Um projeto que altera a lei de propriedade intelectual americana certamente afetará a sua vida (para pior, bem pior) está em discussão no Congresso dos Estados Unidos Unidos. Por isso, 10 mil sites saíram do ar nesta quarta-feira em protesto contra as leis Stop Online piracy Act (SOPA) e Preventing Real Online Threats to Economic Creativity and Theft of Intellectual Property Act (PROTECTIP). Entre os sites, a Wikipedia, que você, com certeza já usou.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Discutir a mobilidade na rua é garantir a sua cidadania
POR FELIPE SILVEIRA
A mobilidade urbana é, sem dúvida, o grande tema desta década, pelo menos neste início. Se tivemos a cidadania como a temática predominante dos anos 90 e o meio ambiente (sustentabilidade e outras variáveis) marcou presença dos anos 2000 pra cá, as discussões sobre mobilidade subiram ao topo da agenda nesta época. As eleições municipais que se aproximam (e a mobilidade urbana é essencialmente um tema que se discute na cidade) deverão mostrar como esse assunto assumiu tal importância perante a sociedade.
Contudo, há discussões que não podem esperar até as eleições para serem debatidas. A nova licitação para o transporte coletivo, que irá definir os rumos da mobilidade de Joinville e da própria cidade pelos próximos 25 anos, é uma discussão que está acontecendo agora. Está acontecendo nos gabinetes dos políticos, nos escritórios dos empresários, no facebook, no bar e, principalmente, na rua. E é na rua que você pode ocupar o seu espaço de cidadão, assumir a sua cidadania, garantir o seu direito e ser o protagonista da sua história.
Desde que foi anunciado o aumento da tarifa do transporte coletivo (para R$ 2,75 a antecipada e R$ 3,10 a embarcada), na última semana de 2011 (momento mais apropriado para quem não quer ver o povo na rua), a Frente de Luta pelo Transporte Público retomou os trabalhos de discussão e colocou o povo na rua para protestar contra o aumento. Desde então, já foram quatro manifestações e o movimento para barrar o aumento só tem crescido. E hoje tem nova manifestação!
[obs.: a Frente de Luta pelo Transporte Coletivo é formada por diversas entidades e cidadãos, e não somente o Movimento Passe Livre (MPL), como os desinformados da imprensa costumam dizer. O MPL, obviamente, ocupa um espaço de destaque neste movimento devido a sua construção histórica, essência e poder de contribuição]
Desde o início do movimento, uma barreira se levantou contra ele. Não se trata da polícia, com seu spray de pimenta jogado traiçoeiramente nos olhos dos manifestantes; não se trata dos políticos e sua proposital ausência do debate; e não se trata dos empresários, que enchem o terminal de capangas para assustar e, criminosamente, estragar o material dos manifestantes; não se trata de nada disso. A principal barreira tem sido a sociedade (você!) e o sua inércia, a sua imobilidade, a sua ironia, a sua falta de paixão, tesão e cidadania.
Essa barreira será superada de alguma maneira. A melhor delas é fazer você deixar de ser barreira para se tornar parte do tanque que irá derrubá-la. Cada um que passa para o lado de cá é um a menos do lado de lá. O convite, portanto, está feito. Junte-se a nós e venha construir um novo modelo de transporte, que não vise o lucro, mas que promova o direito de ir e vir de cada um garantido na Constituição Brasileira.
Estão marcadas para os dias 30 de janeiro e 27 de fevereiro duas audiências públicas com autoridades e população para debater a nova licitação do transporte público, a ser lançada este ano. Abrir a discussão é um ponto positivo, mas duas audiências é muito pouco para um debate de tanta importância. Por isso, junte-se ao povo na rua, participe do grupo de discussão no facebook e prepare-se para uma grande batalha por seus direitos.
Para finalizar, deixo um gráfico elaborado pela Frente de Luta pelo Transporte Público, que compara a inflação desde 1995 com os consecutivos aumentos da tarifa, geralmente justificados pela inflação.
* Vale citar também que hoje as empresas de transporte público de Joinville operam sem licitação, com um prazo estendido pelo Executivo, com apoio do Legislativo, durante a gestão de Luiz Henrique da Silveira, em 1999. Vocês me digam se isso é ilegal ou não é. Eu tenho a minha opinião, mas, por enquanto, quero evitar processos.
