As hienas ideológicas são um animal estranho. Se o
leitor não consegue imaginar, eu faço uma descrição: elas são bípedes (mas se caem de quatro nunca mais levantam), têm um
aspecto quase humano e estão sempre atrás do teclado de um computador a despejar
impropérios e a destilar a sua raivinha de classe. Fácil identificar.
Elas atacam em bando. Uma hora
deliram com uma ditadura comunista. Outra não querem o Mais Médicos. Insistem
que não vai ter Copa do Mundo. Não entendem um boi de economia e apostam na falência da
Petrobras. E têm no Bolsa Família o tema preferido. Para sorte da humanidade, a
duração da gritaria é proporcional à consistência intelectual. Curtinha.
Um dos últimos temas a levantar
paixões foi a aprovação do Marco Civil. “Censura do governo para impor a ditadura”, ruminaram em uníssono. Nem
se deram ao trabalho de ler o texto da lei. Porque é longo e tem conceitos que a
capacidade de leitura não atinge. E aí surge a dúvida: se estão tão preocupados
com a censura, por que o silêncio sobre o caso envolvendo Aécio Neves?
Eu próprio admito que cheguei a ter dúvidas se
realmente aconteceu. Pela insensatez da iniciativa e pela pouquíssima repercussão na
grande imprensa e nas redes sociais. Mas o episódio teve direito a um nada elogioso editorial na “Folha de S. Paulo”: o político mineiro Aécio
Neves, pré-candidato à Presidência da República, teria encetado um processo judicial
que pretendia censurar o Google, Yahoo e Bing. A razão?
Segundo o editorial do jornal, “o senador de Minas
Gerais requereu ao Judiciário paulista que sejam removidos das redes sociais e
dos sites de busca da internet os links e perfis que ligam seu nome a temas
como uso de entorpecentes e desvios de verbas públicas”. Com base nisso, ou o político é insensato
ou está mal assessorado. Nenhum democrata a sério poderia pensar na imposição de
uma censura (ainda mais prévia), por mais que sinta a tentação.
Ok... há uma atenuante. O tucano alega que quer
apenas em coibir os robôs (geradores mecânicos de mensagens). A questão merece
atenção. Faz alguns meses li, numa matéria do "Estadão", que uma hashtag repetida
23.846 vezes em pouco mais de um dia tinha apenas três retuitadas feitas por
pessoas reais. É muito mau para a democracia. O texto não falava da origem da mensagem, mas a hashtag parecia ser contra integrantes do PT.
Mas por que o episódio não repercutiu mais? Uma das
razões pode ser o segredo de justiça (não sei se aplica ou não neste caso). A
outra foi o óbvio desinteresse dos jornalões (com raras exceções). Mas uma das
causas certamente foi o silêncio das hienas ideológicas, porque para elas a
censura só existe se vier de outro lado. De qualquer forma, Aécio Neves não escapou à pecha de estar a propor a censura (veja o vídeo do CQC).
P.S.: Ah... por que a analogia com as hienas? É que elas não são muito seletivas no que se relaciona à cadeia alimentar. Além de carniça, elas comem a própria merda e a dos outros animais.