Já pensou em ser presidente da República? É possível? Sim, mas só depois de você responder à pergunta de um milhão de dólares: tem dinheiro? Quanto? Se houver dinheiro, muito dinheiro, os seus problemas estão resolvidos. Então, mãos à obra. Mas vamos começar do jeito mais simples. Se você é um produto de marketing, que tal uma análise SWOT? Os pontos fortes, os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades?
Imagine que o ponto fraco é que ninguém nunca ouviu falar em você. E que a ameaça é a absoluta falta de carisma, o que o impede de convencer os seus targets (o eleitor, claro). Não é razão para desanimar. Afinal, o seu ponto forte é você ter muita grana. Muita mesmo. Você é milionário e tem outros milionários – bancos, por exemplo – a apoiar o seu nome. É a oportunidade que tomar o poder e acabar com essa conversa do “tudo pelo social”.
A fórmula é simples. Os manuais de marketing político ensinam que é quase como vender um sabonete. Então, apresento aqui sete movimentos táticos de uma estratégia que certamente fará de você um verdadeiro candidato a presidente.
1. BACKGROUND EDUCACIONAL – Os manuais ensinam que é preciso criar uma personagem pública forte. O primeiro passo é ter um background educacional alguns furos acima da média (o que não é difícil em se tratando do Brasil). Ter estudado nos melhores colégios é um ponto de distinção. E se tiver não apenas um curso superior, mas dois, então é algo que os eleitores precisam saber. É engenheiro? Perfeito. Brasileiro adora um diploma de curso superior e engenheiros são para respeitar.
2. A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – Do ponto de vista profissional, a estratégia passa por investir na imagem de self-made man, que fez carreira nos bancos e venceu pela meritocracia. Ok... não vamos falar que é o candidato apoiado pelos bancos, porque parece que está todo mundo entalado com os juros dos cartões de crédito. E para piorar ainda ontem saiu a notícia de que os bancos retomaram 70 mil casas de pessoas que não conseguiram pagar o financiamento. Ok... os bancos entram com a grana, mas não podem mostrar a cara.
3. UM NÃO-LUGAR NA POLÍTICA – No plano da política, use o velho truque de dizer que não é político. Funciona sempre. Insista na ideia de que as soluções para o país passam pela gestão – e você tem provas dadas nesse campo –, não pela política. De qualquer forma, crie um partido. Para quê? Para dizer que os políticos são culpados dos problemas do país e que a solução passa exatamente por um não-político. Ou seja, alguém que não precisa da política para viver.
4. DIGA QUE REPRESENTA O NOVO – É importante passar a imagem de que é “o novo”, algo inédito e nunca visto. Faz parte do jogo projetar a imagem de que é diferente de “tudo isso que está aí”. Não importa se está a fazer exatamente o mesmo percurso de outros arrivistas da política, porque o importante é a percepção do eleitor. Diga que não tem o rabo preso, mesmo que esteja a ser financiado por banqueiros, que decidiram assumir o governo do país sem intermediários.
5. NEGUE QUALQUER IDEOLOGIA – É importante ser contra as ideologias. Não importa se ao mesmo tempo está a reproduzir a sua própria ideologia de classe, um ultra-liberalismo que já não tem vez em qualquer lugar do mundo. E nunca se canse de repetir que os problemas de educação, saúde, segurança ou transportes, por exemplo, só podem ser resolvidos pela mão invisível. Sim... aquela mão que está sempre a apontar o dedo do meio para os pobres.
6. PRESENÇA NA MÍDIA – A mídia é essencial para dar visibilidade à sua figura pública. No início, a imprensa terá alguma resistência ao seu nome, por causa do seu nanismo político. Mas os tempos são outros e há dinheiro de sobra. Então, comece por fazer investimentos maciços nas redes sociais, até sair do anonimato. Invista. Invista com força. A primeira ação deve ser exatamente uma campanha viral a exigir a sua participação nos debates, onde estão os candidatos com outra densidade política. Com grana, uma hora eles vão ter que notar. E não esqueça: o pessoal das Relações Públicas vai agendar entrevistas nos títulos maiores e dar alguma dimensão ao seu nome. Se os empresários que o apoiam fizerem anúncios nos meios de comunicação, isso é perfeito.
7. O ELEITOR É MANIPULÁVEL – Você tem dinheiro para investir em comunicação, trackings e influenciar influenciadores. Tome todas as suas decisões em cima dos aconteciementos, a partir do comportamento dos eleitores. E os outros candidatos? O seu alvo deve ser aquele que está exatamente à sua frente nas pesquisas. É isso que vai moldar a sua estratégia. E nunca esqueça: o eleitor é despolitizado e em muitos vai responder aos estímulos que você provocar. Só tem que dizer algumas daquelas verdades fáceis e que não exigem grande raciocínio. Diga o que eles querem ouvir. A mistificação é uma coisa da política. E a esta altura você já é um político e tanto...
É a dança da chuva.
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Tem um novo sabonete no mercado... |