quarta-feira, 13 de abril de 2016

O que Guantánamo pode ensinar para as eleições municipais

POR THIAGO LUIZ CORRÊA
O mandato do presidente Barack Obama está chegando ao fim. Nos Estados Unidos costuma-se chamar o presidente em seu último ano de mandato de "lame duck" (pato manco). É como se ele estivesse lá apenas esquentando a cadeira para o próximo e seu poder de decisão e barganha já não fosse mais o mesmo. Mas ele não vestiu esta carapuça e está fazendo muito mais do que apenas manter o Governo Federal americano em banho maria.

No mês passado Obama esteve em Cuba. Oficialmente a agenda falava em reforçar a mensagem de cooperação e quebra das sanções americanas à ilha, mas todos sabiam que, bem no fundo, não passava de uma tentativa de que, de alguma forma a bola fosse levantada e sua apadrinhada Hillary Clinton conseguisse fazer uma média com os imigrantes cubanos que formam uma população bastante expressiva do público do sudeste dos Estados Unidos (que tradicionalmente possui mais afinidade pelos candidatos do Partido Republicano).

A visita de Obama a Cuba foi muito bem vista pela comunidade internacional, mas levantou alguns pontos um tanto delicados à atual administração americana. O presidente Obama vem prometendo o fechamento de Guantánamo desde a sua primeira campanha à presidência, em 2008. Oito anos se passaram e a prisão continua em funcionamento.

Obama mentiu? Não. Durante todo este período o fechamento de Guantánamo foi e voltou várias vezes para a mesa de negociação. Inclusive a situação melhorou bastante. A prisão que já chegou a ter 800 presos hoje enclausura "apenas" 91 pessoas.

São 91 presas sem ter passado por um julgamento. Alguns sequer possuem alguma acusação formal registrada, entre eles um iemenita detido há TREZE ANOS, oito deles em greve de fome sendo alimentado à força por uma sonda.

E o que eu ou você temos a ver com isso tudo?

Barack Obama pode ter a melhor das intenções, mas ele não governa sozinho. O fechamento da prisão extra-judicial depende também da boa vontade do Senado, onde ele não tem maioria. É claro que Obama sabia disso quando prometeu o encerramento das atividades em suas duas campanhas, mas preferiu jogar o jogo com as armas que tinha e utilizou essa bandeira como uma promessa, mesmo sabendo que bater o martelo não cabia apenas a ele.

O CASO BRASILEIRO - O mesmo aconteceu no Brasil, onde grandes projetos almejados pelo governo Dilma não vão para a frente devido à total falta de vontade política da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde Eduardo Cunha é capaz de passar o final de semana inteiro fazendo assembleias para acelerar o processo do impeachment de Dilma, mas está há meses com as reformas política e tributária encostadas. O mesmo vale para o Senado, que aproveita o momento em que todas as atenções estão voltadas para a instabilidade política e aprova em primeiro turno a isenção de IPTU para propriedades alugadas por igrejas.

Dilma não têm controle nenhum sobre esses acontecimentos. Qualquer tentativa de interferência seria inconstitucional, pois a presidenta não possui autoridade lá, está fora de sua jurisdição. Mas quando as más notícias estampam os jornais, o nome em letras garrafais é “Governo Dilma”, na hora da caça às bruxas não é o Renan Calheiros que tem um boneco inflável.

Estamos mirando no alvo errado e isso acontece porque não fomos devidamente ensinados sobre quais são as atribuições de cada cargo público e também não fizemos muito esforço para procurar descobrir. O resultado disso é que acabamos acreditando em promessas de campanha que não possuem nenhuma validade.

Lembre-se disso nessa eleição municipal quando aquele vereador aparecer na sua vizinhança prometendo asfalto na sua rua, pergunte-o como ele pretende cumprir essa promessa se um vereador não tem poder para executar obras. Pergunte ao seu candidato a prefeito quais são as medidas objetivas que ele pode tomar para deixar a cidade o mais próximo possível do previsto do seu plano de governo mesmo se no final das contas ele tiver uma Câmara de Vereadores que seja oposicionista a sua gestão.

O simples fato de perguntar esse tipo de coisa ajudará a esclarecer de quem são as responsabilidades e pode auxiliar na cobrança e fiscalização dos nossos representantes. Não se deixe iludir por propostas vazias, precisamos de propostas concretas e factíveis, mesmo que não tenham nada de mirabolantes. Não precisamos de Guantánamos à la Babitonga.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A "tia do Fort Atacadista" e as drogas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Todos tivemos conhecimento do episódio ocorrido no Fort Atacadista. Apanhada a furtar, uma mulher foi submetida a tratamentos degradantes. Num filme, funcionárias do supermercado obrigavam a mulher a comer um ovo cru. Em outra imagem, a mulher aparece numa câmara frigorífica, com as suas algozes a atirarem água gelada sobre ela.

O episódio transpôs as fronteiras de Joinville. As imagens se espalharam pelo Brasil – e até no exterior – através das redes sociais. A repercussão negativa levou a direção do supermercado a emitir uma nota à imprensa, informando que as funcionárias tinham sido demitidas por justa causa, bem como o chefe da segurança.

