POR RAQUEL MIGLIORINI
Guarde bem o número dessa lei federal: 13301/2016. Você poderá responder, no futuro, sobre qualquer questionamento sobre sua saúde, dos seus familiares, extinção de espécies de insetos, poluição de mananciais, desequilíbrios ecológicos, tudo baseado nela.
A dita lei é aquela que aprova a pulverização aérea nas cidades, com inseticidas organofosforados. O objetivo principal dessa lei era permitir a entrada de fiscais da saúde em domicílios fechados, para combater os focos do mosquito Aedes aegypti , mas o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) achou que poderia contribuir com um artigo inovador propondo a descabida técnica.
De nada adiantou a intervenção dos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST), alertando sobre os riscos de ações desse tipo. O interino assinou a lei e pronto.
Além de arbitrária e, claro, de saciar interesses de poucos, essa medida é desprovida de qualquer eficiência. As fêmeas dos mosquitos ficam, em sua maioria, dentro das residências e não seriam atingidas pelo inseticida.
O descaso com o Meio Ambiente no Brasil dá a sensação que o mundo começou a girar ao contrário. Enquanto o restante do planeta tenta diminuir ou mesmo proibir o uso de inseticidas, enquanto muitos já compreenderam que o controle efetivo de pragas se dá com reflorestamento e recuperação de biomas, com destinação correta de resíduos, com saneamento básico e com Educação, aqui usamos técnicas da década de 50.
Descartamos estudos e pesquisas porque ,afinal, para que servem o Ministério de Ciência e Tecnologia, os Institutos Estaduais e Federais de Pesquisa, as Universidades? Melhor é sucatearmos tudo isso e enviarmos nossos jovens cérebros para os países desenvolvidos dissecarem.
Para entendermos como estamos presos no passado, um exemplo da Colônia Dona Francisca, no Morro do Boa Vista, torna tudo bem ilustrativo, segundo consta no Livro História dos Bairros de Joinville: “O sistema público de saúde da época, pela falta de informação e receio de contaminação da população, acreditava que suas matas favoreciam o surgimento do mosquito vetor da malária. Nessa época, muitos hectares do morro foram devastados, inclusive como o aval dos governos estaduais e federal, como forma de tentar conter o avanço da malária no Sul do País.”
Acompanho diversas redes sociais e leio jornais diariamente. As pessoas estão mais preocupadas com o Frota e a segurança da Janaína do que com a devastação social, científica e ambiental que o interino está colocando em prática.
E a vida passa a ser um Déjà vu.