POR THIAGO LUIZ CORRÊA
O mandato do presidente Barack Obama está chegando ao fim. Nos Estados Unidos costuma-se chamar o presidente em seu último ano de mandato de "lame duck" (pato manco). É como se ele estivesse lá apenas esquentando a cadeira para o próximo e seu poder de decisão e barganha já não fosse mais o mesmo. Mas ele não vestiu esta carapuça e está fazendo muito mais do que apenas manter o Governo Federal americano em banho maria.No mês passado Obama esteve em Cuba. Oficialmente a agenda falava em reforçar a mensagem de cooperação e quebra das sanções americanas à ilha, mas todos sabiam que, bem no fundo, não passava de uma tentativa de que, de alguma forma a bola fosse levantada e sua apadrinhada Hillary Clinton conseguisse fazer uma média com os imigrantes cubanos que formam uma população bastante expressiva do público do sudeste dos Estados Unidos (que tradicionalmente possui mais afinidade pelos candidatos do Partido Republicano).
A visita de Obama a Cuba foi muito bem vista pela comunidade internacional, mas levantou alguns pontos um tanto delicados à atual administração americana. O presidente Obama vem prometendo o fechamento de Guantánamo desde a sua primeira campanha à presidência, em 2008. Oito anos se passaram e a prisão continua em funcionamento.
Obama mentiu? Não. Durante todo este período o fechamento de Guantánamo foi e voltou várias vezes para a mesa de negociação. Inclusive a situação melhorou bastante. A prisão que já chegou a ter 800 presos hoje enclausura "apenas" 91 pessoas.
São 91 presas sem ter passado por um julgamento. Alguns sequer possuem alguma acusação formal registrada, entre eles um iemenita detido há TREZE ANOS, oito deles em greve de fome sendo alimentado à força por uma sonda.
E o que eu ou você temos a ver com isso tudo?
Barack Obama pode ter a melhor das intenções, mas ele não governa sozinho. O fechamento da prisão extra-judicial depende também da boa vontade do Senado, onde ele não tem maioria. É claro que Obama sabia disso quando prometeu o encerramento das atividades em suas duas campanhas, mas preferiu jogar o jogo com as armas que tinha e utilizou essa bandeira como uma promessa, mesmo sabendo que bater o martelo não cabia apenas a ele.
O CASO BRASILEIRO - O mesmo aconteceu no Brasil, onde grandes projetos almejados pelo governo Dilma não vão para a frente devido à total falta de vontade política da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde Eduardo Cunha é capaz de passar o final de semana inteiro fazendo assembleias para acelerar o processo do impeachment de Dilma, mas está há meses com as reformas política e tributária encostadas. O mesmo vale para o Senado, que aproveita o momento em que todas as atenções estão voltadas para a instabilidade política e aprova em primeiro turno a isenção de IPTU para propriedades alugadas por igrejas.
Dilma não têm controle nenhum sobre esses acontecimentos. Qualquer tentativa de interferência seria inconstitucional, pois a presidenta não possui autoridade lá, está fora de sua jurisdição. Mas quando as más notícias estampam os jornais, o nome em letras garrafais é “Governo Dilma”, na hora da caça às bruxas não é o Renan Calheiros que tem um boneco inflável.
Estamos mirando no alvo errado e isso acontece porque não fomos devidamente ensinados sobre quais são as atribuições de cada cargo público e também não fizemos muito esforço para procurar descobrir. O resultado disso é que acabamos acreditando em promessas de campanha que não possuem nenhuma validade.
Lembre-se disso nessa eleição municipal quando aquele vereador aparecer na sua vizinhança prometendo asfalto na sua rua, pergunte-o como ele pretende cumprir essa promessa se um vereador não tem poder para executar obras. Pergunte ao seu candidato a prefeito quais são as medidas objetivas que ele pode tomar para deixar a cidade o mais próximo possível do previsto do seu plano de governo mesmo se no final das contas ele tiver uma Câmara de Vereadores que seja oposicionista a sua gestão.
O simples fato de perguntar esse tipo de coisa ajudará a esclarecer de quem são as responsabilidades e pode auxiliar na cobrança e fiscalização dos nossos representantes. Não se deixe iludir por propostas vazias, precisamos de propostas concretas e factíveis, mesmo que não tenham nada de mirabolantes. Não precisamos de Guantánamos à la Babitonga.