sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Barulho da Chuva #8


Crise: Movimentos Sociais precisam entender que a disputa é na mídia
















O Brasil hoje vive mais uma crise política do que uma crise econômica. Lógico, há uma redução da atividade econômica que, após longos anos varrendo as economias de vários países chega agora às nossas mesas. Mas é fato que vivemos crises econômicas muito piores nas décadas de 1970, 1980, 1990, as superamos, e vamos superar mais uma vez.

Hoje não somos mais reféns do FMI, Banco Mundial e outros rentistas que viveram anos e anos à custa do nosso dinheiro. Temos muito menos pobreza, construímos uma classe média forte e decidida a se manter com sua nova qualidade de vida. Sem contarmos o pré-sal, a Petrobras que ainda é nossa, e um povo otimista.

Portanto, a crise política existente é mais relevante, pois se trata da disputa pelo poder, pela hegemonia em reger os destinos da nação. Setores que por longas décadas mandaram e concentraram a riqueza em suas mãos, hoje abriram mão de uma ainda pequena parte para compartilhar com os outros milhões de brasileiros.

Perderam eleições seguidas, não conseguem vencer no voto, e com a força da mídia conservadora, e porque não golpista, invadem as casas, carros, celulares, tablets, rádios, timelines, sites, despejando notícias negativas, formando uma ideia de que vivemos no pior dos mundos. Basta sair destes meios de comunicação para enxergarmos outra realidade, não perfeita, mas não desastrosa como tentam vender aos brasileiros.
Mas esses grupos de mídia são muito bem articulados com seus braços políticos no Congresso Nacional, com os grandes barões industriais e financeiros, e controlam jornais, emissoras de televisão, emissoras de rádio, e agora também marcam presença ativa na rede mundial de computadores, utilizando para isso os mesmos conteúdos produzidos por toda essa rede, não por acaso, nas mãos de poucas famílias no país. Há uma enorme gama de estudos e pesquisas que mostram isso. 

De outro lado, os movimentos sociais, onde incluo sindicatos, centrais sindicais, confederações de trabalhadores, organizações de direitos humanos, de moradia, sem terra, entre outros, não se articulam. Vivem cada um tentando vender sua mensagem individualmente.

Excetuando-se as grandes centrais sindicais com CUT, Força Sindical, CGT, UGT, que graças aos últimos governos conquistaram financiamento via Ministério do Trabalho para suas ações de defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e tem estruturas fortes na comunicação, como jornais, tevês, e atuação em redes sociais (e nem todas tem!), sindicatos e demais movimentos vivem cada um no seu quadrado. 

Diferentemente do país, que avançou muito em várias áreas, e do povo que conquistou melhorias e oportunidades, esses movimentos pararam no tempo. Ainda buscam disputar a hegemonia de forma desarticulada, individual, dispersando esforços e poderio econômico.

Vivi experiência em comunicação no meio sindical por uma década pelo menos na maior cidade catarinense, e claro, em Santa Catarina e partilhando de atividades nacionais. Neste período busquei motivar, articular, planejar, orientar as lideranças sindicais para uma união de esforços econômicos, e de militância, para a criação de um jornal único, diário, com a pauta dos movimentos sindicais e populares. 

Persisti formulando projetos para a conquista de rádios ou emissora de televisão para informar e mostrar que há sim outra pauta acontecendo, fortalecer os ideais, combater a disputa midiática contra os grandes grupos de mídia. Infelizmente, até hoje por motivos diversos, a desarticulação continua.

Hoje, ao vivenciar essa crise política que tem o nascedouro na disputa midiática que influi sim no animo das pessoas, que molda olhares e pensamentos, estigmatizando uns, e endeusando outros, constato o atraso dos movimentos sociais. 

Eles perderam o trem que retirou milhões da pobreza, da falta de emprego, de comida, de renda, educação, computadores, televisões, acesso a universidades, moradia, viagens. Desencontraram-se com o povo que os fez fortes.

E esse desencontro cria um fosso perigoso para a democracia e manutenção dos avanços sociais. As lideranças envelheceram, viveram, e algumas ainda vivem, disputas internas, partidárias, sindicais, e não conseguem ver que a causa comum está à deriva. 

É preciso retomar o rumo, reordenar os movimentos sociais, e o começo para isso é investir em veículos de comunicação e mídia próprios, compartilhados. Essa é a disputa que se deve travar. Porque a disputa do poder se dá na conquista de corações e mentes que só se alcança com a comunicação.

