terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Menos ruim ainda é ruim
POR JORDI CASTAN

O debate que se colocou era qual seria o candidato menos ruim, pois estava nítido desde o primeiro turno que Joinville teria que escolher a alternativa menos pior, e o menos pior, é bom lembrar, continua sendo ruim. Assim que no segundo turno se perfilaram claramente duas alternativas: o messianismo populista, de que não estamos livres ainda, e o autoritarismo recalcitrante que administra a cidade. Para ajudar a decidir o Sandro Schmidt tirou da cartola da sua criatividade a onomatopeica denominação KCT, que serviu para definir perfeitamente essa coligação de conveniência que conseguiu colocar lado a lado inimigos declarados em nome de uma possível vitória eleitoral. Numa prévia do que espera Santa Catarina nesta eleição, foi a nossa versão caseira do "Topa tudo pelo poder" e que neste ano será reeditado a nível estadual.
Aos poucos a administração do prefeito Udo Döhler vai mostrando a que veio. Começando pela obsessão a qualquer preço de controlar a Câmara de Vereadores, abrindo espaço na sua administração para apaniguados e comissionados indicados ou ligados a vereadores, numa vergonhosa suruba republicana. Uma vez controlado o legislativo é hora de apresentar os projetos de lei que deixarão Joinville mais "moderna". O rebaixamento do meio fio e a permissão de estacionamento na frente dos comércios foi o primeiro. O EIV das áreas alagáveis é o segundo, e há outros na fila.
Joinville avança em direção ao passado, cometendo de novo os mesmos erros que já foram cometidos em nome dos interesses econômicos e especulativos que o prefeito conhece tão bem, pois, de acordo com suas declarações, foi procurado por representantes desses setores. Estamos sentando às bases de uma cidade com problemas maiores e mais graves no futuro próximo pela falta de planejamento e pela priorização dos interesses econômicos de curto prazo. Os resultados não se farão esperar.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
A Tarifa Zero vai abaixar o seu aluguel
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Você se importa com a condição do outro ou só com a sua? |
POR FELIPE SILVEIRA
Discutir tarifa zero é sempre um exercício de paciência, principalmente nas redes sociais. Tem uma galera que pira, geralmente em caixa alta (LETRAS MAIÚSCULAS), dizendo apenas que isso é uma bobagem, que nada é de graça e que alguém tem que pagar. Bom, isso é óbvio, alguém tem que pagar, e serão os ricos.
Nesse texto vou falar do aspecto que eu mais gosto na proposta da Tarifa Zero. A proposta do Movimento Passe Livre (MPL) defende, entre outras formas, que o financiamento do sistema de transporte público seja feito por meio de impostos progressivos, sendo o IPTU, salvo engano, o principal deles.
O problema é que tem gente que enlouquece quando ouve falar em “mais impostos”. Estranhamente, são pessoas que não pagariam mais impostos caso fosse adotada essa proposta. Mas, infelizmente, o discurso anti-impostos pegou de jeito na nossa classe média.
Indo direto ao ponto, é o seguinte: quem tem mais paga mais, isentando ou barateando para quem não tem ou tem bem pouco. Ou seja, você só vai pagar mais se tiver terrenos, apartamentos, casas, enfim, se viver da exploração da pobreza alheia. E, caso você não saiba, a grande massa de pagadores de aluguel nesse país é a classe pobre.
Dessa maneira, com imposto progressivo, o preço do aluguel iria cair automaticamente. Afinal, quem tem imóvel para alugar precisaria ocupar o lugar para não sair no prejuízo. Ou aluga ou paga do bolso, sendo que o Estado ganharia de qualquer maneira. Da mesma forma, quem tem grandes terrenos precisaria ocupá-lo ou vendê-lo, também para não ter que arcar com os custos do IPTU. O aluguel e o valor dos imóveis iria cair. Haveria quem quisesse arcar com os custos sem abrir mão de nada, mas esse cara também estaria pagando mais caro pra isso. Hoje, esse mesmo cara paga uma mixaria para fazer especulação imobiliária. É urgente que esse cara, que lucra com a cidade e com a pobreza, pague mais.
É importante ressaltar, no entanto, que o imposto progressivo deve ser aplicado de maneira que não recaia sobre aquele que paga o aluguel, mas sim àquele que lucra com isso.
Mais importante ainda é saber que, em Joinville, há mais imóveis vazios (servindo à especulação imobiliária) do que gente na fila da secretária de habitação. Se você acha isso certo, ou não é bom da cabeça ou não é bom do coração.
O melhor de tudo é que essa grana (que viria do IPTU progressivo) ainda seria usada para facilitar a vida do trabalhador, eliminando a catraca. O dinheiro que seria usado para pagar o busão sobraria para outras necessidades.
E essa seria apenas uma das maneiras de financiar o transporte público. Pra mim, a mais legal, porque ajuda a construir um mundo mais justo a partir de um problema dos mais injustos, que é a falta de moradia e a exploração de poucos sobre muitos.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Pit stop, demagogia e austeridade
POR CLÓVIS
GRUNER
Pra começo de
conversa: são hipócritas e eleitoreiras a imensa maioria das críticas aos
gastos presidenciais em Lisboa no final de semana. O assunto só mereceu tamanho destaque porque se trata de uma presidenta de esquerda, e sempre há
gente disposta a compartilhar factóides vindos da direita e masturbar-se indignar-se com eles, principalmente em ano eleitoral. Por outro lado, ele serviu para expor uma vez mais a pobreza - de idéias, argumentos, proposições - em que estão mergulhados a oposição e parte da chamada grande imprensa - o que, no Brasil, é praticamente a mesma coisa.
