terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Carta a Luana Piovani
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Olá, Luana.
Que legal! Fiquei a saber que você decidiu vir morar em Portugal e então tomei a liberdade de escrever para dar uns bitaites. Não agradeça, é a cortesia lusitana. As pessoas de bem são sempre bem-vindas, Luana. Os portugueses são um povo que sabe receber, mas também tem o lado prático: há cálculos a dizer que, para manter o crescimento, o país precisa de 900 mil imigrantes para trabalhar e a gerar riqueza. É gente, né?
Eu explico, Luana. Em Portugal a gente tem um sistema de welfare (muito já se perdeu com os ataques neoliberais) e o dinheiro dos impostos é essencial para investir em saúde, segurança ou educação. Para todos. Então você vai entender a preocupação. Todos são bem-vindos, menos aqueles brasileiros que defendem a ideia de que “sonegar é legítima defesa”. Esses a gente não quer. Podem ficar no Brasil.
Aliás, soube que você estava indecisa entre Portugal e EUA. Não resisto a dar um palpite: a Califórnia deve ser melhor opção. Imagine que Portugal é governado pelo Partido Socialista, um pessoal de centro-esquerda muito parecido com o Partido dos Trabalhadores, no Brasil. E surge a questão. Será que você vai curtir a ideia de ser governada por “socialistas”? O poder está tomado pelos “esquerdistas”, Luana.
O atual governo é minoritário e só consegue governar com o apoio do Partido Comunista (coligado com os não menos esquerdistas Os Verdes) e do Bloco de Esquerda. É o tipo de gente que, mesmo em Portugal, um país de brandos costumes, muitos chamam “extrema esquerda”. Ou seja, para os padrões coxinhas brasileiros eles são ainda mais “esquerdopatas” que os petistas. É dureza.
E mais uma inside information. O Bloco de Esquerda é coordenado pela Catarina Martins. Então fico a imaginar como você vai reagir a isso, uma vez que parece não gostar muito de mulheres no comando. Dilma que o diga, né? E o Partido Comunista é liderado pelo Jerónimo de Sousa, um antigo operário metalúrgico. Metalúrgico? Onde é que já ouvimos essa história? Ah, sim, Lula. Então fica a pergunta: será que você quer mesmo viver num país como Portugal?
Olha, Luana, a gente até já esqueceu aquele episódio do Instagram. Lembra como foi? “O Brasil foi explorado tantos anos por Portugal e agora continuará a ser pela PT! Não é à toa que a sigla de Portugal é PT! Eu votei Aécio!”, você escreveu. Confesso que não entendi a declaração, porque parece uma maluquice pegada (expressão cá da terra) e não faz o menor sentido. Era uma tentativa de ofender? Passou.
Despeço-me, Luana, na expectativa de que tenham sido informações úteis e que a ajudem a decidir. Se vier para Portugal vai ser bem recebida. Como foi a Madonna, que já vive aqui faz um tempinho. Aliás, vai ser uma honra para os portugueses ter, ao mesmo tempo, duas estrelas de expressão mundial.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018
O balão de Udo Dohler desinchou...
POR JORDI CASTAN
Começou o xadrez para eleição estadual de 2018. E ficou claro que o sonho do prefeito de Joinville - que queria ser candidato a governador de Santa Catarina - não foi além de uma quimera. Não é segredo para ninguém que a candidatura do prefeito Udo Dohler nunca passou de um sonho amalucado. Com uma administração tão ruim que não chega sequer a pode ser considerada medíocre, atrapalhado pela sua própria inépcia e rodeado por uma equipe sem imaginação, nem capacidade, sua imagem de gestor eficiente nunca ultrapassou os limites de Garuva ao norte, Araquari ao sul e Guaramirim ao oeste.
O balão estufado desinchou rapidamente quando confrontado com verdadeiros profissionais da política. Sem nada para mostrar, sem o apoio do seu padrinho político e sem a menor capacidade de articulação, a sua figura política reduziu-se ao que sempre foi: um administrador medíocre, acostumado a vencer eleições em que não teve concorrentes com chances reais de enfrentá-lo. É bom lembrar que ser eleito presidente da ACIJ uma meia dúzia de vezes ou do sindicato patronal não pode ser considerado uma prova de popularidade e que as duas eleições municipais vencidas em Joinville foram, na primeira, mais mérito de Luiz Henrique e, na segunda, demérito do seu opositor a segunda.
Agora reduzido a sua real insignificância, o prefeito Udo Dohler enfrenta sem muitas expectativas e sem realizações o seu lânguido final de mandato. Uma segunda gestão que acabou bem antes de iniciar. Nenhuma das suas promessas de campanha foi cumprida e mesmo que siga impávido e lépido com o seu discurso vazio, não engana mais ninguém. Poucos dos seus eleitores votariam nele de novo. Teria trabalho até para se eleger síndico do seu prédio. Se sua empresa de toalhas fabricasse seus produtos como se executam as obras públicas aqui na vila, ou tratasse seus clientes como trata os eleitores de Joinville, das duas uma: a empresa teria falido faz anos ou gastaria fortunas se defendendo no Procon por promessas descumpridas, produtos não entregues no prazo e sem a qualidade apregoada na propaganda.
