Corria o mês de junho, e o que começou como uma sequência de manifestações contra o aumento na tarifa do transporte público – no Brasil, historicamente caro, principalmente porque de baixíssima qualidade –, recebidas com a habitual truculência governamental, transformou-se rapidamente em uma das maiores mobilizações da nossa história republicana, e a maior desde as “Diretas Já”, em meados dos anos de 1980.
Sobre as manifestações, mantenho o que disse à época: a seu modo e muito peculiarmente, elas contribuíram para ampliar e tornar mais visível um processo de reinvenção da política por meio de uma ocupação do espaço público que o toma em seu sentido mais amplo: como um lugar de confrontos e conflitos, de afirmação das potencialidades insurgentes do presente mais que de promessas de redenção futuras.
Se para os observadores da política cotidiana tais características já apareciam em mobilizações como a “Marcha das Vadias” e as “Paradas da Diversidade”, entre outras, a força libertária e centrípeta do “Movimento Passe Livre” – minha personalidade do ano – deu nova dinâmica a esse processo. O slogan “Não é pelos R$ 0,20” deixou claro a quem quisesse entender (mas sempre há quem não queira) que o direito à cidade é, hoje, um debate central.
De quebra, o MPL e as manifestações colocaram na pauta do debate público a violência policial – e a necessidade de desmilitarizar a polícia –; o desgaste do modelo democrático centrado unicamente na política partidária e institucional; as contradições do modelo econômico desenvolvimentista patrocinado pelo governo petista; além do oportunismo da direita brasileira, sempre cansada. E trouxe de volta um pouco de paixão e criatividade à política.
Convenhamos, não é pouca coisa. País nenhum sai incólume de um acontecimento como esse. O Brasil também não.
Logo após a melancólica euforia das festas natalinas, Clóvis Gruner remexe em algo quase esquecido - nossa necessidade de reinventar a partir do real.
ResponderExcluirObrigado pela dica, Ismael Fuckner. Gostei muito do artigo, especialmente dos dois últimos parágrafos.
ExcluirMuito obrigado pela dica, Ismael Fuckner. Gostei do artigo, especialmente dos dois últimos parágrafos.
ExcluirQuando será que os indignados concientes sairão às ruas para se contrapor a essa manipulação midiática !!! SOMOS MILHÕES !!!! "Feliz Ano Novo"
ResponderExcluirDiscordo plenamente que as manifestações causaram algum efeito !!!
ResponderExcluirOs nossos políticos souberam como muita eficácia anular os efeitos !!!
uns se fazendo de BOBO e outros baixando $20 cents...
du grego