O que dizer? É barbárie. Nada a acrescentar. Mas em meio a toda a celeuma uma discussão passou batida: a questão das drogas. Tomo o exemplo do fac-símile (no final do post), que traz o seguinte texto: “A tia do caso do Fort Atacadista foi presa portando crack. Quando ela for solta, provavelmente vai precisar roubar novamente. E daí?”.

Mais abaixo, o autor da nota revela que o irmão também é usuário. E diz que não seria assim se ele tivesse tomado umas surras na época devida. É o tipo de mentalidade que ainda prevalece no Brasil, onde há uma estigmatização dos usuários de drogas: o lugar deles é a cadeia. Quando saem, voltam à má vida. E temos um ciclo vicioso (sem trocadilho).

As pessoas parecem estar desatentas: não será hora de falar em descriminalização do consumo de drogas? Não é chegado o tempo de começar a tratar a dependência química como doença e não como crime? A questão é séria demais para ser deixada na mão de moralistas, em especial os que pululam nas redes sociais.

Não sou especialista sobre o assunto. Se alguma “autoridade” tiver nessa discussão será pelo fato de viver em Portugal, onde o consumo de drogas (todas e não apenas a maconha ou haxixe) foi descriminalizado há 15 anos. E com sucesso. Mas atenção, para evitar confusões: descriminalizaram o consumo e não as drogas.

O modelo português é referência para outros países, mesmo os mais desenvolvidos. O que aconteceria à mulher do Fort Atacadista se ela estivesse em Portugal? Em vez de viver a entrar e a sair da cadeia, certamente estaria a receber tratamento médico. O país tem  cerca de 40 mil pessoas em tratamento e os resultados são positivos e mais que visíveis.

1.     Há menos mortes provocadas pelo uso de drogas menos doenças (overdoses, por exemplo).
2.     Tem diminuído o número de usuários contaminados com o HIV-AIDS, o que tira os custos governamentais com os tratamentos.
3.     Houve uma diminuição do consumo entre jovens na faixa etária dos 15 aos 19 anos.
4.     Sem ter que se preocupar em prender usuários, a polícia pode dedicar mais tempo a investigar traficantes e produtores.
5.     Sem prender usuários, diminuiu a população carcerária.
6.     Com as autoridades de saúde a ministrarem os tratamentos de forma gratuita, diminuíram os crimes de pessoas que tentam obter dinheiro para a droga. Seria, por exemplo, o caso da mulher do Fort Atacadista.

A questão é complexa e não cabe num simples texto de blog. Mas não há dúvidas de que o Brasil precisa de uma mudança de mindset: esquecer os preconceitos e os moralismos para tratar a questão das drogas como uma doença. O país só tem a ganhar com isso.


É a dança da chuva.






Passarinhos...não passarão.


É melhor não confundir insônia com trabalho

POR JORDI CASTAN

Escrever todas as segundas é meu compromisso com os leitores e os demais companheiros do Chuva Ácida. Uma das recompensas de escrever aqui é poder interagir com os leitores que, através dos seus comentários, promovem um debate de ideias e conceitos. Há de tudo nesta vinha do Senhor, mas o post da semana passada "Fazer campanha contra os candidatos desonestos" mereceu um comentário do leitor que se identificou como “Anônimo 2” e que me motivou mas que a responder nos comentários a aprofundar o debate aqui.

Há, no mundo da política, um processo de construção de imagem dos políticos. Há uma estrutura poderosa e custosa que se dedica dia e noite a fabricar mitos, a promover a imagem de cada um deles, de acordo com os anseios do eleitorado. Quem ainda lembra a imagem do Tebaldi dirigindo uma patrola ou com um capacete vistoriando obras? O objetivo era o de promover a imagem de ação. Alguns acrescentam a estas imagens “construídas”, acompanhadas de motes adequados, como: “Este sim que trabalha”, ou “Não há segredo, há trabalho” contribuem a projetar a imagem que o eleitor quer ver.

Para isso os marqueteiros e os institutos de pesquisas trabalham constantemente. Se o problema é a saúde, nada melhor que mostrar alguém que conhece de saúde e com experiência. Se as pesquisas identificam que o eleitor prefere um gestor, pois se destaca a imagem do gestor, o empresário de sucesso que administra com competência e conhecimento. Assim se constroem imagens para atender as demandas do mercado “eleitoral”.

No imaginário joinvilense a imagem do político trabalhador vende muito bem. Há, na idiossincrasia do eleitor, uma fascinação por quem acorda cedo e trabalha até tarde. Há  uma mensagem forte nessa imagem. Forte sim, mas superada pela realidade. Há uma mudança sensível de modelo. Cada vez mais são importantes os resultados e menos os cumpridores de horário. É mais importante a eficácia e a efetividade, do que passar horas a fio fazendo o que deveria ser feito em menos tempo e de forma mais eficiente.