Santa Catarina tem sorte de que alguém com os seus predicados (ou falta deles) não seja candidato ao governo do Estado. O reverso da moeda é que Joinville pagará ainda por mais alguns anos o preço de tanta incompetência. Joinville se sacrificará, uma vez mais, para salvar Santa Catarina. Joinville paga o preço e o seguirá pagando por anos a fio.
A triste conclusão é a que administrar uma cidade do porte de Joinville requer conhecimento, capacidade e experiência que não estão ao alcance da maioria. A possibilidade que tenhamos, no curto e médio prazo, candidatos com este perfil é mais que improvável e esta é uma ameaça que pesa, como uma espada de Dâmocles sobre o futuro desta cidade. Quem poderia não quer Quem quer não tem a competência para fazê-lo. E o eleitor acabará elegendo de novo um candidato inepto para administrar uma cidade cada vez mais complexa e mais difícil de administrar.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
Nazistas em São Chico? Prefeito quer reparação de guerra da Alemanha
POR DOMINGOS MIRANDA
Há muito tempo eu não via uma história tão bizarra como a publicada na Folha de S. Paulo em 31 de janeiro. O jornal informava que a prefeitura de São Francisco do Sul está reivindicando compensação financeira do governo da Alemanha a título de reparação de guerra. Isso porque, alegam os advogados, o canal do Linguado foi fechado em 1935 para que o governo nazista transportasse material bélico para Joinville. Como essa obra causou danos ambientais, a cidade quer ser recompensada.
A advogada Maristela Basso, que é professora de direito da Universidade de São Paulo e coordena o processo, diz que este material bélico chegava ao porto de São Francisco em navios e submarinos da Alemanha, era finalizado na região e então enviado para outros destinos. “Queremos que São Francisco do Sul seja incluída no rol das reparações de guerra da Alemanha”, frisou Basso para a repórter da Folha. O prefeito Renato Lobo explicou que quer usar este dinheiro da reparação para financiar estudos sobre impactos ambientais da possível reabertura do canal.
Esta é mais um fato fantástico envolvendo São Francisco. No passado já ocorreram outros acontecimentos extraordinários, comprovados, tais como a do capitão francês Binot Gonneville, a do explorador espanhol Cabeza de Vaca e do médico francês Benoit Mure, fundador do Falanstério do Saí. Agora surge esta história, ainda não documentada, das garras do governo nazista às margens da baía da Babitonga. O governo alemão já se manifestou, através do consulado geral em São Paulo, dizendo que o aterramento “foi uma decisão do governo brasileiro, tomada antes da Segunda Guerra”, portanto sem nenhuma responsabilidade do governo alemão.
É verdade que os municípios brasileiros passam por dificuldades financeiras por conta da crise, mas existem maneiras mais práticas de solucionar estas carências. Apelar por uma ajuda da chanceler Angela Merkel chega a ser ridículo, podendo ser motivo de chacota. A abertura do canal do Linguado é uma necessidade e há cerca de 20 anos se discute isso mas a justiça não chega a um acordo. Quem perde é a população, pois a baía da Babitonga está sendo assoreada e dentro de pouco tempo ficará imprópria para a navegação.
Oportunidades surgem e os administradores deixam escapar. Há cerca de dez anos o médico Carlos Alberto Fiorot, então presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira, se deslocou de Vitória (ES) até São Francisco do Sul para um encontro agendado com o prefeito Luiz Zera. O chefe do Executivo não pode atender e a conversa foi com um dos secretários. Fiorot propunha a criação de um Museu da Homeopatia na Vila da Glória, no local onde Benoit Mure criou a primeira escola homeopática brasileira. Diante do desinteresse da prefeitura, o assunto não prosperou.
O escritor Victor Hugo dizia que uma boa ideia no tempo certo tende a ser vitoriosa. Mas, no caso desta reparação de guerra não é uma ideia genial, mas apenas um jogo de marketing em busca de dividendos econômicos. Só que a história está tão mal contada que pode deixar a cidade envergonhada.
Há muito tempo eu não via uma história tão bizarra como a publicada na Folha de S. Paulo em 31 de janeiro. O jornal informava que a prefeitura de São Francisco do Sul está reivindicando compensação financeira do governo da Alemanha a título de reparação de guerra. Isso porque, alegam os advogados, o canal do Linguado foi fechado em 1935 para que o governo nazista transportasse material bélico para Joinville. Como essa obra causou danos ambientais, a cidade quer ser recompensada.
A advogada Maristela Basso, que é professora de direito da Universidade de São Paulo e coordena o processo, diz que este material bélico chegava ao porto de São Francisco em navios e submarinos da Alemanha, era finalizado na região e então enviado para outros destinos. “Queremos que São Francisco do Sul seja incluída no rol das reparações de guerra da Alemanha”, frisou Basso para a repórter da Folha. O prefeito Renato Lobo explicou que quer usar este dinheiro da reparação para financiar estudos sobre impactos ambientais da possível reabertura do canal.
