POR FABIANA A. VIEIRA
Prometo que esse texto vai terminar melhor do que começou. Afinal, ele vai começar da pior forma possível, com um vídeo do Prates. Sim, o comentarista, aquele, que disse: “hoje qualquer miserável tem carro, por isso os inúmeros acidentes nas rodovias” - uma crítica sobre a popularização do carro pelo crédito fácil aos mais pobres. Mas o vídeo agora é outro.
Não consigo entender porque ainda fico indignada com seus comentários. Confesso que já senti muita frustração
numa época. Em outro período já o ignorei e até já dei risada, mas o comentário acima ultrapassou todos os limites. Nele, Prates está
inconformado com os encaminhamentos da Copa. Disse que a pior tragédia para o
Brasil será vencer a Copa e que já está
com a camisa do Uruguai para sua torcida (sim, Uruguai, de Mujica que viveu a luta armada e compartilhou os
projetos da esquerda leninista. O Mujica que defende “dar o peixe”, para
aqueles que foram saqueados durante anos). Nada contra o Mujica, pelo contrário,
muito a favor. Mas você percebe a contradição?
Eu realmente não me importo se você gosta ou não de futebol.
Se vai torcer para o Japão, para Camarões ou não vai torcer pra nada. Eu mesma,
nem sou tão ligada, mas confesso que aprecio as rodadas sem muito fanatismo.
Agora, ligar a Copa ao (in) sucesso do governo A ou B já é conspiração demais.
E o pior, torcer para que o país perca não só a Copa, mas todas as chances de
mostrar para o mundo que é capaz de organizar um evento dessa magnitude, chega
a ser insano. Como se a derrota na Copa representasse a derrota do governo. Mesquinho
isso.
Primeiro, a Copa
Ela nunca foi determinante para uma eleição. Fosse assim,
Fernando Henrique não se reelegeria em 1998, quando o Brasil perdeu a Copa para a França. E em 2002 teria eleito seu sucessor
com a vitória do Brasil na Copa, mas quem levou foi a oposição, com Lula - que por sua vez foi vaiado na abertura do Pan, em 2007.
Segundo, manifestações x governo
Já vimos que mesmo com todo o alarde em
junho do ano passado e as intensas manifestações contra os investimentos da
Copa no Brasil, o povo quer mudanças, mas querem que as mudanças sejam feitas
por Dilma (é ela quem lidera todas as pesquisas de intenção de voto hoje, seis meses depois das manifestações). Com tudo
o que houve no ano passado, não surgiu nenhum nome ou expressão que tenha
alterado isso, para desespero da oposição. Então o projeto caos tem muita chance de
não vingar, Prates. Pelo menos, até hoje. Torce contra, que é melhor.
Terceiro, os investimentos da Copa
Eu sei que o país tem muitas prioridades.
E você, que não gosta de futebol, não é obrigado a amar a Copa, sabendo que
teve muito dinheiro investido nisso. Mas é preciso saber separar as coisas. É preciso saber que o governo federal, não construiu nenhum estádio. Esta tarefa coube aos governos estaduais, clubes de futebol e até prefeituras. Que a Copa vai acabar e o patrimônio fica, para servir outros serviços também.
Bem na real
Como
primeiro texto do ano, eu desejo mesmo
que o Brasil vença. E se não vencer a Copa, que vença o preconceito
(para aqueles que não suportam ver miseráveis comprando carros, ou pobre e ' preto' nos aeroportos e nas faculdades). Essa vitória até pode ser com ou sem a Dilma, mas
que seja sem ódio. Que
seja no debate, nas propostas e no olhar que faz a diferença. E não no
fracasso
do outro. Ou no fracasso de todos nós.
Feliz 2014, Brasil!