É assim, nas teias do poder...

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

José Dirceu é pouco inteligente
















assunto da semana foi a prisão de José Dirceu. Na verdade foi um (re)prisão, uma vez que ele já estava preso e esse filme todos já vimos. Os investigadores do Lava Jato afirmaram ser ele o mentor do esquema de corrupção na Petrobras. Tudo começou com José Dirceu, garantiu um procurador. Mas além de instituir o esquema, o ex-ministro também seria um beneficiário, o que aponta para a tese de enriquecimento ilícito. O bloqueio de bens até 20 milhões, ordenado pelo juiz Sérgio Moro, vai nesse sentido.

Eis o fato: o ex-ministro parece ser um homem talhado para o mal. E não é de hoje. José Dirceu é apontado como o cérebro que, entre outras coisas, engendrou a estratégia para levar o Partido dos Trabalhadores ao poder por 16 anos. O assunto foi notícia anos atrás na velha imprensa. É o tipo de coisa que levou à construção da imagem de um gênio do crime, um homem inteligente e capaz de fazer chegar água ao seu moinho.

Será que é mesmo assim tão inteligente? Não na minha opinião. Para mim José Dirceu é até meio burro. Primeiro porque nenhum criminoso com dois dedinhos de testa se deixaria apanhar na coisa do Mensalão. E ainda mais por uma coisa tão exótica como o tal “domínio de fato”. Mas ele foi apanhado e condenado. É o tipo de coisa que não acontece a uma inteligência criminosa superior, porque os gênios do crime não se deixam apanhar com essa facilidade. 

A burrice de José Dirceu só faz aumentar. O ex-ministro sabe que é uma espécie de suspeito de plantão e que enfiá-lo no chilindró é mel com chupeta. A Justiça nem tem que dar explicações e ainda vai ter muita gente a aplaudir. E, sabendo dessa circunstância, o que ele faz? Segundo os investigadores, reincide no crime e acaba apanhado também no Lava Jato. Ora, teria que ser muito atoleimado para achar que não estava sob vigilância cerrada.

Outro fator a comprovar que José Dirceu não tem muitos neurônios a trabalhar. Se o bloqueio de bens vai até aos R$ 20 milhões, isso significa que há muita grana na parada. É uma poupança e tanto, leitor e leitora. Aliás, é tanto dinheiro que ele poderia simplesmente se aposentar e levar uma vida tranquila, sem ter que trabalhar para o resto da vida. Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, continua a ser uma cidadezinha pacata.

Mas a maior tolice é José Dirceu ter ficado no Brasil, ainda mais com uma conta bancária supostamente rechonchuda. Nem parece coisa de um gênio do crime. O cara até sabe como fugir do Brasil (não seria novidade para ele) mas fica em casa à espera de ser preso? Ora, se fugisse para o exterior podia desaparecer sem nunca mais ser visto. É fácil. Lembram do Miguel Orofino? O cara fugiu para Portugal, onde desapareceu na multidão, e ficou incógnito por anos. Só foi descoberto porque ficou displicente e apareceu na televisão. Dirceu podia fazer o mesmo. Mas não.

Enfim, tudo leva a crer que José Dirceu é pouco inteligente. Ficou no Brasil quando sabia que este desfecho era mais que possível. Muito provável mesmo. E isso é coisa de quem não exige muito dos próprios neurônios. 


E a dança da chuva.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Udo já não governa. A luta é para manter o cargo...














A Câmara de Vereadores foi o centro das atenções políticas nesta segunda-feira. Uma expressiva parcela dos formadores de opinião de Joinville tinha olhos e ouvidos fixos num acontecimento incomum: o possível impedimento do prefeito Udo Dohler. Mas o foco também estava sobre o voto de cada um dos vereadores. Alguns já tinham afirmado a posição favorável a criar uma Comissão Processante. Outros, uma minoria, se manifestaram a favor de um voto partidário. Ou seja, assumiram publicamente o seu apoio incondicional ao prefeito, mesmo sem analisarem o teor. São os vereadores da chamada base aliada, maldosamente chamados pelos opositores “a base alugada”.

O motivo do reboliço foi a votação sobre o pedido do Ministério Público para abertura da Comissão Processante em desfavor do prefeito de Joinville. Eram 16h30min e a casa do Legislativo já começava a encher o plenário. Lá pelas 17h00min a sessão se iniciou, com o plenário dividido. De um lado os comissionados da Prefeitura a apoiar Udo Dohler; do outro servidores concursados do Hospital Municipal São José e de cidadãos em geral.