Esta é mais um fato fantástico envolvendo São Francisco. No passado já ocorreram outros acontecimentos extraordinários, comprovados, tais como a do capitão francês Binot Gonneville, a do explorador espanhol Cabeza de Vaca e do médico francês Benoit Mure, fundador do Falanstério do Saí. Agora surge esta história, ainda não documentada, das garras do governo nazista às margens da baía da Babitonga. O governo alemão já se manifestou, através do consulado geral em São Paulo, dizendo que o aterramento “foi uma decisão do governo brasileiro, tomada antes da Segunda Guerra”, portanto sem nenhuma responsabilidade do governo alemão.
É verdade que os municípios brasileiros passam por dificuldades financeiras por conta da crise, mas existem maneiras mais práticas de solucionar estas carências. Apelar por uma ajuda da chanceler Angela Merkel chega a ser ridículo, podendo ser motivo de chacota. A abertura do canal do Linguado é uma necessidade e há cerca de 20 anos se discute isso mas a justiça não chega a um acordo. Quem perde é a população, pois a baía da Babitonga está sendo assoreada e dentro de pouco tempo ficará imprópria para a navegação.
Oportunidades surgem e os administradores deixam escapar. Há cerca de dez anos o médico Carlos Alberto Fiorot, então presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira, se deslocou de Vitória (ES) até São Francisco do Sul para um encontro agendado com o prefeito Luiz Zera. O chefe do Executivo não pode atender e a conversa foi com um dos secretários. Fiorot propunha a criação de um Museu da Homeopatia na Vila da Glória, no local onde Benoit Mure criou a primeira escola homeopática brasileira. Diante do desinteresse da prefeitura, o assunto não prosperou.
O escritor Victor Hugo dizia que uma boa ideia no tempo certo tende a ser vitoriosa. Mas, no caso desta reparação de guerra não é uma ideia genial, mas apenas um jogo de marketing em busca de dividendos econômicos. Só que a história está tão mal contada que pode deixar a cidade envergonhada.
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Ponte no Canal do Linguado foi substituída por aterro e pode gerar indenização. |
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Depredação da Rio dos Peixes é sintoma de degradação social
POR RAQUEL MIGLIORINI
Recentemente, a sede do Instituto Sócio-Ambiental Rio dos Peixes, uma OSCIP que tem como objetivo a Educação Ambiental e preservação da Bacia Hidrográfica do Rio Piraí, foi depredada e muito material foi destruído. Toda a fiação elétrica foi roubada, o telhado foi danificado (o que provocou infiltração em muitas salas) e paredes foram pichadas. Nas pichações, aparece o nome do responsável: PGC – Primeiro Grupo Catarinense.
Parece claro que traficantes e milícias que ocupam alguns bairros da cidade não se preocupariam em roubar e vender fios por uns trocados. É necessário fazer um exercício e ampliar o olhar. Esses grupos aliciam menores, moradores da periferia. Sem acesso a Cultura, Esportes e Educação Integral de qualidade, essas crianças e adolescentes são presas fáceis por não terem nada de valor ao seu redor e por não terem a alma alimentada por coisas que não estão na cesta básica. Esse vazio é preenchido com a promessa de status e dinheiro fácil que o crime organizado proporciona. O começo desse processo é o vandalismo e o roubo e venda de materiais de pouco valor.
Não há novidade aqui. Esse processo aconteceu na maioria das grandes cidades brasileiras. Chegamos ao caos extremo do Rio de Janeiro mas, proporcionalmente, Joinville não se encontra tão distante.
Existe uma receita que, se feita corretamente, nunca desanda:
• manter essas crianças com a alma tão alimentada por música, dança, teatro e todas as outras formas de arte, de modo que elas falem NÃO ao convite dos traficantes.
• Oferecer diversas modalidades esportivas para que esses jovens desenvolvam habilidades e se sintam valorizados.
• Oferecer Educação de qualidade para que os pais tenham suporte e possam trabalhar seguros de que seus filhos não estão à mercê de qualquer indivíduo na rua.
• Pensar a cidade da periferia para o Centro, e não o contrário. Embelezar o bairro e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos faz com que eles tenham orgulho e cuidem do lugar onde moram.
Ao compararmos essa lista com a reforma administrativa recente e com o “enterro” dos planos municipais de cultura, esporte, de meio ambiente, de saneamento básico, temos um panorama claro e triste do que acontece na cidade, longe das ruas com nomes ilustres. A atual Câmara de Vereadores chancela todos os pedidos do Executivo sem discussão e sem responsabilidade pela queda vertiginosa da qualidade de vida dos habitantes da cidade.
Pior do que os governantes não exercitarem esse olhar e adotarem essas medidas, é a fala generalizada de que só é vândalo e ladrão quem quer. Que se a pessoa quiser, ela se torna um “cidadão de bem”. E ainda, pensar no crescimento da cidade com a oferta de subempregos, sem mobilidade e moradia adequadas.
Joinville cresceu e não se deu ao trabalho de aprender com os erros seculares de outras cidades. A depredação da sede Rio dos Peixes é um pequeno sintoma que a degradação social já está em andamento na Cidade das Flores (sic).
