POR DOMINGOS MIRANDA
O Exército já prestou serviços gloriosos ao Brasil, tais como a campanha do Tenentismo, para moralizar a política, a participação na Segunda Guerra Mundial e as forças de paz em vários países. No entanto, houve períodos em que muitos de seus integrantes mancharam para sempre a instituição com a prática de torturas nos quartéis e atos de terrorismo. Um destes fatos vergonhosos aconteceu no dia 27 de agosto de 1980, quando uma carta-bomba explodiu na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), matando a secretária da entidade, Lyda Monteiro da Silva. Quatro militares do Centro de Investigações do Exército (CIE) estavam envolvidos na ação.
Na época do atentado, o Brasil vivia em plena ditadura e muitos militares da “linha dura” não aceitavam a chamada abertura política. Em 1979, a anistia colocou em liberdade os presos políticos e permitiu o retorno dos exilados. Todos os setores oposicionistas sofriam nas mãos destes descontentes de farda. Em 1980, o bispo de Nova Iguaçu, dom Valdyr Calheiros, e o jurista Dalmo Dalari foram sequestrados e barbaramente espancados. A OAB denunciava estes desmandos e foi colocada no alvo dos facínoras fardados.
A carta-bomba destinada ao presidente da OAB, confeccionada pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário, foi entregue pessoalmente pelo sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany. Quem coordenou a ação terrorista foi o coronel Freddie Perdigão Pereira. Uma servente da OAB foi testemunha ocular da entrega da carta e, somente 20 anos mais tarde, confirmou o responsável pela entrega: Guarany. As investigações feitas na época não deram em nada e nenhum culpado foi punido.
Lyda Monteiro da Silva abriu a correspondência destinada a Eduardo Seabra Fagundes, presidente da OAB, quando ocorreu a explosão. A secretária teve um braço arrancado e outras mutilações pelo corpo. Morreu na ambulância, a caminho do hospital. No mesmo dia houve outros atentados no Rio: no gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho (com cinco pessoas feridas) e na sede da sucursal do jornal Tribuna Operária (do PCdoB). No ano seguinte aconteceu um outro atentado que fracassou, durante as festividades do 1º de Maio, no Riocentro, com a presença de mais de 10 mil pessoas. A bomba explodiu no colo de um sargento e feriu gravemente um capitão, ambos estavam no interior de um carro Puma.
Era um período de grande intranquilidade. Bombas explodiam em bancas que vendiam jornais alternativos, verdadeiras operações de guerra eram montadas para tentar enfraquecer as greves operária, seu líderes eram presos e tentaram calar a Igreja Católica (tomaram dela a sua rádio). De janeiro de 1980 a abril de 1981, a “tigrada”, como era conhecido o grupo radical do Exército, realizou 74 ações terroristas. Elio Gaspari, em seu livro “A ditadura acabada”, afirma que “a Comunidade de Informações, que trabalhava em seu benefício, não desvendara um só dos atentados que ocorriam no país”.
Nos dias atuais causa calafrio quando vemos um ex-capitão, que em 1987 ameaçara colocar bombas nos quartéis por causa dos baixos soldos, figurar em segundo lugar nas pesquisas como candidato a presidente da República. Não devemos descuidar das serpentes, quando menos se espera, elas podem nos picar. Terrorismo nunca mais.s
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
Sobre parafusos e especulação imobiliária
Há uns 20, 30 anos, você começa a comprar terras superdesvalorizadas na periferia da cidade. E, ao mesmo tempo, vai pressionando os governos a investir nas áreas mais valorizadas para diminuir ainda mais o preço da terra na periferia, visando mais compras a preços ridículos. Quando você não tem mais o que comprar, começa a dizer por aí que o desenvolvimento da cidade precisa ser invertido, em direção às suas terras, porque "lá é onde o trabalhador mora".