O ritual foi cumprido. Foi iniciado com a leitura dos ofícios do MP, com monotonia, sem a menor empolgação e até compreensível desânimo (num prenúncio da forma como os três vereadores responsáveis pela leitura iriam votar). Os vereadores João Carlos Gonçalves, James Schroeder e Jaime Evaristo jogaram um balde de água fria na plateia e converteram a sessão num verdadeiro chá de cadeira para os ouvintes. O tédio parece ser uma arma política.

Iniciaram-se os debates. A maioria dos vereadores que se manifestou mostrava-se favorável à abertura da Comissão Processante. Ao término do pronunciamento de cada vereador, metade da plateia aplaudia e a outra metade vaiava. E vice-versa. Tudo dependendo do teor das palavras e a quem elas favoreciam. Entre os vereadores os mais vaiados foram João Carlos Gonçalves (PMDB) e Cláudio Aragão (PMDB). Após seu pronunciamento - e ao voltar ao seu assento - Aragão retrucou alguns servidores por terem o vaiado.

E ao final fez-se a votação nominal. Eram necessários 13 votos a favor da abertura para que os dois terços necessários fossem preenchidos. No final das contas, houve 11 a favor, 7 contra e 1 abstenção. Aliás, a relação dos votos já foi publicada pela imprensa local e é de conhecimento público.

A grande surpresa da noite foi no final da votação. Quando o presidente Rodrigo Fachini anunciava a decisão pela não abertura da Comissão Processante, o vereador Maycon César pediu a palavra numa questão de ordem e anunciou que não são necessários dois terços dos votos (ou seja, 13 votos), mas sim a maioria dos presentes, neste caso 10 votos.

Maycon César embasou seu argumento na Súmula Vinculante 46/2015 do Supremo Tribunal Federal que diz:

“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União”

E também na Lei Federal 201/1967, que dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos e vereadores, que diz no inciso II do Art. 5º:

“ De posse da denúncia, o Presidente da Câmara, na primeira sessão, determinará sua leitura e consultará a Câmara sobre o seu recebimento. Decidido o recebimento, pelo voto da maioria dos presentes, na mesma sessão será constituída a Comissão processante, com três Vereadores sorteados entre os desimpedidos, os quais elegerão, desde logo, o Presidente e o Relator.”

Entre os contrários, o mantra repetido até a exaustão era: “está na Constituição, está na constituição!”

De fato está. Nos Artigos 51 e 86, o princípio da simetria, invocado pelos defensores de Udo Dohler, somente seria aplicável se não houvesse uma Lei Federal específica a tratar de prefeitos e vereadores. E há: a 201/67.

Vários advogados consultados dizem que o argumento do vereador Maycon César é procedente e alguns peemedebistas da base já comentaram que, de fato, o pedido do vereador será acatado e a Comissão Processante será aberta, com a diferença de que, pelos embasamentos de Maycon César, não haverá o afastamento do prefeito.

Assim que os joinvilenses estão convidados a acompanhar os próximos capítulos da novela. Porque em Joinville tudo acaba se convertendo numa novela em muitos capítulos. Nada se resolve, tudo fica para depois. E assim seguimos. Uns mais preocupados em manter cargos e prebendas, outros em defenestrar o burgomestre a todo custo. Entre uns e outros, a cidade segue ao léu. Perdida, sem rumo e sem comando.

Os haitianos em Joinville


POR FELIPE CARDOSO

O intuito do texto não é gerar polêmica, mas sim elucidar alguns fatos sobre a vinda dos imigrantes haitianos para a nossa cidade. Muito se falou deles. Bem ou mal, a favor ou contra. Mas pouco do contexto foi analisado como, por exemplo, a questão econômica e política do Haiti, bem como a realidade da população que está lá sobrevivendo após os desastres naturais, convivendo com tropas de diferentes países, inclusive do Brasil.

Recentemente saiu uma matéria no El País informando que “Capacetes azuis trocam produtos por sexo no Haiti e na Libéria”. Essa informação já nos mostra o quão necessário é a problematização dessa questão e que tudo isso vai muito além de um simples caso de imigração.

