POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Na semana passada, numa troca de comentários aqui no Chuva Ácida, o
candidato a prefeito Leonel Camasão chamou a atenção para o beijo entre dois
homens no filme do PSOL. E eu respondi: “Aquela imagem do beijo gay tem tudo
para ser um sucesso de público e crítica na liberalíssima Joinville. Cuidado
que em vez de prefeito ainda te elegem Joana D'Arc e te atiram para a
fogueira”.
Era um comentário em tom de brincadeira, claro. Mas que continha um certo grau de previsibilidade. Porque o tal beijo fez os Torquemadas joinvilenses saírem à rua (hoje a ágora são as redes sociais). O que não surpreende, em se tratando de uma cidade onde a frase “virtude pública e vício privado” devia ser o lema inscrito na bandeira.
O fato é que o beijo do PSOL provocou uma pequena escandaleira. Teve gente que empunhou o tacape e saiu das cavernas para mostrar indignação. Lembro de ter lido o comentário de uma senhora que não achava aquilo natural. Um sujeito que achou a coisa perigosa para o filho pequeno ver na televisão. E um outro diz ter ficado enojado (deve ter tido problemas de fígado). E o nível da coisa andou por aí.
Já escrevi aqui no Chuva Ácida que a exibição do beijo
na televisão poderia ser importante no sentido de trazer a discussão para a agenda. Ou seja, que talvez fosse
originar uma discussão racional, baseada em ideias. Mas não foi o que
aconteceu. Falou mais alto o fígado do que o cérebro. E o que se viu foi apenas
gente rafeira a rearranjar os seus preconceitos.
A mulher que não acha natural talvez precise de um
pouco de antropologia para entender as diferenças entre o que é natural e o que
é histórico (cultural). O pai que acha as imagens impróprias para o filho tem
medo de que ele se torne homossexual? Pois aposto que a criança só se tornará
mais tolerante. E para o homem que tem nojo, talvez o remédio seja um
chá de boldo e uma visita ao século 21.
Poderia tentar argumentar, mas a experiência mostra que é como falar para a parede. Dois monólogos não fazem um diálogo.
Por isso, vou resumir a coisa toda numa única ideia: “viva e deixe viver”. O grande
problema dos conservadores e moralistas (passe o pleonasmo) é que, para eles, é
preciso impor as suas interdições. Se vai contra as minhas crenças, então é preciso proibir.
Os intolerantes não sabem
o que significam termos como o livre arbítrio ou direitos civis. E quando dão por si, já caíram no pântano da homofobia. Mas a coisa é simples e dispensa grandes filosofias: "cada um come o que gosta". Eu respeito.