipal, os jornais da cidade nos colocaram a par das principais propostas dos 2 candidatos ao Executivo e parece que a preocupação deles com a  área ambiental não é mesmo o forte. Nos planos completos, vemos mesmices e mais mesmices. Não há nenhuma citação sobre como colocarão as propostas em prática, deixando claro que estão lá para mera figuração.

Darci de Matos fala sobre esgoto, tratamento de água, despoluição do Cachoeira, efluentes industriais. Parece desconhecer totalmente o que acontece na cidade nos últimos anos. Poderia se informar sobre o TAC ( termo de ajustamento de conduta) que a prefeitura fez com o Ministério Público para despoluir a Bacia do Cachoeira. Aliás, desconhece o conceito de Bacia Hidrográfica e, como representante do Governador, deveria se preocupar em implantar a Outorga Onerosa em Santa Catarina, que fortaleceria os Comitês de Bacias Hidrográficas e estancaria essa farra das empresas em retirar água de qualidade  e gratuita dos nosso rios.

Darci  propõe diminuir as perdas na distribuição de água pela cidade. Louvável. Mas antes teria que impedir a destruição das matas ciliares no Piraí e nas margens do Rio Cubatão, assim como impedir as invasões e loteamentos clandestinos na APA Serra Dona Francisca. E, claro, implantar de forma efetiva o tratamento dos efluentes domésticos em toda área rural.

Ainda, o candidato do PDS quer criar unidades de conservação urbanas e rurais. Por que?? Mal o município dá conta de cuidar das que já existem. Falta implementar as ações dos planos de manejo em algumas e realizar o plano em outras. Fiscalização e Educação Ambiental passam longe.

Udo Döhler  tem um programa relativamente bom para o papel. Fica difícil acreditar, pois não realizou ações básicas em 4 anos e ainda sucateou toda a fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA). Posso citar o exemplo de Vitória/ES, que conseguiu impedir ocupações irregulares em manguezais, Morros e Unidades de Conservação investindo em fiscalização e educação. Receita simples e eficiente, mas desprezada por quem diz entender de gestão.

Para o jornal, o candidato Udo diz que implantará uma  Unidade Móvel de Castração de Animais. Proposta oportunista que não constava no plano protocolado para a candidatura. De olho nos quase 8000 votos que duas vereadoras eleitas e da causa animal receberam, veio com essa saída. Se estudasse um pouco, saberia que esse tipo de Unidade só é possível em cidades que possuem curso de Medicina Veterinária. É uma normativa do CRMV. Estava em estudo uma parceria com IFSC/Araquari e o prefeito sabia disso. Por que não implantou antes? Aliás, se é tão preocupado com esse tema, por que demorou tanto para realizar o credenciamento das clínicas para as castrações, desperdiçando todo recurso financeiro e humano empregado no processo anterior?

No mais, nem a jardinagem que ficou a cargo da SEMA está sendo executada. O foco ambiental do candidato Udo é apenas o licenciamento ambiental. Claro que não é visando a preservação ambiental.

Afinal, quem quer saber desse assunto?

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Lá do andar de cima, Freitag manda recados para Udo e Darci

POR JORDI CASTAN



Liebe Udo, eu não insistiria tanto na limpeza das mãos. Já lhe disse antes que se precisa falar tanto da higiene das suas mãos boa coisa não deve ser. Na minha época de prefeito nunca precisei dizer que era honesto o joinvilense sabia. Na política, como no dia a dia, não é preciso dizer aquilo que todos sabem. Vou lhe dizer mais: não precisei gastar toda essa babilônia que você tem gastado em publicidade e propaganda. Aliás, se Goebels visse ia dizer que há poucos tão aplicados como você neste tema da propaganda.

Eu até acredito que você vai ganhar no segundo turno, menos pelos seus méritos e mais porque o outro candidato não tem fôlego para chegar. Mas numa conversa com o Nilson, o Balthazar e o Helmut, concordamos que não se fazem prefeitos como antigamente. O Balthazar, inclusive, chegou a fazer uma piada e disse entre gargalhadas que ser alemão já não é garantia.