No Brasil, vimos centenas de comentários racistas, muitos incentivados pela imprensa. Pessoas defendendo a tese de que os haitianos estavam vindo para cá “tirar os nossos serviços”. Pior que isso são os que acham que eles só servem para trabalhar na produção de empresas ou na área de serviços gerais. Não que esses empregos não sejam dignos ou que não mereçam respeito, mas quem já teve a oportunidade de conversar com alguns haitianos percebeu que muitos deles são formados e tem capacidade para assumir outras funções nas empresas do nosso país e outros que desejam continuar seus estudos aqui. Pois bem, além de alguns serem formados, muitos haitianos falam cerca de 3 ou 4 idiomas, por exemplo. Talvez isso gere algum tipo de medo em pessoas que não procuram se especializar e não almejam se destacar no mercado de trabalho e aumenta ainda mais a dúvida do motivo de estarem sendo encaminhados para áreas da produção.

Mais dúvidas pairam na cabeças dos moradores do país “não racista”: por que os tratamentos dados aos imigrantes haitianos diferem dos tratamentos dados aos imigrantes portugueses, por exemplo? Por que não foi feito o mesmo alarde com a vinda de imigrantes portugueses ao Brasil?

Ao assistir esta matéria do Jornal da Gazeta, do ano passado, e ver as notícias e os comentários feitos em relação aos haitianos é possível notar uma enorme diferença na abordagem e, principalmente, na linguagem e no discurso utilizado. Certamente a turma do “agora existe racismo em tudo” não irá analisar, muito menos perceber o racismo presente nisso tudo. Bem como não percebem a diferença dos comentários das matérias dos eventos sobre cabelo, um das crespas e outro das ruivas, na semana passada.

Marcos Canetta tem razão ao afirmar que “o problema não está no imigrante em si, mas na cor de sua pele“.

O que muitos brasileiros não compreendem é que a maioria desses imigrantes vendeu todos os pertences em sua terra natal para vir procurar melhores condições de vida no Brasil. Enfrentaram longas viagens, exploração nos empregos, abusos, maus tratos e todo o tipo de preconceito e ainda sofrem com a adaptação a uma nova língua. Falta sentir empatia, colocar-se no lugar do outro.

Joinville

Esse descaso ficou facilmente visível na nossa cidade ao notarmos o posicionamento da Prefeitura Municipal com a chegada dos imigrantes. Não foi organizado praticamente nada e, hoje, ainda não se sabe o número exato de haitianos presentes em Joinville. Nem uma recepção, nem um contato com alguma liderança. Nada foi pensado, articulado, muito menos feito. Cartazes informativos, reuniões com imigrantes, central de acolhida, aulas de português dentre outras ideias, nada foi pensado, nada foi elaborado, nada foi feito. Mesmo fazendo cerca de um ano que Joinville vem recebendo imigrantes haitianos.

Entidades religiosas, centro do direitos humanos e movimentos sociais precisaram se organizar para pensarem juntos em medidas para auxiliarem e ajudarem os imigrantes vindos do Haiti. Reuniões com autoridades tiveram que ser marcadas pela comunidade, bem como a organização de aulas de português e até mesmo uma Audiência Pública para chamar a atenção dos poderes estadual e federal, além do setor empresarial da cidade.

Mas bastou alguém querer lutar por alguma causa da população negra para que racistas e xenofóbicos aparecessem para destilar ódio, querendo intimidar ou ameaçar quem está na luta. Covardes, como de costume, fazem publicações e depois apagam, pois sabem que podem pagar caro pelas palavras. Para disfarçar o ódio adotam os discursos do “problemas financeiros do país, os problemas do próprio país” que só são lembrados quando os imigrantes são haitianos ou do continente africano, quando são europeus não vemos a mesma postura.

Pessoas comuns, com seus respectivos trabalhos, tiveram que fazer hora extra para desenvolver um papel que era responsabilidade do governo. Pensaram e sugeriram a criação de uma Central de Acolhimento para Imigrantes em Joinville. Uma obra fundamental para uma cidade que se orgulha de ser a terceira maior da região sul, mas que não apresenta suporte básicos para a população. Vale lembrar que a pauta dos Haitianos permitiu um olhar mais atento a questão de todos os imigrantes e o tipo de tratamento oferecido para os mesmos. Então antes que venham os racistas anônimos querer acusar de “racismo inverso”, ou dizer que apenas está sendo debatido a questão dos haitianos, espero que tentem entender a importância dessa mobilização no contexto geral que visa beneficiar a todos os imigrantes que escolhem Joinville como destino para morar. Obviamente, devido as circunstâncias, a pauta dos haitianos é a mais próxima da nossa realidade atual, mas que serve de alerta para estarmos preparados para acolher melhor outras pessoas, de outros países, cidades e estados caso precisem de algum auxílio para residir na cidade.

