segunda-feira, 6 de junho de 2016

Saneamento mente: estatistica...mente, numerica...mente e confusa... mente


POR JORDI CASTAN

Poucos temas são objeto de tantas informações contraditórias como o saneamento básico. Mergulhar neste universo é garantia de sair confuso e os políticos sabem disso e brincam com números fictícios na certeza de que o eleitor acreditará em tudo o que se divulgue.

A Companhia Águas de Joinville veiculou, nestes dias, publicidade informando que a cobertura de saneamento era de 17%, em 2013, e chegou a 32%, em 2016. Como há um histórico de exagerado otimismo no quesito "percentuais de cobertura", é bom manter uma cautela prudente antes de sair soltando foguetes.

Vejamos algumas informações divulgadas pela CAJ em Julho de 2012 e setembro de 2013

Informações de julho de 2012

“Até o fim do ano, a Cia Águas de Joinville vai conseguir cobertura de esgoto de 26% da totalidade das moradias do município. Este índice é a metade dos 52% prometidos pelo prefeito Carlito Merss durante campanha eleitoral de 2008.  Tinha 12%, a cobertura está em 21%.  E, por isso, ainda assim, o avanço alcançado (mais do que o dobro do que havia há quatro anos) é importante. O ritmo bem mais lento dos serviços obedece a dois fatores: é preciso adaptar-se à capacidade de mobilidade urbana e evitar maior desconforto à população com abertura de ruas, a prejudicar o trânsito de carros; e há pendências judiciais a impedir realização de algumas obras. As explicações são do presidente da empresa, Luiz Alberto de Souza.” Publicado pelo jornalista Claudio Loetz no jornal A Notícia.

Informações de setembro de 2013

“Até o fim do ano, a Companhia Águas de Joinville pretende concluir o Plano Municipal de Saneamento Básico, que dará um direcionamento oficial para a implantação do esgoto. Segundo o diretor de expansão da companhia, Henrique Chiste Neto, até dezembro de 2014, a expectativa é alcançar 30% de cobertura. Uma das maiores metas do então prefeito Carlito Merss (PT) era ampliar consideravelmente a cobertura da rede coletora de esgoto em Joinville. Eram almejados 53,5% até 2014. No entanto, ao terminar 2012, um balanço mostrava meros 17% de cobertura, ampliando apenas em 3% o que já existia.” Publicado no jornal Noticias do Dia.

Metas para cobertura da rede coletora de esgoto (Divulgadas pela CAJ em setembro de 2013)

Dezembro de 2012: 17%
Agosto de 2013: 19%
Dezembro de 2014: 30%
Dezembro de 2017: 46,85%
Dezembro de 2019: 63%
Dezembro de 2035: 100%

Há neste tema do saneamento básico motivos de sobra para ser cuidadoso com as informações que são divulgadas. Em ano eleitoral, a tendência a exagerar aumenta muito o pior é que o índice de credulidade do eleitor também aumenta é isso confere uma vantagem significativa aos candidatos que contam com o apoio da mídia. Fique atento. Busque informações, confira os dados.


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Uma caixa preta chamada CVJ


POR THIAGO LUIZ CORRÊA


Nesta segunda feira, acessando o Chuva Ácida, fui surpreendido pelo post do José António Baço sobre o tal "escola sem partido". Apesar de já ter ouvido falar deste tipo de projeto de lei rodando por aí não tinha ideia de que esta sandice já tivesse embarcado aqui em Joinville.

Bateu a curiosidade de saber mais detalhes sobre o projeto e, sobretudo, saber se esta iniciativa da Vereadora Léia (na verdade Pastora Léia, mas me recuso a chamá-la de pastora quando ela toma decisões que não afetam apenas a sua comunidade religiosa mas a toda a sociedade) tem alguma novidade ou invenção sua ou não passa de uma cópia do projeto já apresentado em outras esferas públicas Brasil afora.


Pois bem, na minha busca pela íntegra do projeto acessei a notícia que o projeto havia passado pela Comissão de Legislação formada pelos vereadores Maurício Peixer, Claudio Aragão, James Schroeder, Manoel Francisco Bento e Sidney Sabel. Na mesma matéria há um link que redirecionaria o cidadão ao documento em questão para apreciação. Qual a minha surpresa quando ao acessar este link me deparo com a informação de que o site está em manutenção (imagem no início do texto).