É bom lembrar que ter criado a Consul e a Embraco não é a mesma coisa que ter dirigido a Dohler. Ainda bem que agora ninguém mais diz que você é outro Freitag. Sabe muito bem que Freitag só teve um e a melhor prova é ser lembrado com saudade e citado como um dos melhores prefeitos que Joinville já teve. E isso depois de 30 anos. Acho que você terá sorte se o eleitor esquece rápido tudo o que você deixou de fazer. Eu prometi pouco e fiz muito, você preferiu prometer muito e fazer pouco, são duas formas de ser e de fazer.

Estou com saudade daqueles marrecos recheados, aqui os que temos não tem o mesmo gosto e a cerveja tem mais gosto de milho que de cevada.


Darci... quanto tempo desde que você era técnico agrícola na Fundação. Que longo caminho percorreu. Nunca duvidei da sua ambição, mas não imaginei naquela época que você chegaria tão longe. Ainda que nos últimos anos, escutei alguns colegas daquela época, comentar, não sem uma certa inveja o muito que você tinha progredido. Sabe que este é um mundo pequeno e tudo se sabe.

Sobrou muito pouco do Darci que conheci naquela época. Não sei se hoje o reconheceria se cruzássemos na rua. Daqui onde estou hoje escuto muitas coisas que me custam de acreditar. Pode até ter muito exagero e maledicência, mas você sabe muito bem que quando o rio faz tanto barulho é porque traz pedras. Dos seus colegas daquela época, acredito que nenhum chegou tão longe e soube multiplicar seu patrimônio, como você.

Até estava pensando sugerir ao Udo que, caso ele ganhe, o nomeie para a Secretaria da Fazenda. Vai que com essa capacidade ele deixa de reclamar da falta de dinheiro e começa a fazer coisas. O Helmut sugeriu que se o resultado fosse diferente e você ganhasse, deveria lhe sugerir que nomeasse o Udo para Secretario de Gestão, ainda que o que ele deve preferir seria o cargo de comandante da Guarda Municipal. Seria bom para a sua biografia se acabasse alguma das coisas que começou e não acabaria sua vida pública de uma maneira tão melancólica. 

Fizemos um bolão sobre quem ganharia o segundo turno e se as pesquisas se confirmarem ninguém vai ganhar muito, mas quem vai perder mesmo é Joinville que corre o risco de ficar outros quatro anos estagnada. O Nilson disse que Joinville vai avançar para trás. Como você ainda é jovem terá outras oportunidades de ser candidato, a nossa dúvida é se Joinville vai aguentar até lá. O Balthazar desde sua sabedoria perguntou que fez Joinville de tão ruim para merecer tanto azar. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O Brasil avança firme para o século 20: rico é rico, pobre é pobre
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Faz pouco mais de 20 anos que saí do Brasil. Lembro que, naquele altura, o país vivia uma espécie de apartheid social. Ricos para um lado, pobres para outro. Quem me conhece sabe que sempre uso o exemplo do “elevador de serviço” e “elevador social” como metáfora daqueles tempos. É uma forma de duzer que não havia misturas, porque cada um sabia o seu papel na sociedade. Fico aqui a lembrar como era o fim do século 20.
-       Imaginem que naquele tempo as universidades eram coisa só para gente rica. Eu próprio só fui para a universidade porque o meu pai tinha alguns recursos, ainda que parcos. Quando era calouro na Faculdade de Engenharia de Joinville, a minha turma era toda de gente de classe média (para cima) e só tinha um cara que a gente podia chamar de “pobre”. É claro que o coitado não sentou nas cadeiras da faculdade por muito tempo, porque a faculdade era em período integral e ele tinha que trabalhar.
-       A saúde também era diferente. Quem dependesse dos serviços públicos estava palpos de aranha. Não havia um modelo como o atual SUS, que tem os seus defeitos mais vai atendendo. O antigo INPS não oferecia dignidade e era um recurso usado apenas pelos pobres. O pessoal com grana tinha planos de saúde privados ou apenas dinheiro para se defender nas emergências. Tem uma coisa que os mais novos nem sonham: o SAMU era uma miragem. Não existia.
-       A política era dominada pela plutocracia, que se confundia com os oligarcas e os seus acólitos. Ou seja, os donos do poder enquistavam os seus títeres nas estruturas de poder (Legislativo e Executivo) com o objetivo de proteger os interesses do topo da pirâmide. Quem não se lembra da expressão Belíndia? Uma parte do país era a Bélgica, onde viviam os ricos. A outra era a Índia, onde eram circunscritos os pobres. Nesse tempo, o Partido dos Trabalhadores ainda engatinhava e os seus militantes eram mesmo perseguidos. O partido era a voz dos mais desfavorecidos e propunha mudanças, o que incomodava os conservadores.
-       O Poder Judiciário era respeitado. Ou melhor, temido. Mas já naquele tempo os caras ligados a atividades judiciais (pelo lado do Estado) davam um jeito de tirar o máximo de proveitos do sistema. Os aumentos salariais e de benefícios foram sempre muito generosos. Os trabalhadores do Judiciário sempre formaram um elite intocável, que se destacava pelo elevado estatuto social.
-       A imprensa tinha alguns títulos combativos (a espasmos) e contava com jornalistas respeitáveis. Mas estiveram sempre sujeitos a interferências das leis do mercado e os humores do poder. No entanto, além de uma ou outra peitada esporádica, no frigir dos ovos a maioria esteve sempre alinhada com o poder. Podia dizer que as coisas eram muito parecidas com o que temos atualmente. Mas não. Hoje é muito pior.
Ops! Pensando melhor, parece que o golpe aplicado pela direita teve esse efeito: fazer o Brasil avançar para o século 20. E trazer aquela velha necessidade que a Casa Grande tem de pôr a senzala no seu devido lugar. Rico é rico, pobre é pobre. 