Recentemente, a sede do Instituto Sócio-Ambiental Rio dos Peixes, uma OSCIP que tem como objetivo a Educação Ambiental e preservação da Bacia Hidrográfica do Rio Piraí, foi depredada e muito material foi destruído. Toda a fiação elétrica foi roubada, o telhado foi danificado (o que provocou infiltração em muitas salas) e paredes foram pichadas. Nas pichações, aparece o nome do responsável: PGC – Primeiro Grupo Catarinense.
Parece claro que traficantes e milícias que ocupam alguns bairros da cidade não se preocupariam em roubar e vender fios por uns trocados. É necessário fazer um exercício e ampliar o olhar. Esses grupos aliciam menores, moradores da periferia. Sem acesso a Cultura, Esportes e Educação Integral de qualidade, essas crianças e adolescentes são presas fáceis por não terem nada de valor ao seu redor e por não terem a alma alimentada por coisas que não estão na cesta básica. Esse vazio é preenchido com a promessa de status e dinheiro fácil que o crime organizado proporciona. O começo desse processo é o vandalismo e o roubo e venda de materiais de pouco valor.
Não há novidade aqui. Esse processo aconteceu na maioria das grandes cidades brasileiras. Chegamos ao caos extremo do Rio de Janeiro mas, proporcionalmente, Joinville não se encontra tão distante.
Existe uma receita que, se feita corretamente, nunca desanda:
• manter essas crianças com a alma tão alimentada por música, dança, teatro e todas as outras formas de arte, de modo que elas falem NÃO ao convite dos traficantes.
• Oferecer diversas modalidades esportivas para que esses jovens desenvolvam habilidades e se sintam valorizados.
• Oferecer Educação de qualidade para que os pais tenham suporte e possam trabalhar seguros de que seus filhos não estão à mercê de qualquer indivíduo na rua.
• Pensar a cidade da periferia para o Centro, e não o contrário. Embelezar o bairro e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos faz com que eles tenham orgulho e cuidem do lugar onde moram.
Ao compararmos essa lista com a reforma administrativa recente e com o “enterro” dos planos municipais de cultura, esporte, de meio ambiente, de saneamento básico, temos um panorama claro e triste do que acontece na cidade, longe das ruas com nomes ilustres. A atual Câmara de Vereadores chancela todos os pedidos do Executivo sem discussão e sem responsabilidade pela queda vertiginosa da qualidade de vida dos habitantes da cidade.
Pior do que os governantes não exercitarem esse olhar e adotarem essas medidas, é a fala generalizada de que só é vândalo e ladrão quem quer. Que se a pessoa quiser, ela se torna um “cidadão de bem”. E ainda, pensar no crescimento da cidade com a oferta de subempregos, sem mobilidade e moradia adequadas.
Joinville cresceu e não se deu ao trabalho de aprender com os erros seculares de outras cidades. A depredação da sede Rio dos Peixes é um pequeno sintoma que a degradação social já está em andamento na Cidade das Flores (sic).
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
O Brasil e a suruba ideológica
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Pobre Brasil. Os efeitos do golpe podem ser comparados ao bêbado que, ao descer uma escada, erra o primeiro degrau. E se errou o primeiro... erra todos. O fato é que o país mergulhou numa espiral de insanidade que parece não ter hora para acabar. As estocadas não foram apenas políticas (a queda de Dilma) ou econômicas (a imposição de um modelo neoliberal). O buraco é mais em baixo.
A grande mudança foi cultural. Mas de forma negativa. O Brasil está a ser transformado numa enorme suruba ideológica, onde escroques e todos os tipos de aproveitadores estão empenhado em açambarcar a sua parte do butim. A coisa virou uma bandalheira. A moral e a ética despencaram para o grau zero e muitas pessoas do círculo do poder atual perderam a noção de ridículo. Não é teoria. Há fatos e personagens para comprovar.
O analfabeto-mirim Kim Kataguiri divulgou uma lista de pessoas que se recusaram a “debater” com ele? Fico por um dos nomes: Jânio de Freitas. É um crime de lesa-inteligência. Será que ele pensa mesmo ser capaz de debater com o velho jornalista. Ah ah ah. Aliás, é bom lembrar que ele foi atropelado pelo senador Roberto Requião num debate na Guaíba.
E o que dizer da ex-futura-quase-ministra Cristiane Brasil que, cercada por genéricos de Alexandre Frota num barco de luxo, pôs a circular nas redes sociais um vídeo onde diz nada com coisa alguma. E para completar o nonsense, os brucutus ainda acham relevante para a história o planeta que façam depoimentos a defendê-la. Sério?
A coluna Painel, da Folha, divulgou que o juiz Marcelo Bretas foi inquirido por receber auxílio moradia, junto com a mulher. O que é proibido, segundo o jornal. Diante do fato, o juiz, muito conhecido pelo seu moralismo e fervor evangélico, argumentou ser tudo legal. É moral? Claro que não. Mas os moralistas têm uma moralidade muito volátil.
