domingo, 5 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O Horário Eleitoral está ultrapassado
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Desde a abertura democrática vivida pelo Brasil nos anos 1980 nós temos o mesmo perfil de campanha eleitoral: candidato bonzinho, que mostra a família e as suas origens, fala que quer colocar sua prioridade nas políticas sociais, e deseja o melhor para todo mundo. Soma-se a isto a caricatura das propagandas. Maquiagem, estúdio perfeito, pessoas cooptadas que nem sempre falam a realidade, e desvio de informações são realidades nas mensagens dos candidatos. Parece comercial de margarina.Propostas genéricas dominam o tom de quem está ganhando nas pesquisas, e ataques daqueles que estão atrás desesperados por mais pontos percentuais nos levantamentos de intenção de voto. Para os partidos menores, sobram aberrações eleitorais e uma pífia qualidade de propostas, com raras exceções. A sensação que passa é a de repetição, independente dos nomes. Todos nós já sabemos o que será falado, fazendo com que o Horário Eleitoral fique ultrapassado por outras formas de atingir o eleitor. É aí que entra o poder da internet.
Como o eleitor está cada vez mais conectado à internet, é natural que a TV perca sua função como principal ou única fonte de acesso à informação. É uma premissa consolidada. Sendo assim, a internet cresce como principal ferramenta de pesquisa sobre a vida e proposta dos candidatos; seu passado como cidadão e seus aliados políticos. Por exemplo: a internet foi o principal palanque das propostas dos últimos prefeituráveis em Joinville para as eleições de 2012 e o Chuva Ácida, inclusive, foi decisivo para isso. Neste ano, a internet revelou que certos candidatos não estavam enquadrados na lei da ficha limpa, mesmo sendo condenados pela justiça. E todos os debates originados na internet repercutem no Horário Eleitoral Gratuito.
Quando a gente olha para o Tiririca fazendo paródias em pleno Horário Eleitoral, percebemos que ele está zombando deste, e com razão. É um meio ultrapassado pelas outras formas de comunicação, e seu conteúdo não atende mais as expectativas das pessoas, as quais se utilizam de outras formas para escolherem seus candidatos, nem que para isso usem da compra de votos ou a troca de favores pessoais para quando o candidato se eleger o seu principal método. A campanha acontece em todos os lugares, menos no Horário Eleitoral Gratuito.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Você não sabe, mas vai ajudar a eleger Nilson, Teba ou algum outro do tipo
POR FELIPE SILVEIRA
Quando declaramos o voto, aqui no Chuva Ácida, escrevi que o que importava era o voto no partido, e por isso meu voto estava (e ainda está) destinado à Luciana Genro, do Psol, partido político ao qual sou filiado, da mesma forma que vou votar em candidatos do partido nas proporcionais (deputados). E, como prova, apresento um raciocínio para mostrar como vocês vão ajudar a eleger políticos como Nilson Gonçalves, Leonel Pavan, Marco Tebaldi e outros da mesma vibe, mesmo que você defenda a renovação na política e vote em algum mais novinho.
De maneira bem simples, é eleito quem chegar na frente pelo seu agrupamento, desde que este atinja os quocientes eleitoral e partidário. Se sobrar voto do primeiro, passa para o segundo. Se faltar voto para o primeiro, ele ganha votos do segundo. E assim vai. A conta feita pelos Tribunais Eleitorais é mais complicada, mas, em resumo, é isso.
Ou seja, um novo candidato só consegue se eleger à medida que galga posições no seu grupo político. Por exemplo, os candidatos Dalmo Claro e João Carlos Gonçalves, que tentam emplacar uma vaga pelo PMDB. Por isso, quem vota em um candidato como Fábio Dalonso, por exemplo, acaba por beneficiar candidatos como Nilson Gonçalves ou Leonel Pavan.
Também é importante ressaltar que a conta vale para o estado todo. Por mais que você tenha boas intenções em votar em um candidato local da sigla X, você vai acabar somando votos para um nome de maior expressão que talvez você não goste. Talvez até o odeie.