“O Brasil não é só de gente como nós (…) existe gente pobre”.
Michel Temer

“Se não tem dinheiro, não faz faculdade”.
Nelson Marquezelli

“A primeia vez que eu tentei carregar um pobre no meu carro eu vomitei por causa do cheiro“.

Rafael Greca

É a dança da chuva.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Je (ne) suis Udo!
















POR FILIPE FERRARI

Agitou as terras facebookianas e joinvilense nas últimas semanas a determinação judicial de suspender o Facebook por conta da ação movida pelo prefeito Udo Döhler. Pelo que li e que conversei com algumas pessoas ligadas à campanha de reeleição do prefeito, a principal reclamação eram as postagens que ligavam a imagem do senhor Döhler ao nazismo.

Em uma cidade onde a germanicidade ainda é insistentemente ligada ao nazismo, esse pedido é nada mais que justo. Há hoje nas discussões políticas polarizadas no país um reducionismo no uso dos termos. Qualquer um hoje passa a ser fascista, comunista, ou, no caso do prefeito, nazista. Há que se compreender que uma afirmação como esta encerra uma série de problemas. Primeiro, chamar alguém de nazista é partir de um conceito que não há debate. É reductio ad hitlerum, também conhecido como “Lei de Godwin”. O nazismo é visto como o mal supremo, e alegar que alguém é nazista é querer retirar do adversário no debate qualquer possibilidade de argumentação, já que parte da invalidação da fala do outro. Segundo, volto a insistir que em Joinville há uma alusão recorrente à figura do “alemão nazista”, onde essa fala é comumente ouvida em diversos círculos políticos, referindo-se não apenas ao Udo, mas a qualquer outro “alemão”, confundindo germanicidade e nazismo, dois conceitos completamente diferentes um do outro.

Nada mais coerente que um candidato a prefeito sinta-se ofendido ao ser chamado de nazista. Toda e qualquer pessoa com um mínimo de brios deveria sentir-se assim. Entretanto, recorro aqui também a uma outra postagem que vi em outra paragem virtual: Udo provou a eficácia e a competência de seus advogados ao conseguir a suspensão da página (bem ruim, por sinal) do “Hudo Caduco”. Essa mesma força advocatícia e agilidade de resposta poderiam ser usadas para realizar a licitação do transporte público, a desapropriação dos terrenos para terminar (se é que começou) a duplicação da Santos Dumont, para regularizar e fiscalizar o Simdec, e diversos outros pontos que foram magistralmente levantados  pelo Jordi Castan aqui.

Em tempos de radicalização e polarização política, as terminologias têm se perdido. Àqueles que sempre primaram pela discussão justa e limpa cabe não cair no jogo de seus detratores, e não apelar para táticas sujas e rasteiras. E chamar alguém de nazista, é algo MUITO sujo e rasteiro.