Em uma época em que pensamentos complexos são reduzidos a memes com imagens fora de contexto e um texto com não mais de três linhas, esta página resume como o poder público de Joinville não tem interesse algum em prestar contas de sua atuação à sociedade agindo como uma caixa preta para defender os seus próprios interesses.

Eu realmente ainda estou avaliando o que mais me revolta nesta imagem, se o fato de parecer que o site foi feito por uma criança de 7 anos que acabou de sair da terceira aula de programação web, se a imagem no canto direito de uma pessoa dormindo em uma cadeira de escritório, se o fato que esta página exibe ao centro, quase que como a se orgulhar de não servir o seu propósito há mais de um ano ou se a imagem de uma mesa de reunião em que todos estão olhando pra mim, como se fossem os próprios vereadores constrangidos por terem sido pegos depois de tanto tempo de pernas pro ar.

O conjunto da obra debocha da minha cara como que dizendo "cuide da sua vida" ou "não pense em críticas, trabalhe".

quinta-feira, 2 de junho de 2016

PMDB usa estrutura da educação pública para chamar reunião em Joinville

POR IVAN ROCHA*

Na manhã da última quarta-feira (1º), quando fui buscar minha filha no CEI onde ela estuda, no bairro Vila Nova, recebi um convite inesperado. Por ordem da diretora da unidade, todos os pais receberam o convite para participar de uma reunião, pasmem, do PMDB (imagem no fim do texto). Sim, isso mesmo: o partido do prefeito Udo Döhler está usando a estrutura da educação pública para divulgar suas reuniões abertas ao público.

É provável que a alta cúpula do governo municipal não saiba do enorme erro cometido pelo partido, pois saberia do grave problema que isso acarretará junto à Justiça Eleitoral, a qual esperamos que faça a sua parte no rápido julgamento e punição ao partido e ao governo municipal. A saber, o uso descarado da máquina pública em benefício do partido do prefeito.

O ato, que será denunciado à Justiça Eleitoral, fere a lei 9.504, no artigo 73:

III - ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado (aqui).


Escola sem ideologia, com exceção da minha

Coincidentemente, na mesma manhã, recebi um vídeo falando sobre a lei da mordaça, no qual um professor de Joinville explica o projeto que foi aprovado no estado de Alagoas e está tramitando em vários estados do país. Em resumo, a lei vai proibir que professores tratem em sala de aula de temas como gênero, política e religião. Em Joinville, a ideia é encampada pela Pastora Léia (PSD), com amplo apoio dos políticos com ideologia de direita.

A ideia é estapafúrdia. Com base em um discurso ideológico, políticos de direita afirmam que professores de esquerda, a partir de orientação do Ministério da Educação (MEC), estariam “contaminando” as crianças do país - a tal da “doutrinação marxista” e por isso há a necessidade da proibição. Na prática, essa censura visa omitir as teorias e personagens da História que são identificados com a esquerda, reescrevendo a história da maneira que a direita quer, sem respeitar o método científico e a construção milenar do conhecimento.

O objetivo deste projeto é bastante ideológico. É o de (de)formar crianças, adolescente e jovens para trabalhar sem pensar, sem questionar. Em Joinville esta já é a ideologia predominante, formando mão-de-obra para trabalhar nas grandes empresas locais.

Retrocesso Nacional

O projeto escola sem partido é um retrocesso em âmbito nacional. Já aprovado em Alagoas, está em tramitação em outros estados, como o Rio Grande do Sul, e sempre defendido por políticos de direita que flertam com o fascismo.

O governo golpista de Michel Temer (PMDB) recebeu os defensores desse projeto por meio do MEC, em episódio que chocou o país, quando o ministro Mendonça Filho, do Democratas, recebeu Alexandre Frota e o movimento Revoltados Online para ouvir propostas para a área da educação. Estuprador confesso e defensor do ideário de direita, Frota também defende o projeto, que estava entre as propostas apresentadas. O encontro foi uma forma de retribuição pelo apoio dado ao golpe no governo Dilma, mas não é de se duvidar que o PMDB leve a cabo as ideias retrógradas para a educação do povo brasileiro.

* Ivan Rocha é pré-candidato a prefeito de Joinville pelo PSOL.