Portanto, fica a dica: na hora de escolher seus candidatos, conheça o partido, veja se tem o projeto da sigla tem a ver com o que você quer para a sociedade e conheça os nomes da ponta. Lembre-se que você pode somar votos para certos políticos que você vive a criticar.
E não esqueça de observar a coligação!
***
Mais uma vez, SC está sob ataque do crime organizado. A população sofre com a insegurança e com a desorganização social, como a bagunça gerada com as alterações nos horários de ônibus. Não tem como não ver que o caos é resultado direto da política de Insegurança Pública adotada pelo Estado. Primeiro, pela maneira como o Governo do Estado trata a questão. Segundo pela concepção de sociedade. Enquanto houver injustiça social, tamanha desigualdade, vai ser assim. Melhor política de segurança é a promoção da igualdade.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
O horror à política
POR CLÓVIS GRUNER
Em um texto escrito em 1950, “O que é política?”, a
filósofa Hannah Arendt define a política como um lugar de aparecimento de
rostos, multiplicidades, diferenças e intervalos. Rostos porque a política não é feita de abstrações, mas de corpos
que falam e agem. Multiplicidades
porque não se trata de homogeneizar os sujeitos políticos, mas de fazer
explodir singularidades. A multiplicidade faz aparecer as diferenças e os intervalos:
a política faz-se também na reciprocidade entre os diversos, que constituem
relações naqueles interstícios e intervalos que os aproximam sem, por isso,
anular-lhes a diferença. “A política”, diz ela, baseia-se na “pluralidade dos
homens”; ela deve organizar e regular o convívio de e entre diferentes, não de
iguais. Razão porque, para Arendt, o “sentido da política é a liberdade”.
Outro alemão, Jürgen Habermas,
criticou em Arendt o que considerava uma concepção idealizada de política. De
acordo com ele, Arendt a concebia tomando como modelo uma experiência, a da polis grega, impraticável nas sociedades
contemporâneas, não apenas mais populosas como também mais complexas. A filósofa
temia o que ele chamou de “midiatização da população” pelas instituições
políticas, preferindo a estas a democracia direta e imediata. Diferentemente,
Habermas reafirma a pertinência das democracias modernas e representativas,
criticando em sua interlocutora a “estilização da polis grega” que está no cerne de suas formulações.
Pois penso que equivocado estava
Habermas. Primeiro, acerca de Hannah Arendt, que tinha suficiente sensibilidade
histórica para não usar o passado senão como meio para afirmar a possibilidade
de pensar diferentemente a política no presente. Nela, a polis não é um lugar ideal ao qual se pretende retornar, mas uma
referência necessária para compreender a historicidade da própria política, bem
como denunciar os riscos e os limites do modelo representativo. Riscos e
limites aos quais Habermas parece, afinal, pouco atento. Sem tensionar a democracia
representativa, questionando por outros meios a eficácia da representatividade,
sem construirmos outras vias de participação na vida pública além da mediação
institucional e burocrática, talvez o que sobre seja, justamente, a
despolitização da política.
O QUE RESTA DA POLÍTICA – As
eleições deste ano encerram de maneira exemplar este risco. Ao longo dos
últimos meses assistimos principalmente o ódio e o medo pautarem os discursos,
as ações e as escolhas eleitorais. Nada de novo, a rigor: uma coisa e outra são
a tônica do debate público – ou a ausência dele, enfim – desde há algum tempo. Mas
era fundamental que fosse diferente em uma eleição presidencial. Não foi. O
resultado foi a quase total ausência de uma interlocução efetiva entre partidos,
seus candidatos e os eleitores.
Principalmente no chamado G-3, reproduziu-se
a velha estratégia de destruir inimigos ao invés de confrontar adversários. E
como o objetivo da oposição é vencer Dilma, ela apostou principalmente no velho
roteiro denuncista, já bastante desgastado. Marina ainda tentou emplacar o
discurso da “nova política”, valendo-se de maneira oportunista das manifestações
de junho de 2013. Mas suas alianças com Bornhausen em Santa Catarina e Alckmin
em São Paulo, além das mudanças recorrentes no discurso sempre que sentia alguma
pressão vinda, ora do agronegócio, ora do pastor Malafaia, comprometeram tal
pretensão. Pior fizeram os tucanos: tiveram 12 anos para apresentar um projeto
alternativo para o país, e o máximo que conseguiram foi lançar Aécio Neves. E não
faltaram previsões catastróficas e gente a defender um “corpo a corpo
encarniçado e sangrento” passadas as eleições. Tudo muito patético.