Talvez tudo isso sirva para mostrar que os trabalhadores unidos é que fazem a diferença e provar que é a participação popular que cria algo positivo para o país. Por isso é necessário o estudo, a análise, a cobrança, a união, a luta. Apenas assim transformaremos.

Sejam bem-vindos, haitianos, portugueses, negros, brancos, indígenas… O mundo pertence a todos.

Continuemos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Transparência


O prefeito numa sinuca de bico



No jogo de xadrez da política local, o tabuleiro se converteu numa mesa de sinuca. O prefeito Udo Dohler, que foi eleito para dar um choque de gestão e resolver os principais problemas dos joinvilenses, acabou numa sinuca de bico. É bom lembrar que ninguém mais pode ser responsabilizado pela situação atual a não ser ele mesmo.

Mesmo depois de descumprir o TAC (Termo de Ajuste de Conduta), assinado para resolver o grave impasse que vive a saúde em Joinville, o prefeito tem mostrado incapacidade para resolver os problemas, que crescem sem parar. Problemas que já levaram a troca de três secretários de saúde em pouco menos de três anos. Se foi a experiência na área da saúde um dos pontos fortes que levou muitos joinvilenses a eleger a Udo Dohler, hoje as críticas e a desilusão não ficam só na boca pequena e ganham a seção de cartas dos jornais locais e as redes sociais. As filas para o atendimento tem aumentado ou, no melhor dos casos, mantido índices vergonhosos. Até agora nem rastro da eficiência prometida. Se o problema não era de recursos e sim de gestão, alguém deveria assinar logo um atestado de incompetência.

A nomeação da procuradora Francine Schultz para a Secretaria da Saúde era para ser uma tacada de mestre com o intuito evidente de tentar pôr um freio à ação moralizadora da promotora pública Simone Schultz, casualmente irmã da nova secretaria. Foi o que, em bom português, se chamaria um tiro na água. Aliás, prefiro pensar que foi um tiro no pé, porque o efeito foi o contrário do pretendido. O Ministério Público, esporado pela arrogância do prefeito, tem passado a agir ainda com maior rigor e os passos seguintes colocam o prefeito numa situação para lá de desconfortável.

Deu entrada na Câmara de Vereadores o pedido de abertura da Comissão Processante, que poderá levar ao afastamento do prefeito do cargo até o final da apuração. Se isso fosse pouco, a promotora Simone Schultz entregou documentos sobre quatro decisões judiciais não cumpridas na area de saúde (melhorias em postos de saúde, ortopedia, reumatologia e proctologia). A situação esta ficando feia para o prefeito, que insiste em manter um discurso cada vez mais distante da realidade. Em recente entrevista ao jornal "A Notícia", o prefeito aparece completamente dissociado da Joinville real. Essa realidade que ele insiste em não querer ver, nem escutar, isolado no seu mundo de fantasia e ilusão.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) deu um passo à frente e colocou também o legislativo municipal numa sinuca de bico. O Legislativo tem estado tão ocupado em manter apaniguados e cabos eleitorais empregados, que tem esquecido de cumprir seu papel de fiscalizador do Executivo. É bom lembrar que o MPSC tem agido compelido pela inoperância do Legislativo - ou seria mais correto falar da omissão -, que tem estado ocupado em passear com carros alugados, gastar diárias e manter o maior número de assessores e comissionados que em cumprir sua missão republicana.

Os vereadores terão que se posicionar a favor ou contra do afastamento do prefeito. É oportuno lembrar que sem a ação firme do Ministério Público a Câmara teria seguido olhando para o outro lado e acreditando que a saúde está ótima. Sem a arrogante decisão de nomear a procuradora Francine Schultz, é provável que o MPSC tivesse agido com menos rigor. Mas devemos agradecer que a população possa contar com o apoio do Ministério Público para poder enfrentar a relação promíscua entre Executivo e legislativo em Joinville. 