* Vale citar também que os motoristas de ônibus trabalham sob muita pressão e ganham salários baixos, mas as empresas sempre alegam que o aumento também serve para reajustar o salário deles. Você acredita mesmo nisso?
*Vale citar também que uma pessoa gasta cerca de R$ 1.452,00 por ano para fazer duas viagens por dia. Não sei se todo mundo sabe, mas quem usa o transporte público, usa porque precisa, porque não pode atravessar a cidade de bicicleta para trabalhar e também porque não tem dinheiro para comprar um carro ou uma moto.
*Vale lembrar também que a fumaça dos automóveis é uma das principais responsáveis pela poluição da nossa atmosfera e que milhões de carros nas ruas tornam o trânsito insuportável e a vida de todos cada vez pior.
* Vale lembrar que um dos principais problemas da saúde pública, pelo menos a de Joinville, é o alto número de motoqueiros vítimas de acidentes de trânsito (mesmo quando são protagonistas são vítimas), que superlotam os hospitais quando chegam literalmente arrebentados na sala de emergência. E isso não é nada comparado à tragédia pessoal que representa para cada ser humano que perdeu uma perna ou um braço, que perdeu o movimento das pernas, que perdeu funções motoras ou a visão, que perdeu a capacidade de jogar bola por causa de um joelho estourado ou até mesmo a vida.
Toda essa tragédia cotidiana é fruto de uma política excludente de transporte, que é conseqüência da sua imobilidade. Vai continuar aí parado?
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
É assédio sexual?
POR ET BARTHES
Um filme muito estranho. A questão que se põe é: "chupar um picolé é uma forma de assédio sexual"? Uma tal The Association of Finnish Lawyers, que assina o filme, diz saber a resposta. Ao que parece, o comercial é dirigido a pessoas que possivelmente estão sendo sexualmente assediadas no trabalho.Estupro no BBB?
POR CECÍLIA SANTOS
“Ensine os homens a respeitar, não as mulheres a temer”
(cartaz de uma das Marchas das Vadias)
O caso dominou as redes sociais nos últimos dois dias:
no último sábado, no reality show Big Brother Brasil exibido pela Rede Globo,
houve uma festa, pessoas ingeriram bebidas alcoólicas, os participantes Monique
e Daniel flertaram, a moça ficou embriagada e foi dormir. Até aí tudo bem.
Exceto que uma cena gravada na madrugada de sábado para domingo mostra Daniel
deitado na mesma cama que Monique, movimentando-se embaixo do edredon,
supostamente penetrando ou bolinando a moça, que aparenta estar inconsciente. Não
cabe ao público decidir, como numa votação para eliminar um participante da
casa, o que realmente ocorreu. É uma investigação policial que vai apurar os
fatos. O que eu quero discutir é como a violência sexual é vista e como muitos
comentários que circularam na internet tentaram minimizar ou justificar o
suposto estupro que aconteceu diante das câmeras da maior emissora de TV do país.
Nem sempre a violência sexual é reconhecida como tal,
porque geralmente a mulher é culpabilizada, sob o argumento de que teria
provocado, bebeu demais ou estava usando roupas justas ou curtas. O cúmulo da
insensibilidade é dizer: “ela estava pedindo para ser estuprada”. Como assim?
Isso não existe; nenhuma mulher se arruma para sair pensando: “oba, hoje eu vou
ser estuprada”.
Infelizmente a violência sexual é corriqueira. Um
rapaz e uma garota se aproximam na balada. Rola uma atração, o clima esquenta,
eles se beijam, trocam carinhos. Pode ser que a menina não queira ir além, e
isso ela pode decidir livremente. Mas de repente o garotão mimado, que não sabe
ouvir um não como resposta, decide extravasar seu desejo sexual à força. Vários
vídeos circularam pela internet nos últimos meses mostrando pit boys agredindo
moças em casas noturnas. E a maioria dos casos de estupro não é sequer
notificada.