A presidenta Dilma Rousseff teve
de enfrentar, e nem sempre o fez bem, o desgaste natural depois de mais de uma
década do PT à frente do governo. Embora líder nas pesquisas, ela não conseguiu
superar uma contradição que atravessa as gestões petistas: os indicativos
sociais positivos, a meu ver a principal conquista dos últimos três governos, não
produziram um amadurecimento político mais significativo. Parece ter ocorrido justamente
o contrário, e é difícil ao PT escapar ao seu quinhão de responsabilidade. Além
de se afastaram dos movimentos sociais, contribuindo inclusive para sua
criminalização, os governos Lula e Dilma valeram-se de
políticas distributivas bem sucedidas para diluir outros temas e travar pautas
fundamentais ao avanço da democracia. A capitulação diante da pressão de segmentos
religiosos fundamentalistas e as alianças com setores conservadores, ajuda a
entender a indiferença institucional para com temas e políticas que deveriam
ser fundamentais a uma política de esquerda.
O ESPETÁCULO DO HORROR –
Pois é esta indiferença, justificada pela necessidade de assegurar a governabilidade,
uma das responsáveis pela reprodução de uma já histórica despolitização de
parcela significativa da sociedade brasileira. Danosa para a consolidação de
uma democracia efetivamente pluralista e sensível aos direitos humanos mais
fundamentais, reforçada por uma investida midiática que não poupou esforços
para estigmatizar toda forma de política, com ela chegamos a uma eleição onde a
política cedeu espaço
a um espetáculo onde o protagonista é, justa e ironicamente, o horror à política.
E ele se manifestou de maneira brutal no
debate entre os candidatos à presidente, na noite de domingo, na rede Record. A
resposta do candidato Levy Fidelix a uma pergunta de Luciana Genro sobre o
casamento homossexual, é o retrato do quão baixo chegamos depois de anos alimentando o ódio, o ressentimento e a intolerância. Ao afirmar que “aparelho excretor não reproduz”; associar
a homossexualidade à pedofilia; sugerir que quem é “portador deste problema” deverá receber tratamento médico e psicológico para curar-se,
mas “longe de nós” – onde? Internados em um asilo ou hospício; confinados em um
gueto ou em campo de concentração, um triângulo rosa costurado na roupa? –; e conclamar a “maioria” a “enfrentar”
a “minoria”, Fidelix não apenas vomitou sua monumental ignorância, mas incentivou
a violência.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Eleições anuais
POR JORDI CASTAN
Nada parece fazer tão bem a um estado ou a um
país como o período eleitoral. Aqui, lamentavelmente, as eleições acontecem a
cada quatro anos e é por isso que só vemos obras públicas em lapsos
quadrienais. O que, convenhamos, é uma pena. Não há eleitor que não goste de ver
o Brasil prosperar, crescer, se desenvolver. Mas os nossos políticos, como sabem
que o eleitor tem memória de cará e que esquece rápido de tudo, só se dedicam a
fazer e inaugurar obras nos meses imediatamente anteriores ao período
eleitoral.
Esta prática tem vantagens para os políticos, principalmente os que tentam se reeleger. A primeira é que as obras recém-feitas não apresentam ainda sinais de decadência precoce, comuns nas obras públicas. Os telhados ainda não desabam e não aparecem os pontos de ferrugem nas estruturas metálicas, por citar alguns exemplos. A segunda é que se cria no eleitor a ilusão que a gestão atual, seja ela qual for, tem trabalhado e tem feito muito. Há ainda os que acreditam que possa existir uma correlação entre as obras públicas eleitoreiras e o posterior financiamento de campanha. Mas todos sabem que a rígida legislação eleitoral brasileira não só inibe este tipo de prática, como a pune severamente, desestimulando-a completamente.