Seria irônico se a maioria dos vereadores votasse a favor do afastamento do prefeito por conta da péssima gestão que está fazendo a frente da saúde. A imagem construída da sua experiência em gestão e conhecimento na área da saúde está desmoronando e se não ficou evidente antes foi por que os recursos que têm faltado na saúde, não têm faltado na comunicação.

Numa única tacada o Ministério Público tem conseguido colocar numa sinuca de bico tanto o prefeito como o legislativo. Vamos a acompanhar os próximos lances dessa partida. 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Greve!


Dia do Colono: por que comemorar?

VALDETE DAUFEMBACK 


No Brasil, desde 1968, mediante a Lei Nº 5.496, em 25 de julho comemora-se o Dia do Colono. Várias festas e homenagens são dedicadas àqueles que têm a função básica de produzir alimentos. Normalmente, quando se usa o conceito colono, a ideia está associada ao sujeito ou aos sujeitos que imigraram da Europa a partir de 1824 para povoar colônias no Brasil.

À época, a intenção do Imperador do Brasil, o então D. Pedro I, era trazer soldados disciplinados para compor e Exército brasileiro da recém nação que se tornara independente politicamente do Portugal, já que ele não confiava nos soldados portugueses porque os mesmos poderiam se rebelar em favor da Pátria-Mãe, a qual não estava muito satisfeita em perder a próspera colônia. O outro motivo relevante que permitiu a entrada de imigrantes em território brasileiro refere-se ao desejo de povoar a região Sul exposta à cobiça de países vizinhos recém formados, somado à necessidade de substituir a mão de obra escrava pelo trabalho livre, já que a Inglaterra pressionava o Brasil para por fim ao sistema escravocrata.


O conceito colono praticamente caiu em desuso, sendo, com o passar do tempo, substituído por lavrador, agricultor, produtor rural, empreendedor rural, de acordo com as exigências do mercado e das leis tributárias e trabalhistas. Entende-se que o colono se caracterizava como proprietário de uma pequena área de terra com o emprego da mão de obra familiar que cultivava para a subsistência e venda do excedente de produção.


Muitas pessoas percebem a agricultura como uma atividade romantizada, cujo executor tratar-se de pessoa livre, dono de seu tempo e de sua produção, o que em parte não deixa de ser real, porém, se observarmos atentamente, esta profissão passou por mudanças ao longo de sua história. Foram as necessidades de adequação às normas que o inseriram em novos conceitos às novas exigências sem, no entanto, oferecer estrutura adequada à permanência de seus descendentes nesta atividade milenar.


Paradoxalmente, o maior abalo da agricultura familiar ocorreu exatamente no período em que o governo inferiu diretamente sobre a economia agrícola prestando assistência e orientação técnica de cultivo ao pretender modernizar o campo, em favor da grande lavoura e da industrialização, a partir dos anos de 1960, quando houve o fenômeno do êxodo rural, invertendo a posição do número de habitantes rurais de 70% para menos de 30% em uma década. Só como exemplo, na década de 1970, uma das maiores bacias leiteiras do estado situava-se no município de Joinville.  Hoje, parte da área rural virou chácaras ou pequenos sítios onde residem neorurais, urbanos que fizeram do local sua segunda moradia ou moram lá e trabalham na cidade.


Submetidos à lógica do capital e ao verem seus jovens sendo expulsos da vida rural, os agricultores familiares tiveram que se especializar não somente no plantio e colheita, como também no processamento artesanal e venda dos produtos para agregar valor ao seu trabalho e se manterem na terra.


Neste sentido, a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário foi um alento à agricultura familiar porque permitiu pequenos investimentos à propriedade agrícola que fez a diferença para valorizar o seu produto. Incentivos como a venda de produtos para a merenda escolar por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) o governo federal permitiu a reprodução da agricultura familiar. Mas ainda é muito pouco para assegurar os jovens na atividade agrícola. A grande vitrine que é a cidade continua a atrair para o seu espaço, todos os anos, esse público que já não alimenta muita expectativa em relação ao futuro da agricultura familiar.


Sabemos que a alimentação saudável ainda é possível nas pequenas propriedades que não se curvaram às instruções da Monsanto ou de outras empresas do ramo da arte de contaminação do solo. A agroecologia ou agricultura orgânica é uma valiosíssima possibilidade de valorização à saúde e à segurança alimentar. Mas para isso serão necessárias políticas públicas que fortaleçam as iniciativas da agricultura familiar orgânica, além da formação de uma rede de consumidores conscientes com uma visão macro ecológica de sustentabilidade.