Há muito que
criticar no governo Dilma. As políticas de segurança pública e de direitos
humanos engataram marcha à ré nos últimos quatro anos; pode-se dizer o mesmo da
política indigenista. Na educação, os índices continuam muito aquém do
esperado, a mostrar que o propalado aumento no número de vagas, principalmente
nas universidades, é medida insuficiente sem investimentos estruturais em todos
os níveis. Além disso, a ampliação do arco de alianças comprometeu ainda mais o
outrora projeto político petista. Os resultados todos conhecem: a
co-responsabilidade do governo na eleição de Marco Feliciano à presidência da
Comissão de Direitos Humanos no ano passado é um deles. A presença da senadora
ruralista Kátia Abreu entre os aliados do governo, outro.
O problema é que
a oposição não está disposta a um confronto político pautado em projetos e
programas. Em parte, porque tem teto de vidro: é difícil criticar as alianças e
os aliados petistas depois de ter feito o mesmo nos anos de gestão tucana. Além
disso, é delicado posicionar-se sobre temas para os quais ela tem pouco a
mostrar no passado, quando foi governo, e ainda menos a oferecer em um futuro
próximo, quando pretende ser governo. Mesmo o esforço por transformar as
manifestações de junho passado em grandes atos “contra tudo” resultou em um
grande nada: Dilma segue liderando as pesquisas, e nem mesmo a entrada em cena
de um político de carreira como Aécio Neves conseguiu mudar o quadro. Sobra
pouco, e daí protestar contra a Copa e fazer de dois dias em Lisboa um
escândalo político parece ser uma boa opção.
DINHEIRO
PÚBLICO, CAPRICHOS PRIVADOS – Li gente defendendo os valores gastos no pit stop
presidencial argumentando que, afinal, ela estava em missão oficial, que nada
há de ilegal nos gastos e que eles são compatíveis com a dignidade do cargo.
Outros lembraram que Dilma apenas repete o que é prática comum entre nossos governantes e, por certo, não faltou quem lembrasse das muitas viagens de Fernando Henrique, uma delas com Regina “eu tenho medo” Duarte como convidada, sabe-se lá porque. É tudo verdade. Mas o buraco é mais embaixo. A
gastança de Dilma em Lisboa – e em Roma, no ano passado – é sintoma de um mal
antigo. Ela, Lula, FHC, todos sem exceção, reiteram um comportamento
recorrente em nossos representantes políticos: a ostentação à custa do dinheiro
público.
A coisa vem de
longe e os exemplos abundam. Basta ler as crônicas de Machado de Assis
sobre a vida na corte durante o Segundo Reinado, ou o panorama nada
alvissareiro que faz Lima Barreto dos primeiros anos da República: não satisfeitos
em fazer da coisa pública extensão de seus interesses e vícios privados, nossas
elites políticas se acostumaram a usar o dinheiro público para sustentar e alardear seus muitos
caprichos. Em uma cultura onde o consumo e a ostentação são dois dos principais
signos de distinção social, não chega a ser uma surpresa ver os
governantes valendo-se de uma coisa e outra para reafirmarem os privilégios que
seus cargos lhes conferem. Também não surpreende ouvir vozes antes emudecidas apenas agora reagindo, só aparentemente preocupadas com a austeridade. Ostentar não
é em si um problema; problema é quando um ex-operário e uma ex-guerrilheira
decidem dar um rolezinho.
Não, não estou
aqui a defender que Dilma deva hospedar-se em um albergue e comer um PF no
boteco da esquina. Mas oito mil dinheiros a diária, mesmo a de uma suíte presidencial,
é muito. Sei também que não resolveríamos nossos problemas economizando os
poucos “trocados” gastos em Lisboa. Mas seria no mínimo simpático, além de um
gesto simbolicamente significativo, a presidenta de um país onde milhões ainda
contam com o Bolsa Família para complementar a renda, dar o exemplo e hospedar-se em um bom hotel mais barato que o Ritz ou o Westin Excelsior. Parafraseando um ex-candidato a
prefeito de Joinville: dá pra fazer.
O presidente do
Uruguai, José Alberto Mujica, tem sua própria receita; ela não precisa
obviamente ser seguida à risca, mas poderia servir como parâmetro. Por outro
lado, difícil não anotar a esquizofrenia: os mesmos – colunistas, políticos de
oposição – que hoje criticam a ostentação de Dilma, provavelmente a chamariam de
demagoga – que é como se referem a Mujica – se ela decidisse praticar uma
política da “não ostentação”. Ser um presidente ou presidenta de
esquerda é meter-se em uma encruzilhada: se gasta e ostenta, esbanjou dinheiro público; se não gasta e é humilde, é demagogia populista. Mas é
este o nível da disputa política no país. E não vai melhorar. Ruim para
nós, que teremos de ver o debate público reduzido a
isso ou a algo pior nos próximos meses, até pelo menos as eleições.
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