Faz lobby para alterar o zoneamento, coloca diretor seu como laranja de entidade de trabalhadores no conselho da cidade (órgão que vai debater o novo zoneamento), manda ele para audiências públicas criticar os movimentos sociais, assume entidades empresariais que dão espaços privilegiados na mídia para defender seu interesse e investir em políticos amigos (ou vendidos mesmo) até que, depois de um tempo, o novo zoneamento é aprovado e suas terras passam a ficar extremamente valorizadas.
Meses depois da nova lei ser aprovada pelos seus políticos amigos (que assumiram o poder com a sua ajuda e das entidades que comandava), você manda o seu diretor ir ao jornal novamente mas, desta vez, para dizer que está lançando projetos imobiliários em mais de três milhões de metros quadrados de terras.
Aquelas que você comprou a preço de banana, mas agora, graças a sua atuação política e rentista-exploradora, vai te dar um lucro enorme, lembra?
E todo mundo na cidade acha normal. Ninguém questiona. Conselho da Cidade, então? Tem que pedir autorização pra falar e o nome é capaz de não ser colocado nas atas públicas, já que criaram uma norma para esconder os integrantes e seus interesses explícitos nas decisões. Quem denuncia isto é demitido, processado, chamado de "arruaceiro" pelos políticos e colegas de profissão, sendo que estes deveriam ser os primeiros a se levantar contra devido ao seu conhecimento técnico, mas se escondem porque seus clientes são os mesmos lobistas.
E assim a tragédia urbana se multiplica: crianças, mulheres, jovens e pobres se reproduzem na miséria criada por aqueles que dizem estar agindo em seus nomes.
O poder de alguns aumenta, e a fábrica de coalizão de consensos se mantém como a coisa mais impiedosa do local.
Em uma cidade latino americana qualquer, agosto de 2017.
terça-feira, 22 de agosto de 2017
Os honoris causa de Lula são ofensa para os "odiadores"
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É entediante retornar ao mesmo tema vezes e vezes sem conta. Mas hoje volto a falar nos títulos de Doutor Honoris Causa atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, para começar, deixo um statement que considero definidor: os doutores (gente com doutorado) que eu conheço não reclamam dos títulos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, a maioria até aplaude.
Mas ainda existe muita gente que reage com o fígado a cada título recebido pelo o ex-presidente? Eis a ironia. Quem reclama é justamente o pessoal pouco afeito às coisas do conhecimento: os “sábios” das redes sociais, os comentaristas dos blogs e, claro, essa petty bourgeoisie com canudo, que se acha superior (sem o ser, claro). É triste, mas na maioria dos casos estamos a falar de gente que tem um certo desprezo pelas letras.
Lula parece ser duro de engolir. E há pelo menos três pontos a destacar. 1. Mesmo que o discurso seja de negação, a prática mostra um indisfarçável ódio de classe. 2. Há uma excessiva veneração dos títulos acadêmicos no Brasil. Afinal, ao longo da história, quando os mais pobres não tinham acesso à universidade, o diploma tornou-se fator de distinção social. 3. Há o preconceito contra um homem que nasceu na pobreza e chegou à presidência.
Episódios ridículos se sucedem. Um dos mais recentes ocorreu na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que pretendia atribuir o título ao ex-presidente. Um juiz mandou suspender a entrega da distinção, num claro atropelamento das regras de autonomia das universidades. E foi mais longe. Ordenou que a Polícia Federal estivesse presente para impedir o evento. Isso é tão terceiro-mundo.
Ora, é preciso respeitar. Lula já recebeu títulos em algumas das mais renomadas instituições do mundo, como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Salamanca ou o Instituto de Estudos Políticos de Paris. O Sciences Po, como é conhecida a escola francesa, por exemplo, foi fundado em 1871 e desde então só atribuiu esse grau honorífico a 16 pessoas. Lula é o primeiro latino-americano. Não é para qualquer um.
Em qualquer país civilizado a atribuição dessas distinções encheria os cidadãos de orgulho. E Lula poderia mesmo contar com um republicano silêncio dos seus desafetos políticos. Mas no Brasil é diferente. O sucesso e o reconhecimento internacional do ex-presidente soam quase como ofensa. É o gatilho que espoleta as reações dos “odiadores”, gente que transformou o ódio em vocação.