Alguns políticos para dar a impressão que fazem muito mais do que na realidade fazem tem desenvolvido a técnica de revitalizar, requalificar ou reformar prédios, ruas e praças que com um pouco de trabalho e um muito de orçamento em poucos dias se convertem em novos ícones urbanos. Assim pipocam a Nova Rua disso, a Nova Praça daquilo e não são poucos os estultos que caem no velho truque do lavou, pintou esta novo. Alguns destes espaços recebem uma reforma a cada quatro anos em geral sempre no segundo semestre do quarto ano.
Mas o caso mais flagrante desta técnica dissimuladora é a de inaugurar ou celebrar o lançamento da licitação, da pedra fundamental, da abertura das propostas ou da assinatura do contrato. Tanta inauguração confunde o eleitor que acaba acreditando que o foguetório, a charanga e os discursos trazem algo de concreto, quando até agora só tem servido para produzir vento, ocupar espaço na mídia e criar a falsa impressão que esta gestão, qualquer que seja ela, é a que mais tem feito pelo desenvolvimento deste estado e dos seus habitantes.
Por isso desde este espaço proponho que os governantes precisem se submeter com menor frequência à avaliação do eleitorado e que as eleições passem a ser semestrais ou no pior dos casos anuais. Desta forma, viveremos sempre nesta constante efervescência que agora experimentamos e trocaremos este desenvolvimento espasmódico por uma prosperidade e um desenvolvimento contínuos.
Esta prática tem vantagens para os políticos, principalmente os que tentam se reeleger. A primeira é que as obras recém-feitas não apresentam ainda sinais de decadência precoce, comuns nas obras públicas. Os telhados ainda não desabam e não aparecem os pontos de ferrugem nas estruturas metálicas, por citar alguns exemplos. A segunda é que se cria no eleitor a ilusão que a gestão atual, seja ela qual for, tem trabalhado e tem feito muito. Há ainda os que acreditam que possa existir uma correlação entre as obras públicas eleitoreiras e o posterior financiamento de campanha. Mas todos sabem que a rígida legislação eleitoral brasileira não só inibe este tipo de prática, como a pune severamente, desestimulando-a completamente.
Alguns políticos para dar a impressão que fazem muito mais do que na realidade fazem tem desenvolvido a técnica de revitalizar, requalificar ou reformar prédios, ruas e praças que com um pouco de trabalho e um muito de orçamento em poucos dias se convertem em novos ícones urbanos. Assim pipocam a Nova Rua disso, a Nova Praça daquilo e não são poucos os estultos que caem no velho truque do lavou, pintou esta novo. Alguns destes espaços recebem uma reforma a cada quatro anos em geral sempre no segundo semestre do quarto ano.
Mas o caso mais flagrante desta técnica dissimuladora é a de inaugurar ou celebrar o lançamento da licitação, da pedra fundamental, da abertura das propostas ou da assinatura do contrato. Tanta inauguração confunde o eleitor que acaba acreditando que o foguetório, a charanga e os discursos trazem algo de concreto, quando até agora só tem servido para produzir vento, ocupar espaço na mídia e criar a falsa impressão que esta gestão, qualquer que seja ela, é a que mais tem feito pelo desenvolvimento deste estado e dos seus habitantes.
Por isso desde este espaço proponho que os governantes precisem se submeter com menor frequência à avaliação do eleitorado e que as eleições passem a ser semestrais ou no pior dos casos anuais. Desta forma, viveremos sempre nesta constante efervescência que agora experimentamos e trocaremos este desenvolvimento espasmódico por uma prosperidade e um desenvolvimento contínuos.
Em tempo, a uma semana das eleições o quadro é de vitéria de Dilma no segundo turno, de Colombo no primeiro e de reeleição de Marco Tebaldi para deputado federal e de Darci de Matos e Kennedy Nunes como deputados estaduais. Que temos feito para merecer isso? Ou pior: o que deixamos de fazer? Provavelmente a pergunta correta seja a segunda.
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