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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O perigo que os vereadores derrotados representam

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Mesmo com quatro anos de mandato, fartas verbas de gabinete, exposição na mídia, assessores rodando pela cidade e contato direto com a população, alguns vereadores de Joinville foram incapazes de se reelegerem por culpa de um péssimo mandato. Só não se reelege quem não quer ou quem é muito ruim neste sistema eleitoral brasileiro que permite mais de um mandato consecutivo em todas as esferas do legislativo. Em Joinville, uma parcela significativa dos vereadores (11 dos 19) não se reelegeram ou não se candidataram novamente. Um número expressivo de legisladores, e com ele, uma expressiva preocupação: quais as atitudes destes representantes em seus últimos dias no mandato?

É sabido que em época de fim de ano algumas leis esdrúxulas são aprovadas sem a devida discussão com a sociedade, bem como atos que são guardados para o fim do ano para não gerar grandes manifestações (está certo que é um ato do Executivo, mas quantas vezes a passagem de ônibus foi aumentada no Natal?). É mais preocupante ainda quando é o final de uma das piores legislaturas da história desta cidade. Pode ser que nada seja aprovado ou proposto, porém, os interesses dos financiadores das campanhas derrotadas podem aparecer na reta final. Alguns vereadores derrotados estão desesperados pra aprovar a LOT a todo custo, pra citar apenas um exemplo.

Vale lembrar que, mesmo sendo proposto neste ano, o projeto de um vereador derrotado continua tramitando na próxima legislatura. O fato de perder o mandato não anula o projeto, por isso devemos ficar atentos para o que está acontecendo ali na Hermann Lepper. Tudo indica que teremos um "Estado de exceção", onde a exceção vale somente para alguns. Desta maneira estamos indo ao encontro do que disse o sociólogo Francisco de Oliveira em 1982:

[precisamos de] uma análise de como se dá o recorte entre Estado e sociedade civil, de como se dá a oposição de interesses entre o Estado e a coalizão das forças dominantes do capital monopolista e o resto do conjunto da população, que inclui o operariado e classes trabalhadoras e também frações da baixa classe média. 
Quem financiou os vereadores derrotados deu um cheque em branco e iria cobrar ao longo dos próximos quatro anos. Aos derrotados, resta a cobrança pelo pagamento (em forma de projetos e votações totalmente parciais) nestas últimas semanas, pois depois disso somente de 2017 em diante, ou na porta do gabinete vizinho...

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A verdadeira “Faixa de Gaza” catarinense


POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Nos últimos dias estamos acompanhando os ataques supostamente organizados aos ônibus e órgãos de segurança pública de algumas cidades de Santa Catarina. Em Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Navegantes e Criciúma os ataques aconteceram e foram noticiados pela mídia. Parece que, para alguns setores, Santa Catarina está em pé de guerra e a polícia é a salvadora da pátria dos cidadãos. A mídia faz um alarde desnecessário e até incoerente, pois a verdadeira onda de ataques acontece o ano inteiro: as taxas de homicídios, roubos, seqüestros e outros crimes dos principais municípios do estado são preocupantes, e são invisíveis para os grandes setores da mídia.

A partir do momento em que um ônibus foi incendiado na região com o metro quadrado mais caro de SC, perceberam que tinha algum problema na segurança pública. Sério? Que novidade! Eu não sabia! E a violência que ocorre todos os dias na periferia de todas as cidades? E o “favelado”, “negro”, “pobre” que morre diariamente e é tratado apenas como uma citação nas páginas policiais? E as fugas dos presídios? Cadê o alarde para estes assuntos? Cadê os especialistas em segurança pública contratados para explicar estes casos, o comandante geral da PM, e o Governador Raimundo Colombo? Quantas mortes estes ataques supostamente organizados provocaram nos últimos dias? Ou o problema está no incêndio aos ônibus de grandes empresários catarinenses?

Não que eu apóie os ataques, muito pelo contrário. A questão que fica é o enfoque dado pela mídia a alguns casos. E o pior: a mídia vende que a omissa e pífia Secretaria de Segurança Pública parece trabalhar como nunca. Mas não é verdade. Se estivesse trabalhando corretamente, isto não aconteceria. Na verdade, nada de tão grave aconteceria! A história infelizmente se repete e a polícia nunca previne, nunca protege. Ela sempre é o “band-aid”, e a responsável por mais insegurança.

Para completar, os hospitais públicos administrados pela gestão Colombo estão sucateados e várias escolas estaduais estão interditadas. Pode parecer que não há conexão com os fatos desta última semana, mas a saúde pública também “mata” (que ironia!) muita gente por não dar um atendimento adequado e a educação é a principal responsável pela criminalidade, por não educar e não abrigar o jovem.
Por isso, por mais que a mídia tente esconder, e o poder público empurre para debaixo do tapete, a verdadeira “Faixa de Gaza” acontece diariamente diante de nossos olhos. As reportagens policiais estão aí como prova disso. É nojento ver plantões, matérias especiais, entrevistas com “Deus e o mundo” para explicar ataques que são uma conseqüência do que acontece há muito tempo por aqui. Nós vivemos um Estado de exceção todos os dias, mas ele só existe para alguns. Os mais ricos, o poder público e a mídia que o diga!

PS: Segundo dados de uma pesquisa do Ministério da Saúde, mais da metade das vítimas dos homicídios no Brasil, 53% delas, são pessoas na faixa etária entre 19 e 29, das quais mais de 75% são jovens negros, de baixa escolaridade, sendo a maioria do sexo masculino. O número de mortes de jovens negros passou de 14.055 em 2000 para 19.255 em 2010 – um crescimento de 37%. Isto a mídia divulga? Faz alarde? Poder público explica?