Nós, mulheres, temos todo o direito de estabelecer
nossos limites e dizer até onde queremos ir. Não são as mulheres que precisam
agir para manter sob controle o desejo sexual dos homens. Não vamos abolir a prática
da paquera e da ficada como medida de precaução baseada no pressuposto de que
todo homem é um estuprador em potencial. A mulher pode e deve demonstrar desejo
sem ser moralmente julgada por isso, sem ser considerada inferior à mulher que
não o faz. Nenhuma atitude pode ser entendida como um convite à violência, ao estupro,
à intimidade não consensual.
Beber demais não é crime, mas fazer sexo não-consensual
com uma pessoa embriagada é. Minimizar o que aconteceu alegando que Monique não
deveria ter bebido ou que pode até ter gostado de ser penetrada e bolinada
enquanto dormia é endossar a violência. Sem contar que o cara que se aproveita
sexualmente de uma pessoa inconsciente, além de criminoso é um tremendo
perdedor. Quando eu assisti ao vídeo do BBB com a cena do edredon, ao ver a moça
inerte, eu só conseguia pensar que aquele sujeito não consegue pegar uma mulher
acordada, que consinta em transar com ele. Não importa o que aconteceu antes ou
depois: se naquele momento Monique não estava em condições de consentir com o
ato sexual, então o que ocorreu ali foi um estupro, que indiscutivelmente é
crime.
A atitude da Rede Globo (uma concessão pública, vale
lembrar) tem sido a de minimizar e até compactuar com um crime. A direção do
programa tinha o dever de ter interferido e tomado providências imediatamente.
Preferiram abafar o caso, afinal a atração movimenta valores astronômicos e é
patrocinada por grandes empresas nacionais e multinacionais. Num primeiro
momento, o apresentador Pedro Bial chegou a referir-se à cena dizendo que “o
amor é lindo”. Não, Bial, estupro não tem absolutamente nada a ver com amor;
aliás, é bem o contrário.
Terminada a exibição do programa levado ao ar ontem,
segunda-feira, Pedro Bial avisou que Daniel havia sido expulso por ter
infringido o regulamento do programa, sem no entanto fazer qualquer referência à
violência sexual que o modelo cometeu. Considerando que o programa é visto por
milhões de pessoas que não têm acesso à internet ou às redes sociais, muita
gente ficou sem entender o motivo real da expulsão. Na versão da emissora, violência
sexual virou violação das regras do programa. Como era de se esperar, a Globo
relativizou o estupro e varreu o assunto para debaixo do tapete. Afinal, nas
palavras do próprio Bial, “o show tem que continuar”.
O que não pode continuar é a situação de violência a
que todas as mulheres estamos sujeitas neste país. Não vamos esperar que aconteça
com alguém perto de nós para nos indignarmos. Vamos orientar nossas filhas a
tomar cuidado, mas principalmente ensinar nossos filhos a respeitar todas as
mulheres em qualquer circunstância. Não vamos compactuar com a atitude do
babaca perdedor da balada, que não aceita um não de uma menina.
O rapper norte-americano Jay Z, pai da pequena Blue
Ivy Carter com a cantora Beyoncé, nascida há poucos dias, disse em entrevista à
New Musical Express, revista britânica de música, que vai abolir a palavra “bitch”
e outras que depreciam a condição feminina de suas letras, prometendo também
proteger a filha. Mesmo com todo o discurso político e social do hip hop,
embora tenha sido um militante muito ativo na campanha do presidente
norte-americano Barack Obama e seja casado com uma cantora que se assume
feminista, Jay Z é conhecido pela misoginia das letras de seus raps. Sendo uma
figura influente no show biz, esperamos que o rapper esteja contribuindo para
melhorar a forma como mulher é representada na cultura pop.
O vídeo do rap “Glory” com Jay Z (com a participação especial da
bebezinha):
Cecília Santos é tradutora, blogueira, feminista e adora perambular por sua cidade, São Paulo.
Algumas palavras sobre o IPPUJ
POR CHARLES HENRIQUE
Da mesma forma que criticamos as posturas presentes em toda a sociedade, também sofremos com o processo inverso. Sobre isso já abordei aqui no Chuva Ácida, mas, hoje, reforçarei o que penso sobre um órgão em específico da Prefeitura de Joinville: o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville – IPPUJ, para que todos entendam claramente por qual motivo gosto tanto do tema planejamento urbano.
