![]() |
Será? |
POR FELIPE SILVEIRA
Nós, pessoas de esquerda, acreditamos que os problemas do debate com a direita são três: 1) desonestidade intelectual; 2) dificuldades cognitivas e; 3) imersão em um sistema hegemônico que influencia fortemente a opinião. Nós, de esquerda, sempre acreditamos estar um passo à frente nestes quesitos, tornando o debate mais qualificado. Vem daí a ideia de que é nosso o monopólio das virtudes. Este texto é sobre a vertiginosa queda de qualidade do debate na esquerda.
De uns tempos pra cá, talvez por causa das redes sociais, é cada vez mais evidente o descuidado de parte das pessoas de esquerda para lidar com os fatos. Nossa preocupação sempre foi discutir a partir dos fatos, o que nos dá uma vantagem enorme, levando em consideração o tamanho da injustiça social do mundo. Bastava falar a verdade que a verdade vos libertaria.
Um exemplo banal: circula nas redes de esquerda um texto com o número de escola ocupadas e que aponta a falta dessa informação na imprensa, sugerindo não haver cobertura jornalística de um tema tão importante. Não é verdade. Essa é uma informação que está na imprensa todos os dias, mas quem não vê e não lê jornal acaba reproduzindo, já que acredita que a imprensa hegemônica está a serviço do capital e consequentemente não cobre algo popular.
Repare que não estou defendendo a imprensa hegemônica, a qual acredito estar mesmo a serviço do capital. Mas a discussão precisa ser feita a partir dos fatos, e não dos dogmas que cada vez mais se cristalizam à esquerda. Os fatos são cheios de nuances, tons de cinza, que precisam ser analisados com profundidade. A discussão tem ficado cada vez mais binária, preto no branco.
Uma das consequências disso é que os veículos com viés de esquerda têm perdido qualidade, falando com este leitor cada vez menos preparado para o debate. Não à toa que as “barrigadas” (notícias anunciadas como verdadeiras que se mostram falsas depois da apuração) tenham se tornado mais frequentes nestes canais.
Dessa forma, vamos nos igualando à direita, que continua com os mesmos problemas citados no primeiro parágrafo, mas que, com o capital ao seu lado, vence as batalhas. O diferencial da esquerda sempre foi um apuro maior do debate, coisa que tem cada vez mais se perdido. É preciso recuperar. Melhoremos.