É a dança da chuva.
É entediante retornar ao mesmo tema vezes e vezes sem conta. Mas hoje volto a falar nos títulos de Doutor Honoris Causa atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, para começar, deixo um statement que considero definidor: os doutores (gente com doutorado) que eu conheço não reclamam dos títulos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, a maioria até aplaude.
Mas ainda existe muita gente que reage com o fígado a cada título recebido pelo o ex-presidente? Eis a ironia. Quem reclama é justamente o pessoal pouco afeito às coisas do conhecimento: os “sábios” das redes sociais, os comentaristas dos blogs e, claro, essa petty bourgeoisie com canudo, que se acha superior (sem o ser, claro). É triste, mas na maioria dos casos estamos a falar de gente que tem um certo desprezo pelas letras.
Lula parece ser duro de engolir. E há pelo menos três pontos a destacar. 1. Mesmo que o discurso seja de negação, a prática mostra um indisfarçável ódio de classe. 2. Há uma excessiva veneração dos títulos acadêmicos no Brasil. Afinal, ao longo da história, quando os mais pobres não tinham acesso à universidade, o diploma tornou-se fator de distinção social. 3. Há o preconceito contra um homem que nasceu na pobreza e chegou à presidência.
Episódios ridículos se sucedem. Um dos mais recentes ocorreu na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que pretendia atribuir o título ao ex-presidente. Um juiz mandou suspender a entrega da distinção, num claro atropelamento das regras de autonomia das universidades. E foi mais longe. Ordenou que a Polícia Federal estivesse presente para impedir o evento. Isso é tão terceiro-mundo.
Ora, é preciso respeitar. Lula já recebeu títulos em algumas das mais renomadas instituições do mundo, como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Salamanca ou o Instituto de Estudos Políticos de Paris. O Sciences Po, como é conhecida a escola francesa, por exemplo, foi fundado em 1871 e desde então só atribuiu esse grau honorífico a 16 pessoas. Lula é o primeiro latino-americano. Não é para qualquer um.
Em qualquer país civilizado a atribuição dessas distinções encheria os cidadãos de orgulho. E Lula poderia mesmo contar com um republicano silêncio dos seus desafetos políticos. Mas no Brasil é diferente. O sucesso e o reconhecimento internacional do ex-presidente soam quase como ofensa. É o gatilho que espoleta as reações dos “odiadores”, gente que transformou o ódio em vocação.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
É preciso admitir: Udo tinha razão
POR JORDI CASTAN
O candidato Udo Dohler estava certo quando insistia no mantra que o problema de Joinville não era a falta de dinheiro, mas sim a falta de gestão. Não faltava dinheiro no governo anterior e não falta dinheiro neste governo. O que faltava antes e continua faltando agora é gestão. Seguimos sem um gestor.
O discurso que acusava o ex-prefeito Carlito Merss de não ser um bom gestor trazia a mensagem implícita de que o candidato Udo Dohler seria o gestor que Joinville tanto precisava. Uma mensagem que a maioria do eleitorado acreditou. Tanto acreditou que votou no pretenso gestor para por ordem na gestão da cidade.
O resultado desastrado da primeira gestão Udo Dohler não foi suficiente para que o eleitor abrisse os olhos, que votou novamente no mantra do gestor. O resultado é que Joinville elegeu de novo um administrador medíocre e a cidade continua parada e abandonada. Para ter uma ideia do nível de ineficiência, só foi gasto 1,1% do orçamento previsto para a mobilidade.
Joinville merece um administrador melhor. E no quadro atual qualquer outro candidato parece melhor que o atual. O eleitor não acreditou na capacidade dos demais candidatos e os partidos não apresentaram candidatos capazes de convencê-los de que seriam capazes de administrar uma quitanda com um mínimo de sucesso. O resultado desta falta de bons candidatos foi a recondução do mesmo gestor que já mostrou que não foi capaz de gerir Joinville com um mínimo de competência, no primeiro mandato e continua sem fazê-lo no segundo.