Ao longo de meus atuais 23 anos, talvez seja o órgão municipal em que eu mais preste atenção e acompanhe os seus passos, desde a infância. Pois é. Desenhava com amigos um possível sistema integrado, com rotas, horários, e modelos de carros das mais diversas empresas fabricantes de ônibus. Um doce sonho infantil, óbvio. Acontece que este sonho foi o que me direcionou rumo à graduação em Ciências Sociais e ao Mestrado em Urbanismo, pois sempre quis entender que “bicho” é esse chamado Joinville, e como se organiza espacialmente. Poderia ter escolhido qualquer outro curso, mas fui para as Ciências Sociais por acreditar que a cidade é feita de pessoas dos mais diversos grupos sociais. Entretanto, ao longo dos anos, aprendi que o planejamento urbano é feito por poucos.
Sempre tive a vontade de trabalhar no IPPUJ, e poder dialogar com os arquitetos-urbanistas, engenheiros, geógrafos e demais profissionais que por lá estariam. Consegui, por partes. De 22 de fevereiro a 9 de julho de 2010 estive lá (sim, como comissionado), contribuindo no projeto da pesquisa Origem-Destino.
Após a realização da pesquisa, e alguns problemas de metodologia com a gerente interina da época, decidi que sairia após as férias (eu já tinha acumulado meses de trabalho em outra pasta). Antes disso, um fato que me fez perder muito do “encanto” pelo IPPUJ: fui chamado (por uma pessoa do segundo escalão do IPPUJ) para prestar esclarecimentos sobre um texto que escrevi dias antes. O “UFSC em Joinville” criticava a postura da Reitoria da UFSC (nada a ver com Prefeitura), mas, fui orientado a “parar” de escrever sobre este tema. Voltei de férias e pedi para sair da pasta, sem enfrentamentos, por acreditar que meu tempo ali tinha acabado. Estou estudando muito para voltar um dia.
Deixo aqui a livre interpretação de cada um.
Colocando as introduções de lado, acredito num IPPUJ em que os setores dialoguem sobre programas. Infelizmente o que acontece é uma falta de diálogo. Arquitetos-urbanistas, engenheiros, e todo o restante do corpo técnico permanecem em um “cada um cuida do seu”, realizando projetos específicos. O negócio é muito cartesiano. Por lá existem ótimos profissionais, que, desarranjados, não dão o seu melhor. Talvez falte até um diálogo maior com as universidades da região, promovendo cursos, workshops, etc.
O IPPUJ é um dos poucos setores que possui, ao longo de sua história, um gestor-técnico, pois quase sempre algum profissional com graduação ou pós-graduação na área comandou as ações do órgão. A possibilidade de se despir daqueles cabides de madeira (velhos, descascados, com o gancho torto) por cabides de plástico (com diferentes moldes e nova tecnologia) é singular. Espero que a confecção dos instrumentos regulatórios do Plano Diretor de 2008 seja realizada com a convicção de que o melhor possível foi feito para toda a sociedade. Já que o planejamento é feito por poucos (por mais que plenárias e audiências públicas contribuam com o tema em questão), ele pode e deve ser feito para todos.
As críticas sempre existirão, mas são proporcionais à importância do IPPUJ. Alguns podem encarar o que se diz sobre ele como um “patrulhamento” ou “asneiras sem fundamento”, porém sempre é pensando no melhor para a cidade, sem encarar como verdade absoluta. Eu prefiro 520 mil pessoas patrulhando o IPPUJ (e também a Comissão de Urbanismo da Câmara de Vereadores) ao cenário das décadas de 1960 e 1970, onde tudo era feito em gabinetes, sem discussão, e atendendo ao desejo de poucos. O tema de tão vigente e importante, tornou-se o assunto principal de muitos diálogos. É isso que assusta alguns que estão do lado de lá do balcão (e aqueles que têm acesso livre a eles).
PS: sempre estive aberto ao diálogo e admiro o esforço de cada um em fazer o IPPUJ funcionar.
Assinar:
Postagens (Atom)