O “presidente” Michel Temer vai ao programa Sílvio Santos, numa tentativa de fazer a reforma da previdência ficar mais palatável para o povão. De fato, quis mesmo foi dar um cagaço na população. Para fechar a coisa, tentou fazer humor: “eu vou passar um dinheiro para você”. E deu 50 reais ao apresentador em mãos. Mas todos sabem o que significa, né?
Enfim, são apenas alguns exemplos a mostrar o grau de descaramento que tomou conta do país. Perdeu-se a noção de ridículo. As esferas de poder estão mergulhadas num lodaçal e, com as atuais peças em jogo, não parece que um dia seja possível dar um xeque-mate aos malfeitos. Pobre Brasil.
É a dança da chuva.
Pobre Brasil. Os efeitos do golpe podem ser comparados ao bêbado que, ao descer uma escada, erra o primeiro degrau. E se errou o primeiro... erra todos. O fato é que o país mergulhou numa espiral de insanidade que parece não ter hora para acabar. As estocadas não foram apenas políticas (a queda de Dilma) ou econômicas (a imposição de um modelo neoliberal). O buraco é mais em baixo.
A grande mudança foi cultural. Mas de forma negativa. O Brasil está a ser transformado numa enorme suruba ideológica, onde escroques e todos os tipos de aproveitadores estão empenhado em açambarcar a sua parte do butim. A coisa virou uma bandalheira. A moral e a ética despencaram para o grau zero e muitas pessoas do círculo do poder atual perderam a noção de ridículo. Não é teoria. Há fatos e personagens para comprovar.
O analfabeto-mirim Kim Kataguiri divulgou uma lista de pessoas que se recusaram a “debater” com ele? Fico por um dos nomes: Jânio de Freitas. É um crime de lesa-inteligência. Será que ele pensa mesmo ser capaz de debater com o velho jornalista. Ah ah ah. Aliás, é bom lembrar que ele foi atropelado pelo senador Roberto Requião num debate na Guaíba.
E o que dizer da ex-futura-quase-ministra Cristiane Brasil que, cercada por genéricos de Alexandre Frota num barco de luxo, pôs a circular nas redes sociais um vídeo onde diz nada com coisa alguma. E para completar o nonsense, os brucutus ainda acham relevante para a história o planeta que façam depoimentos a defendê-la. Sério?
A coluna Painel, da Folha, divulgou que o juiz Marcelo Bretas foi inquirido por receber auxílio moradia, junto com a mulher. O que é proibido, segundo o jornal. Diante do fato, o juiz, muito conhecido pelo seu moralismo e fervor evangélico, argumentou ser tudo legal. É moral? Claro que não. Mas os moralistas têm uma moralidade muito volátil.
O “presidente” Michel Temer vai ao programa Sílvio Santos, numa tentativa de fazer a reforma da previdência ficar mais palatável para o povão. De fato, quis mesmo foi dar um cagaço na população. Para fechar a coisa, tentou fazer humor: “eu vou passar um dinheiro para você”. E deu 50 reais ao apresentador em mãos. Mas todos sabem o que significa, né?
Enfim, são apenas alguns exemplos a mostrar o grau de descaramento que tomou conta do país. Perdeu-se a noção de ridículo. As esferas de poder estão mergulhadas num lodaçal e, com as atuais peças em jogo, não parece que um dia seja possível dar um xeque-mate aos malfeitos. Pobre Brasil.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
O jeito chileno de fazer bem versus o jeito sambaquiano de fazer nas coxas
POR JORDI CASTAN
Aproveitei as férias para visitar Santiago de Chile e cheguei à conclusão que estes chilenos estão loucos. Endoidaram. Insistem em fazer as coisas bem feitas, em manter as cidades limpas e bem conservadas. E, imaginem, em priorizar as pessoas sobre os veículos e o verde sobre o cinza do concreto.
As praças, parques e as árvores que vicejam nas ruas da cidade estão bem cuidadas. Há equipes de jardineiros profissionais que cuidam, plantam e podam as plantas com conhecimento e cuidado. Tudo bem diferente das roçadas de mato por apenados e outros trabalhadores desqualificados, sem conhecimento ou formação adequadas para o trabalho e a função.
Calçadas e praças têm pisos adequados, acessíveis e seguros. Nada de pavers e outras soluções que se utilizam nas terras sambaquianas, que envelhecem rápido demais e mal. Ou seja, soluções que priorizam o barato sobre a qualidade e a durabilidade. Mas são critérios. Os chilenos insistem em escolher materiais duráveis, de qualidade melhor e de trabalhar com profissionais que conhecem o seu trabalho e gostam de fazê-lo bem feito.
Porque as coisas não duram, quebram antes do que deveriam e têm um acabamento tosco e de baixa qualidade? Ou pior: por que insistimos em projetar mal, executar pior e não prever nenhuma manutenção que aumente a durabilidade e acabe custando menos. Ora, toda esta inépcia custa muito cara a toda a sociedade.