A cidade enfrenta décadas seguidas de desgoverno, sem conhecer uma gestão municipal digna deste nome. Joinville está abandonada e o dinheiro público ou escorre pelo ralo ou dorme no caixa sem que sejam construídas as obras públicas que engessam o desenvolvimento da cidade. A situação só não é pior porque este é um povo pacato, que aceita mansamente todas as escusas e justificativas apresentadas pelo poder público. Ou seja, para não fazer que Joinville progrida e conitnue abandonada e sem rumo.
Só nos resta esperar que um dia o joinvilense acorde desta letargia e descubra, de uma vez por todas, que Joinville está como está porque somos um exército de leões comandado por um cordeiro. Se acordássemos deste pesadelo sem fim, poderíamos escolher um bom gestor de verdade, não este engabelador que aí está. E então e por Joinville de volta no eixo do desenvolvimento. Mas até lá teremos só essa gestão medíocre e covarde incapaz de tirar Joinville do marasmo em que esta submersa pela inépcia do seu gestor.
sábado, 19 de agosto de 2017
Burro, burro, burro
O futebol é o esporte mais popular do mundo. Não é por acaso. As regras são muito simples e qualquer pacóvio, mesmo que jamais tenha dado um chute numa bola, se acha autoridade no assunto. Na arquibancada, cada torcedor é um técnico.
- Com esse Osvaldão a gente não ganha de ninguém. É um técnico que só sabe inventar. Ih, olha essa jogada do Luisinho. O cara tropeçou na bola.
E grita para o banco.
- Ei, Osvaldão, tira essa múmia de campo.
A partida está no fim e o sujeito ao lado, a roer as unhas de nervoso, acha que o jogador não tem culpa.
- Pô, o culpado é o Osvaldão. Todo mundo sabe que o Luisinho é atacante, mas esse técnico fica inventando e escala o coitado como meio-de-campo.
- O Luisinho é craque mas está velho e não tem mais pulmões para jogar no meio-de-campo. Só o Osvaldão é que não vê.
- Assim vamos ficar no 0 a 0 e jogando em casa contra um timeco. Haja coração.
- Como é que a diretoria foi contratar essa besta para técnico?
- É culpa da imprensa. Os jornalistas ficaram enchendo a bola do cara só porque foi campeão num time lá na Arábia.
- Eu nem sabia que os árabes jogavam futebol. Pensei que o negócio deles fosse explodir bombas.
- Pois é, mandaram essa bomba de técnico para cá. O pior é que esse Osvaldão ganha um dinheirão.
- Eu é que quero o meu dinheiro de volta. Esta pelada não vale um tostão.
Nesse momento Luisinho dá de canela na bola. A torcida vai à loucura.
- Tira essa múmia de campo, Osvaldão.
- É foda. O cara escala mal e não sabe a hora de fazer as substituições. Técnico burro. Filho da...
E a galera, em coro, acha o mesmo.
- Burro, burro, burro.
Osvaldão tenta organizar o time e, do banco, grita para os jogadores manterem a calma. Pede que toquem a bola e não entrem no desespero do chuveirinho na área. Ainda faltam três minutos para o fim do jogo. A torcida continua:
- Burro, burro, burro.
Nesse momento, Luisinho recebe a bola no meio do campo, deixa dois zagueiros sentados com dribles geniais e, na saída do goleiro, toca no canto. Gol de placa. A torcida, delirando, ensaia um coro:
- Luisinho, Luisinho, Luisinho.
Os dois torcedores olham um para o outro.
- Eu não disse? O Osvaldão é um líder. Sabe jogar para os três pontos e dá confiança aos jogadores.
- É um técnico experiente. Sabe que craque não se tira. Craque resolve. Ele fez bem em deixar o Luisinho em campo.
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