Indo um pouco além, o eleitor já começou a entender que não há sentido em fazer bem feito aquilo que não precisa ser feito. Ver a administração pública como um referente de inépcia tem um impacto terrível sobre a imagem do administrador municipal. Temos que nos perguntar: de que adianta acordar tão cedo, se não é possível ver os resultados de madrugar tanto? É bom não confundir insônia com trabalho. Porque o eleitor que ver a sua cidade melhor, isso é a única coisa que lhe interessa.

O tema da honestidade dos políticos é apaixonante. Há uma tendência, neste momento, em confundir honestidade com não roubar, com não receber propina, com não ser corrupto. O conceito de honestidade do homem público é muito mais profundo. Vai muita além desta visão simplista de honestidade e desonestidade.

Podemos considerar  honesto o administrador que oferece cargos a comissionados apadrinhados por legisladores em troca de apoio? É honesto aquele que promete fazer obras e entregá-las em prazos que sabe que não cumprirá? Podemos considerar que é honesto fazer promessas sem intenção ou sem possibilidade de ser cumpridas, com o único objetivo de iludir o eleitor? Ou são desonestos só os políticos que roubam? Em outras palavras, alguém acredita mesmo que os nossos políticos são honestos? Que conseguiriam passar 24 horas sem mentir uma única vez? Ou o próprio eleitorado é o culpado, porque gosta de ser iludido e prefere candidatos que não dizem a verdade? As perguntas estão postas. E você, o que acha?

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Já chega de pontes que nos levam ao passado















POR SALVADOR NETO

O O PMDB, este partido que não sai dos governos federais desde 1993, já teve seus dias de glória. Mas foi nos tempos em que ainda era o velho MDB na ditadura. Hoje, em que pese ter valorosos militantes nos municípios brasileiros, é reconhecidamente o herdeiro do antigo PFL, hoje DEM. Há governo, estou dentro.

Com uma cúpula muito esperta, ao ver o projeto do qual é parte como vice-presidente com o “estadista” (sqn) Michel Temer fazer água na guerra santa produzida por economia ruim x crise política, imediatamente passou a conspirar contra o próprio governo que ajudou a eleger. É filme velho na história política brasileira, basta estudar.


A novidade é o projeto que anunciaram como a salvação da lavoura Brasil, o tal “Ponte para o Futuro”. Na verdade não é projeto, é uma senha para atrair apoios a um capital ofegante por “pegar” o Brasil novamente em suas mãos, sinalizando que a prática neoliberal voltaria com muita força. Para resolver questões “fiscais”. De fato o conteúdo não tem absolutamente nada de futuro, mas tem tudo de passado. Deveria chamar-se de “Ponte para o Passado”, pois nos remete ao país que vivemos entre 1994-2002 nos governos FHC do PSDB/DEM e... PMDB.

Programas sociais que custam ao governo, como o Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Mais Médicos, Fies, Pontos de Cultura, Seguro-desemprego, Pronatec, Ciência sem Fronteiras, etc, seriam cortados. Concentrar os programas sociais apenas nos mais miseráveis, os 10% mais pobres, que vivem com menos de 1 dólar por dia. Afinal, para quê mais que isso não é? Nada mais do passado quanto isso. Fim da política de valorização do salário mínimo, de todas as políticas sociais que elevaram mais de 50 milhões de brasileiros de classe social. Privatizações, ah isso seria mais que acelerado, seria imediato. Afinal, para quê Petrobras?

A defesa por uma volta ao passado defendida pelo PMDB já chegou aqui em Joinville há quase quatro anos. Em 2012, graças à sabedoria política do engenhoso ex-senador LHS, os eleitores aceitavam o empresário Udo Döhler como a “salvação da lavoura Joinville”. Diziam que era um homem visionário, preparado, entendia tudo de saúde, a infraestrutura iria mudar, pavimentações seriam aceleradas, enfim, a ponte para o futuro de Joinville estava ali. Só que não. O que se vê hoje é uma cidade abandonada, mal cuidada, com pessoas doentes sem leitos nos hospitais, ainda com falta de medicamentos nos postos de saúde.

Os buracos ocuparam as ruas, as praças esperam alguém para cuidar delas, e o povo também. De pontes, nem algum rascunho da prometida ponte do Adhemar Garcia, estupenda, saiu da ponta do lápis, que dirá do papel. Os bairros esperam o asfalto, e também o pedido de desculpas por tanta incompetência. Passado, é isso que o PMDB trouxe à cidade, assim como hoje quer fazer com o país. Passado. Não precisamos mais de passado. Precisamos avançar verdadeiramente ao futuro. Udo é passado, uma ponte que foi só miragem.

Para finalizar a grande obra da gestão do PMDB/Udo, a pérola da inovação foi a seguinte: para trocar os secretários que saíram para disputar as eleições de outubro, Udo caprichou. Colocou um médico na educação, uma advogada na saúde, um militar na secretaria de assistência social, um jornalista assessor de imprensa no esporte e um comerciante na cultura. Das duas uma: ou são muito competentes (estão no governo desde 2013 e nada...), ou não há mais ninguém aceitando estar nesta ponte que cai. De pontes o PMDB entende, mas sempre para o passado. Joinville e o país querem mais é futuro. E dos bons.

É assim nas teias do poder...