Difícil achar uma resposta que sintetize a diferença entre o modelo seguido com persistência por chilenos e pela maioria dos países desenvolvidos e os países e sociedades que preferem a opção de fazer coisas pelo método que no Brasil é conhecido, desde a época colonial, pela expressão: "feito nas coxas". Há uma cultura estabelecida e bem consolidada de fazer as coisas nas coxas. E o resultado, aqui por estas bandas sambaquianas, é uma cidade que se esfarela, obras públicas pagas a peso de ouro que não duram e que precisam ser reformadas antes de prazo.
A ideia de fazer bem feito nem passa pela cabeça dos administradores públicos. Projetos sem detalhamento, sem definição de materiais e sem especificações técnicas adequadas permitem que sejam usados materiais de qualidade inferior, que não se cumpram nem prazos, nem se respeitem orçamentos. Um bom exemplo de coisas feitas nas coxas é o projeto e a execução da duplicação da Avenida Santos Dumont. Ou alguém tem outra expressão que sintetize melhor a falta de planejamento, a péssima qualidade dos projetos elaborados e a forma como é mal gasto o dinheiro público. Lembremos que essa obra se alastra por anos a fio, já causou dezenas de acidentes, alguns mortais, e quando fique pronta será só um remendo medíocre do que foi anunciado.
A insistência dos chilenos em querer fazer as coisas bem e em mantê-las para que sigam bem e não precisem ser refeitas antes do prazo é a maior prova que os chilenos estão loucos. Certos estamos nós.
Aproveitei as férias para visitar Santiago de Chile e cheguei à conclusão que estes chilenos estão loucos. Endoidaram. Insistem em fazer as coisas bem feitas, em manter as cidades limpas e bem conservadas. E, imaginem, em priorizar as pessoas sobre os veículos e o verde sobre o cinza do concreto.
As praças, parques e as árvores que vicejam nas ruas da cidade estão bem cuidadas. Há equipes de jardineiros profissionais que cuidam, plantam e podam as plantas com conhecimento e cuidado. Tudo bem diferente das roçadas de mato por apenados e outros trabalhadores desqualificados, sem conhecimento ou formação adequadas para o trabalho e a função.
Calçadas e praças têm pisos adequados, acessíveis e seguros. Nada de pavers e outras soluções que se utilizam nas terras sambaquianas, que envelhecem rápido demais e mal. Ou seja, soluções que priorizam o barato sobre a qualidade e a durabilidade. Mas são critérios. Os chilenos insistem em escolher materiais duráveis, de qualidade melhor e de trabalhar com profissionais que conhecem o seu trabalho e gostam de fazê-lo bem feito.
Porque as coisas não duram, quebram antes do que deveriam e têm um acabamento tosco e de baixa qualidade? Ou pior: por que insistimos em projetar mal, executar pior e não prever nenhuma manutenção que aumente a durabilidade e acabe custando menos. Ora, toda esta inépcia custa muito cara a toda a sociedade.
Difícil achar uma resposta que sintetize a diferença entre o modelo seguido com persistência por chilenos e pela maioria dos países desenvolvidos e os países e sociedades que preferem a opção de fazer coisas pelo método que no Brasil é conhecido, desde a época colonial, pela expressão: "feito nas coxas". Há uma cultura estabelecida e bem consolidada de fazer as coisas nas coxas. E o resultado, aqui por estas bandas sambaquianas, é uma cidade que se esfarela, obras públicas pagas a peso de ouro que não duram e que precisam ser reformadas antes de prazo.
A ideia de fazer bem feito nem passa pela cabeça dos administradores públicos. Projetos sem detalhamento, sem definição de materiais e sem especificações técnicas adequadas permitem que sejam usados materiais de qualidade inferior, que não se cumpram nem prazos, nem se respeitem orçamentos. Um bom exemplo de coisas feitas nas coxas é o projeto e a execução da duplicação da Avenida Santos Dumont. Ou alguém tem outra expressão que sintetize melhor a falta de planejamento, a péssima qualidade dos projetos elaborados e a forma como é mal gasto o dinheiro público. Lembremos que essa obra se alastra por anos a fio, já causou dezenas de acidentes, alguns mortais, e quando fique pronta será só um remendo medíocre do que foi anunciado.
A insistência dos chilenos em querer fazer as coisas bem e em mantê-las para que sigam bem e não precisem ser refeitas antes do prazo é a maior prova que os chilenos estão loucos. Certos estamos nós.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Dia da Infâmia: ditadura da toga cassa o direito de Lula ser presidente
POR DOMINGOS MIRANDA
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.
O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.
A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.
A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.
Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados pelo crime de corrupção.
Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.
O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.
A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.
A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.
Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados pelo crime de corrupção.
Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
E chegou o dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muita coisa poderia ser dita sobre o evento, mas como santo de casa não faz milagre a ideia é publicar um metatexto (um texto sobre outro texto). E como os conservadores brasileiros adoram pagar pau para gringo, a fonte vai ser um jornalão da terra do Tio Sam. Afinal, só no Brasil a expressão “deu no NY Times” podia virar um bordão.
Então, vamos lá. Na edição de ontem, um texto do analista político Mark Weisbrot, economista norte-americano, co-diretor do CEPR - Center for Economic and Policy Research, em Washington, que faz um overview sobre a situação brasileira. A coisa começa a pegar logo no título, que define o atual momento do país como grave: “a democracia do Brasil está a ser empurrada para o abismo”.