O Facebook lembrou do racismo e do machismo de Joinville

POR FELIPE CARDOSO

Nesta semana, a foto de uma matéria publicada em 2013, do jornal A Notícia, voltou a ser compartilhada. Acompanhado de muitos comentários indignados, a foto serviu para acender o debate sobre as questões raciais aqui na cidade e também no Brasil.

A matéria informava que “o perfil ideal de trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos de idade”. Além do racismo e do machismo, a matéria também deixa evidente o recorte e o preconceito com a idade.

Uma informação como essa é necessária para mostrar a qualquer pessoa que defenda a meritocracia que vivemos em um sistema desigual, que não oferece as mesmas oportunidades para todos.

Mais adiante o texto diz que “em parte, as vagas não são preenchidas porque os candidatos não têm as habilidades e competências necessárias”. Oras, de 7 mil vagas, dizer que não há gente qualificada é de uma injustiça sem tamanho, talvez devessem se atentar as exigências que fazem e não imputar aos trabalhadores a falta de qualificação. Se procurassem por mulheres, negros e pessoas com idades abaixo de 25 e acima de 35 anos, talvez pudessem encontrar com maior facilidade pessoas para preencherem as vagas. Mas, pelo visto, é melhor deixar 7 mil vagas abertas do que empregar pessoas fora do “padrão ideal”.

Prova do racismo são os tratamentos e os empregos ofertados aos imigrantes haitianos, grande parte com formação acadêmica, mas que não conseguem validar seus certificados por conta de ter que desembolsar uma quantia aproximada de 15 mil reais para ter um tradutor juramentado que realize os processos necessários. Para sobreviver, muitos aceitam subempregos que nem sempre oferecem a garantia de segurança ou muito menos de pagamento pelo serviço.

O que devemos nos atentar é que, segundo os dados nacionais, a taxa de desemprego é maior entre a população negra, principalmente entre as mulheres negras. Agora imagine a chance de uma mulher negra, com 45 anos, estrangeira em conseguir um emprego na área que estudou.

Mulheres negras além do machismo enfrentam também o racismo e estão na base da pirâmide social, muitas vezes sustentando suas famílias sozinhas. Em época de crise, são as mais propensas a serem demitidas, voltando a sofrer para serem reinseridas no mercado de trabalho novamente.

E tem gente que chama isso tudo de vitimismo.

Não é tão simples falar em meritocracia quando os dados insistem em nos mostrar a realidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Questão de tempo

Olha o tipo dos caras. E eles acham que podem com a gente.
POR FELIPE SILVEIRA

A queda de Michel Temer, o Fraco, é questão de tempo. A qualquer dia acordaremos com a notícia da renúncia, prisão ou afastamento das cabeças do golpe, que já tem perdido braços e pernas dia sim outro também. Jucá, Renan, MBL, Fabiano Silveira… É o governo Temer, confiável como um bate-papo informal do Sérgio Machado.

O erro da classe dominante é achar que conhece o adversário quando não o conhece de fato. Acham que a esquerda é petista, que os votos de Dilma vêm de dependentes do Bolsa Família (que eles julgam como coitados), que a televisão constrói a narrativa predominante e que os toda aquela massa verde e amarela que encheu as ruas vai simplesmente fechar com eles. Essa massa não é militância, não é politizada e tem interesses difusos. Não dá pra esperar mais deles do que já foi tirado.

O que eles não perceberam é o tanto que o país mudou. O povo não aceita o retrocesso e está mostrando isso nas ruas e nas redes. Universidade pública, acesso universal à saúde, políticas de inclusão e de direitos para minorias só podem crescer, pois o povo não vai aceitar menos. Pode haver tentativas de retrocessos, mas Temer, o Fraco, não aguenta a pressão.

Nos últimos anos, o que se formou no Brasil foi a multidão. É o termo usado pelos filósofos Michael Hardt e Antonio Negri para descrever o sujeito histórico que vai fazer a história acontecer. Somos nós, os movimentos sociais, as feministas, o movimento negro, os secundaristas, os lgbts, os artistas e intelectuais em defesa da democracia, as organizações comunitárias das favelas e dos bairros, os quilombolas e os indígenas. A classe dominante não pode com essa multidão. A opção fascista, muito menos. Não passarão.

Aproveite as horas no poder, Temer. Estão acabando.