Mais palavra, menos palavra, o colunista diz que os dois últimos anos desviaram o Brasil dos eixos da democracia. “Esta semana a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018, ou mesmo preso”.
Mark Weisbrot, que está longe de poder chamado de petralha, lembra o que se passou na relação entre política e o poder judiciário. “O que poderia ter sido um avanço histórico – o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial – acabou por tornar-se o contrário. A democracia brasileira agora é mais fraca do que tem sido desde que o governo militar acabou”.
Sérgio Moro está em foco. Diz Weisbrot que ele “demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões”. E acrescenta que “as evidências contra o Sr. da Silva estão muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos”. E, acrescento eu, muito abaixo do que seria levado a sério em qualquer país da Europa Ocidental. E está todo o mundo de olho.
O texto do NY Times, jornal de referência em todo o planeta, não passa ao lado do golpe. “O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a indicada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo”. Não por corrupção, mas por uma manobra contábil, diz o analista, ao lembrar que “o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime”.
Enfim, não sou eu a dizer. Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
É a dança da chuva.
E chegou o dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muita coisa poderia ser dita sobre o evento, mas como santo de casa não faz milagre a ideia é publicar um metatexto (um texto sobre outro texto). E como os conservadores brasileiros adoram pagar pau para gringo, a fonte vai ser um jornalão da terra do Tio Sam. Afinal, só no Brasil a expressão “deu no NY Times” podia virar um bordão.
Então, vamos lá. Na edição de ontem, um texto do analista político Mark Weisbrot, economista norte-americano, co-diretor do CEPR - Center for Economic and Policy Research, em Washington, que faz um overview sobre a situação brasileira. A coisa começa a pegar logo no título, que define o atual momento do país como grave: “a democracia do Brasil está a ser empurrada para o abismo”.
Mais palavra, menos palavra, o colunista diz que os dois últimos anos desviaram o Brasil dos eixos da democracia. “Esta semana a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018, ou mesmo preso”.
Mark Weisbrot, que está longe de poder chamado de petralha, lembra o que se passou na relação entre política e o poder judiciário. “O que poderia ter sido um avanço histórico – o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial – acabou por tornar-se o contrário. A democracia brasileira agora é mais fraca do que tem sido desde que o governo militar acabou”.
Sérgio Moro está em foco. Diz Weisbrot que ele “demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões”. E acrescenta que “as evidências contra o Sr. da Silva estão muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos”. E, acrescento eu, muito abaixo do que seria levado a sério em qualquer país da Europa Ocidental. E está todo o mundo de olho.
O texto do NY Times, jornal de referência em todo o planeta, não passa ao lado do golpe. “O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a indicada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo”. Não por corrupção, mas por uma manobra contábil, diz o analista, ao lembrar que “o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime”.
Enfim, não sou eu a dizer. Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
É a dança da chuva.
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Lula: antes de melhorar, ainda vai piorar bastante
POR MURILO CLETO
Faltam poucas horas pro julgamento que deve sacramentar o destino do ex-presidente Lula. Na quarta-feira, 24, o TRF4 avalia recurso da defesa que contesta a sentença do juiz Sergio Moro, proferida no ano passado. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por considerar que a empreiteira OAS lhe presenteou com um apartamento triplex no Guarujá.
Há muita gente bem mais qualificada juridicamente do que eu pra dizer se a sentença está correta ou não e se Lula é realmente culpado. Tenho pra mim que não, mas nesse mérito eu não entro nem por decreto. O que mais chamou a minha atenção, observando com muito cuidado o comportamento das militâncias polarizadas ao longo desses meses todos, foi a relação meramente utilitarista que se desenvolveu com o julgamento.
De um lado, a esquerda que, à exceção do PCO, não tem coragem de – nesse contexto moralista e punitivista – se assumir contrária à Lei da Ficha Limpa e só quer que, independentemente do que decidir o colegiado, Lula seja candidato à presidência em outubro. De outro lado, o antipetismo que enxerga o julgamento de Lula como a oportunidade de barrá-lo nas eleições e de colocá-lo na cadeia.
No interior dessa dinâmica, absolutamente ninguém quer saber o que cada juiz vai dizer pra embasar sua decisão. Foi assim quando Moro julgou. Em instantes as 218 páginas da sentença já estavam rechaçadas de um lado e aplaudidas de outro.
É evidente que decisões judiciais não são absolutas (a própria existência de recursos prova isso) e que o debate em torno delas é saudável pra qualquer democracia. O problema é que o Brasil pós-2013 já não se vê reconhecido em quaisquer instituições. E o que é resolvido por elas serve apenas pra, de qualquer forma, validar uma posição já de antemão estabelecida na performance discursiva.
Se elas decidiram contra a minha causa, é porque estão comprometidas com os poderosos. “Se até elas” decidiram em favor da minha causa, é porque eu estou tão certo que nem elas são capazes de negar. Isso acontece o tempo todo com o Ministério Público, por exemplo. Dia desses ele era, para a esquerda, parte ativa do golpe reacionário que atropela garantias constitucionais mínimas. Depois a posição do MP serviu pra fundamentar a posição de progressistas contra o fechamento da exposição Queermuseu.
De novo, o trauma aqui não está na desconfiança nas instituições. É – insisto também nesse caso – saudável que elas tenham sido dessacralizadas. Acontece que no lugar delas não se colocou nada. E a principal função das instituições, que é a de mediar os sujeitos, desapareceu. Não se media nada num país polarizado como o nosso. Natural que em condições assim a sociedade responda com violência, sob a forma de mais justiçamentos e censura. Nesse cenário, o argumento de uma condenação ou de uma absolvição, sujeito à posição que se ocupa nesse front, não significa nada. Porque aqui o argumento também não significa nada. O total de brasileiros que vai mudar de opinião sobre Lula depois de quarta-feira é 0. Como foi em julho.
O cenário eleitoral de 2018 não é catastrófico apenas porque tem tudo pra ser uma versão caricatural de 1989, como muitos têm sugerido depois do anúncio da pré-candidatura de Collor. Mas porque até aqui ninguém, da classe política ou dos movimentos sociais, apresentou alguma alternativa suficientemente viável pra uma crise desse porte, muito maior do que a que é exibida pelos indicadores econômicos. E pior, a essa altura do campeonato é difícil achar alguém que não seja parte significativa dela.
Pode ser que melhore. Mas tudo indica que, antes de melhorar, ainda vai piorar bastante.
Faltam poucas horas pro julgamento que deve sacramentar o destino do ex-presidente Lula. Na quarta-feira, 24, o TRF4 avalia recurso da defesa que contesta a sentença do juiz Sergio Moro, proferida no ano passado. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por considerar que a empreiteira OAS lhe presenteou com um apartamento triplex no Guarujá.
Há muita gente bem mais qualificada juridicamente do que eu pra dizer se a sentença está correta ou não e se Lula é realmente culpado. Tenho pra mim que não, mas nesse mérito eu não entro nem por decreto. O que mais chamou a minha atenção, observando com muito cuidado o comportamento das militâncias polarizadas ao longo desses meses todos, foi a relação meramente utilitarista que se desenvolveu com o julgamento.
De um lado, a esquerda que, à exceção do PCO, não tem coragem de – nesse contexto moralista e punitivista – se assumir contrária à Lei da Ficha Limpa e só quer que, independentemente do que decidir o colegiado, Lula seja candidato à presidência em outubro. De outro lado, o antipetismo que enxerga o julgamento de Lula como a oportunidade de barrá-lo nas eleições e de colocá-lo na cadeia.
No interior dessa dinâmica, absolutamente ninguém quer saber o que cada juiz vai dizer pra embasar sua decisão. Foi assim quando Moro julgou. Em instantes as 218 páginas da sentença já estavam rechaçadas de um lado e aplaudidas de outro.
É evidente que decisões judiciais não são absolutas (a própria existência de recursos prova isso) e que o debate em torno delas é saudável pra qualquer democracia. O problema é que o Brasil pós-2013 já não se vê reconhecido em quaisquer instituições. E o que é resolvido por elas serve apenas pra, de qualquer forma, validar uma posição já de antemão estabelecida na performance discursiva.
Se elas decidiram contra a minha causa, é porque estão comprometidas com os poderosos. “Se até elas” decidiram em favor da minha causa, é porque eu estou tão certo que nem elas são capazes de negar. Isso acontece o tempo todo com o Ministério Público, por exemplo. Dia desses ele era, para a esquerda, parte ativa do golpe reacionário que atropela garantias constitucionais mínimas. Depois a posição do MP serviu pra fundamentar a posição de progressistas contra o fechamento da exposição Queermuseu.
De novo, o trauma aqui não está na desconfiança nas instituições. É – insisto também nesse caso – saudável que elas tenham sido dessacralizadas. Acontece que no lugar delas não se colocou nada. E a principal função das instituições, que é a de mediar os sujeitos, desapareceu. Não se media nada num país polarizado como o nosso. Natural que em condições assim a sociedade responda com violência, sob a forma de mais justiçamentos e censura. Nesse cenário, o argumento de uma condenação ou de uma absolvição, sujeito à posição que se ocupa nesse front, não significa nada. Porque aqui o argumento também não significa nada. O total de brasileiros que vai mudar de opinião sobre Lula depois de quarta-feira é 0. Como foi em julho.
O cenário eleitoral de 2018 não é catastrófico apenas porque tem tudo pra ser uma versão caricatural de 1989, como muitos têm sugerido depois do anúncio da pré-candidatura de Collor. Mas porque até aqui ninguém, da classe política ou dos movimentos sociais, apresentou alguma alternativa suficientemente viável pra uma crise desse porte, muito maior do que a que é exibida pelos indicadores econômicos. E pior, a essa altura do campeonato é difícil achar alguém que não seja parte significativa dela.
Pode ser que melhore. Mas tudo indica que, antes de melhorar, ainda vai piorar bastante.
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